Difícil
encontrar um filme mais perturbador que ‘Brimstone’. Fugindo dos tradicionais
faroestes, o cineasta holandês Martin Koolhoven recria o gênero abordando
questões pesadas, impactantes e pertinentes nos dias atuais em um Western
feminista, violento, sádico, deixando clássicos de Tarantino e de Sam Peckinpah
parecerem um romance.
A
trama acompanha Liz (Dakota Fanning), uma mulher corajosa que busca reconstruir
sua vida após seu trágico passado, mas passa a ser perseguida por um fanático
religioso (Guy Pearce). Diante dessa situação, ela vai lutar pela sua vida e
proteger sua filha e seu marido.
Escrito
e dirigido por Koolhoven, ‘Brimstone’ conta sua história de maneira diferente
do usual: capitular e não cronológica. Dividido em quatro capítulos, o diretor
instiga e também confunde o espectador com seu roteiro não-linear com o
propósito de revelar surpresas impressionantes. O primeiro capítulo é um
convite para o público interessar pelo suspense originado, o segundo e o
terceiro revelam as surpresas dos personagens, e o último retorna a fase
inicial do filme.
Apesar
de confuso e um pouco comprido, é muito inteligente a forma como o diretor
constrói a narrativa envolvendo o espectador. E isso pode ser bom ou ruim
dependendo de quem está assistindo. Pois, ‘Brimstone’ é um filme denso, pesado,
violento, triste e trata questões fortes sem querer suavizar como, incesto,
carnificina, misoginia, sadismo. Não é pelo fato do filme ser isso ou aquilo,
mas sim uma oportunidade de enxergar a misoginia e seus efeitos negativos.
Diferente
dos faroestes, aqui a mulher está em primeiro plano justamente para dar mais força
a esses temas em sua constante luta contra os abusos do homem. E a Dakota
Fanning consegue transmitir toda a dor, perda, medo de sua personagem que
muitas vezes sem dizer nada, diz tudo. E ela, muda, imutável, padece como uma
verdadeira lutadora.
Mas
os impactos dessas questões são realçados pela atuação impecável de Guy Pearce.
Sua presença da medo e ódio em qualquer espectador, suas atitudes são realmente
chocantes, além de usar a religião como desculpa de seus atos, Pearce merece
uma indicação ao Oscar aqui. Vale também destacar a atuação fantástica da atriz
Emilia Jones, de apenas quatorze anos, vivendo todo o sofrimento da Liz em seu
passado. E ainda temos a presença de Kit Harrington (O Jon Snow de ‘Game Of
Thrones’), mas que infelizmente não tem muito a oferecer.
Com
um elenco diversificado, alguns personagens não precisam existir na trama, como
o caso do companheiro de Samuel (Harrington) ,e em conseqüência
também poderia poupar algumas cenas desnecessárias de atrocidades, para tornar o filme mais dinâmico em seus 148
minutos, além do filme apresentar algumas pontas soltas em seu roteiro.Mas nada
que tire o grande mérito de ‘Brimstone’.
Visualmente
espetacular desde a fotografia dessaturada no inicio da produção (lembrando
muito ‘A Bruxa’) ao clima quente do Western, sem nunca perder a atmosfera
pesada associado a uma trilha sonora sombria condizente com a temática do
filme. ‘Brimstone’ é uma história de resistência a crueldade intransigente, um
poderoso conto contra os impiedosos e não é para qualquer um.
NOTA: 8,5