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terça-feira, 29 de agosto de 2017

Crítica - 'A Garota Húngara (Demimonde)'


    Conhecer o cinema ao redor do mundo é sempre um privilégio para todos. Pouco visado pelo público em geral, o cinema húngaro coleciona verdadeiras obras-primas como, ‘As Harmonias de  Werckmeister’, ‘O Quinto Selo’, o recente ‘O Filho de Saul’ e muitos outros.  Dessa vez, o filme do momento na casa dos magiares, disponível na Netflix é, ‘A Garota Húngara (Demimonde)’.      

   Década de 1910, Budapeste. A trama conta a história de três mulheres, a famosa prostituta Elza (Patricia Kovacs), sua governanta Rozsi (Dorka Gryllus) e sua nova empregada Kató (Laura Dobrosi). Juntas elas criam uma complexa e bizarra relação culminando em uma coisa: assassinato. 

   A direção requintada de Attila Szàsz instiga o espectador logo de cara utilizando a não linearidade do roteiro. Com o suspense inserido, Szàsz conta ‘A Garota Húngara’ à partir da visão da pequena Kató e, junto com ela, passamos a adaptar aquele ambiente luxuoso, sofisticado, ganancioso e ao mesmo tempo com indivíduos eminentes. Com isso, as distintas personalidades de Elza e Rozsi são bem definidas e vão se intensificando afetando o comportamento da nova empregada.      

   Assim a direção de Szàsz brilha ao retratar essas diferenças envolto de um subtexto rico. A disparidade entre promiscuidade e ingenuidade, o papel do homem e da mulher na sociedade, amor versus dinheiro são todos muito bem explorados e a cineasta não fez questão em escolher um lado, apenas representar seus ideais no período datado. Que por sinal é representado pelos belíssimos figurinos e uma fotografia meticulosa a base de tons azuis e sépia distinguindo os sentimentos dentro da trama: a tensão e o conforto.      

   E como um bom filme europeu, ‘A Garota Húngara’ segue um padrão clássico dos filmes europeus. O ritmo lento, enquadramentos sofisticados, frames luxuosos, uma trilha sonora realçando grandes momentos, temas impactantes e atuações fortes estão todos presentes aqui. Com maior destaque para a atriz Dorka Gryllus que transmite com perfeição a frustração e a dubiedade do personagem, e vale mencionar também as atrizes Patricia Kovacs e Laura Dobrosi.      

  Nesse quesito, os méritos também vão para a diretora Szàsz que soube extrair as melhores atuações do seu elenco feminino. Sua movimentação de câmera, e enquadramentos muitas vezes utilizando de close-ups foi essencial para demonstrar os verdadeiros sentimentos de cada personagem. Por outro lado, o elenco masculino tem pouco a oferecer pelo simples fato do roteiro não desenvolvê-los, e buscar sucintas explicações do passado de seus personagens, inclusive de Elza, com diálogos expositivos.                     

  Mais próximo do drama e com um leve toque de mistério, ‘A Garota Húngara (Demimonde)’ não deve agradar a todos pela suas características do cinema europeu, mas para quem não tem problemas e se interessam pelas controversas de outros séculos, é um bom pedido.                                                                                                                                               

NOTA: 7,4


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