Estreias

quinta-feira, 30 de março de 2017

Crítica - 'Brimstone'


   Difícil encontrar um filme mais perturbador que ‘Brimstone’. Fugindo dos tradicionais faroestes, o cineasta holandês Martin Koolhoven recria o gênero abordando questões pesadas, impactantes e pertinentes nos dias atuais em um Western feminista, violento, sádico, deixando clássicos de Tarantino e de Sam Peckinpah parecerem um romance. 

     A trama acompanha Liz (Dakota Fanning), uma mulher corajosa que busca reconstruir sua vida após seu trágico passado, mas passa a ser perseguida por um fanático religioso (Guy Pearce). Diante dessa situação, ela vai lutar pela sua vida e proteger sua filha e seu marido.    

   Escrito e dirigido por Koolhoven, ‘Brimstone’ conta sua história de maneira diferente do usual: capitular e não cronológica. Dividido em quatro capítulos, o diretor instiga e também confunde o espectador com seu roteiro não-linear com o propósito de revelar surpresas impressionantes. O primeiro capítulo é um convite para o público interessar pelo suspense originado, o segundo e o terceiro revelam as surpresas dos personagens, e o último retorna a fase inicial do filme.   

  Apesar de confuso e um pouco comprido, é muito inteligente a forma como o diretor constrói a narrativa envolvendo o espectador. E isso pode ser bom ou ruim dependendo de quem está assistindo. Pois, ‘Brimstone’ é um filme denso, pesado, violento, triste e trata questões fortes sem querer suavizar como, incesto, carnificina, misoginia, sadismo. Não é pelo fato do filme ser isso ou aquilo, mas sim uma oportunidade de enxergar a misoginia e seus efeitos negativos.



  Diferente dos faroestes, aqui a mulher está em primeiro plano justamente para dar mais força a esses temas em sua constante luta contra os abusos do homem. E a Dakota Fanning consegue transmitir toda a dor, perda, medo de sua personagem que muitas vezes sem dizer nada, diz tudo. E ela, muda, imutável, padece como uma verdadeira lutadora.    

  Mas os impactos dessas questões são realçados pela atuação impecável de Guy Pearce. Sua presença da medo e ódio em qualquer espectador, suas atitudes são realmente chocantes, além de usar a religião como desculpa de seus atos, Pearce merece uma indicação ao Oscar aqui. Vale também destacar a atuação fantástica da atriz Emilia Jones, de apenas quatorze anos, vivendo todo o sofrimento da Liz em seu passado. E ainda temos a presença de Kit Harrington (O Jon Snow de ‘Game Of Thrones’), mas que infelizmente não tem muito a oferecer.

  Com um elenco diversificado, alguns personagens não precisam existir na trama, como o caso do companheiro de Samuel (Harrington) ,e em conseqüência também poderia poupar algumas cenas desnecessárias de atrocidades, para  tornar o filme mais dinâmico em seus 148 minutos, além do filme apresentar algumas pontas soltas em seu roteiro.Mas nada que tire o grande mérito de ‘Brimstone’.          

   Visualmente espetacular desde a fotografia dessaturada no inicio da produção (lembrando muito ‘A Bruxa’) ao clima quente do Western, sem nunca perder a atmosfera pesada associado a uma trilha sonora sombria condizente com a temática do filme. ‘Brimstone’ é uma história de resistência a crueldade intransigente, um poderoso conto contra os impiedosos e não é para qualquer um.  

NOTA: 8,5


quinta-feira, 23 de março de 2017

Crítica - 'Fragmentado'


   É complicado ser fã desse tal de M. Night Shyamalan. Com uma carreira de altos e baixos, o cineasta e também roteirista conquistou o mundo com o clássico ‘O Sexto Sentido’ e, desde então, ele nunca mais conseguiu supera - lá. Posteriormente, Shyamalan entrou no hall da fama com a chegada dos muito bons ‘Corpo Fechado’ e ‘Sinais’. A partir daí, a decepção tomou conta da maioria dos seus fãs com suas vindouras obras ‘O Último Mestre do Ar’, ‘Depois Da Terra’ e ‘Fim Dos Tempos’. Com o anúncio de seu novo filme, ‘Fragmentado’, a dúvida pairava pela qualidade do material, e felizmente podemos afirmar que ele está de volta.   

