Estreias

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Crítica - 'Pássaros de Verão'


   Tornou-se corriqueiro o cinema retratar o ápice de um grupo mafioso ou estabelecer divergências militantes em questão, e não deliberar exclusivamente o ponto inicial de onde tudo isso começou.  Afinal, como surgiram às máfias e quais os fatores sociais, políticos e cívicos regem a postura destes grupos miliciantes? Seguindo estas questões, os diretores Ciro Guerra e Cristina Galego ambientam o mundo do narcotráfico no norte da Colômbia em ‘Pássaros de Verão’. 

   Representante colombiano para a corrida do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, ‘Pássaros de Verão’ centra-se sobre o território do povo Wayuu, localizado no nordeste da Colômbia e noroeste da Venezuela. Nesse período, o Ciclo da Borracha que movia as atividades econômicas da região perdeu espaço com o nascimento do narcotráfico colombiano, Era conhecida como Bonanza Marimbera. 
   
   A direção assinada por Ciro Guerra e Cristina Galego conduz a narrativa progressivamente a ponto de compreendermos e habituarmos aos costumes e padrões daquela comunidade. Assim sendo, pouco a pouco aquela cultura antes comedida, unida e resguardada pelo seu modo de pensar, agir e sentir se perde gradualmente provocando desarmonia do coletivo aos conflitos individualistas ante o surgimento do tráfico na região.  Consequentemente, o desvio daqueles sensibilizados pela ganância de querer mais e mais lucros colocam os seus valores acima da realidade e, assim o desmanche está diante de nossos olhos.         

  Durante essa passagem de tempo, ‘Pássaros de Verão’ divide-se genialmente em cinco capítulos contemplando esse processo até a chegada da desintegração cultural. O ritmo lento e as movimentações suaves da câmera adotados pelo cineasta Ciro Guerra é perfeito para a construção do tema em questão, apesar de alguns espectadores casuais não estarem acostumados a tal desígnio. Entretanto, o formato scope da fotografia em 35mm reforça as ações dos personagens quanto a influência das ambientações, além de conceder um ar poético a trama.

  Severo ao discutir questões sociopolíticas e as engrenagens do sistema arbítrio vigente daquela época difundida em sua mensagem poderosíssima, Pássaros de Verão’ é um soco no estomago provando o quão a ganância dos homens podem o levar a caminhos obscuros e sua insensatez ao privilegiar a soberba e a riqueza acima da família e da cultura.   


NOTA: 8,4
 
                                    

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Crítica - 'O Rei (The King)'



  Persiste certo dilema ao inserir as obras clássicas de Shakespeare na sétima arte: de um lado, a busca pela aproximação do material fonte somada a dificuldade de conduzir à autenticidade literária do poeta a apreciação, seja pela restrição do inglês arcaico e a condução narrativa, sonega os olhares das massas. Do outro, a adição da liberdade criativa inspiradas no feito do escritor, visa o entretenimento para atingir o público em geral e, nessa conjuntura, se encaixa ‘O Rei’, nova produção original Netflix.

   Após a morte de seu pai, o jovem e inexperiente Henrique V (Timothée Chalamet), também conhecido como “Hal”, assume o trono como o rei da Inglaterra, herdando de seu progenitor um país em meio à Guerra dos Cem Anos contra a França.  



   A direção assinada por David Michôd (conhecido pelo ótimo ‘Reino Animal’) retoma os ares da dramaticidade e do épico como esferas centrais. Apoiando-se exclusivamente na ascensão do protagonista, ‘O Rei’ subverte a expectativa do espectador a cada ação de Hal sob a forte influência daqueles que o cercam em seu reinado. Suas ideologias e propósitos são colocados a prova em detrimento de permitir a paz que tanto almeja. 

  Para isso, o roteiro assinado também por Michôd em companhia de Joel Edgerton coloca uma série de obstáculos a serem apaziguados, como também o reflexo de suas consequências em torno do comportamento de Hal. Em meio a essas nuances brilha a excelente atuação de Timothée Chalamet comprovando definitivamente ser um dos melhores atores de sua geração e, quem sabe, ele não receba mais uma indicação ao Oscar.   

