Estreias

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Crítica - 'Jackie'


  É sempre um privilégio assistir grandes interpretações, principalmente quando falamos de Natalie Portman. Detentora de um Oscar com o ótimo ‘Cisne Negro’, a atriz entrega mais uma grande atuação e vem como forte concorrente para levantar mais uma estatueta, agora no papel da primeira dama, Jackie Kennedy, sob o comando do cineasta chileno Pablo Larrain (conhecido pelo bom ‘Neruda’ e ‘No’).     

     A trama acompanha a dolorosa luta da Primeira Dama, Jacqueline Kennedy (Natalie Portman), após a morte de seu marido e presidente John F. Kennedy, com a finalidade de recuperar sua fé, consolar os seus filhos e definir o legado histórico de seu marido. 
 
  ‘Jackie’ retrata a vida da primeira dama em dois segmentados. Na primeira, temos uma biografia apólogo da protagonista contando como seus traumas pós-morte e seu papel na história sendo entrevistada por Theodore White (Billy Crudup). A segunda apresenta os flashbacks com todo o seu abatimento e sofrimento da personagem dias depois do finamento, contendo documentários de verdade e, esse trecho é muito mais interessante que o primeiro. Por tal circunstância, quando a trama resolver sair dessa conjuntura e voltar a interlocução, o filme perde seu ímpeto.    

  Em termos de roteiro, o filme não apresenta todas as realizações e o verdadeiro legado deixado por John Kennedy. A trama está focada em transmitir todo o sofrimento e a dor vivida pela protagonista e de certa forma, seu inicio é tedioso, mas consegue prender a atenção do espectador pela interpretação fascinante de Portman incorporando perfeitamente a primeira dama, com uma fisicalidade impressionante, um ótimo trabalho vocal, em sua interpretação contida e complexa. A atuação da atriz também e valorizada pela boa fotografia em close-up capturando toda a tristeza da personagem.              

  Se em roteiro, o filme deixa a desejar, seus recursos técnicos impressionam. Seu cenário meticuloso e os figurinos convidam os espectadores a presenciar a década de 60, e a trilha sonora é nota dez, sempre pontual e conduzindo todos os elementos do filme. ‘Jackie’ se estende em seu ato final e soa cansativo mesmo com seus 100 minutos, mas é um verdadeiro estudo de personagem lidando com o luto somado a uma performance excelente de Natalie Portman.
                    

NOTA: 7,3

                            

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Crítica - 'Lion: Uma Jornada Para Casa'


   A sétima arte é palco de incríveis histórias de superação, motivação e veneração. ‘Lion – Uma Jornada Para Casa’ é mais uma dessas inacreditáveis narrativas capaz de emocionar o público, não apenas pela sua linda mensagem, mas sim em tratar com sutileza o verdadeiro significado de família.                                
   Baseado em fatos reais, a história acompanha Sarro (Sunny Pawar), um garoto indiano de apenas cinco anos de idade, foi separado acidentalmente do irmão ao dormir em um trem vazio e passou dias viajando a Índia. Após viver comendo resto de comidas e dormindo nas ruas, o pequeno garoto acabou parando em um orfanato e teve a sorte de ser adotado por uma família na Tasmânia, Austrália.  Vinte cinco anos depois, ele resolve retornar a sua verdadeira família.     

  Adaptado na autobiografia do indiano, ‘A Long Way Home’, o cineasta Garth Davis revela-se mais um grande revelação para o cinema esse ano. Marcando sua estréia em longa-metragem, sua direção realizou um trabalho consistente na primeira metade, em expor a grandiosidade caótica retratando a hostilidade na Índia quando a pobre criança se perde do irmão. Em conseqüência, tal retrato faz nós sofrermos junto com o personagem na constante luta de seu dia a dia fora de casa.
 
  Outra grande parcela do público simpatizar e sentir todo o peso do protagonista foi a performance excelente do pequeno ator Sunny Pawar parecendo viver todo o sofrimento e transmitindo sua desilusão em seus olhares perdidos. Já na fase adulta, o ator Dev Patel da às caras na segunda metade, o segmento problemático da trama.  

