Estreias

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Crítica - 'Trama Fantasma'



   A dupla Paul Thomas Anderson e Daniel Day-Lewis comprovam mais uma vez seus talentos em ‘Trama Fantasma’. A parceria foi estabelecida no ano de 2007 com o espetacular ‘Sangue Negro’ rendendo à Day-Lewis a estatueta de melhor ator e indicação a Thomas Anderson.  Agora, eles novamente repetem o feito realizado no trabalho anterior figurando entre os grandes nomes do cinema em 2017.    

   A trama situa-se nas terras britânicas na pós-guerra, precisamente em 1950 e acompanha a vida do irrefutável Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), um renomado alfaite da alta costura que trabalha ao lado de sua irmã Cyrill (Lesley Manville), para atender grandes nomes da realeza. Constantemente bajulado pelas mulheres e acostumado a ter todos a seus pés, Woodcock escolhe como sua nova musa, Alma (Vicky Krieps) e assim criar um vestido para ela.     

  O roteiro e a direção assinado por Paul Thomas Anderson é intrínseco ao retratar o crescente confronto de personagens igualmente fortes de sexos opostos. Enquanto um busca o silêncio, a concentração e acima de tudo, o trabalho, envolto de sua natureza meticulosa, requintinda e totalitaria. A outra surpreendida pelo fato de estar lá, ao lado dele, recebendo elogios e amada. Amada, tal palavra difícil de encontrar na casa de costura Woodcock.         

   Pois, a cada um simples barulho, uma desculpa ou ignorada sem qualquer discernimento. O amor se torna ódio - Alma confronta o autoritarismo regido -, e cada uma nova passagem um misto de cavalheirismo e agressividade tomam conta da produção. Alma é enigmática, seu passado é obscuro e não sabemos por qual razão ela está, ali, instalada sob as diretrizes da casa Woodcock .     

   Diante dessa cincurstâncias brilham as atuações de Daniel Day-Lewis e Vicky Krieps. Ambos de personalidades fortes e um sendo o contraponto perfeito do outro, Day-Lewis e Krieps dão um show de interpretação pela forma como se comportam, seja pelos olhares, gestos e também em suas objeções.  Com tanto tempo de convívio, a irmã do estilista, Cyril agrega ainda mais o estado de desaprovação e Lesley Manville traz uma atuação impecável. O trio está excelente, uma pena não ver Vicky Krieps no Oscar 2018!   

  A direção de Thomas Anderson mostra-se comprometido com toda a elegância da parte técnica em ‘Trama Fantasma’. O cineasta trabalha com seus colaboradores habituais na área da fotografia e sonoplastia,Chris Peter e sJonny Greenwood respectivamente. O resultado é fascinamente, evocando a composição visual de Kubrick realçando o senso de urgência em meio a elegância dos figurinos e cenários. Como tambémo trabalho minucioso da iluminação caracterizando os sentimentos dos personagens, como exemplo,  vemos o rosto de Alma dividido entre a escuridão total e o iluminado.          
 
   Com um trabalho requintado de Thomas Anderson, o ritmo lento adotado pode não agradar grande parte do público. ‘Trama Fantasma’ demora a imprimir sua real premissa e não compreendemos de fato qual o rumo o filme irá tomar. Em conseqüência a primeira metade não engaja o espectador e as suas duas horas de duração podem soar desgastantes. 

  Entretanto, ‘Trama Fantasma’ cresce em sua segunda metade finalizando com chave de ouro, assim como a grandiosa carreira do ator Daniel Day-Lewis. 


NOTA: 7,9


                            

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

OSCAR 2018 - TORCIDAS & APOSTAS




   A mais esperada e importante premiação da sétima arte acontecerá dia 04 de Março, em Los Angeles, as 22:30h (horário de Brasília) e, como de costume, o 'Filme Na Mente' resolveu deixar aqui registrado sua torcida e os possíveis vencedores a levantar a cobiçada estatueta nas principais categorias do Oscar 2018. Sem mais delongas, vamos começar nossa aposta pelos prêmios  mais importantes. 
     Só não esqueçam também de deixar nos comentários as suas torcidas e apostas para o Oscar 2018! 
     E mais um lembrete: as torcidas, apostas e a disputa para melhor filme estão linkados diretamente a critica!   





