Estreias

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Crítica - 'Estrelas Além Do Tempo'


   É impressionante saber como grandes nomes significativos para a história ficou escondida por tanto tempo. A começar pelo intrínseco período vivenciado pelos Estados Unidos na década de 60, marcado pela corrida espacial e a segregação racial. Outro ponto é apresentar a realidade, a luta, o esforço e o reconhecimento das mulheres negras. Em meio a esse cenário, temos a extraordinária história, ‘Estrelas Além Do Tempo’.            

   Baseado no livro ‘Hidden Figures’, de Margot Lee Shetterly, a trama conta a história de três fortes e determinadas mulheres que lutaram contra todos os obstáculos impostos pela segregação racial e o machismo, sendo as responsáveis por fornecer dados matemáticos para o sucesso do lançamento em órbita do astronauta John Glenn, e fazer história dentro da NASA. As três mentes brilhantes são: Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), cada uma na sua área de atuação.      

   Primordial para o filme acontecer, a direção assinada por Theodore Melfi consegue fazer um ótimo trabalho em contextualizar todos os elementos fundamentais na trama - a rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética e a segregação racial não apenas no país, mas sim dentro da NASA.  Com isso, sentimos na pele do trio protagonista todas as suas dificuldades, e em o quão racista e machista o país vivia na época. Para isso, Melfi escolhe referencias para representar o preconceito, como o banheiro, o bebedouro e o bule de café alusivo exclusivamente aos brancos e negros.          

  Porém, sua direção apresenta erros sérios na maneira como conta a história. O roteiro apresenta a área de atuação das três personagens, mas com seu foco principal em Katherine Johnson e seu crescente papel na NASA. Já Dorothy Vaughn e Mary Jackson têm suas relevâncias para a trama, entretanto ficamos com o gosto de querer saber mais sobre elas. 

  Outro ponto é Melfi forçar a produção com cenas amorosas convencionais representando a vida pessoal de Johnson envolvida em um caso com Colonel Jim Johnson (Mahershala Ali). Não só isso, a forma como é retratado o preconceito são excelentes, porém aqui ele encontra soluções baratas caindo nos velhos clichês do gênero e frases de efeitos.    

  A energia de ‘Estrelas Além Do Tempo’ é a presença e a força de seus três personagens em lidar o racismo alarmante através da complacência humana e o envolvimento dos engenheiros e o chefe Al Harrison (Kevin Costner) dentro da NASA.  Temos o engenheiro Paul Stafford (na interpretação fraquíssima de Jim Parsons), e a nossa querida Katherine Johnson revisando os cálculos, em uma interpretação muito poderosa da atriz Taraji P. H apresentando sua  retraída humilhação pela sua cor e ao mesmo tempo confiante em seu trabalho.                              
      
  Temos também interessantes subtramas de Dorothy Vaughn e Mary Jackson, nas boas interpretações das atrizes Octavia Spencer e  Janelle Monáe, respectivamente, ambas transmitindo sua autoconfiança, e a  ambição de uma mulher desvalorizada.  

  A extraordinária história de ‘Estrelas Além Do Tempo’ não faz jus ao trabalho convencional de Melfi, mas mesmo assim merece a atenção de todos por apresentar três grandes mulheres que enfrentaram todas as barreiras de raça e gênero, inspirando gerações a sonhar grande e fazendo história dentro e fora da NASA.                          


NOTA: 7,3


quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Crítica - 'Sete Minutos Depois da Meia Noite'


    Muitos filmes passam despercebidos por grande parte do público, e acabamos deixando passar aqueles que realmente tocam nosso coração. ‘Sete Minutos Depois da Meia Noite’ brinca com o mundo imaginário e real entregando uma história emocionante, brilhantemente triste e as mais verdadeiras mensagens de superação. 