  A segunda metade marcada com a chegada de Sarro a Austrália é desorganizada oferecendo elementos fantasiosos associados a uma seqüência de motivações mal programada e cheio de cenas abruptas. O espectador perde um pouco a sensibilidade pelo personagem e a maneira como o filme lida com o motivo de Sarro adulto em querer retornar a sua família não convence, assim como seu romance envolvendo Lucy , interpretada pela ótima atriz Rooney Mara que é prejudicada pelo roteiro.           

  Único ponto forte durante essa fase da produção é o monólogo sensacional da Nicole Kidman, interpretando a mãe adotiva do rapaz – merecida a indicação para melhor atriz coadjuvante.                              

  ‘Lion – Uma Jornada Para Casa’ volta a engrenar nos últimos trinta minutos e com a virtude de abalar emocionalmente qualquer espectador entregando uma linda e verdadeira mensagem sobre amor, família e com a espontaneidade de levar o espectador a abraçar sua mãe no final de sua projeção.


NOTA: 7,8 


domingo, 19 de fevereiro de 2017

OSCAR 2017 - TORCIDAS & APOSTAS


A mais esperada e importante premiação da sétima arte acontecerá dia 26 de fevereiro, em Los Angeles, as 22:30h (horário de Brasília) e, como de costume, o 'Filme Na Mente' resolveu deixar aqui registrado sua torcida e os possíveis vencedores a levantar a cobiçada estatueta nas principais categorias do Oscar 2017. Sem mais delongas, vamos começar nossa aposta pelos prêmios  mais importantes.  

 * As torcidas, apostas  e a disputa para melhor filme estão linkados diretamente a critica!   


MELHOR FILME




           TORCIDA E APOSTA:
  
  •  LA LA LAND -  Após 15 anos, um musical tem enormes chances de receber o principal premio da noite. Mesmo para quem não gosta do gênero, 'La La Land' tem a influência de conectar o público com uma história otimista sobre seguir seus sonhos, sobre encontrar o amor da sua vida. Tudo embalado com ótimas músicas, coreografias, cores vibrante, com pura magia... E um casal protagonista que é puro carisma. Quem pode surpreender é 'Moonlight', um filme que acompanha a vida de um garoto negro de sua infância até a fase adulta, e nesse contexto questões acerca da identidade negra, a criação familiar, drogas, sexualidade, pode ser o diferencial para o filme levantar a estatueta.

MELHOR DIRETOR 



  • Dennis Villeneuve ("A chegada")
  • Mel Gibson ("Até o último homem")
  • Damien Chazelle ("La la land: Cantando estações")
  • Kenneth Lonergan ("Manchester à beira-mar")
  • Barry Jenkins ("Moonlight: Sob a luz do luar")

           TORCIDA E APOSTA:

  • DAMIEN CHAZELLE Conhecido pelo ótimo 'Whiplash', Chazelle mais uma vez utilizou a música para encantar o mundo. Com apenas 31 anos, o diretor fez um trabalho perfeito em 'La La Land' e realizou tudo como a Academia gosta - utilizou planos-sequencias para capturar todas as coreografias do musical (e olha que isso não é fácil!), e retratou um dos subtrama do filme, a industria de Hollywood (vide no vencedor 'Birdman'). Quem também merece atenção é a indicação de Dennis Villeneuve, um diretor que não faz filme ruim (realizou os ótimos 'Incêndios', 'Os Suspeitos' e 'Sicário') e, logrou agora para a ficção realizando seu melhor trabalho em 'A Chegada' e estará no comando de 'Blade Runner 2049'. Vale destacar a indicação de Mel Gibson, tomando o posto de Martin Scorsese em 'Silêncio', e trazendo o melhor filme de guerra depois de 'O Resgate Do Soldado Ryan'. 


 MELHOR ATOR



  • Casey Affleck (“Manchester a beira mar”)
  • Denzel Washington (“Cercas”)
  • Ryan Gosling (“La La Land – Cantando estações”)
  • Andrew Garfield (“Até o Último Homem”)
  • Viggo Mortensen (“Capitão Fantástico")

       TORCIDA:

  • DENZEL WASHINGTON Vencedor de dois Oscar, Denzel tem uma pequena chance de levantar a estatueta. Continua sendo a minha torcida, por simplesmente ter o papel mais difícil de todos os indicados e o que mais se preparou para seu personagem em 'Um Limite Entre Nós', baseado em uma peça de teatro em 2010, e vencedor do Tonys, o Oscar do teatro, pelas atuações.



