Estreias

quinta-feira, 22 de março de 2018

Crítica - 'Aniquilação'


 Em seu segundo projeto como cineasta, Alex Garland apresenta novamente sua visão pessimista sobre a humanidade. Garland provou há muito tempo ser um grande roteirista ao ser responsável por ‘Extermínio’, ‘Sunshine’  e ‘Ex-Machina (2015)’, este marcando sua estréia na direção. Dessa vez, ele vem para dar deixar todo mundo coçando a cabeça com sua mais nova obra cerebral, ‘Aniquilação’.     
     
   Baseado sucintamente no livro ‘Aniquilação’ de Jeff VanderMeer, a bióloga Lena (Natalie Portman) se junta a uma missão secreta ao lado de outras três mulheres na misteriosa Área X, um local isolado em constante expansão onde as leis da natureza não se aplicam. Encantador e ao mesmo tempo hibrido, o grupo precisa unir forças e lidar com as anomalias genéticas presentes no ambiente.  

   Com a direção e o roteiro assinado por Alex Garland, o cineasta não se compromete a seguir todos os eventos datados no livro e o mesmo declara em uma entrevista, “I’m going to adapt it from the memory of the book”. A partir disso, sua nova ficção cientifica não se prende ao material fonte e discute temas sérios como, criação, ciência, identidade, niilismo, mutação, autodestruição e, acima de tudo, a humanidade. Em conseqüência, Garland oferece sua visão pessimista sobre os temas e ‘Aniquilação’ não se propõe a responder suas diversas perguntas, gerando diferentes interpretações e um misto de sensação ao público.            
 
  Seu roteiro também realiza algo arriscado, porém eficiente em sua proposta. Mesmo já revelando as conclusões dos personagens logo no inicio, Garland soube muito bem criar um clima de suspense e instigar o espectador a embarcar nessa expedição para responder o ‘como’ e o ‘porque’.  A estrutura narrativa não linear distintamente montada sugere ao público uma maior atenção aos detalhes e os desafiam constantemente.

   Grande parte disso ocorre no segundo ato tendendo ao terror psicológico - enaltecendo a beleza e a anomalia daquele ambiente. Diante disso, a direção de arte realiza um trabalho intocável e criativo na composição dos cenários daquele novo mundo, favorecendo o tom inquietante da trama. Assim como a trilha sonora trazendo uma angústia a cada evento e fundamental para compreender a resolução final da obra.      

  Outro ponto alto em ‘Aniquilação’ foi a escalação de seu elenco. Com Natalie Portman comandando todas as ações na trama transmitindo todo o seu lado emocional e intelectual. Os personagens secundários têm papeis importantíssimos em prol as questões levantadas na produção, pois todos têm uma característica marcante reforçando ainda mais o tema da autodestruição (parei por aqui para evitar spoiler).                             
 
   ‘Aniquilação’ pode não agradar a todos pelo seu final duvidoso, o ritmo cadenciado, a exposição de muitas perguntas sem respostas e, para os mais cinéfilos, remeter a ‘Stalker’. Porém é ousado, intelectual, sugere reflexões pertinentes a humanidade e um longo debate sobre sua verdadeira mensagem. 



NOTA: 8,4
   

terça-feira, 20 de março de 2018

Crítica - 'O Filho Da Noiva'



   Juan José Campanella é um dos grandes nomes do cinema argentino e o mais importante deles no cenário atual. Com uma invejável carreira colecionando ótimos filmes e diversos prêmios, é indiscutível a qualidade de suas obras, hoje, pois todos são conhecidos e revisitados por grande parte do público. É assim com o vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro ‘O Segredo Dos Seus Olhos (2009)’, seu primeiro longa-metragem ‘O Mesmo Amor, A Mesma Chuva (1999)’, ‘Clube da Lua (2004)’ e o reverenciado ‘O Filho da Noiva (2001)’.          

