Estreias

terça-feira, 29 de maio de 2018

Crítica - 'Vingança (Revenge,2018)'


  O tema rape revenge sempre esteve presente em inúmeras produções ao redor do mundo. Desde o lançamento do controverso ‘A Vingança de Jennifer (1978)’ e futuramente remasterizado em ‘Doce Vingança (2010)’, o gênero reestruturou ao apresentar ao público uma narrativa impactante, violenta e até mesmo difícil de assistir. De lá para cá, poucos filmes se destacaram até a chegada do francês ‘Vingança’ agora sob a visão de uma diretora mulher, Coralie Fargeat.       

   A simples trama segue a mesma estrutura narrativa convencional do gênero. ‘Revenge’ (do original) acompanha a chegada do empresário (Kevin Janssens) e de sua amante (Matilda Lutz) em um deserto. Após a chegada de dois novos amigos do empresário, ela é abusada e abandonada praticamente sem vida, porém decidida a vingar de todos aqueles salafrários.     

   A direção assinada da estreante Coralie Fargeat não busca inovar em sua narrativa, mas impressiona na execução das cenas e dos detalhes. A começar pelo primeiro ato irretocável. Logo de cara a cinematografia chama atenção ao mesclar as cores rosa, amarelo e azul e, todas elas, significativas para realçar o clima do ambiente e denotar os traços dos personagens. Não só isso, o próprio figurino também utiliza as mesmas cores para reforçar a mensagem por trás de cada um deles.      
 
   Como exemplo, podemos notar a cor da camisa que a protagonista veste em cada ato do filme. Se no começo ela utiliza o rosa para destacar sua sensualidade, o azul transmite a mensagem de perigo ou ‘eu sou o próximo’ (como visto também em outro personagem) e por fim o preto. Tudo é muito bem pensando, e até mesmo o som diegético transitando para o não-diegetico, ou vice-versa, ajuda a compor o clima de suspense.       
                   
  Nesse contexto, a cena do estupro é uma aula de cinema! A diretora Fargeat inicia com um plano aberto (voyeurismo) e gradativamente diminui passando para o primeiro plano, até ao plano detalhe. Nisso a trilha sonora rompe o silêncio surgindo a partir de determinados sons diegéticos e, pouco a pouco, ganha força sobressaindo sobre os demais sons; acentuando o senso de perigo. Aplausos para Fargeat.    
 
   A partir do segundo ato, ‘Vingança’ perde o seu realismo e nos faz crer que o corpo do ser humano possui mais de mil litros de sangue.  O inicio do ato logo apresenta uma cena difícil de acreditar e certas ações dos personagens ao longo da produção também seguem esse mesmo raciocínio. Apesar dessas contestadas cenas, Fargeat apresenta seu amplo domínio audiovisual e aproveita para causar remorso no espectador.   
        
  A diretora sabe tirar proveito da violência estilizada – à lá Tarantino, e entrega cenas brutais e incômodas. Sua artimanha sempre está em utilizar close-ups em cortes e feridas (aliás, a maquiagem é nota dez) para a angústia do público, e entrega cenas inventivas como a sensacional sequência psicodélica presenciada pela protagonista (na ótima atuação da belíssima atriz Matilda Lutz). 

   Com atuações operantes dos personagens secundários e cenas difíceis de acreditar. ‘Vingança’ é chocante, angustiante, visceral, se destaca em seu gênero saturado nos dias atuais e coloca Coralie Fargeat nos holofotes das promissoras diretoras. 


NOTA: 7,8

terça-feira, 22 de maio de 2018

Crítica - 'Deadpool 2'


    O desafio de superar o seu precursor era uma tarefa muito, mas muito difícil. Enquanto, ‘Deadpool’ inovou os ares da Marvel fugindo dos paradigmas de outras produções do estúdio apresentando o anti-herói mais carismático e carimbando entre os melhores filmes de super-herói. ‘Deadpool 2’ chegou com a expectativa de ser tão bom quanto, e mesmo não o superando também não deve nada.         