  Mas se por um lado Michôd centra-se unicamente no rei Henrique V, o mesmo não pode se dizer dos personagens secundários, mesmo com as ótimas atuações de Joel Edgerton - o único amigo do rei, Ben Mendelson - o rei Henrique IV, o caricato Robert Pattinson como Dauphin da França e Sean Harris na pele do Ministro da Justiça, William – este com o arco mais bem construído de todos e com uma reviravolta chocante - todos são subaproveitados e não representam seus respectivos impactos históricos na trama, em especial a importante personagem Catarina (Lily-Rose Depp).

  Com um irretocável primeiro ato, mas deixando a desejar principalmente nos acontecimentos sucessivos da grande batalha de Azincourt. ‘O Rei’ acaba por mesclar momentos Shakesperianos com a historiografia, mas vale pelo seu momento histórico, pelo entretenimento, e pela brilhante atuação do jovem ator Timothée Chalamet.


NOTA: 7,8

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Crítica - 'Malévola: Dona do Mal'


    A onda de adaptações em Live Action das clássicas animações da Disney iniciou no ano de 2014 com o lançamento de ‘Malevola’. A ideia de reinventar a história de ‘A Bela Adormecida’ sob o ponto de vista da vilã atendeu aos pedidos de milhões de fãs ao redor mundo, rendeu altas cifras no cofre da Estúdio e deixou em aberto uma possível continuação. Eis, então que ‘Malevola 2’ parte de um novo conceito, totalmente do zero e, porque não dizer, original. 

   Após os eventos ocorridos no primeiro filme, Aurora (Elle Fanning) está preste a se casar com o príncipe Phillip (Harris Dickinson), porém Malévola não só aceita a união dos pombinhos, como também põe em risco a trégua entre o Reino humano com o Reino Mágico.
 
   A direção agora assinada pelo norueguês Joaquim Ronning (conhecido pelo fraquíssimo ‘Piratas do Caribe – A Vingança de Salazar) adere à narrativa rotineira e a estética visual da Disney. Com um ótimo trabalho de CGI e inspirações de grandes produções como ‘Game of Thrones’, o cineasta conduz ótimas sequências de ação em grande escala  garantindo um bom valor de entretenimento para o público, em especial no último ato.      

   Entretanto, se as cenas de ação são bem inseridas, conduzidas, diversificadas e extasiantes para os fãs; o mesmo não se pode dizer do ritmo.  Com uma nova história para o universo, Ronning insere novas ideias (algumas interessantes) como novas raças, novas regras, um novo reino, porém são esses conceitos o fator pelo desequilíbrio rítmico da narrativa, pois são pouco explorados e o espectador não tem o tempo para absorvê-los. Como consequência, isso prejudica as tramas paralelas e as atuações dos personagens secundários. 

  Sendo assim, a ótima atriz Elle Fanning é carismática, porém sem muito a apresentar em termos interpretativos. O personagem do príncipe é unidimensional, e os outros bons atores Sam Riley e Chitewel Ejiofor são subaproveitos. A atriz Michelle Pheiffer está ótima como a vilã, mesmo com um roteiro precário a respeito das motivações de sua personagem. E o mérito continua sendo todo de Angelina Jolie que realmente se encontrou na personagem com todos seus trejeitos, seus gestos corporais e seu visual impecável. 

   Com um final à lá Disney, ‘Malevola 2’ cumpre sua proposta de entreter o público com boas sequencias de ação, cenas emocionantes, apresenta novas ideias e abraça com carinho todos os personagens envolvidos. Porém não repete a qualidade de seu precursor soando uma sequencia genérica, previsível e sem coragem para tentar algo diferente.


NOTA: 6,6 
               

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Crítica - 'In Fabric'



   ‘In Fabric’ sentencia a frase “como eu vim parar aqui”. Não, não leve esse termo para o lado negativo, caro leitor, pois o diretor e roteirista Peter Strickland apropria do estilo surreal e imagético para conduzir sua narrativa ilusoriamente cômica sob forte influência do Giallo Italiano da década de oitenta, em especial do mestre Dario Argento.  

