Estreias

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Crítica - 'Bad Samaritan'


   A premissa de ‘Bad Samaritan’ é deveras convidativa para os fãs do gênero do suspense. Se de um lado temos um ótimo tema central, uma atmosfera angustiante e um psicopata marcante interpretado brilhantemente por David Tennant (conhecido em ‘Doctor Who’ e o recente ‘Jessica Jones’). Do outro, um diretor inexperiente e um roteirista detentor de trabalhos pouco inspirados não faz jus a altura de sua ideia inicial.      

    Na trama, dois trapaceiros manobristas de carros passam suas noites de trabalho invadindo a casa dos seus clientes a procura de dinheiro, durante um dos assaltos eles se deparam com uma mulher apavorada, acorrentada e amordaçada. Na tentativa de resgatá-la, os dois amigos se tornam alvo do psicopata (David Tennant).

   Realmente a sinopse chama a atenção e o cineasta Dean Devlin soube realçar a sua premissa convidando o espectador a embarcar nesse jogo entre gato e rato. Porém, o seu fracasso em ‘Geostorm’ reflete novamente neste seu novo projeto quando Devlin não consegue manter seu mesmo nível de excelência do primeiro ato. Com o inicio do segundo ato a narrativa ganha novos contornos, porém pouco plausíveis e consideráveis para a trama.    

   Quando é instaurado o confronto entre o trapaceiro Sean (Robert Sheehan) e o psicopata Cale Erendreich, novos personagens são inseridos forçosamente e sem qualquer desenvolvimento. Como é o caso enquanto a FBI é integrada, a namorada Riley (Jacqueline Byers), o amigo (Carlito Oliveira) de Sean e eventos a favor do protagonista. Como conseqüência, é impossível avaliar as atuações de Jacqueline Byers e Carlito Oliveira com pouco material em mãos.                    
 
   Agora as interpretações de Robert Sheehan e principalmente de David Tennant é de cair o queixo. Passando de um ladrãozinho a um individuo condolente buscando se redimir de suas atitudes passadas e resgatar àquela nas mãos de Cale, é convincente e notável. Mas, surpreendente é Tennant entregando um dos melhores antagonistas do ano - sua atuação aqui é digna de prêmios, mesmo para um filme B de suspense -.   

  Caindo nos velhos clichês do gênero, principalmente por soar indulgente com o protagonista desperdiçando grandes chances de inovar em sua narrativa. ‘Bad Samaritan’ tem grandes virtudes concedendo um ótimo ritmo, o suspense crescente mantendo o espectador atento durante toda sua projeção e, acima de tudo, um psicopata marcante. 


    NOTA: 7,1


terça-feira, 21 de agosto de 2018

Crítica - 'Calibre (2018)'


    Assinantes da Netflix, vocês estão perdendo a oportunidade de ver um dos melhores lançamentos da streaming no ano, o suspense ‘Calibre’. Com um mar de filmes em seu catálogo, muitos acabam passando despercebidos pela maioria e não recebem o devido reconhecimento. Aqui é mais um dos casos, pois a produção britânica tem calibre (desculpe o trocadilho) para estar entre os melhores filmes originais da Netflix.  

   Antes de mais nada é necessário alertar a todos evitar qualquer alcance com o trailer, pois lá contêm conteúdos mais do que o necessário. Em resumo, a trama acompanha a chegada dos dois melhores amigos Vaughn (Jack Lowden) e Marcus (Martin McCann) a uma isolada vila nas montanhas escocesas para uma semana de caça. Porém, a caçada não sai conforme o esperado e os amigos precisam lidar com suas conseqüências.            

    O filme marca a estréia do cineasta Matt Palmer que também assina como roteirista. Simples, porém eficiente. A direção de Palmer entrega um suspense sem muitas surpresas, mas mantêm o espectador atento devido à crescente aflição, ótimas atuações de seu elenco principal e sua mensagem final. Diante disso, sua estréia é marcada por mais ponto positivos do que negativos. 

    A começar pelo ótimo desenvolvimento e interação de seus dois protagonistas. Ambos possuem fortes personalidades e acreditamos na amizade entre os amigos Vaughn e Marcus. Como conseqüência, a cada novo evento datado na narrativa reforça suas convicções e sendo fundamental para a mensagem final da produção. Nesse contexto, contemplamos as brilhantes interpretações de Jack Lowden e Martin McCann, este dando vida a um futuro pai de família e condolente com o próximo, aquele personificando um individuo intenso, festeiro e determinado.             