    Comprovando sua ótima parceria com o astro Ricardo Darín (antes conhecidos pelo ótimo trabalho em ‘O Mesmo Amor, A Mesma Chuva’ e ‘Nove Rainhas’) em ‘O Filho da Noiva’. A trama acompanha a vida conturbada e sobrecarregada do dono do restaurante, Rafael (Ricardo Darín) que não tem tempo para desfrutar sua fase ao lado de sua filha e principalmente de sua mãe (Norma Aleandro), esta sob o Alzheimer. Porém, Rafael é obrigado a reavaliar o rumo de sua vida com a chegada de seu amigo de infância Juan Carlos (Eduardo Blanco), a presença marcante de seu pai (Héctor Alterio) e um infarto quase fatal.                                                      
 
     Apesar da premissa não interresar à primeira vista o espectador, ‘O Filho da Noiva’ transpõe com leveza e seriedade todos os eventos ocorridos na pele de Rafael e das pessoas que o rodeiam. A verossimilhança da direção de Juan José Campanella nos concerne à preocupação humana diante das dificuldades apresentadas em nosso dia a dia. Tudo é muito real, delicado, sugerindo diferentes reflexões sobre a postura humana na busca constante para encontrar nossa identidade. 

   Aparentemente com uma trama fácil de cair no melodrama barato, Campanella não se rendeu nas armadilhas do gênero e encontrou o tom perfeito entre o drama e a comédia, despertando o público a passar por diferentes emoções. Dentre o riso e o choro, ‘O Filho da Noiva’ reserva cenas memoráveis provocando singelas gargalhadas na comédia subentendida, como na genial idéia da discussão entre Rafael e Juan Carlos em meio a uma gravação de um filme e, afinal, quem é Dick Watson? E também nos momentos comoventes, quando Rafael abre seu coração para sua mãe.    

    Mas nada disso não teria sucesso, senão fosse as ótimas atuações de Ricardo Darin, Norma Aleandro, Héctor Alterio e Eduardo Blanco. A própria direção de Campanella não foca exclusicamente em Rafael e cria novas vertentes para os personagens secundários terem um papel importante à trama. Consequentemente, todos tem seu grande momento em tela e ganha a simpatia do espectador.

   Ricardo Dárin mostrou sem talento em três momentos memoráveis, a discussão com seu amigo de infância, as suas angustias e o amor pela sua mãe e a sua reconcilião com sua namorada por meio de um interfone. Outra quem está excelente é Norma Aleandro capaz de fazer o público indagar se ela realmente sofre de Alzheimer. Héctor Alterio entrega uma das cenas mais lindas apresentando um monólogo sobre a figura de sua esposa e sua representatividade no restaurante. E Eduardo Blanco demonstra um timing cômico perfeito.                    

   Outro ponto interessante comumente na direção de Campanella é situar suas produções diante do cenário político argentino e, ‘O Filho da Noiva’ não é diferente. Lançado em 2001, durante o auge da crise econômica argentina, o filme reflete as caracteristicas do período. Como também infunde sutis críticas sociais e ao capitalismo desenfreado.      
 
   Com o poder de guarnecer a solidariedade da natureza humana e de nos fazer crer e viver cada momento de nosso dia a dia. ‘O Filho Da Noiva’ é tocante e cômico na medida certa, reserva momentos marcantes, atuações genuínas, e uma belíssima mensagem que precisamos levar para o resto de nossas vidas.               


NOTA: 10
     
                      

terça-feira, 13 de março de 2018

Crítica - 'Viva - A Vida é Uma Festa'


     E aqui estamos nós denovo em frente à Pixar e o seu dom de emocionar a todos. Não é de hoje que a estúdio abala as emoções do público misturando o entretenimento e assuntos maduros, resultando nas forças de suas mensagens. Foi assim em todas as suas produções e não poderia deixar de ser diferente em ‘Viva – A Vida é Uma Festa’.        

   Nessa nova trama da Pixar, acompanhamos o menino Miguel apaixonado pela música e disposto a enfrentar todos os caminhos possíveis para realizar seu sonho de ser músico, como seu ídolo Ernesto de La Cruz. Porém, ele precisar encarar os fatos ou comprovar seu talento para sua familia que o impede de ter qualquer envolvimento com a primera arte, devido a um trauma relacionado com seu tataravô.   