   Nessa nova trama, Deadpool (Ryan Reynold) precisa reunir sua nova equipe - o X-Force, e contar com o apoio de seu velho amigo Colossus e seu fiel escudeiro Dopinder (Karan Soni), para proteger o garoto mutante Russel (Julian Dennison) das garras do perigoso mercenário futurista Cable (Josh Brolin).

   A nova direção da produção tem a assinatura de David Leitch (conhecido pelos bons filmes ‘John Wick’ e ‘Atomica’) que vem se mostrando cada vez mais hábil nas cenas de ação e de acrobacias. Em ‘Deadpool 2’ a ação é mais freqüente, assim sendo Leitch encontrou o encaixe perfeito entre as seqüência em grande escala com o humor. Dentre eles, podemos citar inúmeros exemplos, como o envolvimento da violência gráfica com o uso primoroso da câmera lenta ou pelas coreografias escapistas em meio ao caos.      
 

  Outro ponto a favor de sua direção também está nas impecáveis escolhas musicais, elevando ainda mais o tom cômico da produção. As músicas casam perfeitamente com as cenas de ação e rendem ótimas gargalhadas! E por falar em humor, ‘Deadpool 2’ cumpre muito bem esse papel, apesar de muitas de suas piadas serem recicladas de seu primeiro filme.      

   O humor metalingüístico, situacional, as referências da cultura pop e a quebra da quarta parede estão presentes novamente. Assim como, Ryan Reynold comanda todas as ações/piadas da trama e continua excelente na pele do mercenário tagarela. Com tamanha presença de Deadpool nessa nova trama, os novos personagens secundários têm pouco tempo em tela e são mal explorados, como o caso de soldado Cable e do unidimensional jovem Russel.     

   ‘Deadpool 2’ cresce narrativamente na segunda metade pós a fragmentada e independente primeira. Mantém seu estilo visual, o tom cômico, amplia o universo do anti-herói com novos personagens e tem seu valor de entretenimento.  


NOTA: 8,2
                                      
 
                                           
            

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Crítica - 'A Noite Do Jogo'


  A comédia é um dos gêneros mais subestimados do cinema atual. Basta analisar os filmes dos últimos anos! São tantas produções vazias, previsíveis, genéricas e sem conteúdo que dificilmente conseguiremos listar um top três. Enquanto redigo esta humilde análise veio a minha cabeça apenas ‘O Grande Hotel Budapeste’ e ‘Relatos Selvagens’. Porém, o ano de 2018 presenteia a todos nós com o divertidíssimo ‘A Noite do Jogo’.         

  A trama acompanha o competitivo casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams), ao lado de seus seis melhores amigos aproveitando suas noites jogando charadas, jogos de tabuleiros, mímicas e por ai vai. O casal organizador da “noite de jogos” recebe a visita de Brooks (Kyle Chandler), irmão de Max, prometendo planejar o melhor jogo de todo os tempos. Porém, tal noitada não sai conforme o planejado botando em risco a vida de cada um dos jogadores.                      


   A direção tem a assinatura da dupla John Francis Delay e Jonathan Goldstein (conhecido pelo horrível ‘Férias Frustradas’), que diferente de seu último trabalho, surpreende tanto narrativamente quanto tecnicamente se tratando de uma comédia. Logo no inicio da produção são apresentados o casal em uma ótima execução da edição e montagem, assim como a admirável cinematografia detonando os traços dos personagens. Sem contar também o estabelecimento de planos remetendo a jogos de vídeo-game, e quanto mais próximos, contemplamos a realidade do ambiente.                                                                                                                           
   Não apenas isso, a direção da dupla manda muito bem até nas cenas de ação. Há uma seqüência filmada em plano-sequencia (é possível ver um ou dois cortes) acompanhando a movimentação de cada ator em diferentes cômodos da habitação. E a iconografia leve e colorida no inicio da produção é modificada quando o caos é instaurado na trama, acentuando até mesmo o suspense.                                                                                                                                                 
  A partir disso, os personagens começam a inserir seus dramas pessoais em meio ao caos predominante do filme e, como conseqüência, a diversão toma conta da produção. A trama explora a idéia do riso nervoso e contem várias piadas como físicas, situacionais, o humor negro e recheadas de referências da cultura pop. Apesar de deter também de piadas bobas, ‘A Noite do Jogo’ surpreende o espectador pela sua narrativa tragicômica e as diversas reviravoltas (mesmo com algumas soarem forçadas).                                                                         
       