   O ponto baixo da direção de Palmer figura na ausência de subtramas relevantes, principalmente dos personagens secundários que compõem o povo da isolada vila. Todos são unidimensionais, apenas o ator Tony Curran merece uma menção honrosa. Já a parte técnica oscila – por hora Palmer escolhe enquadramentos perfeitos sempre reforçando os sentimentos de seus personagens e valorizando os belíssimos cenários escoceses, mas também exagera ao entregar um clima pouco verossímil ao suspense (vide nas cenas noturnas).              

   Com um ótimo clímax e uma resolução final questionável. ‘Calibre’ não busca inovar no gênero do suspense, porém é eficiente em sua proposta, coloca no radar o nome de Matt Palmer e sugere grandes reflexões sobre amizade, moral, justiça, caráter e o excludente de punibilidade.


                        NOTA: 7,5                               



quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Crítica - 'Medo Viral'


    Nos últimos anos é possível notar novos filmes misturando o cinema do horror com elementos tecnológicos. De um lado, são poucas as produções que obtiveram sucesso ao imergir na temática da tecnologia, dispondo apenas ‘Amizade Desfeita’ como exemplo. Do outro, muitos não conseguem associar as duas vertentes resultando em projetos pouco inspirado e, infelizmente, ‘Medo Viral’ entra nessa lista.  

   A trama acompanha cinco jovens que instala um aplicativo em seus celulares, no intuito de fornecer todas as informações desejadas. No entanto, a natureza sinistra do ‘app’ logo se revela: conhecer os medos mais sombrios de seus usuários e manifesta-las ao mundo real.         
 
  A direção e o roteiro assinados pelos irmãos Abel Vang e Burlee Vang padece de originalidade e autoria. ‘Medo Viral’ bebe da fonte de muitos outros filmes de terror e não apresenta sua própria linguagem cinematográfica. É visível notar homenagens de outras produções como, ‘IT: A Coisa’, ‘A Hora do Pesadelo’, ’‘The Babadook’, porém o filme dos irmãos Vang não possui tal proposta.   
    

  O principal preceito está na construção do horror a partir de elementos tecnológicos ironizando as pessoas conectadas aos smartphones. Diante disso, a cultura da internet se mantém presente, o funcionamento do aplicativo é bem inserido a trama, porém o retrato da dependência dos jovens com a tecnologia é forçado. Como conseqüência, a narrativa se torna destoante e os diálogos clichês. 

  E isso acaba recaindo nas atuações dos personagens, pois o material não ajuda e os atores são limitados. Quem se destaca é a protagonista Alice, interpretada pela dedicada Saxon Sharbino. Em defesa dos irmãos Vang, ‘Medo Viral’ apresenta uma cinematografia surpreendente - ótima iluminação, enquadramentos, cenários, a imagem assustadora da entidade, o clima atmosférico favorecendo o terror nas cenas e sem contar os conhecidos jumpscares (alguns muito bons) -.      

  ‘Medo Viral’ tinha tudo para se garantir nos filmes de terror do ano envolto de sua temática atual, mas faltou originalidade e a mão pesada de seus diretores para fugir dos chavões tão conhecidos do gênero.

        NOTA: 5,2

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Crítica - 'Jurassic World - Reino Ameaçado'


     A visão do cineasta Juan Antônio Bayoná trouxe elementos inovadores à franquia Jurassic World. Consagrado do cinema de horror com seu ótimo ‘O Orfanato’ e por efeitos grandiosos em ‘7 Minutos Depois da Meia-Noite’, o cineasta imprime sua melhor identidade, mas fica a mercê das convenções clássica da saga Jurassic Park trazendo muitas e, muitas, homenagens.                  
    O novo episódio acompanha novamente Claire (Bryce Dallas Howard) e Owen (Chris Pratt) dispostos a resgatar os dinossauros, pois um vulcão prestes a entrar em erupção coloca em risco a vida na Ilha Nublar. Diante da situação, o casal conta com ajuda de jovens recrutadores na missão, mas nem tudo sai conforme o planejado.  

    ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’ mostra-se superior ao primeiro filme da nova trilogia em vários aspectos. A primeira delas foi a construção de sua identidade por intermédio da direção de Bayona imprimir suas características do gênero do terror. O segundo está na presença significativa dos dinossauros e o ótimo uso do CGI (superior ao primeiro) e de efeitos práticos. E por último; maior dinâmica entre os personagens tornando-os mais interessantes a trama (com certas exceções) e oferecendo momentos genuínos.      