   Seguindo a estrutura narrativa consagrada pela Pixar, ‘Viva – A Vida é Uma Festa’ não é uma das obras mais originais e criativas, mas mesmo assim tem o seu encanto a ponto de ser considerada uma das melhores animações da estúdio. Grande parte desse feito advem de seus idealizadores  recriarem um universo único, divertido e criativo para cada diferente história.  Assim foi apreciado o mundo dos brinquedos, embaixo da água, a mente humana e agora o mundo dos mortos.  

  Como ponto de partida, o Dia Dos Mortos mexicanos. Miguel acidentalmente é transportado para o mundo dos mortos, com o objetivo de conseguir a benção de um de seus familiares para retornar ao seu lar. Em meio a essa aventura, a direção de Lee Unkrich com o auxílio do estreante Adrian Molina   alcança o equilíbrio perfeito para ser engajante para o público adulto, e leve o bastante para os mais jovens.                  

   E assim contemplamos a belissima terra dos mortos - vibrante, colorida, alegre e riquíssima em detalhe ao retratar a crença popular mexicana. De um apuro técnico criativo e impressionante, até os designs dos personagens sob forma de esqueletos, ilustram a pessoa que foram um dia. Acrescentando também os guais espirituais, eficiente em serem engraçados as crianças, e ao mesmo tempo relevante a trama.                                                 
  Até porque todos os personagens secundários são muito bem contruidos ganhando a simpatia do espectador. Como é o caso do cachorro Dante, o artista Ernesto de La Cruz, e o melhor amigo de Miguel, Hector. Em conseqüência, todos têm sua resolução apropriada para a trama realçando a linda mensagem por trás do filme.                
                                              
  Com um último ato capaz de encharcar as poltronas do cinema ao som de ‘Remember Me’, ‘Viva – A Vida é Uma Festa’ traz uma linda mensagem sobre a valorização da familia e as lembranças daqueles que um dia estavam conosco. 



NOTA: 8,8
                    

terça-feira, 6 de março de 2018

TOP 10: MELHORES FILMES DE 2017


    Demorou, mas saiu! Em um ano muito bom para o cinema, o 'Filme Na Mente' resolveu fazer a lista dos dez melhores filmes de 2017. E para quem já conhece o canal, foram avaliados todos os filmes com lançamentos datados nos Estados Unidos.
Também não podemos deixar de fora os filmes que merecem nossa menção honrosa e vale reforçar que todos os mencionados estão linkados diretamente para a crítica!
Deixe nos comentários qual o seu top 10 e qual filme vocês gostariam de ver aqui!

Sem mais delongas, vamos a eles:


10º 

         


'A GHOST STORY'

    Original, incomum, inestimável, excêntrico e alegórico, o cineasta David Lowery (conhecido pelo bom ‘Amor Fora da Lei’) criou sua própria linguagem cinematográfica e entrega uma produção jamais vista nos últimos anos. ' A Ghost Story' é um dos melhores filmes sobre espectrologia já realizado na história do cinema. 





'STAR WARS - O ÚLTIMO JEDI'

  Com Rian Johnson no comando, o diretor quebrou o estigma da saga e entregou o filme mais diferente, ousado e surpreendente de Star Wars. Motivos para tal preceito foi em não se prender ao estilo predeterminado pela trilogia clássica, e inovar tanto no recurso narrativo como técnico. Nesse novo filme, novos personagens tem mais espaços para demonstrarem suas personalidades e carimba entre os melhores da franquia.




8º  



'LOGAN'


  Diferente de todos os outros longas da saga X- Men. 'Logan' foge da estrutura clássica de filmes de super-heróis, não há aquele mundo de fantasia, repleto de ação e personagens carismáticos. 'Logan'  é violento, realista e denso acompanhando todo o desgaste emocional, psicológico e físico da última jornada de um homem. 'Logan' é disparado o melhor filme da saga X-Men e está dentre os melhores filmes de super-heróis de todos os tempos.


7º       
                         

'CORRA!'

    Escrito e dirigido pelo estreante Jordan Peele. Um dos grande méritos de Corra é justamente criar um senso de curiosidade a partir da chegada de Chris a casa dos sogros. Em consequencia, a estranha relação dele com os pais e o olhar desconfiado com os empregados é a chave para a condução da inteligente narrativa, onde inicia o ousado e relevante subtexto racial satírico fugindo do politicamente correto - algo muito discutido nos dias atuais.    
     