       APOSTA: 

  • CASEY AFLLECK  Após algumas polêmicas, o favoritismo de Casey não é mais a mesma, mas mesmo assim continua sendo o principal nome para ganhar como melhor ator. Conhecido por ser irmão de Ben Affleck, Casey nunca agradou o público pela forma sórdida e inexpressivo como interpretava seus personagens, mas em  'Manchester À Beira Mar' ele provou que menos, é mais e, seu papel no filme caiu perfeitamente para ele e pode finalmente ter um grande reconhecimento. Ainda penso que terá alguma surpresa nessa categoria.




MELHOR ATRIZ



  • Natalie Portman ("Jackie")
  • Emma Stone ("La La Land - Cantando estações")
  • Meryl Streep ("Florence: Quem é essa mulher?")
  • Ruth Negga (“Loving“)
  • IsabelleHuppert ("Elle")


     TORCIDA: 

  • NATALIE PORTMAN E ISABELLE HUPPERTAqui está a categoria mais acirrada do Oscar 2017. Com o papel mais difícil de todas as indicadas, Huppert deu um show de interpretação no polêmico 'Elle' de Paul Verhoeven, difícil por causa do psicológico da atriz no papel do estupro na pesada trama de sua personagem. Já Natalie Portman incorporou com perfeição a mulher de John. Kennedy em 'Jackie', em uma atuação calculada com um ótimo trabalho corporal e principalmente vocal, além de transmitir toda a sua dor após a morte de seu marido, realçados com os close-ups - pode muito bem ganhar o prêmio. Faltou nessa categoria, apenas Amy Adams em 'A Chegada' ou 'Animais Noturnos' que foi boicotada pela Academia com a entrada de Meryl Streep (apesar de todos saberem que é uma ótima atriz, não merecia tal indicação).



APOSTA:


  • EMMA STONE - Vencedora do Globo de Ouro, BAFTA e no Screen Actors Guild, a chance de Stone ganhar é de praticamente 90% a melhor atriz do Oscar 2017. Com uma carreira pela frente, Stone tem tudo para ser uma das melhores atrizes de Hollywood e provavelmente ganhará novos prêmios. Sua vitória também é merecida no ótimo trabalho em 'La La Land', porém a veterana Huppert e o prêmio de Critic's Choice Movie Awards para Portman pode ainda tirar seu favoritismo. 

         MELHOR ATOR COADJUVANTE



  • Mahershala Ali ("Moonlight: Sob a luz do luar")
  • Jeff Bridges ("A qualquer custo")
  • Lucas Hedges ("Manchester à beira-mar")
  • Dev Patel (“Lion: Uma jornada para casa”)
  • Michael Shannon ("Animais noturnos")

    TORCIDA E APOSTA: 

  • MAHERSHALA ALI - Esta é a disputa mais certa e questionada. Não há motivos para Lucas Hedges, Dev Patel e Michael Shannon concorrerem, tivemos atores coadjuvantes superiores a eles em seus próprios filmes. Exemplo: O pequeno ator Sunny Pawar em 'Lion', Jake Gyllenhaal e Aaron Taylor-Johnson em 'Animais Noturnos', poderia entrar até George MacKay em 'Capitão Fantástico' e Hugo Weaving em 'Até O Último Homem'. Essa ficou fácil, para Ali levantar a estatueta que roubou a cena, principalmente no primeiro terço de 'Moonlight'.


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE



  • Viola Davis ("Cercas")
  • Naomi Harris ("Moonlight: Sob a luz do luar")
  • Nicole Kidman (“Lion: Uma jornada para casa”)
  • Octavia Spencer ("Estrelas além do tempo")
  • Michelle Williams ("Manchester à beira-mar")

TORCIDA E APOSTA: 

  • VIOLA DAVIS - Ao lado de Denzel Washington em 'Um Limite Entre Nós', o filme é um show de atuação e tem tudo para ganhar como melhor ator e atriz coadjuvante. Todos os atores estão excelentes no filme e no quesito atuação 'Fences' (do original) é nota dez. Considerada também uma das melhores atrizes da atualidade, Viola Davis entrega mais uma vez uma forte interpretação, e tem tudo para levantar seu primeiro Oscar. Já a ótima atriz Michelle Williams corre por trás em 'Manchester À Beira Mar' que roubou a cena em apenas três aparições durante a produção. Merecida a indicação de Nicole Kidman, justamente por entregar um ótimo monólogo em 'Lion' (de lá que veio sua nomeação). Agora a indicação de Octavia Spencer é descabivel, já que vimos muitas outras atrizes merecerem como Alicia Vikander em 'A Luz Entre Oceanos'



