Mestre
no gênero da Máfia, Martin Scorsese difere de suas antigas produções para entregar
uma visão melancólica, fria e desprezível do sistema. Aqui, não estamos diante
daquele estilo de ‘Os Bons Companheiros’ ou ‘Cassino’ com toda aquela glamorização
envolto da violência e brutalidade do meio gangster. Seu ponto em ‘O Irlandês’
é concentrar as consequências comportamentais e emotivas daqueles que fizeram
parte desse mundo maquinado nas entrelinhas.
Baseado no livro “I Heard You Paint Houses”,
de Charles Brandt, o longa acompanha a trajetória de Frank Sheeran (De Niro),
um caminhoneiro e ex-combatente da Segunda Guerra que, torna-se o assassino da
máfia ao se envolver com o poderoso mafioso Russell Bufalino (Pesci), e
possivelmente o responsável pelo desaparecimento do notório Jimmy Hoffa
(Pacino), presidente do sindicato nacional de caminhoneiros – uma das figuras políticas
mais influentes dos Estados Unidos por décadas.
‘O
Irlandês’ segue a cartilha à lá Scorsese tão bem conhecida pela sua forte
concepção cinematográfica. A começar pelo ótimo uso de plano-sequência em
tracking shot, o emprego de planos longos e sua mudança através da movimentação
dos personagens, os close-ups pontuais definindo a força dos diálogos, a
justaposição do voice-over, a quebra da quarta parede, a presença de símbolos
católicos, o uso da música popular e a volta de suas antigas parcerias, De Niro
e Joe Pesci. O resultado é simplesmente genial favorecendo não só a narrativa,
como também a imersão do espectador a estória.
A
proposta do ritmo lento e da longa duração é clara (3h e 30 minutos) para tal
êxito, e por mais difícil de ser aceito pelo público casual aos pouco nos
vinculamos de cada personagem presente. Dessa maneira, a montagem muito bem
distribuída controla a passagem de tempo das três linhas temporais e ajuda a
contextualizar a jornada criminal/pessoal de Sheeran e daqueles que fizeram
parte dessa máfia. Então, caro leitor,
não fuja por conta da duração, só não deixe de apreciar uma dos melhores obras
do gênero.
Aqui,
Martin Scorsese confronta seu próprio estilo narrativo e entrega algo inovador
para o gênero da Máfia. Antes a violência, a glamorização do sistema e a
ostentação eram apreciadas em suas obras retratando o encanto no mundo do
crime. ‘O Irlandes’ se opõe a esses elementos trazendo a dinâmica dos personagens
(parcerias, intrigas e ameaças), a violência testemunhada e, consequentemente,
reforça os diálogos poderosos e até mesmo as frases não ditas.

Contemplamos a
trajetória de Frank Sheeran, Russell Bufalino, Jimmy Hoffa e muitos outros
fundamentais que moldaram não só forma de agir e pensar do protagonista, como
também foram arquétipos de seus próprios finais. Ou seja, em outras palavras, estamos
diante de um sistema causador de nossas emoções que nos faz questionar do senso
moral, ético e até mesmo a fé, e este é a forte mensagem da obra-prima e do épico ‘O
Irlandês’.
NOTA: 10
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