     A trama gira em torno de Conor (Lewis MacDougall), um garoto de apenas 13 anos que enfrenta dificuldades em seu cotidiano - vítima de bullying, filho de um pai ausente e cuja mãe (Felicity Jones) está lutando contra o câncer. O garoto passa a conviver com a quase desconhecida avó (Sigourney Weaver) que não gosta de crianças. Diante desse cenário, surge um monstro em forma de árvore (voz de Liam Nesson), com o intuito de ajudá-lo a descobrir sua verdade e lidar com seus problemas.      
 
   Dirigido pelo competente J. A. Bayona (conhecido pelos ótimos ‘O Orfanato’ e ‘O Impossível’), aqui é interessante ver resquícios de seus trabalhos anteriores. Além do jogo de paradoxos com o mundo real e fantástico, o cineasta entrega cenas de grande impacto visual, como visto em ‘O Impossível’. Mais uma vez, ele mostra como contar a história em seus movimentos de câmera e sabendo utilizar os efeitos visuais a seu favor, apenas para enriquecer o roteiro.  

  É notável a forma como o filme explora ao máximo a emoção do espectador. O roteiro de Patrick Ness, também autor do livro no qual o longa é adaptado, realiza um ótimo desenvolvimento do protagonista apresentando suas condições, criando um vinculo do espectador com o personagem, a fim de entendermos todo o sofrimento do garoto. Assim sendo, a emoção é tangível, e Bayona explora a narrativa de conto de fadas para preconizar maneiras de lidar com temas reais, através da grandiosidade dos efeitos visuais e a impressionante riqueza na construção do imaginário.

  Mas o roteiro definitivamente conquista o espectador na relação familiar, nos diálogos e na força de seu subtexto. O símbolo da árvore é imprescindível para representar a real fase da mente de uma pobre criança, narrando três lindas animações feitas de aquarela para encontrar a verdade. Outro exemplo é a forma maniqueísta como o bullying é tratado, a ponto do garoto não se importar.  E tudo isso é sutil, sem cair no melodrama barato forçando qualquer espectador aos prantos.        

  Contribuindo nessa triste e emocionante história, a atuação de Lewis MacDougall, Felicity Jones e Sigourney Weaver são as mais humanas possíveis. A atriz Felicity Jones, entrega tudo de si, trazendo momentos dramáticos sem cair no choro forçado e uma linda relação com seu filho. Já o pequeno MacDougall está comprometido, mas não consegue passar toda a emoção de seu personagem, porém ficamos comovidos por ele por conta do admirável roteiro. E por fim, a voz do Liam Nesson é espetacular!              

     ‘Sete Minutos Depois da Meia Noite’ pode apresentar alguns deslizes em seu roteiro por entregar cenas óbvias demais, mas é incrivelmente lúdico, emocionante, triste, além de ser um verdadeiro símbolo metafórico para infância, dor, perda, superação e luto.  


NOTA: 8,0

    

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Crítica - 'Moonlight'


     De onde vim? Para onde vou? Quem eu sou? Essas três indagações sempre estiveram presentes ao longo da história humana na tentativa de elucidar às possíveis respostas. De forma condolente e verdadeira, ‘Moonlight’ ingressa nesse contexto para encontrar a verdadeira identidade do homem diante das adversidades e conexões ao seu redor.           

   Escrito e dirigido por Barry Jenkins, a partir de uma idéia de uma peça, o filme nada mais é que um verdadeiro estudo de personagem. Ambientada nos anos de 1980, a trama acompanha a trajetória do tímido garoto Chíron, crescido em uma comunidade pobre em Miami ao lado de sua mãe alcoólica (Naomie Harris), até sua fase adulta.

  O filme acompanha a trajetória do garoto Chíron em três fases da vida: infância, adolescência e adulta. Durante esses eventos, sua personalidade construída nos minutos iniciais e o ambiente hostil em que vive são essenciais para a trama crescer, e o espectador sentir todo o peso e a dor do personagem. E isso, o diretor Jenkins consegue fazer com perfeição realizando um trabalho de consciência social muito forte, além de tratar a questão da identidade com lirismo e realismo, e em como as pessoas a nossa volta molda nosso caráter.                

