Estreias

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Crítica - 'Mãe! (Mother!)'



    Mãe! vem dividindo opiniões ao redor do mundo e, como o próprio diretor Darren Aronofsky comenta, os dois lados têm o total direito de apreciar e depreciar. Minhas memórias mais marcantes na sala do cinema são aquelas obras cinematográficas que permanecem em nossa cabeça muito depois do filme acabar. A arte é subjetiva por natureza, não precisa ser explicada, apenas sentida, e Aronofsky sabe muito bem disso.       

   O novo longa-metragem de Aronofsky é desagradável, impulsivo, constantemente sombrio e perturbador. Nós somos conduzidos para dentro de um pesadelo gradativamente intenso até chegar próximo do insuportável. Enquanto o primeiro ato é inquietante, o segundo flerta com o horror e molesta, já o terceiro... É bom ir se preparando!     


    Um ponto curioso em Mãe! é a diferença entre a sua essência e o seu real significado. Dessa maneira, apreciamos a sua narrativa sem obrigatoriamente compreender o que exatamente estamos vendo em tela. O filme de Aronofsky é sobretudo metafórico e a cada cena encontramos uma alegoria diferente. Exigindo assim uma atenção a mais do espectador a cada simbolismo e a interpretações diferentes.                               

    Por essas e outras quanto menos vocês souberem do filme melhor será a sua experiência. Vamos então comentar aqui sua breve sinopse, buscando inspiração para escrever seu novo poema, o escritor (Javier Bardem) e sua esposa (Jennifer Lawrence) residem em uma casa isolada cercado por um belíssimo arvoredo. Certo dia, eles recebem a visita de dois estranhos (interpretados por Michelle Pfeiffer e Ed Harris), e eventos estranhos começam a acontecer. 

   Com personagens sem nomes, Aronosfsky conta sua narrativa a partir da visão da protagonista interpretada pela Jennifer Lawrence. Ela é o filme, ela é a Mãe!, e a câmera subjetiva, over the sholder e em close-ups girando ao redor dela entrega um forte senso de desorientação e claustrofobia deixando o público próximo a personagem. Tudo isso é capturado de forma espetacular pela fotografia de Matthew Libatique prevalecendo de quadros fechados, tornando cada cena sufocante.  

   Dessa mesma maneira, o design de som também segue o mesmo caminho em intensificar o transtorno, a agitação da protagonista intercalando entre o silêncio total aos ruídos e tumultos dentro da casa.  Assim, o suspense psicológico ganha força na trama, pois sempre nos encontramos em estado de iminência de que algo tenebroso está por vir, evocando ecos dos trabalhos de Polanski na trilogia do apartamento envolto de metáforas à lá David Lynch.      

   E finalmente chegamos nela, Jennifer Lawrence. Com todas as câmeras voltadas a ela, a atriz oferece uma atuação intensa, com fortes reações ao ambiente subversivo até o momento da loucura total. Por hora, vê como uma saída de sua exaltação a figura de Javier Bardem que concede um ar de tranqüilidade – Lawrence entrega a melhor atuação de sua carreira. Quem também está sensacional mesmo com pouco tempo em tela é Michelle Pfeiffer, sua presença é descomunal. Para completar o elenco, Ed Harris apresenta uma malicia disfarçada de seu personagem muito intimista.            
 
  Em meio a tantas alegorias, a trama pode ser interpretada de várias maneiras ou até mesmo ser incompreensível. Em conseqüência, o publico pode amar ou odiar. Mãe! é crítico, metafórico, intenso, provocativo, difícil, fascinante, especialmente diferente e comprova um fato: você sempre sairá diferente da sala do cinema após assistir um filme de Aronofsky.  




NOTA: 10


sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Crítica - 'Na Mira do Atirador'


    Bons diretores nem sempre tem a credibilidade que merece e, infelizmente, esse é o caso de Doug Liman. Conhecido pelo ótimo ‘No Limite do Amanhã’, e os bons ‘A Identidade Bourne’ e ‘Sr. & Sra. Smith’, mais uma vez o cineasta repete mais um consistente trabalho em ‘Na Mira do Atirador’, mas sem a atenção merecida do público.             

   Final de 2007, a Guerra do Iraque está caminhando para seu fim.  Dois soldados americanos descobrem que estão na mira de um atirador iraquiano em pleno campo de batalha. Exposto atrás de uma parede instável e sem saber onde o inimigo se encontra, eles terão como desafio encontrar uma maneira de sair vivo.       

