Estreias

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Crítica - 'A Infância de um Líder' (The Childhood of a Leader)


    Como a guerra é vista sob os olhos de uma criança? A partir dessa premissa, ‘A Infância de Um Líder’ traz uma ideia inovadora e ousada retratando a realidade da emergência do mal, isto é, moldando os paradigmas do fascismo. Levantando questões acerca do ambiente e da educação familiar, e suas conseqüências éticas.      

       Em 1918, a trama acompanha o garoto americano Prescott (Tom Sweet) que  passa a morar na França devido ao pai ser convidado a trabalhar para o governo dos Estados Unidos na criação do Tratado de Versalhes. Durante essa fase, a criança altera seus ideais e personalidade, fazendo nascer uma idéia assustadora, a conhecida ideologia fascista.        

     O filme marca a estréia do ator Brady Corbet atrás das câmeras. Conhecido pelo seu trabalho como ator em ‘Melancolia’ de Lars Von Trier, sua direção pega emprestado alguns conceitos de seus trabalhos antigos semelhando ao cinema europeu. Dentre eles, o ritmo moroso está presente durante toda a produção exigindo paciência do espectador para chegar à interessante segunda metade. Antes disso, o ritmo, o suave movimento de câmera, ótimos enquadramentos, planos estáticos tomando um bom tempo de tela e a falta de objetividade inicial do filme - não realçando sua premissa, pode não agradar boa parte dos cinéfilos.               

    A história começa a ficar interessante na segunda metade quando a criança muda seu comportamento diante da inconsistência familiar. A partir daí, o roteiro brilha reforçando a ideia fascista, em seu contexto munido onde a empatia é perdida, a educação familiar é negligenciada e terceirizada procedendo com que a ética do consequencialismo vigore.  

   E todos esses pensamentos são sustentados durante a trama também por conta das ótimas atuações de seu elenco. Vivendo a mãe do garoto, a atriz Bérénice Bejo está ótima transmitindo a frieza de sua personagem concedendo um ambiente mais tenso para o filme. Outra atriz com um papel interessantíssimo é Stacy Martin na pele da professora de francês acompanhando toda a mudança comportamental da criança entregando uma atuação genuína.                
          
    E não podemos deixar de mencionar Tom Sweet roubando as cenas desenvolvendo com perfeição todos os nuances de seu personagem em cenas poderosas, e tudo isso em tão pouca idade. É bom ficar de olho do jovem ator!     

    Com um trabalho surpreendente na estréia, Brady Corbet lidou muito bem com a parte técnica apresentando uma trilha sonora preponderante e a fotografia realçando o ambiente sombrio da época. Porém, ‘A Infância de Um Líder’ é desgastante, não deve agradar a todos por não ter valor de entretenimento, poderia ter trinta minutos a menos e não consegue passar sua mensagem final.


NOTA: 7,1



      

8 comentários :

  1. Assiti ao filme ontem. Como fiquei um pouco confuso em relação à personagens reais busquei mais informações na internet.

    Vejo muitos falando que o quão chato foi o filme entre outras coisas. Eu, particularmente, adorei o filme. Não o senti chato e não levantei se quer uma vez, durante o filme, para ir ao banheiro ou à cozinha. A trilha sonora é maravilhosa e intensa, só a acha desconexa com as algumas cenas mais para o final do filme.

    A fotografia e a construção das personagens, principalmente do garoto, são primorosos. Os aspectos psicológicos são detalhados e em alguns casos, ficamos sem saber ao certo o que esperar do ser humano (a senhora empregada que foi dispensada por não acatar as ordens da mãe - o carinho dela, às vezes, parecia ultrapassar certos limites; a professora, apesar do ar angelical, parecia esconder algo sombrio.)

    Adorei o filme. De verdade. Confesso que a casa, quase em ruínas, sombria dava mais o ar de decadência para uma "família" com vários empregados. Talvez a casa representasse a decadência da relação humana daqueles 3 - pai, mãe e filho.