   Após três adolescentes serem seqüestradas em um estacionamento de um mercado, elas passam a conhecer seu agressor, Kevin (James McAvoy), sujeito que possui vinte e três personalidades distintas e consegue alterná-las apenas com a força do pensamento. Presas em um pequeno cômodo, elas buscam alternativas para fugir do local.            
 
   Com uma premissa interessante e um diretor consagrado no gênero, a história por si só empolga o espectador.  Logo no primeiro ato, quando o conflito é inserido, a curiosidade evoca o público a se envolver pela trama e as múltiplas facetas de Kevin, porém essa sensação não permeia durante toda a produção e se perde com a chegada do segundo ato marcado por um ritmo vagaroso, cenas repetidas e um roteiro começando a dar indícios de um simples filme de suspense.     
            
   Nesse período, Shyamalan encontra ótimas soluções para manter o público atento, como também apresenta alguns pontos problemáticos. Ele soube muito bem manipular os espaços fechados concedendo o clima de tensão e claustrofobia para o filme, com um ótimo trabalho de iluminação, principalmente nas cenas mais escura. Sua transição das visões dos personagens Kevin, a garota e a psicóloga Karen Fletcher é essencial para o crescente suspense na trama, e o roteiro que parecia perder sua identidade, toma um novo rumo muito promissora e instigante (não comentado para evitar spoiler). 

   Como na trama são apresentadas três garotas, Casey Cooke, Claire e Marcia, apenas Casey é relevante e as outras duas são completamente esquecidas e sequer temos alguma simpatia por elas. Outro erro do cineasta é inserir flashbacks sobre o passado d a vítima em momentos inoportunos quebrando o ritmo do filme.     

   O filme não apenas se vendeu por ser mais um suspense de Shyamalan, como também pelas interpretações múltiplas de James McAvoy. O ator está excelente conseguindo em uma mesma tomada mudar sua personalidade com um ótimo trabalho de voz e de corpo, McAvoy entrega talvez a sua melhor atuação da carreira. Quem também não fica para trás é Anya Taylor-Joy, mais uma vez ela comprova seu talento (ótima em ‘A Bruxa’ e ‘Morgan’) encarnando uma vitima engenhosa (difícil em ver na maioria dos filmes), demonstrando um senso de perigo e um comportamento perturbado. ‘Fragmentado’ vale muito assistir por essas fortes atuações.         

   ‘Fragmentado’ volta a ganhar ritmo em seu último ato, seu final é irretocável e deve agradar os fãs de carteirinha do diretor, além de trazer o bom e velho Shyamalan de volta.                                                                  

NOTA: 7,8

segunda-feira, 20 de março de 2017

Crítica - 'A Bela e a Fera'


    A magia e o encantamento de ‘A Bela e a Fera’ nunca deixara de existir. É inevitável deixar de comparar o live-action com a consagrada animação de 1991, mas ficar preso no dilema de se importar no quanto o filme é próximo a obra original, é aconselhado você dar meia volta e seguir sua direção. Ou então, o melhor caminho é sentar em sua poltrona e se deixar levar pelo fascínio e nostalgia de uma clássica fábula.  

    A trama acompanha Bela (Emma Watson), uma moradora de um pequeno vilarejo na França e vista como uma mulher muito a frente de seu tempo, ou melhor, esquisita para a maioria. Quando seu pai é capturado pela Fera (Dan Stevens), ela decide entregar sua vida em troca da liberdade dele, e durante seu tempo no castelo ela acaba se apaixonando pela criatura monstruosa que um dia fora um príncipe.   

   É bem verdade que ‘A Bela e a Fera’ se assemelha a sua obra original, mas a Disney trouxe novos elementos para ampliar a história.  A adaptação nessa versão em live-action é longo, mais carregado, apresenta um elenco diversificado, acrescenta novos números musicais e apresenta histórias paralelas que moldam a característica da Bela. Dentre todos eles vemos pontos altos do filme, como também baixos, então vamos a eles.         