     Entretanto, os antagonistas continuam sendo o grande viés de ‘Reino Ameaçado’. Assim como no primeiro filme, os vilões continuam caricatos, sem qualquer desenvolvimento e se resumem a apenas propagar o mal. Já os outros personagens secundários que compõem a equipe de Claire e Owen, apenas Zia (Daniella Pineda) e a pequena menina Maisie (Isabella Sermon) conquistam a simpatia do público. Por que se for depender de Franklin Webb (Justice Smith), a trama estaria perdida.                  

   E como de costume os novos filmes da franquia voltam a repetir o mesmo erro de sempre: homenagear a todo o momento a trilogia original.  Faltou originalidade nos eventos nos dois primeiros atos sempre abusando de facilitações narrativas com soluções previsíveis. Em contrapartida, a direção de Bayoná se torna mais presente nos últimos trinta minutos concedendo um clima sinistro em seu primoroso trabalho de luz e sombra realçando o terror e um senso de ameaça alarmante. 

   Contando novamente com o carisma de seus protagonistas Chris Pratt e Bryce Dallas Howard, boas cenas de ação na presença dos diferentes dinossauros e um CGI de chamar atenção. ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’ supera o seu antecedente, entrega uma nova visão a franquia e continua valendo por ser um bom entretenimento. 


NOTA: 6,8













quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Crítica - 'Disque M para Matar (1954)'


  Alfred Hitchcock sempre mostrou ser um cineasta muito a frente de seu tempo e, ‘Disque M para Matar’ é mais uma prova. A maestria e inteligência de trazer as telas no ano de 1954 uma trama envolvente, cheias de reviravoltas e experimentando técnicas novas no cinema para atrair o publico, o conhecido 3D, fez de Hitchcock admirado por todos. 

      A crítica na época dizia que o uso do 3D fez muitos filmes se concentrarem nos recursos técnicos esquecendo-se de explorar a narrativa. O risco era iminente, entretanto o mestre Hitchcock usou a ferramenta em prol ao suspense acentuando a impressão de profundidade filmando objetos em primeiro plano.        

   Conhecido por sempre dar um toque autoral em suas obras, aqui não foi diferente. O cineasta soube muito bem desenvolver a narrativa e os personagens em questão de minutos sem um único dialogo, apenas conduzindo a câmera pelo ambiente e na ótima composição das cores dos personagens evidenciando a personalidade do casal Margot (Grace Kelly) e Mark (Robert Cummings).
 
    Com um roteiro instigante, cada diálogo requer atenção do espectador. O plano de como o crime será executado, o grande momento e a manipulação das provas são conduzidos de maneira brilhante prendendo a atenção do público até a sua surpreendente revelação.

   Com convincentes atuações da belíssima Grace Kelly, Robert Cummings e Ray Milland. ‘Disque M para Matar’ é mais uma obra prima de Hitchcock e merece ser lembrado e revisitado por todos, principalmente dos amantes de um ótimo suspense. 


NOTA: 8,6


Título: Disque M para Matar (105min)
Direção: Alfred Hitchcock.
Elenco principal: Ray Milland, Grace Kelly, Robert Cummings
Gêneros: Suspense, Policial.
Nacionalidade: EUA.


Sinopse: Um ex-tenista decide matar sua mulher para herdar seu dinheiro e se vingar por ela ter tido um caso com um escritor. Ele chantageia um colega para estrangulá-la, dando a entender que o crime teria sido cometido por um ladrão.




terça-feira, 7 de agosto de 2018

Crítica - 'As Boas Maneiras'


   Definitivamente, 2018 é o ano do cinema brasileiro. É de se notar uma melhora nas produções brasileiras nos últimos anos que vem ganhando prestígios mundo afora com elogios por parte do público e da imprensa. Porém, 2018 vêm somando grandes filmes como ‘Gabriel e a Montanha’, ‘O Nome da Morte’ e o surpreendente terror nacional ‘As Boas Maneiras’

   Na trama, Ana (Marjorie Estiano) contrata a solitária enfermeira Clara (Isabél Zuaa) para auxiliar em sua gravidez e nas despesas de casa. Conforme as duas vão se conhecendo e a gestação avança, Ana começa a apresentar comportamentos estranhos e eventos sobrenaturais manifestam-se

   Não há mais nada a falar sobre o filme, pois quanto menos você souber da trama melhor sua experiência. Por isso, o motivo de palavras tachadas na premissa. Aparentemente, ‘As Boas Maneiras’ caminha para ser mais um drama retratando as diferenças entre classes socais, porém a cada pequeno novo evento a perspectiva do espectador se modifica na iminência do enigmático.
 