   Em um jogo de gato e rato, a simples trama se sustenta pela tensão dos diálogos entre os opositores. Nesse contexto, ‘Na Mira do Atirador’ relembra o muito bom ‘Por um Fio’, mas agora em um cenário de guerra com apenas um protagonista (Aaron Taylor-Johnson) em tela, afinal o inimigo aqui nunca é visto. Dessa maneira, o cineasta Liman construiu sua narrativa com muita tensão enfatizando a inteligência do inimigo em relação ao sargento americano Isaac, tornando a trama em um decurso investigativo.                               

   Em busca de pistas para localizar o inimigo, nem todas as deduções são plausíveis e agrada o espectador. Há uma simplificação narrativa para a trama progredir, mas Doug Liman consegue compensar através da tensão e evocando as adversidades do conflito no Iraque.  Com edições certeiras, Liman compõe uma atmosfera temível para Isaac – a falta d’agua, sol escaldante, ferida exposta e uma parede instável em meio a imensidão do cenário.   
 
   Como ‘Na Mira do Atirador’ é um filme de apenas um personagem, Aaron Taylor-Johnson (ganhador do último Globo de Ouro) entrega mais um trabalho provocativo. Ele é agressivo e compulsivo na hora certa, entra em total desespero, mas também preciso para utilizar todas as suas técnicas para encontrar o inimigo.         

    Com seus rápidos 90 minutos e atrativo para todos, ‘Na Mira do Atirador’ merece um pouco mais da atenção do espectador, assim como o cineasta Doug Liman na indústria cinematográfica.    


NOTA: 7,0

                
        

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Crítica - 'Paulina (2015)'


    ‘Paulina’, um convite a mais profunda reflexão diante da violência sexual e a ética na justiça. Levantando temas pertinentes nos dias atuais, o novo filme do cineasta Santiago Mitre veio para expandir debates a cerca da cultura do estupro, o preconceito de classes e a justiça a serviço de interesses pessoais. Em meio a essas temáticas exposta pela sociedade moderna, algumas de forma bastante controversa, apresenta a grande imponência do longa-metragem.                

   A trama acompanha a jovem Paulina (Dolores Fonzi) abandonando sua promissora carreira de advogada para ser professora de uma região pobre na Argentina. Porém, a sua integridade é colocada em prova após ser vitima de um estupro executado por um grupo de alunos que a confunde com outra pessoa.              

   Elogiar o cinema argentino se tornou corriqueiro no dias atuais, mas ‘Paulina’ é uma obra-prima do cinema contemporâneo. Debatendo tema cada vez mais presente na sociedade atual, o cerne da produção esta na força dos diálogos de seus personagens que permanecem na mente do espectador até ao final dos créditos. “Quando os envolvidos são pessoas pobres o Judiciário não procura justiça, mas sim culpados”, essa é apenas uma das frases ditas por Paulina e a representação de quem ela é.

   Logo no inicio, somos apresentados a objeção entre Paulina e seu pai em um belo plano-sequência nas impecáveis atuações de Dolores Fonzi e Oscar Martínez. Dessa maneira, a direção de Santiago Mitre é perfeita em três pontos chaves da produção. A primeira foi em conceder mais tempo em tela para o confronto de ideais entre Paulina e seu pai. São seqüências explosivas, imprimindo visões de mundo antagônicas, debatendo questões morais, políticas e sociais, reforçando assim a controversa da obra.        

  O segundo ponto foi em estruturar a narrativa apresentando os dois lados da moeda, a vítima e o agressor. De um lado, acompanhamos a chegada de Paulina a escola até o momento de ser violentada. Do outro, somos apresentados a visão do agressor e seus motivos para chegar a tal atitude. A partir daí, a trama progredi debatendo a questão do estupro muitas vezes como presenciamos em nossa realidade, visto durante a investigação policial questionando a roupa que Paulina vestira, o horário e se estava bêbada.          

  O terceiro ponto de Santiago Mitre foi em fortalecer as atitudes de Paulina depois do ocorrido que são difíceis de aceitá-las. O impacto e cada vez mais angustiante na segunda metade e novos temas começam a ganhar contornos como, o preconceito de classes, a ética na justiça (outros não revelados para evitar spoiler). Em conseqüência, Paulina insinua-se em uma natureza de transe reflexivo sobre si mesma e não sabemos suas reais motivações e, tudo isso é reforçado pela atuação impecável de  Dolores Fonzi.                    
 
  O inevitável debate pós-sessão não apenas gera um misto de comoção ao espectador, como também reflete a imagem de um mundo mais justo. Representando de forma nua e crua o retrato da nossa triste realidade, ‘Paulina’ é uma experiência única, proporciona um espaço de reflexão, cumpre um papel fundamental nos dias de hoje e necessário para todos. 