  'O DESTINO DE UMA NAÇÃO'
                                                           'TRAMA FANTASMA'                                                         

         TORCIDA: 

         Elogiadíssimo por todos, "Três Anúncios Para Um Crime" é o queridinho do Oscar 2018. A direção de Martin McDonaugh repete suas facetas em seus trabalhos anteriores (os ótimos 'In Bruges' e 'Sete Psicopatas e um Shih Tzu') mesclando o humor negro, a comédia dos absurdos, dramas existenciais e uma violência adjacente. Só que McDonaugh faz algo a mais aqui. Ele junta todos esses elementos envolto de um subtexto critico e satírico lidando com temas sobre o sentimento de culpa, depressão, luto, racismo e a ineficiência policia.         
           Outro ponto chave para tantos elogios em "Três Anúncios Para Um Crime" está em seu elenco. Com um roteiro beirando a perfeição no que diz respeito aos arcos dramáticos de cada personagem, o filme entrega o melhor personagem do cinema em 2017. Estamos falando de Milfred Hayes na monstruosa atuação de Frances McDormand. No elenco se encontra Woody Harrelson e Sam Rockwell também indicados na categoria de melhor ator coadjuvante. 
             Dentre os indicados as grandes surpresas foram 'Corra', 'O Destino de Uma Nação' e 'Trama Fantasma', deixando de lado os ótimos filmes 'Eu, Tonya' e 'Blade Runner'. Na minha humilde opinião deste crítico que vos escreve, esses dois filme poderiam tomar o lugar de 'O Destino de Uma Nação' e 'The Post'. 


        APOSTA:  
           'A Forma Da Água' também está entre os melhores filmes de 2017 e vai surpreender aqueles que torceram o nariz ao ler sua sinopse. No maior estilo Del Toro, o cineasta inspirou no filme 'O Monstro da Lagoa Negra' para entregar sua nova criatura. Misturando diversos generos como romance, fantasia, drama e suspense, assim como ostentar o seu apuro técnico com um ótimo design de produção, a fotografia expressando diversos sentimentos com diferentes tons de verde e uma iluminação remetendo aos filmes noir. 
           'A Forma Da Água' tem tudo para levar a estatueta de melhor filme, até porque o grande favorito a ganhar como melhor diretor é Del Toro. Lembrando que em outras premiações do Oscar, o filme tem grande chance de ganhar quando seu diretor é o vencedor. 





MELHOR DIRETOR






      TORCIDA E APOSTA:

  • GUILLERMO DEL TORO

         Conhecido pelo ótimo filme 'O Labirinto do Fauno' e ter no curriculo bons filmes como 'Círculo de Fogo', 'A Colina Escarlate' e 'Hellboy'. Del Toro mantêm suas mesmas características em 'A Forma da Água' (como dito logo acima), e mesmo seguindo uma estrutura narrativa padrão do gênero. Ele cumpre com perfeição sua proposta realizando dois afazeres complicados em um filme. Primeiro, o romance entre duas especies diferentes. Segundo, acrescentar histórias paralelas sem nunca perder seu foco narrativo. 
          Diante de todos os indicados a melhor direção, vale realçar Greta Gerwig como a quinta mulher nomeada na história da premiação. E a surpresa Jordan Peele, desbancando nomes como Spielberg ('The Post'), Villenueve ('Blade Runner 2049') e Luca Guadagnino ('Me Chame Pelo Seu Nome'). 




MELHOR ATOR



     
TORCIDA E APOSTA: 

  •  GARY OLDMAN 
          Incorporando com perfeição Winston Churchill em 'O Destino Para Uma Nação', Gary Oldman é o grande nome a receber o prêmio de melhor ator. Nem mesmo a maquiagem impede Oldman de demonstrar todas as suas emoções em um surpreendente trabalho vocal e corporal. O único que pode ter uma pequena chance é o jovem ator Timothée Chalamet ('Me Chame Pelo Seu Nome'). 
       Dentre os indicados a melhor ator, duas grandes surpresas na categoria foram Denzel Washington e Daniel Kaluuya. Em que mais uma vez o Oscar deixou de fora de Jake Gyllenhall em 'O Que Te Faz Mais Forte' e  James McAvoy elogiadíssimo em  'Fragmentado'. 