 ‘Moonlight’ é muito mais que uma jornada de autodescoberta. A trama levanta questão sobre a criação familiar, sexualidade, drogas, conceito de masculinidade, identidade negra, e os conflitos vivenciados pelo protagonista, como o bullying. Mesmo diante de todos esses tópicos, o filme nunca se torna moralizante e trabalha todos esses elementos com sutileza.

  Tímido, quieto e fraco, a personalidade imprimida pelo pequeno Chíron é interpretado pelo ator Alex R. Hibbert e posteriormente pelos atores Ashton Sanders e Trevante Rhodes, na adolescência e na fase adulta, respectivamente. Com o crescimento do personagem diante de todas as dificuldades, os três atores são muito competentes em traçar sua personalidade e sua maturidade com o passar dos anos. Com destaque ao R. Hibbert, que mesmo quieto, consegue transmitir todo seu sofrimento com um olhar. E na fase adulta recordando todas as suas mágoas.         

   Com um primeiro ato excelente, o filme cai de produção nos atos decorrentes. ‘Moonlight’ se torna pragmático e seu ritmo cadenciado, e alguns momentos tediosos, cansa o espectador com a chegada do último ato. Porém, continuamos a par da história pelo competente trabalho de edição e montagem da trama.   


  Mesmo pragmático, ‘Moonlight’ é um refinado estudo de personagem abrangendo temas complexos com lirismo, poesia, e acima de tudo, realismo.   



NOTA: 8,5






quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Crítica - 'Enjaulada (Pet)'


   Em um jogo de gato e rato, quem é o vencedor? Diante desse contexto, ‘Pet’ brinca com a dinâmica de poder inerente em um suspense psicológico levando em consideração o seguinte risco: a presa pode ser mais perigosa que o predador.                
 
   A trama não é nenhuma novidade, e sua premissa é muito parecida com vários outros filmes do gênero. Aqui, Seth (Dominic Monaghan), um obscuro zelador de abrigo de animais, se depara com sua antiga paixão platônica, Holly (Ksenia Solo) e, posteriormente, torna-se obcecado por ela, chegando ao ponto de mantê-la presa debaixo do abrigo de animais de onde trabalha.                          
 
  Dirigido pelo pouco conhecido Carles Torrens, o cineasta não procura aprimorar o roteiro, e os diálogos triviais e irrisórios estão presentes em todo o filme. Frases como “Não sou um psicopata, ok?”, “Depois de todos esses anos, senti algo”, e outras repetidas não representa a aversão da trama em si.  Em conseqüência, a reviravolta de ‘Pet’ está muito longe do que os clássicos do gênero elaboraram, pelo fato de Torrens não manipular a visão do espectador enchendo o segundo ato de elementos ominosos como, flashbacks e amigo invisível.                    
 
  Em compensação, o cineasta mostra-se hábil em manter uma boa tensão, um trabalho muito interessante nas edições e o ótimo emprego da iluminação no jogo de luz e sombra, causando maior tensão. Além de contar com a ótima atuação de Ksenia Solo transitando muito bem todas as camadas de sua misteriosa personagem, e a boa interpretação de Monaghan, principalmente na segunda metade mostrando a loucura de Seth, diferente na primeira metade que falha ao tentar ser carismático para o espectador.  
 
  Seguindo a clássica narrativa de filmes de suspense, ‘Pet’ procura surpreender o espectador, mas cai nos velhos chavões do gênero.


NOTA: 5,8



terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Crítica - 'La La Land'


    O subtítulo ‘Em Busca Da Perfeição’ de Whiplash foi concretizado pelo prodígio Damien Chazelle em ‘La La Land’. Diretor e roteirista, Chazelle apresentou ao mundo o espetacular ‘Whiplash’ (ganhador de três Oscar em 2014), e passou a ser a grande promessa da sétima arte. Aqui, novamente ele apodera-se da música para encantar a todos com um dos melhores musicais de todos os tempos.      