MELHOR ROTEIRO ORIGINAL



  • Damien Chazelle ("La la land: Cantando estações")
  • Kenneth Lonergan ("Manchester à beira-mar")
  • Taylor Sheridan ("A qualquer custo")
  • Yorgos Lanthimos e Efthimis Filippou ("O lagosta")
  • Mike Mills ("20th century woman") 

TORCIDA E APOSTA: 


  • O LAGOSTA - Não há justiça se 'O Lagosta' perder como melhor roteiro original. Só de ler sua sinopse é possível notar a criatividade de originalidade de seu roteiro, confira; "Em um futuro próximo, uma lei proíbe que as pessoas fiquem solteiras. Qualquer homem ou mulher que não estiver em um relacionamento é preso e enviado ao Hotel, onde terá 45 dias para encontrar um(a) parceiro(a). Caso não encontrem ninguém, eles são transformados em um animal de sua preferência e soltos no meio da Floresta. Neste contexto, um homem se apaixona em plena floresta - algo proibido, de acordo com o sistema". Apesar de alguns comentarem o roteiro de 'La La Land', o musical apresenta um roteiro simples, sem grandes tramas, pouco original, porém é eficiente.


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO




  • Barry Jenkins ("Moonlight: Sob a luz do luar")
  • Luke Davies ("Lion: Uma jornada para casa")
  • August Wilson ("Cercas")
  • Allison Schroeder e Theodore Melfi ("Estrelas além do tempo")
  • Eric Heisserer ("A chegada")

TORCIDA: 

  • A CHEGADA - 'A Chegada' é um dos melhores filmes do ano, senão um dos melhores filmes de ficção cientifica dos últimos anos. Adaptação do conto "História da Sua Vida", de Ted Chiang, a visão do diretor Dennis Villeneuve não é apenas contar uma história sobre invasão alienígena, mas sim de um drama incisivo carregado de emoção e com uma forte mensagem  do poder da comunicação nos tempo moderno, a ciência e a evolução, com a possível ameaça da vida na Terra. (Clique para conferir a crítica completa).

  APOSTA:

  • MOONLIGHT - Adaptação da peça de teatro "Moonlight", de Tarell Alvin McCraney. Adaptado por Barry Jenkins e pelo próprio Tarell, que nunca foram indicados na categoria. Como um dos favoritos para ganhar como melhor filme, 'Moonlight' tem tudo para ganhar como melhor roteiro adaptado, o filme é um verdadeiro estudo de personagem por retratar toda as fases da vida de um garoto e levantar questões acerca da identidade negra, a criação familiar, drogas, sexualidade, e isso pode ser o diferencial para o filme levantar a estatueta 
                                                            

MELHOR ANIMAÇÃO






 TORCIDA E APOSTA: 


  • ZOOTOPIA 


MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

  • "Terra de minas" – Dinamarca
  • "Um homem chamado Ove" – Suécia
  • "O apartamento" – Irã
  • "Tanna" – Austrália
  • "Toni Erdmann" – Alemanha

   
TORCIDA E APOSTA: 


  • TONI ERDMANN - Sem o francês 'Elle', boicotado pela sua controversa temática a cerca do estupro. Essa é a décima nona indicação da Alemanha, e tem tudo para ganhar seu quarto Oscar, com um filme bem humorado e uma temática capaz de divertir e encantar o espectador. 'O Apartamento' também pode vir como uma surpresa.  


MELHORES EFEITOS VISUAIS




TORCIDA E APOSTA: 


  • DOUTOR ESTRANHO Mesmo com 'Mogli' ganhando diversos prêmios como melhor efeito visual, a torcida e a aposta vai para 'Doutor Estranho' que além de ser um dos melhores filme da Marvel em 2017, pode conseguir a primeira estatueta para a estúdio.  "O espetáculo visual jamais visto em outro filme da Marvel, deixa até mesmo ‘A Origem’ no chinelo.  O filme apresenta uma riqueza monstruosa em seus planos e o visual alucinógeno foi perfeito para o cinema. Reserve sua sessão e assista em 3D!" (Clique para conferir a crítica completa).           



MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

  • "Audition (The fools who dream)" ("La la land: Cantando estações");
  • "Can't stop the feeling" ("Trolls"); música e letra de Justin Timberlake,
  • "City of stars" ("La la land: Cantando estações");
  • "The empty chair" ("Jim: The James Foley Story");
  • "How far I'll go" ("Moana: Um mar de aventuras"); 

TORCIDA E APOSTA: 


  • CITY OF STARS



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Crítica - 'Negação (Denial)'


    Quando as conseqüências da 2ª Guerra Mundial e batalha jurídica estão presentes em um só filme, o interesse do público é ainda maior. Partindo desses dois temas, ‘Negação’ é inspirado em uma história real, ocorrido na década de 1990, retratando um inusitado fato perante a corte britânica: o acontecimento, ou não, do holocausto.    

   De um lado, a historiadora Deborah E. Lipstadt (Rachel Weisz), especializada em holocausto, luta para provar a existência do Holocausto. Do outro lado, seu acusador David Irving (Timothy Spall), também historiador e, com muito mais experiência, luta para provar o contrário.                     

   Desconhecido por grande parte do público, ‘Denial’ é um convite para todos interessar nesse inesperado episodio. A história por si só ganhou fortes proporções devido ao curioso sistema da corte britânica, e a direção assinada por Mick Jackson fez muito bem em contextualizar o atual momento da década de 1990 junto com o holocausto. Nesse meio tempo, somos simpatizados com a boa apresentação da historiadora e escritora, Deborah.
 
  Diferente dela, o outro historiador Irving é visto como o antagonista do longa. Aspirante de Hitler, racista, misógino e extremista, Timothy Spall entrega um personagem forte, admirado por alguns e ao mesmo tempo grotesco.                

  A ré Deborah E. Lipstadt precisa provar a realidade do holocausto, e a atriz Rachel Weisz consegue criar várias camadas para sua personagem transmitindo toda sua raiva contida, seu comprometimento com sua profissão e, até mesmo emotiva quando fala dos sobreviventes do genocídio.
 
  Mesmo nas ótimas interpretações da dupla Rachel Weisz e Timothy Spall, o cineasta não consegue aprofundar o material fonte e todas as subtramas envolvidas são superficiais - a questão do racismo, dos judeus sobreviventes. Sem contar o elenco secundário pouco aproveitado na trama.

   Mesmo a batalha jurídica não ser memorável, e sem contar com aquela energia e pura tensão, como na série ‘American Crime History’. ‘Denial’ tem sua relevância por entregar uma história pouco conhecida e também pela sua poderosa mensagem, principalmente nos dias atuais, em como a liberdade de expressão, ainda que de direito, pode ter grandes conseqüências mediante as opiniões equivocadas.                                                                                                                                                  

NOTA: 6,4



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Crítica - 'Um Limite Entre Nós'


   Para quem gosta de grandes interpretações, assista a ‘Fences’. Dirigido e protagonizado por Denzel Washington, a implicada trama surgiu pela primeira em 1985 em uma peça de teatro, em seguida uma produção em 2010, tanto Washington como sua parceira Viola Davis venceram Tonys, o Oscar do teatro, pelas atuações. Agora a peça chega a sétima arte, se posicionando para concorrer ao Oscar 2017.                     
   Na trama, um jogador de beisebol aposentado (Denzel Washington) acaba frustrado na vida como um catador de lixo e passa a viver um relacionamento conturbado com sua esposa (Viola Davis), seu filho e seus amigos.   

  Marcando a terceira incursão de Washington atrás das câmeras, como cineasta Denzel vem provando cada vez mais seu talento. Após os razoáveis dramas/biografia ‘Voltando a Viver’ e ‘O Grande Debate’, aqui ele continua a sua autenticação no gênero drama, mas sua virtude fica por conta de conseguir trazer a tela uma peça de teatro, que vem se tornando cada vez mais raro nos dias atuais.    