   A trama centra-se em um vestido vermelho amaldiçoado que, por vezes, cria vida própria para aterrorizar aqueles que o experimenta. De fato, essa sinopse pode soar cômica para muitos, mas não se engane: nessa percepção surge a genialidade de Strickland - o cineasta contrapõe o humor irônico de sua narrativa com a atmosfera surreal, soturna e bizarra, bebendo da mesma fonte do Giallo Italiano e entregando agora o Giallo britânico do século XXI.  



   
 ‘In Fabric’ retrata duas consumidoras do vestido possuído, a primeira é Sheila (na ótima atuação da atriz Marianne Jean-Baptiste), mulher divorciada a procura de um novo amor e mãe de um filho indisciplinado. Esta apresenta um arco mais interessante e atiça a curiosidade do espectador sobre o real propósito do filme. Já a segunda consumidora é Babs (na operante interpretação da atriz Hayley Squires) e nesta sessão o diferente perde sua originalidade, o lógico perde o significado, o que pode se tornar cansativo para o público mais casual. 

  Independente das duas histórias, a essência de ‘In Fabric’ está na criação de sua atmosfera, envolta nas manifestações bizarras de cada personagem. E como um bom Giallo, Strickland preza pela fotografia setentista brincando com os contrastes das cores vermelho,  verde e azul, bem como o banho de sangue estilizado, a montagem fotográfica beirando o estilo barroco, sequências surrealistas, a presença 'creepy' da atriz Sidse Babett Knudsen, sem contar a trilha sonora enervante e excitante. 

  Diferente do habitual feito hoje no cinema contemporâneo, ‘In Fabric’ é ousado, incompreensível, tecnicamente irretocável, e acaba por  estabelecer o nome do diretor Peter Strickland na Indústria, concebendo o Giallo do século XXI.

NOTA: 8,1



sábado, 16 de novembro de 2019

Crítica - 'As Loucuras de Rose'


    Muitos dos nossos grandes sonhos, desejos e ambições se tornam cada vez mais distante quando estamos diante de nossa própria realidade. Os obstáculos, desafios, as constantes pressões por ser sempre testado e o processo de passar por provações dificulta as nossas pretensões e passamos a viver frustrados. Por outro lado, nos faz ir além de nossos limites e nesse cenário se encontra ‘As Loucuras de Rose’.        

   Após cumprir a pena de prisão em Glasgow, Rose (Jessie Buckley) retoma a vida ao lado de seus dois filhos que estavam sob o cuidado da avó Marion (Julie Walters), assim como seguir seu sonho de ser uma cantora country e nada mais justo buscar o estrelato em Nashville, Tennesse. Porém, seu sonho se torna cada vez mais distante quando não se tem aprovação da mãe e seus filhos como principal prioridade.

   A direção assinada por Tom Harper (conhecido pelo mediano ‘A Mulher de Preto 2’) utiliza da música a sua força narrativa para entregar uma trama leve, agradável, otimista, além de ser um deleite aos ouvintes do gênero musical, Country. Mesmo seguindo as convenções de filmes similares e relembrando o recente ‘I,Tonya’, Harper não cede aos clichês do gênero ao abrir espaço para os personagens secundários Marion e Susannah (Sophie Okonedo) fundamentais para o crescimento de Rose e as reviravoltas.  

   E o grande cerne do filme está na atuação de Jessie Buckley. Responsável por compor a maioria das músicas presentes na trama e ter um vozeirão, sua interpretação realmente brilha ao sentirmos junto com ela o quanto o peso de seu passado e suas circunstâncias atuais interfere em seu sonho de ser cantora, e ao mesmo tempo contemplamos sua vitalidade e disposição para conquistar este objetivo. Entretanto, é nas objeções entre ela e sua mãe Marion prevalece à mensagem de ‘As Loucuras de Rose’. 

  Focando exclusivamente na protagonista, o roteiro assinado por Nicole Taylor não se preocupa nas subtramas dos personagens secundários e no quanto cada um deles tem tal influência em Rose. Fica um gosto de curiosidade por parte de o espectador saber mais dos personagens e na indústria Country, afinal poucos irão reconhecer a presença de uma das grandes cantoras nos dias atuais, a cena onde Kacey Musgrave se apresenta em um bar. 
 
   Mesmo seguindo uma estrutura clássica do gênero, ‘Wild Rose’ não cede aos clichês, conta com uma atuação brilhante da atriz Jessie Buckley, soma ótimas musicas - não só para conquistar os fãs do Country, e entrega uma mensagem tão singela e positiva que muitos deixam de acreditar hoje em dia.