MELHOR ATRIZ



TORCIDA E APOSTA: 
        
  • FRANCES McDORMAND 
        Na pele da melhor personagem de 2017, Frances McDormand comanda todas as ações em 'Três Anuncios Para um Crime'. De lábios cerrados, a impetuosa Milfred Hayes não leva desaforo para casa e não mede consequências. De uma atuação intensa, firme e  bad-ass, McDormand tem tudo para levantar a estatueta de melhor atriz, frente a grandes nomes do cinema - Sally Hawkings, Meryl Streep e a prodígio Saoirse Ronan indicada pela terceira vez com apenas 23 anos.  


MELHOR ATOR COADJUVANTE




TORCIDA E APOSTA: 
  • SAM ROCKWELL 
         Estamos diante da categoria definitiva do Oscar 2018. Roubando a cena em 'Três Anuncios Para Um Crime', Sam Rockwell transmite todo o ódio, a raiva, o descontentamento e o racismo na pele do policial Nixon. Apesar de seu personagem ter uma resolução questionável no filme, a atuação de Rockwell é surpreendente e não a ninguém nessa lista capaz de fazer frente com ele, nem mesmo seu parceiro de trabalho Woody Harrelson.  



MELHOR ATRIZ COADJUVANTE




TORCIDA E APOSTA: 
  • ALLISON JANNEY       
        Agora estamos entre uma das categorias mais disputadas do Oscar 2018. Na disputa entre Laurie Metcalf e Allison Janney, Janney leva uma pequena vantagem por simplesmente tomar conta do filme 'Eu, Tonya' no primeiro terço da produção. Na pele da egocêntrica, mordaz e sarcástica  mãe de Tonya Harding, Janney da um show de interpretação, enquanto MetCalf entrega as melhores cenas em 'Lady Bird'. 
          Vale também destacar algumas atrizes que ficaram de fora na indicação, como foi o caso de Tatiana Maslany em 'O Que Te Faz Mais Forte', Michelle Pfeiffer em 'Mãe!' e Tilda Swinton em 'Okja' que poderiam muito bem estar no lugar de Octavia Spencer e até de Marry J. Blige.      



MELHOR ROTEIRO ORIGINAL




TORCIDA: 
    Diante da categoria mais disputa do Oscar 2018 concorrendo frente a frente com 'A Forma da Água' e 'Corra', o filme de Martin McDonaugh vem ganhando muitos elogios por parte da crítica e do público. Como um dos favoritos a ganhar como melhor filme, 'Três Anúncios Para um Crime' é uma daquelas obras que todos esperam ganhar o máximo de estatuetas.  


APOSTA: 
      Escrito por Jordan Peele que nunca foi indicado ao Oscar, 'Corra' conta a história de Chris (Daniel Kaluuya), um jovem negro prestes a conhecer a família de sua recente namorada caucasiana Rose Armitage (Allison Williams). Aqui não podemos falar muito sobre a trama, pois quanto menos o espectador souber, melhor a experiencia. 
      Um dos grande méritos de Corra é justamente criar um senso de curiosidade a partir da chegada de Chris a casa dos sogros. Em consequencia, a estranha relação dele com os pais e o olhar desconfiado com os empregados é a chave para a condução da inteligente narrativa, onde inicia o ousado e relevante subtexto racial satírico fugindo do politicamente correto - algo muito discutido nos dias atuais.         



MELHOR ROTEIRO ADAPTADO




TORCIDA: 


            Todos os fãs de quadrinhos de super-heróis estão torcendo para Logan ganhar, mas sabemos a difícil missão de conquistar a estatueta. Dentre as grandes surpresas no Oscar 2018 ao ser indicado a melhor roteiro adaptado, 'Logan' é disparado o melhor filme da saga X-Men e está dentre os melhores filmes de super-heróis de todos os tempos. Merecido a indicação!



APOSTA: 
          'Me Chame Pelo Seu Nome' é o grande favorito a ganhar o prêmio. Desde que a Acadêmia passou a valorizar filmes com temas sociais pertinentes nos dias atuais, muitos deles ganharam prêmios importantes, como exemplo de 'Moonlight' e 'Spotlight'. E nada mais justo 'Me Chame Pelo Seu Nome' triunfar na noite da premiação, por simplesmente trazer uma singela história de amor.  