  Envolto nos Estados Unidos na década de 1950, o roteiro adaptado por August Wilson tem seus altos e baixos momentos. Com um ótimo desenvolvimento dos personagens diante do contexto familiar e histórico, a trama oferece fortes cargas dramáticas, que são reforçados com atuações poderosas da dupla Washington e Davis. E são esses momentos a força de ‘Fences’.                                              

  Por outro lado, os baixos momentos ficam em virtude do progresso exaurido da produção, pelo seu ritmo desgastante, na iminência de afastar o espectador da história. Oscilando com seus altos e baixos, a admiração durante toda a produção fica mesmo pela atuação de Denzel Washington na pele do catador de lixo preso em seus dilemas como, a sociedade nunca mudara para o negro e, apresentando um homem honrado, como também um idiota irracional. E quando seu ciúme é revelado, a interpretação de Davis cresce, ao mostrar a realidade de uma mulher amargurada.           
 
  Trazendo às telas toda a natureza e as contradições de uma simples família nos EUA na década de 50, o cineasta Washington foi cauteloso em aproximar uma grande peça teatral a sétima arte, e como ator, mais uma vez, apresentou seu talento ao lado da atriz Viola Davis. 


NOTA: 7,0 



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Crítica - 'Silencio'


  Todos ficam à espreita quando um novo projeto de Martin Scorsese é anunciado.  Sagrado um dos grandes diretores da sétima arte e, o melhor em atividade, a expectativa para qualquer projeto de sua autoria é imensurável. Sonhando em fazer esse filme há mais de 20 anos, o cineasta entrega sua obra mais pessoal em ‘Silêncio’.            

    Século XVII.  Dois missionários jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), resolvem viajar ao Japão em uma época onde o catolicismo foi proibido, no intuito de encontrar seu mentor, o padre Ferreira (Liam Neeson) e reerguer a religião, lutando contra um governo que deseja expurgas todas as influências externas.            

   Sem aquela impetuosidade atrás das câmeras, a direção de Scorsese é solene, sem qualquer adorno e leva com muito rigor a sua premissa. Com uma grande dedicação ao material fonte e ao brilhantismo cinematográfico, Scorsese fez o ótimo uso da narrativa em off pontuadas no momento certo, adotou planos nas percepções dos personagens, mas seu foco foi em apoderar-se na câmera estática para realçar o sofrimento humano, e passar isso diante dos olhos do público.                              

  Outro grande mérito de ‘Silêncio’ foi em adaptar uma difícil estória baseado no romance "O Silêncio" do escritor Shusaku Endo. O roteiro também adaptado por Scorsese e Jay Cocks fez um bom estudo dos personagens - dois padres jesuítas, e o local onde partilharam sua fé. Mesmo com seu ritmo lento durante toda sua produção, o filme passa a ficar mais interessante a medida que a narrativa cresce, porém as cenas acabam se estendendo mais que o necessário no ato central, e de certa forma, fica desgastante para muitos.       

  Entretanto, a trama permite ao público diferentes percepções. Podendo ser violento para os mais ingênuos, como também intricado para o público eventual pela forma veemente como o filme trata seu principal tema, a intolerância religiosa. Afinal, ‘Silence’ levanta questões extremamente reflexivas, que ficam martelando na cabeça dos espectadores, como: Deus percebe o sofrimento humano? O que Deus realmente espera de nós? Qual o verdadeiro significado de apostatar?    

  Os padres jesuítas portugueses interpretados por Andrew Garfield e   Adam Driver estão muito bem em cena, principalmente Garfield que consegue transmitir todas as indecisões de seu personagem e seu apreço pelos outros. Porém, ambos não conseguem manter o sotaque português e, por hora, acaba ficando irritante.        
 
  A trama também fez um grande trabalho em aprofundar os japoneses entregando personagens interessantes, como Kichijiro, apresentando a constante luta entre a fé e a covardia, e o ator Issei Ogata cedendo toda a impotência de seu personagem, Inquisidor Inoue, em um perfeito trabalho vocal e corporal.                      

  Com uma adaptação difícil de ser realizada, ‘Silencio’ não é uma obra prima de Scorsese, e pode não agradar a todos, mas um filme difícil, reflexivo, aborda questões poderosas, principalmente nos dias de hoje e, acima de tudo, é uma experiência gratificante.    
          