    Após uma fantástica cena de abertura em plano-sequência acompanhando várias pessoas abandonando seus carros para cantarem, entra em cena Mia (Emma Stone), uma jovem atriz com dificuldades de conseguir um trabalho em Hollywood. Em outro plano, o pianista Sebastian (Ryan Gosling) sonha em ter seu próprio clube de Jazz e em reerguer o gênero.           

   O filme é mais que uma homenagem aos musicais clássicos de Hollywood. ‘La La Land’ tem sua própria originalidade, o cineasta não fica preso aos moldes datados do gênero e mostra personalidade em seu material. Todas as cenas envolvendo a coreografia são realizadas em planos-sequências e, isso é extremamente raro e difícil em musicais.

    Não só isso, aqui sua câmera captura os movimentos dos personagens de forma precisa em meio aos planos abertos, cores vibrantes, figurinos lúdicos repleto de cores primárias, e evitando cortes desnecessários. O ritmo é extremamente agradável, a atmosfera nostálgica é um convite aos clássicos musicais dos anos 40 e 50, a direção de arte fascina os olhares compenetrado do público e as seqüências musicais são perfeitamente inseridas durante a trama. E as músicas... Todos já sabem o que esperar quando falamos de Chazelle.

   Mesmo com uma história simples, sem grandes tramas e conflitos, ‘La La Land’ encontra sua vivacidade quando o casal protagonista divide a mesma tela. Emma Stone e Ryan Goslyng apresentam carisma de sobra, a química é incrível, e o apoio recíproco para o sucesso dos personagens, é o cerne do filme. Como cantores, ambos mostram afinados, mas sem aquela maestria de outros musicais, assim como as sutis coreografias.              

  Escolhendo a música para encantar o mundo novamente, o prodígio Damien Chazelle tem grandes chances de levantar seu primeiro Oscar como diretor e vem como forte concorrente a melhor filme do ano. Gostando ou não de musicais, ‘La La Land’ tem o poder de conectar o espectador nessa bela história otimista, alegórica, e retratando uma singela mensagem: nunca desista de seus sonhos.    


NOTA: 9,0


domingo, 15 de janeiro de 2017

Crítica - 'A Autópsia de Jane Doe'


    ‘A Autópsia de Jane Doe’ é a grande surpresa de 2016. Finalizando o ano com chave de ouro para o terror, o filme comprova o ímpeto do gênero impressionando o público com sua originalidade, eficiência, sem deixar de faltar, o toque assustador, para presentear todos os fãs do gênero e os cinéfilos de plantão. 

    A envolvente trama acompanha Austin Tilden (Emile Hirsch) e Tommy Tilden (Brian Cox), pai e filho responsáveis por gerenciar um necrotério de uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos. A tranqüila rotina deles é interrompida com a chegada de uma misteriosa vitima de homicídio que foi trazida pelo xerife local, sem causa de morte aparente.

  A interessante premissa é o ponto de partida perfeito para prender qualquer espectador. Mesmo em seu rápido 90 minutos, o cineasta André Ovredal consegue extrair a principal essência do roteiro e, sem enrolação, a partir da breve apresentação de seus personagens, ele instiga a curiosidade do público apresentando o interior do corpo humano, principalmente, revelando cada segredo arrepiante do corpo de Jane Doe (Ophelia Lovibond).             

  Como em um bom filme de terror, Ovredal concede uma atmosfera densa e claustrofóbica. Passando boa parte do filme na pequena sala de operação, com o legista, o cadáver e um rádio; todos esses elementos foram primordiais para criar um clima tenso, onde tudo estava caminhando para um suspense psicológico. Porém, a segunda metade não mantêm o mesmo vigor e perde sua originalidade caindo nos clichês do gênero, causando os famosos jumpscares.          