NOTA: 7,6    
  

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Crítica - 'Haunt'



    Curioso notar como certos filmes de baixo orçamento superam as megas produções avaliadas com valores surreais. Nesse contexto, o gênero do horror também se encaixa em tal afirmação nos dias atuais e as altas cifras investidas ofuscam àqueles de grande qualidade, porém, infelizmente, sem a mesma visibilidade. Foi assim com os excelentes ‘Corrente Do Mal’, ‘REC’, ‘Abismo do Medo’ e agora de ‘Haunt’. 

   A procura de diversão na noite de Halloween, um grupo de amigos entra em uma casa mal-assombrada habitada por atores fantasiados de palhaços pregando peças em desafios perigosos. Porém, o que parecia ser apenas uma brincadeira é na verdade a realidade sendo apresentada para cada um dos integrantes.  

   A direção e o roteiro assinado pela dupla Scott Beck e Bran Woods (responsáveis pelo roteiro do ótimo ‘Um Lugar Silencioso’) não mede esforços para deixar o espectador tenso do inicio ao fim da produção. Com uma trama aparentemente simples, os diferentes desafios e cenários deveras criativos e aterrorizantes são inseridos pouco a pouco dentro daquele ambiente favorecendo o real protagonismo em questão: a casa mal-assombrada. Os personagens são apenas as peças para a ação e reação das diferentes etapas impostas por aqueles mascarados com uma estética realmente assustadora.   



   O objetivo é sair daquele local o quanto antes. O público reconhece a proposta do projeto partindo do ponto 'A' para o ponto 'B'. Entretanto, é nesse “caminho” o grande mérito, e os cineastas sabem muito bem disso. A luta pela sobrevivência, a ameaça aterrorizante e as surpresas das diferentes ambientações é o sustentáculo de ‘Haunt’.      



   Com elementos do recente ‘Escape Room’, ‘Jogos Mortais’ e ‘Halloween’. ‘Haunt’ tinha tudo para ser mais um filme de terror sobre uma casa mal-assombrada, porém surpreende em uma trama simplória, destaca-se pela sua criatividade e merece sua devida atenção e reconhecimento, principalmente para os fãs do gênero.

NOTA: 7,1

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Crítica - 'Parasita (Parasite,2019)'



    Elogiar o cinema sul-coreano se tornou algo corriqueiro nos dias atuais. Há uma vasta gama de excelentes produções lançadas nos últimos anos e no mínimo um deles é mencionado nas listas dos dez melhores. Agora em 2019, a bola da vez é ‘Parasita’ – vencedor do Festival de Cannes -, além de ser forte concorrente a estar na categoria de ‘Melhor Filme’ no Oscar 2020 com total mérito.    

 Na trama, o jovem Ki-Woo (Woo-sik Choi) é recomendado por um amigo a dar aula de inglês para a garota Da-hye Park (Ji-so Jung), uma garota nascida em berço de ouro onde tem tudo do bom e do melhor.  Diferente de seu padrão social e fascinado com a vida luxuosa da família Park, Ki-Woo, seus pais e sua irmã elaboram um plano para se infiltrar na casa dos magnatas, porém muitas surpresas os aguardam lá dentro.

    O renomado cineasta Bong Joon Ho (conhecido pelos muito bons ‘Expresso do Amanhã’, ‘Mother – A Busca pela Verdade’, ‘O Hospedeiro’ e o excelente ‘Memórias de um Assassino’) imprime uma visão até de certa forma caricatural das classes sociais e as transformam como verdadeiras moralizações ao desenrolar da trama. Se de um lado os ricos são ingênuos, bondosos e acomodados em seu padrão de vida, a pobreza da família de Ki-Woo induz a malandragem, a malícia e nesse cenário o conflito está instaurado em ‘Parasita’. 
 
