Estreias

terça-feira, 25 de julho de 2017

Crítica - 'Freistatt (Sanctuary)'


    Pouco conhecido pelo público em geral, ‘Refugio’ merece ser reconhecido por retratar a dura realidade alemã na década de 70. Independente do país de produção, o art house alemão consegue cativar o público de qualquer nacionalidade discutindo diversos temas pertinentes nos dias atuais envolto de uma história interessante, chocante, angustiante a partir da premissa: qual a melhor forma de educar uma criança?             

     Baseado em fatos reais, permaneceu ativa na Alemanha Ocidental nos anos 70, uma escola cristã que utilizava a violência e a repressão como forma de educação. A trama acompanha a chegada de Wolfgang (Louis Hofmann) ,uma desobediente criança de 14 anos, que tenta fugir da tortura imposta pelo diretor (Alexander Held) e seus empregados.                    
 
    Não apenas interessante em sua proposta, o cineasta estreante Marc Brummund escolheu os locais originais onde passou os fatos reais inserindo o espectador à realidade datada em meados dos anos 70. Brummund não se preocupa em suavizar as passagens do protagonista, e apresenta os dois lados da moeda:  a instituição como um verdadeiro santuário de terror, reformatórios para caras durões e o sadismo como seu mote. Como também, a vida problemática de Wolfgang dentro de casa e sua rebelde atitude.                                   
           
   Dessa forma, Brummund não procura romantizar a trama e agradar o público em geral por justamente colocar em tela o sadismo em primeiro lugar. Quão longe você pode resistir? Desafiando as autoridades e sofrendo qualquer tipo de intimidação por parte de seus colegas e superiores, o pequeno garoto de apenas 14 anos tenta a todo custo fugir da instituição e passamos a sofrer junto com ele. Alto lá, pois mesmo contemplando as severas sanções, sabemos que aquele garoto não é um exemplo a ser seguido.                         

    Em contrapartida, pela decisão tomada por Brummund reconhecemos o grande problema de ‘Freistatt (do original)’. O excesso da violência torna-o cansativo para um relatório valioso, é uma série de abusos infantil para pouca política e regras dos membros superiores. Entretanto, novos temas começam a ganhar força pela relevância não só ao período, como também nos dias atuais.               

  Temas como educação, abuso infantil, autoridade parental, incesto estão todos presentes em ‘Freistatt’. As conseqüências de tais atos começam a pesar sobre Wolgang, e o ator Louis Hofmann está espetacular conseguindo transmitir toda sua coragem e fragilidade, sua atuação aqui é digna de prêmios (méritos da cena dele com a mãe no carro no terceiro ato). Outro ator excelente é Alexander Held apresentando toda a imponência e crueldade de seu personagem causando ódio de quem o está assistindo.                          

   ‘Freistatt (do original)’ apresenta um grande valor histórico discutindo temas importantes em seu período e merece ser reconhecido por muitos, principalmente por aqueles que têm curiosidades sobre as falhas do sistema educacional.


NOTA: 8,0

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Crítica - 'Homem Aranha: De Volta Ao Lar'


  ‘Homem Aranha: De Volta ao Lar’ retoma a boa representação do herói. Desde sua primeira aparição em 2002, a dupla Sam Raimi e Tobey Maguire entregaram os dois melhores filmes do personagem, posicionando entre os preferíveis da Marvel. Em seguida, a produção genérica protagonizado por Andrew Garfield desagradou grande parte dos fãs e caiu no esquecimento do público, agora o cineasta Jon Watts resgatou a idéia original dos quadrinhos acrescentando novidades ao herói.                          

   Após os eventos ocorridos em ‘Guerra Civil’ lutando ao lado do Homem de Ferro,  Peter Parker (Tom Holland) retorna a sua casa tentando conciliar sua vida escolar com a de um super-herói. Buscando seu reconhecimento como Homem Aranha por seu mentor Tony Stark (Robert Downey Jr.) para possivelmente se tornar um Vingador, ele encontra a missão da sua vida quando o Abutre (Michael Keaton) surge em sua cidade.                    

    A direção assinada do bom Jon Watts (comprovado pelos bons filmes ‘Cop Car’ e ‘Clown’) não busca recriar uma história de origem, e sim em desenvolver de forma mais fiel seu protagonista. Trazendo o herói novamente a adolescência, Watts fortalece a personalidade de Peter Parker dando peso narrativo aos pequenos dramas triviais no dia-a-dia de um adolescente. Em conseqüência, ‘De Volta ao Lar’ entrega todas as características possíveis que esperávamos ver no Homem Aranha. 