MELHOR FILME ESTRANGEIRO






TORCIDA E APOSTA: 
  •     THE SQUARE - A ARTE DA DISCÓRDIA
               Em mais uma disputa acirrada no Oscar 2018, 'The Square'  marca a décima sexta indicação da Suécia no Oscar e vem com uma pequena vantagem sobre os demais. Nesta categoria podemos ter a boa surpresa com o filme 'O Insulto' e mencionar a não indicação do ótimo  'Bingo - O Rei Das Manhãs' que vem sendo classificado como um dos melhores filmes de 2017. 



MELHOR ANIMAÇÃO


TORCIDA E APOSTA: 
  • VIVA - A VIDA É UMA FESTA 
           'Viva - A Vida É Uma Festa' é mais uma marca da Pixar. Com o dom de emocionar o público, a Estúdio mais uma vez entrega uma história tocante sem abusar o sentimentalismo barato e usando como mote a música. Mesmo seguindo uma estrutura narrativa clássica, 'Coco' (do original) idealiza um novo mundo vibrante, colorido e rico em detalhes capaz de deixar tanto as crianças como os adultos fascinados. Mesmo, 'Com Amor, Van Gogh' impressionar muito mais, visualmente falando. 'Viva - A Vida É Uma Festa' tem maiores vantagens por apresentar um roteiro mais completo e  um último ato capaz de encharcar as poltronas do cinema. 



MELHOR EDIÇÃO




TORCIDA E APOSTA: 


          De um apuro técnico impressionante, 'Dunkirk' tem grandes chances de receber vários prêmios técnicos na cerimônia. Um deles é exatamente o de edição. Com a direção de Christopher Nolan, a estrutura narrativa em 'Dunkirk' é retratada em três momentos distintos: a terra, o mar e o ar. Sendo assim, Nolan
 consegue conjugar perfeitamente a narrativa fragmentada nesses três espaços-tempos distintos, tornando o filme uma experiência angustiante e extremamente  imersivo.   
           Outro motivo para tal façanha está no ótimo design de som contribuindo ainda mais para tal experiência. Quem assistiu em IMAX sabe muito bem! Diante desse cenário,  filme também é o franco favorito para receber o prêmio de edição e mixagem de som. 
  


MELHOR FOTOGRAFIA



             Essa categoria será uma das premiações mais aguardadas e a mais fáceis de prever no Oscar 2018. Recebendo sua 14º indicação, Roger A. Deakins terá sua grande chance de levantar sua primeira estatueta. Justamente por revolucionar e trazer uma nova experiência a sétima arte em seu impecável trabalho em 'Blade Runner 2049'.  
             Roger A. Deakins também conhecido pelos seus ótimos trabalhos em 'Os Suspeitos', 'Onde Os Fracos Não Tem Vez', '
Sicario - Terra de Ninguém', 'Um Sonho de Liberdade', 'Bravura Indômita', 'Fargo', 'Uma Mente Brilhante', 'O Grande Lebowski' e muitos outros. Seu curriculo é invejável! 


MELHOR DIREÇÃO DE ARTE



TORCIDA E APOSTA: 


              Estamos diante de mais um disputa acirrada entre 'Blade Runner 2049' e 'A Forma Da Água'. Com uma direção de arte meticulosa e sempre em prol a narrativa, muitas vezes caracterizando os personagens e concedendo diferentes emoções ao espectador. 
'Blade Runner 2049' tem uma pequena vantagem por passar por diferentes cenários e também responsável por engradecer a forte mensagem do filme. 



MELHORES EFEITOS VISUAIS




TORCIDA:

       
APOSTA:
  • PLANETA DOS MACACOS: A GUERRA
         Contando com nomes de peso na área dos efeitos visuais, Joe Letteri, Daniel Barrett, Dan Lemmon e Joel Whist. Em sua décima indicação, Joe  venceu em 2003 com "Senhor dos Anéis: A Duas Torres", em 2004 com "Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei", em 2006 com "King Kong" e em 2010 com "Avatar". Daniel recebeu sua terceira indicação e nunca venceu. Dan recebeu sua quarta indicação e venceu em 2017 com "Mogli".


MELHOR TRILHA SONORA




TORCIDA E APOSTA: 


       Diante de mais uma categoria disputada no Oscar 2018. 'A Forma da Água' e 'Trama Fantasma' são os grandes favoritos a levar o prêmio. Enquanto 'Trama Fantasma' conta com o colaborador habitual de Thomas Anderson, Jonny Greenwood. 'A Forma da Água'  tem Alexandre Desplat (vencedor em 'O Grande Hotel Budapeste') trazendo uma trilha sonora eclética e arrebatadora influencia na progressão narrativa e dizendo muito sobre seus personagens. E ainda temos na trilha sonora Carmen Miranda.  