  Primeiro, a fábula apresenta a figura materna da Bela e, isso enriquece o material, porém esse elemento é muito passageiro na trama e não tem qualquer peso. Segundo, a presença da feiticeira é dispensável e pode revoltar mais os fãs. Terceiro, as novas músicas são inferiores ao original, não trazem um grande significado e tem mais a função de resumir cada acontecimento. Quarto, o grande mérito aqui é a comovente relação entre Bela e seu pai, o humor de  LeFou  ao lado de Gaston, e a icônica presença de Lumière, Horloge e os outros  seres animados (nos excelentes trabalhos de voz).   

  A direção assinada por Bill Condon é preciso em trabalhar os números musicais com interessantes movimentos circulares de câmera e em recriar um ambiente mágico perfeito para contar uma fábula. Como em todos os filmes da Disney, o design de produção é impecável encontrando o contraste ideal entre o figurino e os grandiosos cenários, porém a fotografia é escura e não simboliza os diferentes sentimentos no filme (estranho ver uma fotografia razoável em um orçamento alto).    

  Já nas cenas de ação, Condon perde a mão e exagera nos cortes enfatizando as conseqüências (o uso de planos abertos seria mais envolvente) e o trabalho de edição/montagem com a falta noção de espaço geográfico quando o filme transporta do castelo para o vilarejo são os grandes problemas da produção.    

  Com a presença carismática de Emma Watson no papel da Bela, uma atuação excelente de Luke Evans apresentando todo o charme de Gaston, e o leve humor de Lefou também na boa interpretação de Josh Gad. Próximo a sua obra de 1991, ‘A Bela e a Fera’ é extremamente nostálgica e vai agradar a todos que buscam se encantar novamente pela sua velha história.
   

NOTA: 7,3

                 

quinta-feira, 16 de março de 2017

Crítica - 'No Fim Do Túnel'


    ‘No Fim Do Túnel’ comprova a ótimo momento do cinema argentino. Não é de hoje que o cinema argentino vem se tornando referência mundialmente, detentores de dois Oscar e presenteando a todos com obras-primas, como ‘O Segredo Dos Seus Olhos’, ‘Nove Rainhas’, ‘Relatos Selvagens’, ‘O Homem Ao Lado’, e mais uma vasta gama de produções de primeira qualidade. O novo filme de Rodrigo Grande não chega a ser do mesmo nível dos citados, mas merece atenção.   

   Na trama, conhecemos Joaquín (Leonardo Sbaraglia), um solitário cadeirante que passa boa parte do tempo consertando computadores em seu sótão. Sua rotina muda quando Berta (Clara Lago), e sua filha vão até a sua casa para alugar um quarto que ele havia anunciado. Com novos ares em sua casa, durante uma noite de trabalho, Joaquin estranha ao escutar ruídos na casa ao lado e com ajuda de seus equipamentos eletrônicos, descobre que um grupo de ladrões, liderado por Galereto (Pablo Echarri) está construindo um túnel em baixo da casa, com o objetivo de roubar um banco, levando – o a se atentar aos novos hospedes.

  De início, a sinopse pode não atrair o espectador por parecer mais um filme qualquer de suspense, mas há quem se engane. O roteiro e a direção assinada por Rodrigo Grande fez um trabalho engenhoso em prender a atenção do espectador jogando peças durante a narrativa para tudo se encaixar apenas no final da produção. Mesmo os minutos iniciais não apresentarem fielmente todos os personagens e a estranha forma de como os fatos são apresentados rapidamente - a relação entre Joaquin e Berta, a trama reserva uma boa surpresa para iniciar o suspense.    
      
  A partir dessa grande revelação, a trama cresce e o suspense e a aflição toma conta da produção. Mesmo com sua deficiência física, Joaquín elabora um plano e abusa de sua capacidade física para impedir os ladrões de construir um túnel. E nesse jogo de gato e rato, o diretor consegue criar um clima de suspense de primeira qualidade, em um trabalho preciso da mise-en-scène – uma paleta fria de cores tanto na fotografia, e na construção do cenário, enquadramentos claustrofóbicos e um interessante trabalho de mixagem de som (méritos para a cena onde escutamos apenas a respiração do protagonista dentro do túnel).      
 