NOTA: 8,2


       

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Crítica - Até O Último Homem'



Afastado atrás das câmeras por um bom tempo, Mel Gibson volta a brilhar em ‘Até O Último Homem’. Apesar de todos os escândalos implicado em sua carreira, Gibson sempre se mostrou um dos grandes nomes da sétima arte tanto como ator e diretor e, é sempre bom rever o talento de um grande astro. Agora como cineasta, ele volta em grande forma, entregando sua melhor obra, conduzindo uma guerra como ninguém.    

   Baseado em fatos reais, a trama acompanha o jovem pacifista Desmond Doss (Andrew Garfield), temente a Deus, e coberto de anseio em ajudar seu país na 2ª Guerra Mundial. Para isso, ele busca se alistar no exército americano, mas com uma condição: recusar a tocar em uma arma, devido aos traumas de seu passado, com o intuito de ir à guerra e salvar os homens no campo de batalha, no posto de médico.                 

   Seguindo a mesma convenção dos filmes de guerra, ‘Até O Último Homem’ apresenta três linhas narrativas bem definidas. A primeira metade é marcada pelo drama familiar evidenciando as características do protagonista ao lado de sua família e seu grande amor, Dorothy Schutte (Teresa Palmer). Não apenas isso, a trama busca sempre enfatizar seus fortes princípios religiosos, permitindo ao público simpatizar pelo personagem.

  Antes de chegar à hora da batalha, o roteiro começa a apresentar certos deslizes. Depois dos ótimos minutos iniciais, a trama não consegue criar um grande núcleo narrativo para conseguir progredir e chegar a seu ápice na segunda metade. Algumas questões são solucionadas de maneira improdutível, como se algo fosse jogado, sem qualquer apuramento.     

  Porém, Mel Gibson mostrou o porquê foi indicado ao Oscar quando chega à incrível segunda metade, ou melhor, o campo de batalha. As seqüências das batalhas são impecáveis, um verdadeiro dilúvio de horror – corpos decepados e explodindo, soldados se arrastando, tripas em todo lugar e, Gibson consegue trazer as telas um realismo e arte ao mesmo tempo. Méritos também para a edição registrando cada ato de brutalidade convertendo entre planos abertos e fechados.     

  Já os atores conseguem entregar grandes interpretações, destacando Andrew Garfield, Teresa Palmer, Vince Vaught e Hugo Weaving.  Com carisma, Garfield instrui o heroísmo de seu personagem e acreditamos no seu amor e em seus fortes princípios, Palmer entrega toda a leveza a trama com uma enorme paixão por Doss. Já Vince Vaught (conhecido em muitas comédias) saiu muito bem na pele do Sargento Howell e Weaving, vive um pai atormentado e complexo.     

   Mesmo com seu roteiro inconsistente e ocasionalmente apresentando cenas fúteis com frases de efeito, seja na apresentação do personagem ou durante a guerra.  ‘Até O Último Homem’ prende a atenção do espectador sustentado seu drama nos valores morais de seu protagonista, concede espetaculares cenas de batalha e sela entre os melhores filmes de guerra da década.    
 

          NOTA: 8,8


sábado, 4 de fevereiro de 2017

Crítica - 'A Kind Of Murder'


    Adaptar obras de Patricia Highsmith requer muito cautela. Para quem não a conhece, a autora é responsável pelo respeitado ‘Carol’ de 2015, detentor de grandes prêmios, sob o comando de Todd Haynes. Agora, sua nova adaptação ficou nas mãos no cineasta Andy Goddard, que infelizmente não soube retratar o valor de sua obra no suspense, ‘A Kind of Murder’.               

   A adaptação escrita em 1960 por Highsmith titulada ‘The Blunderer’, acompanha o bem-sucedido arquiteto Walker Stackhouse (Patrick Wilson) preso em um feliz casamento com Clara (Jessica Biel). Metido a escritor, Walker coleciona noticias desfortúnias de jornais e acaba fascinado pelo caso de Kimmel (Eddie Marsan), um homem suspeito de matar brutalmente sua própria esposa. Porém, quando ele menos imagina, sua esposa é encontrada morta e ele passa a ser o principal suspeito.         