MELHOR CANÇÃO ORIGINAL


TORCIDA: 
  • "REMEMBER ME"
              'Remember Me' reserva o momento mais lindo e comovente em 'Viva - A Vida É Uma Festa'. 


APOSTA:
  • 'THIS IS ME'
              Apesar de 'O Rei Do Show' ser pouco comentado, 'This Is Me' é o único bom momento no filme e ganhou o Globo de Ouro. 




         

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Crítica - 'Mark Felt - O Homem Que Derrubou a Casa Branca'


    É suscetível um filme tender a posicionar seu lado quando relata assuntos políticos, e esse foi o caso em ‘Mark Felt – O Homem Que Derrubou a Casa Branca’. Abrangendo o famoso escândalo de Watergate e revelando a identidade do Garganta Profunda, muitas questões a respeito de Mark Felt tomam conhecimento do espectador. Porém, o diretor e roteirista Peter Landesman não aproveita seu rico material e entrega uma trama entediante e pouco explorada.                                

   A trama é apresentada pela perspectiva de Mark Felt (Liam Neeson), o vice-diretor do FBI e o provável nome a assumir o órgão após a morte do diretor J. Edgar Hoover. Entretanto, a Casa Branca decide colocar Pat Gray (Marton Csokas), que nunca havia trabalhado lá. Incomodado com a crescente intervenção da Presidência no instituto, Felt resolve investigar o caso Watergate e informar todos os detalhes aos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein.                        

   Com um material rico em mãos, o diretor e roteirista Peter Landesman (conhecido pelo ótimo ‘Parkland’) não consegue retratar o peso histórico do episódio. O forte contexto inicial sobre o momento histórico do país, a imagem de Mark Felt e posição de independência do FBI por conta de Hoover é interessantíssima aos olhos do público. Porém, Landesman acaba seguindo o caminho mais do jornalismo, ao invés do cinema.                 

  Em conseqüência, o longa carece de tensão e todas as questões levantadas no inicio da produção são resolvidas de maneiras abruptas e pouco inspirada. A princípio não tem qualquer desenvolvimento dos personagens secundários e o desenrolar entre o jogo de poder da FBI, CIA e a Casa Branca. Sem contar a falta de contextualização no âmbito familiar envolvendo a filha de Mark Felt e sua esposa Aldrey Felt (Lane).   

   Se tratando também de um filme de âmbito político, Landesman deixa claro quem são os heróis e os vilões. Tal divisão impede o público de tomar suas próprias decisões e carece Mark Felt – O Homem Que Derrubou a Casa Branca’ de ter ótimos momentos. Por mais que tenhamos Liam Neeson em ótima atuação transmitindo todo o seu patriotismo em honrar o FBI e, apesar dos seus erros, entendemos seus próprios princípios.                         

  Cinematograficamente falando, ‘Mark Felt – O Homem Que Derrubou a Casa Branca’ tem bastantes falhas, mas sua proposta acaba atingindo um objetivo importante nos dias atuais: motivar o público pensar e refletir em tempos onde a corrupção está cada vez mais vigente. 


NOTA: 6,3
   

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Crítica - 'The Post - A Guerra Secreta'


    Em seu cartaz ‘The Post – A Guerra Secreta’ chama logo a atenção do público exibindo nomes como Steven Spielberg, Meryl Streep e Tom Hanks. E não é para menos, além de contar com os três grandes nomes do cinema. A produção chega em ótimo momento debatendo temas pertinentes na sociedade atual visto no âmbito político americano e também na brasileira.               

    Baseado em fatos reais, a trama evidência o trabalho memorável do jornal Washington Post na luta contra o governo Nixon no caso dos ‘Papéis do Pentágono’. Em meio a esse oficio, a história acompanha os editores do jornal, Bradlee (Tom Hanks) e Kat Graham (Meryl Strrep) quando recebem o minucioso estudo sobre as inúmeras deficiências e mentiras do governo americano na Guerra do Vietnã. Com os arquivos em mãos, os editores se encontram em um dilema de postar ou não postar as verdades sobre o fato para o povo.              