  ‘No Fim Do Túnel’ também conta com atuações excelentes de Leonardo Sbaraglia (‘Relatos Selvagens’), Clara Lago e Pablo Echarri. Acreditamos na deficiência do protagonista, e o ator Sbaraglia fez isso com maestria com um ótimo trabalho corporal e trabalhando todos os nuances do personagem que aparentemente aparece arrogante e posteriormente afável. Já Clara Lago ganha a simpatia de Joaquin e do público, e reservando um grande mistério. E Pablo Echarri entrega toda a imponência de Galereto.                                        

  Com a segunda metade e, principalmente, o último ato caindo em alguns clichês do gênero tornando o longa previsível. ‘No Fim Do Túnel’ é um suspense como manda o figurino: envolvente, cria um clima de tensão, conta com ótimas atuações e revela bons mistérios.
 
NOTA: 7,5


                         

terça-feira, 14 de março de 2017

Crítica - 'Fome De Poder'


   Após o grande alvoroço por trás de ‘Fome de Poder’ ser um dos fortes candidatos ao Oscar 2017, é possível enxergar o porquê dele não ser indicado a nenhuma categoria. Contando uma história significativa, notável, interessante e desconhecida pela grande maioria, além de dispor do ator Michael Keaton que se reencontrou em Hollywood, a produção dirigida por John Lee Hancock, de fato, tem um ótimo material, porém não entrega seu verdadeiro valor.   


   Baseado em fatos reais, a trama conta a história da ascensão do McDonald’s, narrando como Ray Kroc (Michael Keaton), um vendedor de Illinois, conheceu Mac e Dick McDonald, os irmãos responsáveis por uma rede de hambúrgueres no sul da Califórnia, na década de 1950.  Impressionado com o veloz sistema de produção de comida criado pelos irmãos, Kroc resolveu ampliar o negocio, enxergando ali o potencial para uma franquia. O resultado é visto hoje em dia.                          
   A direção assinada por Lee Hancock consegue fazer um ótimo trabalho inicial quando o personagem Kroc conhece os irmãos Mac e Dick, envolto de uma interessante história retratando como foi o início do crescimento do McDonald’s, suas dificuldades inicias e a brilhante idéia de seu sistema de produção para a época. Elementos, estes, essenciais para uma verdadeira aula de empreendedorismo, e fomentando a curiosidade do público.

   Já na segunda metade, o filme não consegue manter o mesmo interesse do espectador, à medida que os conflitos surgem. ‘Fome de Poder’ trata assuntos delicados a cerca dos negócios, do problema financeiro de Kroc e da rivalidade entre ele e os irmãos Mcdonald’s de maneira despretensiosa, tudo é inserido na trama sem grandes desenvolvimentos.  Não existe qualquer interesse do diretor em discutir as colossais polêmicas que marcaram a rede entre a década de 1950 e 1960. Em conseqüência, ficamos na expectativa de querer saber mais.                 

  Vale destacar a grande atuação de Michael Keaton e dos atores Nick Offerman e John Caroll Lynch. Após a grande atuação em ‘Birdman’, Keaton mais uma vez entrega um belo trabalho, e os coadjuvantes Offerman e Caroll retrata as distintas características dos irmãos Mcdonald’s com a dubiedade de confiar em Kroc. Já a atriz Laura Dern é subutilizada na trama, e sofre pelo ineficiente roteiro.               

  ‘Fome de Poder’ conta uma história relevante e desconhecida por muitos, além de provocar o capitalismo, onde os vencedores são vistos geralmente como cruéis e os perdedores idealistas. Porém, faltou o poder para discutir as grandes polêmicas enredadas. 


NOTA: 7,1 

quinta-feira, 9 de março de 2017

Crítica - 'John Wick: Um Novo Dia Para Matar'


     Vem se tornando cada vez mais raro indicar filmes de ação nos últimos anos. Muito destes vem sempre batendo na mesma tecla e não oferecem nada de inovador, e acabamos vendo uma cópia dos demais. Hoje existem muitas continuações que aproveitam de sucesso de seu precursor apenas para lucrar, e não buscam desenvolver a trama, os personagens e até mesmo a ação não empolga.  Felizmente, alguns buscam algo a mais, algo engrandecedor, e esse é o caso de ‘John Wick: Um Novo Dia Para Matar’, que melhora ainda mais a formula de seu antecessor. 