NOTA: 10
                          

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Crítica - 'Ao Cair da Noite'


    O terror psicológico vem ganhando cada vez mais espaço na sétima arte. Nos últimos anos, muitas produções ingressaram no gênero e foram muitíssimo elogiados, principalmente pelos críticos como, ‘O Babadook’, ‘Corrente do Mal’ e o recente ‘A Bruxa’. Dessa vez, ‘Ao Cair Da Noite’ entra nessa lista e certamente irá dividir muitas opiniões.      

    Em um mundo apocalíptico, Paul (Joel Edgerton) vive isolado em uma casa na floresta junto com sua esposa (Carmen Ejogo) e seu filho (Kelvin Harrison Jr.), definindo regras claras para a sobrevivência. Porém, quando Will (Christopher Abbott) invade o refugio deles,alegando, supostamente, estar abandonada. Paul resolve abrigar Will e sua família em troca de comida, mas na duvida se eles estão infectados.            

   Por mais simples e trivial pareça, o cerne de ‘Ao Cair Da Noite’ está na forma de como tudo se desenvolve. Não espere por respostas e propósitos, o importante aqui é a trajetória dos acontecimentos e a construção de um clima apreensivo sempre na iminência de que algo esta por vir. Isso caracteriza os grandes filmes de suspense psicológicos, e o cineasta Trey Edward Shults consegue fazer isso com perfeição da maneira mais econômica possível.         

  Semelhante ao recente ‘A Bruxa’, toda a mise em scene cumpre um papel primordial aqui. Passando pela fotografia dessaturada das florestas à escuridão dentro de casa com pequenos lampejos associado a uma música praticamente sensorial, o espectador situa-se no mesmo campo de raciocínio dos personagens. Manipulando assim a sensação de desconforto e paranóia ao longo de toda produção pela sustentação de seu tom.  
 
   Se você procura filme de monstros recheados de jumpscares como nos moldes tradicionais do terror, esse aqui não é para você. Mas se o seu interesse está nas perplexidades sem definição, no ambiente claustrofóbico e na sensação constante de desamparo, ‘Ao Cair Da Noite’ é o filme. 


NOTA: 7,7





sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Crítica - 'It: A Coisa'


   Adaptar obras de Stephen King é um desafio para qualquer um. O mestre do horror sempre foi influente na sétima arte por originar verdadeiras obras-primas, mas nem sempre suas adaptações agradaram grande parte do público. Vide recentemente em ‘A Torre Negra’, e os fraquíssimos ‘A Good Mariage’, ‘Mercy’ e ‘Cell’. Eis então que um de seus principais trabalho da carreira dignifica seu talento, o prestigiado ‘It: A Coisa’.                     

   Em 1984, na pacata cidade de Denny, sete adolescentes formam o chamado ‘clube dos perdedores’ com o propósito de descobrir quem está por trás da série de desaparecimento de crianças. Para isso, todos eles têm que enfrentar as dificuldades de seus respectivos cotidianos e confrontar frente a frente com o responsável pelos crimes, o palhaço Pennywise (Bill Skarsgard).               

  Há quem se engane que ‘It: A coisa’ é um filme exclusivamente de terror. O grande mérito da direção de Andrés Muschietti (do fraco ‘Mama’) foi justamente mesclar diferentes gêneros colocando como plano de fundo o horror. Drama, comédia e predominando a aventura através do vínculo com os setes adolescentes, Muschietti prevalece o tratamento e a amizade das crianças explorando perfeitamente os dramas pessoais de cada um e, conseqüentemente, conquistando a empatia do público.              


  Por essas e outras, ‘It: A Coisa’ não se resume a um palhaço assassino. Muschietti soube colocar no momento chave Pennywise em tela encontrando a dose certa em concentrar a essência de seu roteiro na interação com o “clube dos perdedores”, para posteriormente criar um ambiente sombrio envolvendo um deles.  Não só isso, o diretor encontrou o tom perfeito para mesclar o humor do terror entregando cenas engraçadas e, com certeza, assustadoras.         


  Porém, alguns podem sair decepcionados pelo filme não apresentar memoráveis cenas aterrorizantes. Parte disso se deve ao fato de Muschietti quebrar a tensão com o humor, utilizar repetidamente o mesmo recurso quando o palhaço ataca e pela trilha sonora  adiantar o próximo passo em tela; o silêncio muito vezes é mais intimidante.             

   Falando em assustador, Bill Skarsgard entrega uma atuação intensa na pele do palhaço Pennywise criando um antagonista memorável, seja pela sua fisicalidade e na sua voz despojada de causar calafrios. E as crianças são um show de carisma! Richie (Finn Wolfhard, de “Stranger Things”) rouba a cena em seu personagem tagarela, sarcástico e conquistando a graça do espectador com suas piadas.                             