      Outro ponto para completar a diversão são as personalidades de cada um dos personagens. Jason Bateman mostra-se mais uma vez ser um ótimo ator de comédia acertando no timing cômico, Rachel McAdams rouba as cenas com seu carisma e na pele de uma esposa devota tentando ao máximo reerguer a autoestima do marido. Os outros seis amigos também têm seus momentos para conquistar o riso da platéia e não podemos deixar de mencionar o melhor de todos, o vizinho creepy interpretado por Jesse Plemons.                                                                 
                 
    Divertido do inicio ao fim, recheado de reviravoltas e surpreendente tanto narrativamente quanto tecnicamente. Ainda é cedo dizer, mas ‘A Noite do Jogo’ é a comédia do ano.


NOTA: 8,1
                                    

terça-feira, 15 de maio de 2018

Crítica - 'Operação Red Sparrow'


    Os filmes de espionagem começaram a ter suas devidas atenções nos últimos anos devido a suas inúmeras produções. Dentre os mais recentes estão as surpresas com ‘Kingsman: Serviço Secreto’, ‘Agente da U.N.C.L.E’, a franquia 007, ‘O Espião Que Sabia Demais’ e um mais antigo ‘Três Dias no Condor’. Vide nesses longas-metragens elementos de ação ou suspense, poucos são aqueles que conseguem uni-los e ‘Operação Red Sparrow’ é mais um exemplo desse irregular resultado.  

   Baseado no livro homônimo de Jason Matthews, ‘Operação Red Sparrow’ conta a história da promissora bailarina Dominika (Jennifer Lawrence), mas se vê forçada a ingressar em um esquema do serviço secreto Russo, após um incidente que a impossibilitou de retornar aos grandes palcos. Depois de passar por um árduo processo para se tornar uma Sparrow, Dominika recebe a missão de se aproximar do agente da CIA, Nash (Joel Edgerton) e extrair todas as informações possíveis.     

   A direção de Francis Lawrence (conhecido pela franquia ‘Hunger Games’) retoma sua parceria com a atriz Jennifer Lawrence em uma narrativa ousada, porém oscilante. O diferente em ‘Operação Red Sparrow’ em relação a outras produções do gênero está em sua estrutura de subverter o espectador com cenas picantes. Afinal, uma Sparrow nada mais é: uma sedutora treinada na melhor escola de espionagem russa e utiliza seu corpo para conseguir os mais sigilosos segredos.
 
   Diante disso, ‘Red Sparrow’ (do original) ressalta sua própria misoginia podendo agradar ou não, o público. Há cenas de nudez, estupro e violência, e todas elas com um real propósito a trama, nada é gratuitamente sexista. Nessas circunstâncias, a direção de Lawrence contrasta a violência sexual em seus ótimos movimentos de câmera e também pela sua sofisticada iconografia. 

   Porém, o roteiro de Justin Haythe se perde em meio a própria estrutura narrativa intercalando entre bons e maus momentos. Enquanto uma cena instiga e cativa o espectador, a conseqüente desanima e se perde na trama central. As subtramas são genéricas, arrastadas e superficiais. Os personagens secundários são unidimensionais. O resultado recai na longa duração da produção (duas horas e quinze minutos) e do ótimo elenco de apoio que pouco contribui.        

   Dentre eles estão, Joel Edgerton, Matthias Schoenaerts, Charlotte Rampling, Mary-Louise Parker e Ciaran Hinds. Todos bem, com exceção de Edgerton que não convence como um espião americano. Já o seu par protagonizado por Jennifer Lawrence é misteriosa e convence como uma agente russa. 