    A trama continua exatamente de onde ‘De Volta Ao Jogo’  parou, com John Wick (Keanu Reeves), o melhor matador profissional conhecidos por muitos, indo atrás de seu carro.  Almejando sua aposentadoria, Wick se vê mais uma vez em uma encruzilhada quando o sujeito Santino D’ Antonio (Riccardo Scarmacio) cobra o seguinte favor: que mate sua irmã em Roma, e em troca assinaria sua promissória para deixar o posto de assassino profissional.              

   O filme já mostra para o que veio apenas em sua seqüência inicial. É cinema de ação de primeira qualidade. Planos-sequência, cenas com poucos cortes, edição precisa, pouco uso de computação gráfica e coreografias insanas, isso é apenas um convite para o espectador esperar o que ainda esta por vir.    

   Mantendo o mesmo diretor de seu antecessor, a direção de Chad Stahelski é mais presente aqui. Ele mostra ter um senso de execução muito aguçado utilizando planos mais longos e uma edição para dar continuidade ao fluxo da ação deixando a movimentação fluir naturalmente, sem deixar ser rápido demais. Assim, gerando cenas de ações excelentes, mais agradável e impactante, realçado pela ótima mixagem de som causando desconforto para os espectadores.           

 Mas o filme não se resume a apenas pancadarias, ‘John Wick 2’  expande a imagem de seu universo. Temos mais mortes, mais energia, é mais violento, mais refinado, mais tudo. Até o leve humor é bem vindo para aliviar a violência presente em boa parte da produção. A iconografia é unicamente feito para esse filme - tudo é mais charmoso, e a trilha sonora casa perfeitamente com as cenas de ação.     

  Como John Wick, Keanu Reeves encontrou o molde perfeito de seu personagem e sempre mostrou empenhado em seu papel. Do outro lado, o antagonista vivido pelo ator Common é o contraposto perfeito do protagonista. Já o ator Scarmacio não convence na pele de D’ Antonio e a atriz Ruby Rose (a Ares) não entrega o peso feminino a trama e aparece ser uma personagem descartável, sem qualquer autoridade.          

  Em meio a filmes de ação convencionais e pouco empolgantes nos dias atuais, ‘John Wick’ veio para  surpreender elevando sua fórmula garantindo diversão única para os fãs e não fãs do gênero.


 NOTA: 7,5

terça-feira, 7 de março de 2017

Crítica - 'Logan'


    Em sua última cartada, ‘Logan’ finaliza a saga X-Men com chave de ouro. A franquia de fato sempre fora confusa e acumulou mais filmes ruins, regulares e poucos são definitivamente bons, estes conhecidos por corrigir os erros dos outros. Porém, no apagar das luzes, a franquia transforma sua fantasia em realismo e arremata a era do astro Hugh Jackman da maneira mais digna possível.         

    Passado em 2029, vemos Logan velho, cansado de ser o Wolverine e ganha a vida como chofer de limousine para cuidar do doente professor Xavier (Patrick Stewart). Tudo muda quando Logan é procurado por Gabriela (Elizabeth Rodriguez), uma mulher mexicana que necessita da ajuda do ex X-Men, pois sua suposta filha Laura Kinney está sendo perseguida por uma organização perversa, comandada por Donald Pierce (Boyd Holbrook).      

  ‘Logan’ é diferente de todos os outros filmes da franquia. Sem aquele mundo de fantasia, repleto de ação e personagens carismáticos, sua faixa etária diz exatamente do que se espera. Acima de dezesseis anos, a atmosfera melancólica, a violência e o drama estão mais presentes representando os efeitos colaterais de Logan ter sido Wolverine. Com poder de cura baixo, cicatrizes em todo corpo e a aparência velha mostra que o verdadeiro vilão do herói, é ele mesmo.               

  Com menos cenas de ações dos outros filmes, aqui todas elas tem um forte significado e tem muito a dizer para a trama e o personagem. Nada é para puro prazer ou diversão. A direção de James Mangold (do bom ‘Wolverine: Imortal’ e do muito bom ‘Johnny & June’) trouxe cenas de ação muito bem coordenadas (destaque para três ótimas cenas) reforçando o senso de realismo e brutalidade e trazendo uma violência excessivamente gráfica. Finalmente, vemos o Wolverine matar como todos nós esperávamos há muito tempo.      