'BINGO - O REI DAS MANHÃS'

   É incrível como a troca dos nomes de todas as celebridades e emissoras (com exceção de Gretchen,) favoreceu o sucesso do filme. Pois, ‘Bingo: O Rei das Manhãs’ encontrou uma ótima solução ao retratar com tamanho carinho a vida pessoal e os costumes de seu protagonista. Com um elenco afiadíssimo, Vladimir Brichta entrega uma das melhores atuações do cinema nacional desbancado até mesmo Wagner Moura em 'Tropa de Elite' e destaque também Leandra Leal.  'Bingo - O Rei Das Manhãs' é o melhor filme nacional do século.




'O SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO'

  Perturbador, inerente e de um poder metafórico incrível, ‘O Sacrifício do Cervo Sagrado’ certamente é um dos melhores filmes do gênero terror-psicológico e coloca  Yorgos Lanthimos como um dos melhores diretores da atualidade. Conhecido por realizar filmes um tanto quanto estranhos, como ‘Alpes’, ‘Dente Canino’ e o mais recente ‘O Lagosta’ (indicado a melhor roteiro original no Oscar 2015). 



4º 


'A FORMA DA ÁGUA'

    A Forma Da Água'  vai surpreender aqueles que torceram o nariz ao ler sua sinopse. No maior estilo Del Toro, o cineasta inspirou no filme 'O Monstro da Lagoa Negra' para entregar sua nova criatura. Misturando diversos generos como romance, fantasia, drama e suspense, assim como ostentar o seu apuro técnico com um ótimo design de produção, a fotografia expressando diversos sentimentos com diferentes tons de verde e uma iluminação remetendo aos filmes noir. O diretor cumpre com perfeição sua proposta realizando dois afazeres complicados em um filme. Primeiro, o romance entre duas especies diferentes. Segundo, acrescentar histórias paralelas sem nunca perder seu foco narrativo.


3º 



'MÃE!'

   Mãe! dividiu opiniões ao redor do mundo e, como o próprio diretor Darren Aronofsky comentou, os dois lados têm o total direito de apreciar e depreciar. Minhas memórias mais marcantes na sala do cinema são aquelas obras cinematográficas que permanecem em nossa cabeça muito depois do filme acabar. A arte é subjetiva por natureza, não precisa ser explicada, apenas sentida, e Aronofsky sabe muito bem disso.      


2º 


'TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME'

     A direção de Martin McDonaugh repete suas facetas em seus trabalhos anteriores (os ótimos 'In Bruges' e 'Sete Psicopatas e um Shih Tzu') mesclando o humor negro, a comédia dos absurdos, dramas existenciais e uma violência adjacente. Só que McDonaugh faz algo a mais aqui. Ele junta todos esses elementos envolto de um subtexto critico e satírico, lidando com temas sobre o sentimento de culpa, depressão, luto, racismo e a inoperante policia.        
    Outro ponto chave para tantos elogios em "Três Anúncios Para Um Crime" está em seu elenco. Com um roteiro beirando a perfeição no que diz respeito aos arcos dramáticos de cada personagem, o filme entrega o melhor personagem do cinema em 2017. Estamos falando de Milfred Hayes na monstruosa atuação de Frances McDormand. 



1º 



'BLADE RUNNER 2049'

 ‘Blade Runner 2049’ é exemplo de como deve ser feito uma sequência de um clássico. Poucos filmes conseguem a proeza de manter ou até mesmo serem superiores de seus pioneiros, e aqui é mais um desses raros casos. Justamente por respeitar a virtude temática do original, acrescentando seu próprio conceito no papel e preparado na mão do melhor diretor da atualidade, Denis Villeneuve.  
 ‘Blade Runner 2049’ supera o original e alcança o status de um dos melhores filmes de ficção cientifica da história do cinema, senão o melhor.  



MENÇÕES HONROSA: 


'EU, TONYA'
'EM PEDAÇOS'



'DUNKIRK'
'VIVA - A VIDA É UMA FESTA'


'IT - A COISA'