  Mesmo nessa situação, o cineasta cria boas cenas tensas mostrando-se lidar muito bem com os recursos técnicos, mantendo o ambiente iluminado mesmo nos momentos mais escuros, além de trazer uma trilha sonora sinistra e perfeita para adotar o ritmo do filme e trabalhando em cima da aflição.

 Com performances competentes da dupla Hirsch e Cox, e a presença pungente da atriz Lovibond, André Ovredal é o nome mais surpreendente do ano entregando uma obra original, que vem sendo raro no mercado atual e, acima de tudo, merece a atenção de todos. ‘A Autópsia de Jane Doe’ consagra o terror como o melhor gênero de 2016.


NOTA: 7,8

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Crítica - 'Sob As Sombras'


    O ano de 2016 é definitivamente do horror. O inicio desse ano apresentou grandes produções do gênero afirmando novamente sua contemplação pelo público, após um período recente marcado pela falta de criatividade, chavões e sustos baratos. Elogios de cinéfilos e de críticos, ‘Sob as Sombras’ é mais um a entrar nessa lista.         

   A trama acompanha Shideh (narges Rashidi), mãe de Dorsa (Avin Manshadi), durante a guerra entre Irã e Iraque em 1988, na capital do Irã.  Tentando sobreviver em meio a explosões de bombas e mísseis, a relação mãe e filha é intensificada quando Shideh se torna obcecada pela ideia que sua filha está possuída pelos espíritos demoníacos chamados Djinn.

   A primeira metade de ‘Under the Shadow’ é possante, concedente um alto valor dramático de alta tensão. Diferente de grande parte das produções do terror, o filme não se preocupa em partir para o susto em seus minutos iniciais, aqui o ritmo é cadenciado definido pelo ótimo desenvolvimento de seus personagens e permeando dúvidas da cabeça do espectador sobre qual gênero estamos assistindo, drama ou horror.                           


   Marcando seu território até chegar a seu clímax, o filme introduz pequenas cenas de suspense que deixa o público engajado. Coisas começam a sumir, mudança comportamental, além de encaixar a trama diante do contexto histórico. O crescente suspense começa a partir da consciência da protagonista em acreditar em espíritos malignos e, o cineasta Babak Anvari trabalha isso com maestria juntando o real com o mágico em meio a seus desordenados movimentos de câmera.

  Com uma história simples, porém eficiente. Com poucos jumpscares e seu último ato caindo nos clichês do gênero, ‘Sob as Sombras’ não deve agradar a todos os amantes do terror, porém é mais uma produção venerada neste ótimo ano para o gênero.


NOTA: 6,9



sábado, 7 de janeiro de 2017

Crítica - 'A Garota No Trem'


  Mais um suspense chega às telas do cinema proveniente de um Best-seller. A autora do momento é Paula Hawkins, e sua grande obra ‘A Garota No Trem’ vem rendendo discussões a cerca da proximidade com a ‘Garota Exemplar’, lançado em 2014. Esqueça as comparações, aqui o filme não apresenta a mesma elegância da história de Gillian Flynn, mas anuncia sua força em outros temas. 

    Baseado da obra de mesmo título, ‘A Garota no Trem’ acompanha Rachel (Emily Blunt), uma alcoólatra, deprimida, recém divorciada e passa todos os seus dias viajando de trem refletindo sobre suas perdas e fantasiando a vida de um jovem casal que vigia pela janela. No meio de suas angústias, ela se vê envolvida sobre o desaparecimento de uma mulher.          
   A direção assinada por Tate Taylor narra a trama a partir da visão de três personagens: Rachel, Megan e Anna. O suspense é marcado pelos segredos e anseios proibidos de cada uma, e para isso o grande mérito do cineasta foi deixar uma sequencia de pistas com reflexos a serem desvendados no futuro.        