  Como um filme Impiedoso, intimista e melancólico. O desgaste emocional, psicológico e físico é demonstrado com perfeição pelo ator Hugh Jackman – aqui ele simplesmente entrega a sua melhor atuação de todos os X-Mens. Também consumido e coberto de remorso, Patrick Stewart entrega uma atuação digna de merecer uma indicação ao Oscar, e a presença temida pelo “vilão” interpretado por Boyd Holbrook. E a grande surpresa de ‘Logan’ é a vitalidade da pequena atriz Dafne Keen, atuando com poucas falas e transmitindo um olhar intenso, ameaçador e ao mesmo tempo vemos uma simples criança estiolada.   

  Agora explico o porquê de o vilão estar em aspas. Um dos pontos geniais do filme, e a forma como Mangold entrega diferentes visões dos personagens passando uma dúvida na mente do espectador sobre quem é o antagonista - visto nos momentos de batalha onde ele coloca a câmera no ponto de vista de Donald Pierce. O outro ponto é ele conceder um clima de nostalgia relembrando levemente os primeiros X-Mens, principalmente na segunda metade.  

  Mesmo com algumas cenas previsível durante sua projeção, ‘Logan’ é certeiro dentro de sua proposta, é disparado o melhor filme X-Men, seu desfecho é irretocável e se garante com um dos melhores filmes de super-herói de todos os tempos.  


NOTA: 9,5

domingo, 5 de março de 2017

TOP 10: Melhores Filmes de 2016


Como de costume, o 'Filme Na Mente' resolveu fazer a lista dos dez melhores filmes de 2016. Lembrando que nesta lista foram avaliados todos os filmes com lançamentos datados nos Estados Unidos e todos estão linkados direcionados para a crítica!
Também não podemos deixar de fora os filmes que merecem nossa menção honrosa.
Então, vamos a eles:





10º                                 

'DEADPOOL'

Deadpool’ inova os ares do universo da Marvel e carimba entre os melhores filmes baseado em quadrinhos. E a estréia do cineasta Tim Miller, não poderia ser diferente. Cumprindo a enorme expectativa de agradar todos os fãs desse universo, como também qualquer cinéfilo e quebrando o paradigma dos filmes de super-heróis. 

  

                                                   
         

'ELLE'

O cinema sempre foi e sempre será um artifício representativo de questões polêmicas. E quando mencionamos Paul Verhoeven (conhecido por ‘Instinto Selvagem’), mestre em prezar pelo politicamente incorreto, o cineasta volta no auge da controvérsia em ‘Elle’.  Com discussões pertinentes nos dias atuais, a obra distorce os paradigmas associadas a figura do estupro fugindo de qualquer expectativa.     



            

'ANIMAIS NOTURNOS'

Após sete anos a espreita, Tom Ford está de volta. E esse retorno não poderia ser melhor, conhecido pelo excelente “O Direito De Amar” (“A Single Man”, 2009), o cineasta mostra-se mais preparado, revigorado e maduro, presenteando todos com mais um extraordinário trabalho em seu segundo longa-metragem, ‘Animais Noturnos’.     



             

'ATÉ O ÚLTIMO HOMEM'

Afastado atrás das câmeras por um bom tempo, Mel Gibson volta a brilhar em ‘Até O Último Homem’. Apesar de todos os escândalos implicado em sua carreira, Gibson sempre se mostrou um dos grandes nomes da sétima arte tanto como ator e diretor e, é sempre bom rever o talento de um grande astro. Agora como cineasta, ele volta em grande forma, entregando sua melhor obra, conduzindo uma guerra como ninguém.     


                             


'CAPITÃO FANTÁSTICO'

‘Capitão Fantástico’ não é apenas um filme, mas sim um convite para viver. Viver de maneira gratificante todo o nosso dia-a-dia aproveitando todas as riquezas oferecidas pelo mundo, e agradecido com cada novo aprendizado.  