   Para tal feito, a direção da dupla Marco Dutra e Juliana Rojas criou um clima de estranhamento e tensão crescente. A primeira metade é excelente e brinca com a questão do ‘até onde vai a relação entre as duas protagonistas’, por conseguinte o suspense ganha novos contornos. Nesse cenário, os cineastas apresentam recursos narrativos e técnicos inventivos, como desenhos em flashbacks, uma iconografia mais estilizada e digital e uma trilha sonora instigante perfeitamente casado com o ambiente. 

   A partir da segunda metade, o filme muda seu rumo e foca exclusivamente na enfermeira Clara e os cuidados com seu filho. Diferente da primeira metade (digno de nota 10), essa nova mudança narrativa passa a ser menos interessante, mas o suficiente para manter a curiosidade do espectador. Enquanto o suspense psicológico predominava, agora a fantasia junto ao horror se estabelece – muito em favor da figura maligna (não dito para evitar spoiler).         

   Como conseqüência, faltou a ‘As Boas Maneiras’ a imagem desse “ser” (interpretado por Miguel Lobo) mais realista junto com a sua fotografia visivelmente digital. Dessa maneira, o terror seria mais verossímil e não fugir do clima realizado na primeira metade. Aqui estamos assistindo a dois filmes em um. 

   Com um irretocável primeiro ato somado a ótima atuação de Marjorie Estiano, ‘As Boas Maneiras’ caiu de produção em seu episódio conseqüente, mas veio para mostrar a força do cinema nacional e tem tudo para representar o Brasil mundo afora.            


NOTA: 8,1    

                   
    

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Crítica - 'Tully'


   ‘Tully’ é o retrato honesto da mais intima maternidade. Seguindo a mesma vertente do filme que carimbou seus nomes em Hollywood, a dupla Jason Reitman e Diablo Cody retorna na temática da gravidez e o valor de ser mãe (vide no excelente ‘Juno’, indicado ao Oscar em quatro categorias) para trazer mais um grande produção para as telas do cinema em 2018.  

      A trama acompanha a atarefada Marlo (Charlize Theron), uma mãe de duas crianças e a espera de seu terceiro. Porém, sua rotina se torna mais exaustiva, após o nascimento de seu mais novo filho. Restando a ela contratar a baba noturna, Tully (Mackenzie Davis), tornando-se grandes amigas.           

   A premissa não parece ser convidativa para o grande público em geral, mas ‘Tully’ mostra-se verdadeiro, oportuno nos dias atuais e reserva surpresas jamais consideradas. Digo isso, pois sou do sexo masculino e o filme impõe uma narrativa criando diferentes visões para quem o está assistindo. Muito disso é mérito da direção de Jason Reitman e principalmente da roteirista Diablo Cody.         

   O filme vem para realçar o quão difícil é ser mãe, a rotina exaustiva, o como a maternidade consome tempo e a luta diária pelo seu querer. E tudo isso é retratado com perfeição pelo roteiro de Cody em não cair no dramalhão e entregar uma trama espontânea – com humor e dramas implícitos em situações rotineiras, mas intensas nos momentos certos. Já a chegada de Tully revigora os sentimentos da mãe e oferece um ar astral ao semblante carregado por Marlo.     
  
   E nesse semblante carregado, pesado, exaurido, Charlize Theron transmite todos os sentimentos e da um show de interpretação. Não apenas por engordar 25kg no papel, sentimos junto com a personagem todas as suas angústias, exaustão, stress e também o amor pelo seus filhos – com toda certeza veremos Charlize Theron no Oscar 2019. Quem também tem uma ótima presença em tela é Mackenzie Davis, atriz que vem se destacando cada vez mais nos últimos anos. E não podia deixar a faltar, o papel do homem em meio a essas questões protagonizado pelo ator Ron Livingston.      

   Com uma atuação impecável de Charlize Theron, ‘Tully’ é verdadeiro, pertinente, metafórico, reserva grandes surpresas, reviravoltas impactante e honesto no retrato a maternidade.
 

NOTA: 7,9