   Com um trailer e uma sinopse arrebatadora, o filme não oferece o valor de seu suspense. O roteiro adaptado por Susan Boyd apresenta devidamente o casal protagonista no primeiro ato, e em segundo plano, sem desenvolvimento, o caso Kimmel preenche a tela. Porém, esses elementos são jogados na trama, e o cineasta Goddard não consegue criar uma atmosfera carregada. Dessa maneira, os minutos iniciais da trama são desgastantes, sem assertividade e demora a conceder o suspense, de fato.                

  O filme começa a ficar interessante quando os dois núcleos da história se conectam. Quando o arquiteto Walker conhece Kimmel, e ambos são investigados pelo detetive Corby (Vincent Kartheiser), o novo personagem da trama. A partir daí, o suspense que todos esperavam vem à tona e, Goddard mostrou-se eficiente com o inicio da segunda metade, lembrando os ares hitchcockianos, com uma trilha sonora lúgubre e condizente com a época, assim como o design de produção perfeito.                            

  Com boas atuações de seu elenco, principalmente Eddie Marsan interpretando o sociopata Kimmel e, de Jessica Biel vivendo a esposa chata, ciumenta e visivelmente abalada psicologicamente pelo bom trabalho de corpo. ‘A Kind of Murder’ fica auto-explicativo em alguns momentos, utiliza o encantamento de seu ótimo design de produção para cobrir as falhas do roteiro e a sensação final é: já vimos muitos filmes melhores contados que esse.


             NOTA: 5,5          

   

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Crítica - 'Manchester À Beira-Mar'


   ‘Manchester À Beira-Mar’ é o filme mais humano de 2016. A fórmula de contar sua história foge dos padrões prosaicos de muitos filmes, onde os diretores buscam enaltecer o melodrama e comover o espectador. Mas este não é o caso do cineasta Kenneth Lonergan que consegue transmitir o peso de como a vida é apenas apresentando os momentos mais criveis possíveis.                  

   A trama acompanha a vida de Lee Chanler (Casey Affleck), um jovem perturbado que trabalha como zelador em um prédio de Boston. Sua rotina muda quando ele recebe a notícia que seu irmão (Kylle Chandler) faleceu, ficando sob sua responsabilidade cuidar de seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges), e com o dever de se mudar para a cidade deles. Porém, um trauma de seu passado faz com que Lee queira distancia daquele lugar.     

   ‘Manchester À Beira-Mar’ parece mais um daqueles filmes “chatinhos”, igualmente cheios de enrolação, onde o cansaço domina o espectador em boa parte da produção – e de certa forma acontece devido ao seu ritmo vagaroso. Mas sua verdadeira essência está nas complexidades de seus personagens, principalmente de Lee Chanler, um sujeito angustiado, reprimido, carregado de sentimentos de culpa, onde o perdão entra em questão a ponto de indagar: como se perdoar por ter machucado os outros.                          
 
    E nesse clima angustiante e de uma tristeza tão deprimida, o filme afeta o espectador. Praticamente ocorrendo no inverno, estação fria, a base de tons acinzentados, meio triste, amargurado, cenário ideal para o protagonista. O ator Casey Affleck caiu como uma luva no personagem Lee Chandler em uma interpretação contida, por hora, perturbada e, provando que, muitas vezes o menos, é mais. Atuação digna de uma indicação ao Oscar!  

  
  Seguindo esse mesmo raciocínio, o cineasta Kenneth Lonergan mostra-se excelente em usar descomedidamente palavras e cenas para expressar algo sem importância do drama humano; tudo é muito crível, mas com tamanho valor para a trama em si. Também realiza uma ótima estrutura de flashbacks, jogando momentos felizes no drama principal capturados por uma fotografia menos apática. Entretanto, certas mudanças de tom recorrentes no filme é descabíveis como, do drama para o humor delicado.                       

 Quem também mereceu a indicação ao Oscar 2017, é a atriz Michelle Williams. Vivendo a mulher do protagonista, aqui ela aparece em três momentos da trama, e simplesmente, ela rouba a cena, principalmente em sua última aparição quando retrata o trauma de seu marido, impossível ninguém se emocionar.    

 ‘Manchester À Beira–Mar’ é um filme difícil, triste, pesado sobre a perda e o recomeço, discorrendo de temas inclementes e paixões delicadas, somado a um roteiro sensível e humano.     
            

NOTA: 8,2