                           

'A CRIADA'

Não é de hoje que o cinema sul coreano vem surpreendendo. Em um ano fraco para o cinema, a Coréia do Sul vem compensando essa fase com ótimos projetos. Após o inédito ‘Invasão Zumbi’ estreado recentemente, somos agora presenteamos com um suspense erótico de primeira qualidade e conquistado notoriedade entre os melhores do gênero, ‘The Handmaiden (Ah-ga-ssi)’.   



                       

'AMOR E AMIZADE'

A ironia presente em ‘Amor e Amizade’ coloca o filme entre os melhores do ano. Parece metáfora dizer isso quando a palavra “ironia” consagrou a escritora inglesa Jane Austen ao descrever seus personagens desconstruindo os romances datados de sua época. O filme esperto baseou em seu material, ‘Lady Susan’.  



                     

       'MOONLIGHT'

Moonlight é um filme  sério que aborda temas muito relevante no dia atual como conceito de masculinidade, identidade negra, drogas, autoridade parental, bullying, e tudo isso sem ser moralizante. Ganhador do Oscar, o filme traz uma mensagem muito forte, porém ele nao deve agradar muito gente porque nao tem valor de entretenimento, mas essencial para o hoje.






'LA LA LAND'

Após 15 anos, um musical tem enormes chances de receber o principal premio da noite. Mesmo para quem não gosta do gênero, 'La La Land' tem a influência de conectar o público com uma história otimista sobre seguir seus sonhos, sobre encontrar o amor da sua vida. Tudo embalado com ótimas músicas, coreografias, cores vibrante, com pura magia... E um casal protagonista que é puro carisma.





   

     'A CHEGADA'

Agora é definitivo, Denis Villeneuve é o melhor cineasta de sua geração e da atualidade. Com um currículo invejável somando as ótimas produções ‘Incêndios’, ‘Os Suspeitos’, ‘O Homem Duplicado’ e ‘Sicario: Terra de Ninguém’, eis que o diretor resolve se aventurar no mundo da ficção cientifica e, simplesmente, entrega o melhor trabalho de sua carreira em ‘A Chegada’.    


MENÇÕES HONROSAS



TONI ERDMANN

INVASÃO ZUMBI


A QUALQUER CUSTO







quinta-feira, 2 de março de 2017

Crítica - 'A Lei Da Noite'


  Desde a sua primeira aparição atrás das câmeras, Ben Affleck vinha sendo um nome promissor. Vinha.  Após os ótimos trabalhos comandando ‘Medo Da Verdade’, ‘Atração Perigosa’ e principalmente, ‘Argo’, este último vencedor do Oscar 2013 de melhor filme. Como cineasta, Aflleck vinha garantindo ótimos trabalhos agradando tanto o público, quanto os críticos, até se envolver em sua sonhada produção de gângster em ‘A Lei Da Noite’.   

   Na trama, Joe Coughlin (Bem Affleck) é um simples fora da lei que ganha notoriedade ao procurar sempre manter o crime organizado em Boston. Diante dessa situação, ele se vê envolvido no meio de uma guerra entre a máfia italiana e irlandesa e, após perder tudo, inclusive a sua amada, Coughlin adere a gangue italiana, disposto a vingar do homem que arruinou a sua vida e encarregado de cuidar das operações da máfia em Tampa, local onde constrói seu próprio império. 

   Como o filme é baseado na obra de Dennis Lehane, a direção de Affleck trouxe em sua adaptação todos os elementos presentes no livro. Em conseqüência, vemos uma narrativa fragmentada, parcelada, com excesso de tramas paralelas sem o mínimo de desenvolvimento e chegamos ao ponto de indagar: afinal, qual filme estamos vendo aqui? É inserido na história de maneira descomunal fanatismo religioso, a Ku Klux Klan, um policial corrupto (Chris Cooper), e até mesmo uma pastora evangélica se torna um dos empecilhos de Coughlin para conseguir seu sucesso.  Em resumo, a trama se perde nos excessos buscando a grandeza.     