   Bill (Jaeden Lieberher) convence como o líder do grupo e por não supera a perda de seu irmão caçula. Beverly é a mais expressiva da turma  e enfrenta o drama pessoal mais pesado na trama, grande méritos para a atriz Sophia Lillis. Não podemos também deixar de mencionar a forte presença do ator Nicholas Hamilton na pele do perverso Henry Bowers. Temos também o gordinho Ben (Jeremy Ray Taylor), Stanley (Wyatt Oleff), Mike (Chosen Jacobs), porém estes são personagens unidimensionais.       
 
  Cada um deles tem suas personalidades, suas histórias e seus medos. Assim entra o grande mérito do roteiro: explorar cada um deles envolto de uma trama muito mais chocante do que o próprio palhaço. Lidando com temas pertinentes de nossa sociedade, que vão desde ao bullying até a pedofilia. Em conseqüência, as crianças procuram consolo uma nas outras reforçando o significado da amizade.
          
  It: A Coisa’ é muito mais do que um filme de palhaço assassino, mas sim uma grande metáfora sobre amadurecimento, sobre a superação do medo e o quão atroz pode ser o humano


NOTA: 8,2

        
 
        

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Crítica - 'Sua Melhor História'



  O que seria uma história sem um grande roteirista? Independente dos movimentos cinematográficos marcantes em suas respectivas épocas, os verdadeiros autores foram aqueles que sempre buscaram a autenticidade e originalidade para enaltecer a obra. Nesse contexto, ‘Sua Melhor História’ apresenta a força dos roteiristas da década de 1940 na indústria cinematográfica britânica.               

   Durante a “London Blitz” de 1940, a trama acompanha a luta da roteirista Catrin (Gemma Arterton) em conciliar sua vida amorosa e seu reconhecimento no trabalho. Junto com seu companheiro de trabalho, Buckley (Sam Claflin) e uma equipe de filmagem britânica, eles buscam criar uma história capaz de levantar os espíritos da nação e inspirar a América a participar da guerra.    

    Para quem gosta de ver como os filmes são produzidos, ‘Sua Melhor História’ é um prato cheio. É um filme sobre fazer filme. Nesse divertido e trágico ambiente, a direção de Lone Scherfig (conhecido por filmes medianos como ‘The Riot Club’ e ‘Um Dia’) manipula com primor a aparência da realidade, o alivio do reconhecimento, encontrando assim o equilíbrio perfeito entre o humor e drama, e a transição de momentos triunfantes e de tragédia. O amor, a diversão, a guerra, a morte e o valor do cinema estão todos presentes na produção.        

   Tais elementos engrandecem ainda mais o filme dentro de um filme. Conhecendo os nossos heróis Catrin e Buckley postos a criar uma história emocionante e influente para a nação, o roteiro realça em como a indústria cinematográfica britânica infundiu suas produções com propagandas sensíveis para reforçar o patriotismo e influenciar a narrativa internacional. Como também a integridade de seus personagens. Em conseqüência, passamos a simpatizar pelos protagonistas envolto de um subtexto rico.
 
  A contribuição da mulher no cenário cinematográfico, o tamanho valor dos roteiristas em um filme, a inventividade criada em fatos reais, a seleção do elenco e a preparação do ator; tudo isso está presente nesse subtexto alegórico representado de forma divertida e leve em ‘Sua Melhor História’. Sem contar o bom trabalho técnico de Scherfig em distinguir o filme dentro do filme, e retratar com perfeição a época dos anos 40 e o caos durante a London Blitz.   

  Agora chegamos ao ponto mais forte de ‘Sua Melhor História’, as atuações de Gemma Arterton, Sam Claflin e  Bill Nighy. A interpretação de Arterton prende a atenção do público emocionalmente e sentimos junto com ela todo seu esforço, dedicação e principalmente a perda. Sem dúvidas, é uma das melhores atuações femininas no ano. Sam Claflin está irreconhecível depois de ‘Como Eu Era Antes de Você’ e muito bem na pele do roteirista sério, preciso, mas de bom coração. E Nighy comanda a admiração do espectador a cada momento em frente à câmera pela sua confiança e autoestima.                    
    
   ‘Sua Melhor História’ tem muitas camadas em que muito delas são muito bem exploradas e outras nem tanto, mas sua riqueza ao explorar o valor do cinema, a influência dos roteiristas e as motivações dos personagens. Tem total fascínio aos olhos do público.                           
 

    NOTA: 7,9