   Ele é desajeitado, ansioso, engraçado, teimoso, corajoso, mas acima de tudo um herói, mesmo demonstrando uma imaturidade gigante diante dos perigos. Diante de todos esses elementos, Tom Holland entrega o melhor Homem Aranha do cinema definindo – o da forma mais fiel tanto na aparência, como no comportamento. No maior estilo high school, não poderia faltar a ótima dinâmica com seu melhor amigo Ned (Jacob Batalon apresenta um ótimo timing cômico) e sua paixão Liz (Laura Harrier).                     
   
  Tratando-se de um filme na Marvel a comédia, as cores saturadas e os easter eggs também estão presentes aqui. O próprio Holland tem carisma e reserva cenas engraçadas, mas sua química com Ned é a fonte de uma boa diversão. Já o cineasta Watts brinca com um humor situacional devido ao comportamento desajeitado de Peter Parker. E para completar, a segunda cena pós-crédito é a melhor feita pela Marvel. 

  Mas nem tudo deve agradar os fãs mais fervorosos   do aracnídeo. As inovações inseridas por Jon Watts em modernizar o uniforme do Homem Aranha não é apenas uma cópia de outro personagem, como também pode causar uma desanimo para os fãs mais antigos. Nas cenas de ação não temos nenhuma memorável, a trilha sonora composta pelo competente Michael Giacchino (vencedor do Oscar em ‘Up: Altas Aventuras’) é a mais convencional possível e ‘De Volta ao Lar’ poderia ter dez, quinze minutos a menos.                                                         

  ‘Homem Aranha: De Volta ao Lar’ entrega o melhor Peter Parker do cinema na pele de Tom Holland e promete em suas seqüências. 



NOTA: 7,4

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Crítica - 'Okja'


 A Netflix vem ganhando cada vez mais relevância no cenário cinematográfico. Antes de comentar seu novo filme original ‘Okja’, vale ressaltar a vergonhosa polêmica ocorrida no Festival de Cannes de 2017, daqueles que vaiaram a obra antes mesmo de assisti-la, pelo simples fato de repudiarem a logo da expoente do streaming. Não vamos entrar nessa questão, apenas apreciar, admirar, respeitar os belos trabalhos da plataforma e enxergar o seu papel na modernização do cinema. 

   A trama começa com Lucy Mirando (Tilda Swinton), a CEO de uma poderosa empresa, apresentando ao mundo uma nova espécie de animal, conhecida como “superporco”, com o objetivo de suprir a fome e criar um evento para escolher a melhor. Encaminhando vinte e seis exemplares para serem criados em diversos países, na Coréia Do Sul, a jovem criadora Mija (Seo-Hyun Ahn) e seu avô lutam para ficar ao lado de Okja com a proximidade do concurso.      

     A direção é mais uma vez do sempre ótimo Joon-Ho Bong (conhecido pelos muito bons ‘Expresso do Amanhã’ e ‘O Hospedeiro’). Aqui, ele consegue trabalhar de forma bem orgânica vários gêneros sem perder a mão, temos um pouco de ficção, comédia, drama, ação e prevalecendo mais a aventura. Não muito distante, seu trabalho também assemelha um pouco com ‘Expresso do Amanhã’ em querer sempre retratar um subtexto alegórico e crítico envolto de uma história divertida, e esse é o grande mérito de ‘Okja’.         

  Há cenas exclusivamente incômodas, mas pela proposta do filme elas são essenciais, pois batem de frente com nossa realidade. O retrato da cultura do consumo, críticas a indústria alimentícia e sua posição ao uso de organismos geneticamente modificado tornam-se ‘Okja’, acima de tudo, um filme importante para os dias atuais.           

  O roteiro também assinado por Ho Bong consegue tratar todos esses temas em uma história divertida e emotiva. O primeiro e o último ato são irretocáveis ao apresentar a ótima relação entre Okja e Mija e a malevolência de Lucy e Johnny Wilcox (Jake Gyllenhaal), já no segundo ato o filme caiu de produção ao inserir novos personagens com propósitos clichê, sem desenvolvimento e deixando a história mais infantil, envolvendo os bons atores Paul Dano e Lilly Collins, que pouco oferecem a trama. 
    
  Já Jake Gyllenhaal, Tilda Swinton e  Seo-Hyun Ahn  estão excelentes.    Gyllenhaal consegue cativar o público com as esquisitices de Wilcox , Swinton é sempre ótima em interpretar personagens insolentes e Hyun Ahn demonstra uma afeto enorme por Okja. Afinal, o CGI da superporco é impecável   seja em suas movimentações, na iluminação, além de apresentar uma forte ligação com a pequena Mija.  

  Independente da tela na qual é exibida, ‘Okja’ se faz necessário por abordar questões importantes nos dias atuais, comprova a influência da Netflix no cenário cinematográfico e garante como o melhor filme original da streaming. 


NOTA: 7,8