   Com diversas tramas, respectivamente temos mais personagens e quanto mais interpretes, poucos atores conseguem provar seu talento em um curto tempo de tela e, isso é comprovado aqui. Temos Chris Cooper, Elle Fanning, Brendan Gleeson, Siena Miller, Remo Girone e infelizmente, nenhum deles tem material suficiente para demonstrar todas as características dos seus personagens, apenas o protagonista Ben Affleck. Porém, para quem viu Marlon Brando e Al Pacino, o que Affleck faz no seu papel é vergonhoso – aqui ele está como sempre em todos os seus filmes, sem expressão, sem química e sem carisma.     

  Para compensar sua péssima atuação, a sua direção constrói um ótimo clima transportando o público para a época especifica, envolvendo o afeto do período, principalmente as cenas em Tampa e os clubes noturnos. Outro mérito de seu comando é conduzir muito bem as empolgantes cenas de ação, em especial no ato final. Porém, ‘A Lei Da Noite’ só tem isso de especial e, se você, caro leitor, procura algum filme de gângster, é melhor rever os grandes clássicos.


NOTA: 6,3

        

quarta-feira, 1 de março de 2017

Crítica - 'Quase 18'


    Filmes adolescentes muitas vezes são deixados de lado pelo simples fato de apenas consistirem a estrutura pré-estabelecida do subgênero. ‘Quase 18’ de certa forma, é um filme colegial formulaico e parece ser mais um daqueles ‘Sessão da Tarde’ sobre dramas fúteis da adolescência, porém só parece. Com tamanho vigor e vontade, a diretora Kelly Fremon Craig fugiu do convencional e das trivialidades imposta pelo gênero e encontrou originalidade nas entrelinhas que deixaria John Hughes orgulhoso.  

  Na trama, Nadine (Hailee Steinfeld) é uma típica adolescente norte- americana, dos subúrbios da classe média alta. Ela é mais uma garota enfrentando uma difícil situação quando descobre que sua melhor amiga, Krista (Haley Lu Richardson) está namorando seu irmão mais velho, Darian (Blake Jenner). Passando por uma crise existencial – sentindo mais sozinha do que nunca, ela resolve começar uma amizade com seu colega de sala (Hayden Szeto). 

  O grande mérito de ‘The Edge of Seventeen’ (do original) é não ficar preso a sua própria premissa.  Como os adolescentes em geral não têm um único contratempo, este é apenas um dos grandes problemas de Nadine, e nessa idéia o filme apresenta diferentes subtramas que conspiram contra a protagonista. E é nesses encalços, a virtude do humor aprazível e da narrativa enternecedora. 

  Marcando sua estréia atrás das câmeras, a diretora Kelly Fremon Craig começou com o pé direito. Aqui, ela demonstra entender o universo adolescente como ninguém, e seu texto engenhoso (também de sua autoria) é repleto de pequenas surpresas, com diálogos geniais fugindo das conversas superficiais padronizados do gênero e criando um humor que aparece nas falas dos personagens de forma espontânea. E isso torna a história única, onde a comédia se encontra na ironia de Nadine, nos foras de seu professor (Woody Harrelson), e na simpatia desajeitada de seu colega de sala. 

  E como a trama é moldada em volta da protagonista, nada mais justo entregar o papel para Hailee Steinfeld. Mais uma vez, Steinfeld mostra seu talento e cada vez mais vem se consagrando como a melhor atriz de sua geração ('Bravura Indômita'). Aqui ela transmite muito bem todas as características de sua personagem, como insegurança, desespero, ironia, ansiedade e até mesmo ternura.         

  Embora o filme ser praticamente toda dela, os atores coadjuvantes também estão excelentes. O ator Woody Harrelson é responsável pela maioria das risadas como um professor desmotivado e com uma grande simpatia por Nadine agindo como se fosse um psicólogo para a garota, Blake Jenner está coerente como um filho exemplar e  Hayden Szeto consegue a simpatia do público na pele de seu tímido e romântico desajeitado colega de sala.          

  Com um ritmo agradável e conquistando sorrisos do público, Kelly Fremon Craig é uma das grandes revelações do ano reacendendo um gênero tão convencional nos últimos tempos em seu roteiro inteligente, trazendo pontos reflexivos interessante – o fato de Nadine sentir-se isolada, e fez de ‘Quase 18’,  um dos melhores filmes adolescente da década. 


NOTA: 8,0