    Concordo plenamente contigo quando se refere ao final. Falta algo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito bem observado,o aspecto psicológico de todos os personagens na trama é munido de dubiedade e o subtexto desse filme é marcante! Porém, como é um filme europeu, o ritmo dele é lento (eu não tenho problema com isso) e pode afastar boa parte dos espectadores.

      Excluir
  2. Assiti ao filme ontem. Como fiquei um pouco confuso em relação à personagens reais busquei mais informações na internet.

    Vejo muitos falando que o quão chato foi o filme entre outras coisas. Eu, particularmente, adorei o filme. Não o senti chato e não levantei se quer uma vez, durante o filme, para ir ao banheiro ou à cozinha. A trilha sonora é maravilhosa e intensa, só a acha desconexa com as algumas cenas mais para o final do filme.

    A fotografia e a construção das personagens, principalmente do garoto, são primorosos. Os aspectos psicológicos são detalhados e em alguns casos, ficamos sem saber ao certo o que esperar do ser humano (a senhora empregada que foi dispensada por não acatar as ordens da mãe - o carinho dela, às vezes, parecia ultrapassar certos limites; a professora, apesar do ar angelical, parecia esconder algo sombrio.)

    Adorei o filme. De verdade. Confesso que a casa, quase em ruínas, sombria dava mais o ar de decadência para uma "família" com vários empregados. Talvez a casa representasse a decadência da relação humana daqueles 3 - pai, mãe e filho.

    Concordo plenamente contigo quando se refere ao final. Falta algo.

    ResponderExcluir
  3. O ritmo europeu (lentíssimo) me agrada. Mas a inconsistência entre a vida familiar de um garoto americano nos arredores de Paris e o nascimento do Fascismo me chateou bastante. O que a personagem de Robert Pattinson está fazendo ali? Transando com a mãe do garoto protagonista? Se o "doce vampiro" de "Crepúsculo" é a encarnação de Hitler ou Mussolini, a personagem deveria ter mais falas e mais presença no filme. Quem escreveu, escreveu errado ou quem dirigiu, dirigiu errado. Se fosse o menino protagonista o líder fascista do futuro, seria tudo lógico e concatenado. Mas a personagem de Robert Pattinson não tem densidade na trama nem nos é informado nada relevante sobre ele para que ele apareça ao final como o novo líder fascista: Franco? Hitler? Mussolini? Quisling? Que filme chato e sem sentido para quem entende um mínimo de História.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente o personagem do Robert Pattinson não tem sequer nenhum desenvolvimento na trama. "Quem escreveu, escreveu errado ou quem dirigiu, dirigiu errado" - o problema maior esta na direção e não no roteiro! E o final deixa a desejar mesmo.
      Obg por acompanhar!!

      Excluir
    2. Achei o filme lento e por vezes moroso. Mas com relação ao final, entendi que o líder fascista que aparece interpretado por Robert Pattinson, é na verdade o garoto quando cresceu. Por isso a referência "bastardo", dando a entender que o garoto era filho do personagem de Robert Pattinson.

      Excluir
  4. Pessoal pode parecer loucura minha, mas veja sobre essa perspectiva. Robert Pattinson, aparentemente pai do garoto, tem olhos castanhos no filme e a criança olhos claros. Sendo a criança (bastarda) que aparece no final. Iniciando o fascismo. Ou seja a Robert Pattinson no final é a própria criança. Fazendo alusão, imagino, ao cabelo do menino que nunca era cortado e no final ele apareceber com a cabeça raspada. É um filme que realmente tem de se prestar atenção a detalhes sutis. Enfatizando um dos catazes do filme em que é o menino num fundo completamente vermelho e uma estrela em seus olhos. Tudo muito subliminar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, pra mim o diretor foi muito sagaz e testa o espectador. O menino é o líder no final, com o mesmo jeito de se "comunicar". E depois a gente reflete que o menino sabia que era um filho bastardo e isso pesava em não reconhecer autoridades. E a mãe era apaixonada no pai verdadeiro do menino.

      Excluir