   ‘Operação Red Sparrow’ tinha enorme potencial para entrar na lista de grandes filmes de espionagem, mas se perde em seus inúmeros personagens sem desenvolvimento, assim como em seus subtramas genéricos e esquecidos ao longo da projeção.
    

NOTA: 6,9
 
           
              

terça-feira, 1 de maio de 2018

Crítica - 'Vingadores: Guerra Infinita'


  Foram dez anos de entrega, dedicação e preparação para enfim a Marvel chegar ao seu ápice em ‘Vingadores: Guerra Infinita’. Durante esses longos anos apresentando inúmeros super-heróis e eventos dependentes de outros filmes, originou-se a apoteose de ‘Guerra Infinita’. O impossível acontecendo diante de nossos olhos, episódios em grande escala e horizontes que nos aguardam em 2019.   

  Após o fracasso de vários de seus aduladores, Thanos (Josh Brolin) decide por conta própria conquistar as seis Joias do Infinito, mas para isso ele precisa enfrentar os Vingadores e seus aliados. Afinal, não estamos falando de ‘The Avengers’ e ‘Era de Ultron’, aqui o número de heróis nem se compara com os dois primeiros filmes. 

  Não demora muito para o filme apresentar a real ameaça de Thanos e transformá-lo no melhor vilão da Marvel. Dessa maneira, a direção assinada pelos irmãos Russos (conhecido pelos ótimos ’Guerra Civil’ e ‘Soldado Invernal’) fez algo que nenhum outro filme da franquia conseguiu: fazer o público temer pela vida dos super-heróis. Thanos não é um Mandarim, Dr. Doom, O Acusador e Ultron. 

  Aqui seus objetivos são esclarecidos com clareza, compreendemos suas motivações e suas ações causam tormento para cada um de nós. Thanos é disparado o melhor vilão da Marvel e a atuação e trabalho vocal de Josh Brolin transmite todos os sentimentos de raiva, comoção, frustração e impaciência. Sem contar o ótimo CGI!      



  Já os heróis tornam-se coadjuvantes frente a toda imponência de Thanos formando uma estrutura narrativa fragmentada em diversos locais da galáxia. Conseqüentemente, a direção dos irmãos Russos reúne todas as franquias respeitando a atmosfera idealizada por cada uma delas. Seja o tom melancólico de Capitão América, o místico de Dr. Estranho, o humor de Guardião da Galáxia e o infanto-juvenil do Homem Aranha.               

  Em meio a todos esses heróis, a montagem ágil em todas as seqüências paralelas tornam ‘Guerra Infinita’ vistoso, impactante e divertido. Afinal, temos aproximadamente duas horas e meia de produção e não vemos o tempo passar. Porém, com inúmeros super-heróis, há um desequilíbrio ao apresenta-lós (exemplo: Tony Stark e os Guardiões da Galáxia têm maior importância do que Capitão América e o Visão), o tom generalizado se perde na presença do humor (apesar de quase todas funcionarem) sentenciado em momentos inadequados soando imponderado.        

   Os próprios subtramas dos personagens se resumem basicamente em impedir que Thanos conquiste as seis Joias do Infinito. Assim como, a trama também apresenta certas facilitações narrativas – como a presença de um personagem (não dito para evitar spoiler), apenas servindo para dar prosseguimento a produção.     

  Para compensar, os irmãos Russos mostram-se mais uma vez capazes de entregar cenas grandiosas. ‘Guerra Infinita’ possui as cenas mais impactantes do universo Marvel, e a direção trabalha os poderes de cada super-herói em conjunto e, como conseqüência, contemplamos as melhores batalhas da franquia (Thanos x Homem Ferro, Homem Aranha, Guardiões da Galaxia e Dr. Estranho). 

  Ousado, empolgante, chocante e de puro entretenimento, ‘Vingadores: Guerra Infinita’ oferece o melhor vilão e cenas mais impactantes do Universo Cinematográfico da Marvel. Agora só nos resta aguardar para 2019.  


NOTA: 9,2