   Se de um lado falta esperteza, do outro sobra. Nesse jogo, o cineasta Joon Ho transita perfeitamente entre gêneros com tamanho equilíbrio e energia, sendo capaz de compor atmosferas claras, possibilitando a união do espectador à estória. Principalmente, ao retratar com muito bom humor as pequenas falcatruas da família Kim em função da criatividade - mesmo pelos motivos errados. Afinal, ‘Parasita’ adota tons sombrios em sua segunda metade, provando de ótimas reviravoltas, divergências, a prontidão entre as diferenças e injustiças sociais, um clímax sangrento e o humor ácido em meio a todo esse caos.           

   Nesse jogo de contraposição diferindo de imagens alegóricas no retrato das duas diferentes classes e gerando reflexões sobre aqueles que culpam um sistema sem olhar o próprio umbigo. ‘Parasita’ é original, sarcástico, tenso, surpreendente, metafórico, denuncia a desigualdade social endêmica dos dias atuais e Joon Ho entrega o melhor do filme de sua carreira ao lado de ‘Memórias de um Assassino’.
 

NOTA: 9,4


      
 

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Crítica - 'Midsommar: O Mal Não Espera a Noite'


   O cineasta Ari Aster deixou seu cartão de visita ao apresentar-se no mundo do cinema seu excelente e controverso ‘Hereditário (2018)’. Seu nome passou a figurar entre as grandes promessas no gênero terror e gerou fortes expectativas tanto pelos críticos, quanto pelo público a espera de seu novo projeto. Eis que o diretor não demorou muito para dar as caras e novamente volta a perturbar, refletir o público e gerar discussões em ‘Midssomar – O Mal Não Espera a Noite’.                 

   Passando por um momento conturbado na sua vida, a jovem Dani (Florence Pugh) resolve viajar com seu namorado (Jack Reynor) e dois amigos dele para um festival de verão em uma remota comunidade na Suécia.  Enquanto, os amigos estão lá para elaborar uma tese sobre os costumes do local, as diferenças culturais ganham um rumo sinistro tornando os dias cada vez mais violentos e perturbadores.

   A direção assinada por Ari Aster foge das convenções narrativas do gênero para focar no horror psicológico por meio de elementos ritualista e imagens perturbadoras. Dessa maneira, ‘Midssomar – O Mal Não Espera a Noite’ se enriquece a partir dos detalhes e por proporcionar uma experiência sensorial e contemplativa. Assim sendo, o espectador precisa estar atento as sua proposta, pois a obra não vai agradar o público casual.     

   É possível notar a forte concepção autoral do cineasta logo no inicio na produção. A condução narrativa feita por um jogo de câmera inteligentíssima contextualizando cada personagem permite uma forte empatia do espectador com o grupo de amigos. Cada um tem sua identidade clara com seus interesses, problemas e traumas. Consequentemente, todo o fardo presente na vida dos adolescentes se tornam efetivos aos nossos olhos, principalmente por Dani.      

   Acompanhamos a narrativa aos olhos de Dani e sua curiosidade daquela comunidade se torna a nossa também. Os dias do festival reservam algo incomum no ambiente sejam os excêntricos rituais, o comportamento daqueles indivíduos e até mesmo a rotina. Durante esse processo, Ari Aster desconstrói o habitual dos filmes de terror ao optar pela cinematografia clara e limpa, bem como a movimentos de câmera suave - por vezes perante criativos efeitos alucinógenos -, causando um forte senso de paranoia e refletindo o estado mental da protagonista.      

  Esta, interpretada brilhantemente pela ótima Florence Pugh. A atriz dá uma aula de atuação ao transmitir sentimentos de perda e dor, ansiedade, seu aborrecimento no namoro, sua depreciação com seu namorado e sua reação aos excêntricos manifestos. É muito fácil simpatizar com a personagem e sentimos junto com ela todo seu fardo. Porém, a sua crescente evolução ao longo da narrativa é uma das fortes mensagens metafóricas aqui e, sem dúvidas, Florence Pugh merece no mínimo ser indicada no Oscar 2020. Os restantes do elenco de apoio também estão ótimos, com destaque a Will Pouter servindo como o escape para o humor surpreendentemente bem postado.

   Apesar de se estender mais do que o necessário no segundo ato, ‘Midssomar – O Mal Não Espera a Noite’ é perturbador, chocante, alegórico, único, nos convida a refletir sobre crise, relacionamento, separação, luto, psicologia do consciente coletivo e principalmente as  suas mensagem implícitas. 


    NOTA: 9,2