  A direção de Steven Spielberg consegue fazer algo difícil com um material histórico e político em mãos. O roteiro assinado por Liz Hannah e Josh Singer (do muito bom ‘Spotlight – Segredos Revelados’) é repleto de diálogos políticos, investigativo e jornalístico, e mesmo assim Spielberg conduz a narrativa com muita energia sem nunca perder o ritmo. A trama que possivelmente tinha tudo para exaurir o espectador pelo excesso de informações, torna-se um deleite ao assistir importantes e sigilosos conhecimentos da época e a interação entre Bradlee e Graham.  


  Por esse motivo, Spielberg sempre mantém a câmera e os personagens em movimento utilizando breves planos-sequências e uma crescente tensão sobre os fatos. Enquanto o primeiro ato está mais preocupado em contextualizar o Washington Post e o oficio de Bradlee e Kat Graham, o segundo ato ganha força ao retratar o caso ‘Papéis do Pentágono’ e a posição da imprensa a respeito do documento. Em conseqüência, ‘The Post – A Guerra Secreta’ tem a marca de Spielberg por justamente colocar o espectador a par de todas as informações e compreender a mensagem que está sendo transmitida.                    
 
  E ‘The Post – A Guerra Secreta’ chega a um ótimo período para debater o tema da liberdade de imprensa e a sua relevância para a democracia. A batalha jornalística e suas repercussões históricas têm um grande peso na narrativa e todos os inúmeros personagens envolvidos dispõem seu grande momento em tela, como Sarah Poulson, Bob Odenkirk, Tracy Letts, Bruce Greenwood, Michael Stulhbarg e Jesse Plemons. Sem contar as ótimas atuações dos protagonistas Tom Hanks e Meryl Strrep.         

  Mesmo ainda com Steven Spielberg tendo seus momentos de pieguices com trilhas sonoras manipulativas e uma fotografia pouco convincente para época setentista. ‘The Post – A Guerra Secreta’ é importante para compreendermos as dificuldades do ser jornalista e vale pelo seu ótimo contexto histórico, político e suas repercussões nos dias atuais.  


                  NOTA: 7,6                             
 
   

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Crítica - 'Eu, Tonya'



 Difícil comentar ‘Eu, Tonya’ sem antes mencionar o grande talento do cinema atual, Margot Robbie. Apresentada ao mundo no ótimo ‘O Lobo de Wall Street’, a atriz vem somando elogios e grandes papéis com um pouco mais de quatro anos de carreira. Roubando a cena na produção do Scorsesse, exaltada na pele da icônica vilã Arlequina, e agora tem todos os méritos para ter seu nome indicado no Oscar 2018.     

  Margot Robbie da à vida a Tonya Harding, a ambiciosa ex-patinadora de gelo e uma promessa do esporte estadunidense. De origem pobre e ingressando nas aulas de patinação com apenas quatro anos de idade sob forte influencia da mãe Lavona (Allison Janney). Dedicando-se ao máximo, Harding vê seu nome envolvido em um crime nas vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno de 1994, a respeito da agressão de sua principal concorrente, anulada das competições.         

   Muitos não se interessam por cinebiografias pelo fato de presumir enfadonho demais, ou por simplesmente já conhecer a história. Porém, ‘I, Tonya’ foge desses dois pensamentos. Por esse motivo, o grande mérito da direção do Craig Gillespie foi fugir  das estruturas clássicas do gênero aproximando no estilo de falso documentário, mesclando o humor ácido com a realidade possante vivido por  Tonya Harding .                             
 
  Tal criatividade narrativa permite a todos os personagens expressar suas visões sobre um determinado fato, por mais irônicos e contraditórios sejam. A partir dessa idéia, uma série de confusões ganha novos contornos tanto absurdas, como hilariantes, na tragicômica trajetória da protagonista desconstruindo sua própria imagem. Até parece que estamos vendo a um novo episódio da série Fargo.   

   Em meio a esse jogo entre os dramas pessoais de Harding e os falsos documentários, a trama mistura gêneros do crime, investigação policial, drama e humor negro, mas sempre pontual em cada uma delas. Tendo como foco a dura realidade da esportista e abordando temas como, culto das celebridades, à ditadura das aparências, autoridade parental, feminismo, elitismo das olimpíadas e das modalidades esportivas.        