   Por outro lado, o fato da estrutura narrativa ser baseada nos eventos dos três personagens, a trama não acrescenta camadas para nenhum deles. O filme apenas apresenta as características definidas nos minutos iniciais e, fica por isso mesmo, são elas: a alcoólica, dona de casa e a meretriz. Dessa forma, Taylor descreve-as transitando em diferentes linhas de tempo e perspectiva, porém isso não é bom.            
 
   A constante oscilação na linha de tempo torna o ritmo cansativo, a ponto do espectador desistir; sem contar as edições desnecessárias, responsáveis por quebrar o ritmo da narrativa. Para compensar, os últimos trinta minutos da produção são instigantes com uma interessante reviravolta e somos contemplados com uma performance excelente da britânica Emily Blunt transmitindo toda sua tristeza e desequilíbrio emocional alimentado pela sua obsessão e contestação.                 
 
   Contando também com boas atuações das atrizes Haley Bennett e Rebecca Ferguson, e a cautelosa cinematografia distinguindo cada um de seus personagens. ‘A Garota no Trem’ retrata com excelência questões como a depressão, o alcoolismo e o abuso doméstico, porém essa sua grande virtude é deixada de lado com a chegada de seu último ato.  


NOTA: 6,9     



quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Crítica - 'Animais Noturnos'


    Após sete anos a espreita, Tom Ford está de volta. E esse retorno não poderia ser melhor, conhecido pelo excelente “O Direito De Amar” (“A Single Man”, 2009), o cineasta mostra-se mais preparado, revigorado e maduro, presenteando todos com mais um extraordinário trabalho em seu segundo longa-metragem, ‘Animais Noturnos’.                                               

   Na trama, Susan (Amy Adams) é uma negociante de arte infeliz na sua vida pessoal e profissional. Um dia, ela recebe o manuscrito de seu ex-marido Edward (Jake Gylenhaal), e durante a tensa leitura, ela descobre verdades dolorosas de seu próprio passado e as causas de suas tristezas e fracassos amorosos.    

   Aqui temos três histórias em uma: o passado e presente da protagonista, e a história de seu ex-marido titulado de ‘Animais Noturnos’. Dessa forma, o cineasta Ford trabalha com maestria os três arcos narrativos apresentando o real semblante de cada uma elas sem nunca parecer previsível. Em conseqüência, o presente explora o psicológico da protagonista e sua infelicidade, seu passado dramático envolvendo seu caso amoroso e a história densa, violenta, cruel e impiedosa do livro.                                                

   Todas essas transições das histórias são perfeitas e de fácil compreensão. Tal contemplação é realçada pela edição extremamente precisa e pela cinematografia distintas para cada momento datado pelo filme – mundo intrínseco do livro, atmosfera afetuoso do passado, estética forte com cores vivas no presente.  
 
   Não podemos deixar de mencionar a força do elenco de ‘Animais Noturnos’. Aqui o cineasta cria personagens difíceis do público ter qualquer tipo de vinculo emocional com eles, o mais humano é o personagem de Jake Gylenhaal que está ótimo em cena transmitindo todo o desespero e o horror, e merecedor de receber indicação ao Oscar 2017 .    

  Temos também a incrível Amy Adams em um papel difícil, demonstrando toda sua tristeza e o peso de seu passado, a presença marcante de Michael Shannon vivendo o delegado Bobby Andes sem nada a perder, Aaron Taylor-Johnson concedendo uma grande profundidade na pele de um psicopata e a ilustre presença de Laura Linney dando um show de interpretação em apenas uma cena.                    

   O filme não entrega uma forte relação entre literatura e cinema, e sua principal premissa soa frágil, porém ‘Animais Noturnos’ é maior que a força de seu elenco, não é para qualquer um, é intrínseco, reflexivo e retrata como lidamos sobre as decisões erradas e os sentimentos de culpa, perda e devoção.


NOTA: 8,2