Estreias

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Crítica - 'Midsommar: O Mal Não Espera a Noite'


   O cineasta Ari Aster deixou seu cartão de visita ao apresentar-se no mundo do cinema seu excelente e controverso ‘Hereditário (2018)’. Seu nome passou a figurar entre as grandes promessas no gênero terror e gerou fortes expectativas tanto pelos críticos, quanto pelo público a espera de seu novo projeto. Eis que o diretor não demorou muito para dar as caras e novamente volta a perturbar, refletir o público e gerar discussões em ‘Midssomar – O Mal Não Espera a Noite’.                 

   Passando por um momento conturbado na sua vida, a jovem Dani (Florence Pugh) resolve viajar com seu namorado (Jack Reynor) e dois amigos dele para um festival de verão em uma remota comunidade na Suécia.  Enquanto, os amigos estão lá para elaborar uma tese sobre os costumes do local, as diferenças culturais ganham um rumo sinistro tornando os dias cada vez mais violentos e perturbadores.

   A direção assinada por Ari Aster foge das convenções narrativas do gênero para focar no horror psicológico por meio de elementos ritualista e imagens perturbadoras. Dessa maneira, ‘Midssomar – O Mal Não Espera a Noite’ se enriquece a partir dos detalhes e por proporcionar uma experiência sensorial e contemplativa. Assim sendo, o espectador precisa estar atento as sua proposta, pois a obra não vai agradar o público casual.     

   É possível notar a forte concepção autoral do cineasta logo no inicio na produção. A condução narrativa feita por um jogo de câmera inteligentíssima contextualizando cada personagem permite uma forte empatia do espectador com o grupo de amigos. Cada um tem sua identidade clara com seus interesses, problemas e traumas. Consequentemente, todo o fardo presente na vida dos adolescentes se tornam efetivos aos nossos olhos, principalmente por Dani.      

   Acompanhamos a narrativa aos olhos de Dani e sua curiosidade daquela comunidade se torna a nossa também. Os dias do festival reservam algo incomum no ambiente sejam os excêntricos rituais, o comportamento daqueles indivíduos e até mesmo a rotina. Durante esse processo, Ari Aster desconstrói o habitual dos filmes de terror ao optar pela cinematografia clara e limpa, bem como a movimentos de câmera suave - por vezes perante criativos efeitos alucinógenos -, causando um forte senso de paranoia e refletindo o estado mental da protagonista.      

  Esta, interpretada brilhantemente pela ótima Florence Pugh. A atriz dá uma aula de atuação ao transmitir sentimentos de perda e dor, ansiedade, seu aborrecimento no namoro, sua depreciação com seu namorado e sua reação aos excêntricos manifestos. É muito fácil simpatizar com a personagem e sentimos junto com ela todo seu fardo. Porém, a sua crescente evolução ao longo da narrativa é uma das fortes mensagens metafóricas aqui e, sem dúvidas, Florence Pugh merece no mínimo ser indicada no Oscar 2020. Os restantes do elenco de apoio também estão ótimos, com destaque a Will Pouter servindo como o escape para o humor surpreendentemente bem postado.

   Apesar de se estender mais do que o necessário no segundo ato, ‘Midssomar – O Mal Não Espera a Noite’ é perturbador, chocante, alegórico, único, nos convida a refletir sobre crise, relacionamento, separação, luto, psicologia do consciente coletivo e principalmente as  suas mensagem implícitas. 


    NOTA: 9,2

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