  Todos esses temas recaíram nas costas de Tonya Harding, seja o abuso físico e psicológico de sua mãe, a ignorância de seu marido e seus modos mal vistos pelos jurados. Margot Robbie transmite com perfeição todo o peso carregado de seu personagem, a raiva, a frustração, a ambição e o amor pelo esporte. A cena de Robbie no momento de seu julgamento é para aplaudir de pé.     

  Porém, não é ela quem brilha no primeiro terço da trama, mas sim Allison Janney. Sarcástica, egocêntrica, mordaz, a personagem arruína cada um que passa em seu caminho e seu grande alvo não poderia de ser sua filha. De uma presença pungente, Janney da um show de interpretação e não há justiça se ela não for indicada ao Oscar!             
            
  
Criativo em sua proposta, com atuações arrebatadoras das atrizes Robbie e Janney e com um valor de entretenimento garantido, ‘I, Tonya’ tem tudo para agradar boa parte do público, até mesmo aqueles que não são fãs do gênero. 



NOTA: 8,6

                        


domingo, 4 de fevereiro de 2018

Crítica - 'A Forma da Água'


     À lá Del Toro, ‘A Forma Da Água’ é mais uma marca registrada do estilo singular do cineasta. Conhecido pelo ótimo ‘O Labirinto do Fauno’ e ‘Circulo de Fogo’, Del Toro sempre trouxe um cinema diferente para o público misturando gêneros de fantasia, ficção, drama, suspense, romance. Tudo em um tom poético e de uma estética arrebatadora. Aqui ele mantêm seu cunho e entrega um dos melhores filmes do ano.

   A trama acompanha a rotina de Elisa (Sally Hawkings), uma zeladora muda e melhor amiga de sua colega de profissão Zelda (Octavia Spencer) em um laboratório experimental secreto do governo, onde um anfíbio está sendo mantido em cativeiro.  Aproximando cada vez mais da criatura, ela resolve bolar um plano de resgate contando com Zelda, e seu amigo Giles (Richard Jenkins).

  De maneira brilhante, a direção de Del Toro qualifica a protagonista logo nos minutos inicias da produção. “A princesa sem voz” caminha a passos lentos, prepara ovos cozidos, sente sua marca de nascença, despida-se de suas imperfeições, submerge na água e brinca com seu corpo. Nas metáforas dos pequenos gestos de Elisa, os cinco minutos iniciais indicam muito sobre sua personalidade e o que está por vir.             

  Com a direção, roteiro e produção assinado por Del Toro, o cineasta mostra total controle de sua narrativa, e também do ponto de vista estético. Com os três atos muito bem definidos: o encontro entre Elisa e a criatura, o plano de fuga e a procura do anfíbio por parte de Richard Strickland (Michael Shannon).  Del Toro realiza algo incrível durante toda a projeção, um romance palpável entre dois seres diferente sem diálogos, e contar vários subtramas simultaneamente sem perder o foco narrativo.      

  Década de 60, a trama situa-se na Guerra Fria e os grandes conflitos políticos da época envolvendo os personagens Strickland  e o Dr. Robert Hoffstetler (Mark Stulhbarg muito bem em cena). Não só isso, também presenciamos o conflito interno de Giles no que diz respeito a sua sexualidade. Del Toro não perde o foco do romance, e todos os elementos narrativos se complementam de maneira sutil em uma edição em alguns momentos inventiva.         

  E como de costume, a estética dos filmes de Del Toro é mais uma grande virtude de seu cinema. O design de produção é detalhado e diz muito sobre as personalidades dos personagens, a fotografia em diferentes tons de verde designa diferentes sentidos à trama, a iluminação perfeita relembrando a estética noir e emoldurando belíssimas cenas subaquáticas. Lembrando que temos Carmen Miranda na ótima trilha sonora.                            
    
  Com uma atuação impecável de Sally Hawkings transmitindo todos os sentimentos possíveis – tristeza, raiva, alegria, alivio, coragem, preocupação, curiosidade - sem ao menos falar um palavra.  Michael Shannon recriando um vilão caricatural, mas com motivos de sobra para acabar com a criatura. E a presença carismática de Richard Jenkins.    

  ‘A Forma Da Água’ segue uma estrutura narrativa padrão do gênero e não surpreende o espectador como feito em ‘O Labirinto do Fauno’, mas cumpre com perfeição sua proposta, além de fazer uma pequena homenagem ao  ‘O Monstro da Lagoa Negra’.     


                                             NOTA: 9,4