Estreias

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Crítica - 'Eu Não Sou Um Serial Killer'


    O gênero serial killer sempre foi contemplado por todos, porém muito deles seguem os mesmos arquétipos, e as mesmas trivialidades.  Fugindo do impessoal, o roteirista e diretor Billy O’Brien não se limita no gênero, criando novas camadas e oferecendo um projeto original em ‘Eu Não Sou Um Serial Killer’.          

    Baseado no livro de mesmo título, escrito por Dan Wells. A trama acompanha John Cleaver (Max Records), um jovem com tendências sociopatas obcecado por serial killers, mas não deseja se tornar um. Seus terríveis e tentadores impulsos começam a tomar novas proporções quando sua cidade passa a vivenciar uma série de assassinatos, deixado ele  confuso sobre suas decisões.                                    
 
   Partindo desse princípio, o filme lembra a famosa série ‘Dexter’ seguindo o conceito de assassino contra assassino. Ao longo de seus aproximadamente 100 minutos, o filme não tem pressa em causar sustos baratos ou ao chegar a seu clímax, aqui o público acompanha e simpatiza por John, em razão do bom desenvolvimento do protagonista, que, no fundo, não é um mau garoto. Ele está apenas lidando com um transtorno incomum, e o mistério de ‘Eu Não Sou Um Serial Killer’ não é a identidade do assassino, mas sim a fase do auto-reconhecimento de John diante da pessoa por trás das mortes de sua cidade.                               
 
   Com isso, o suspense não é o gênero principal da trama. O cineasta O’Brien insere o drama e o sci-fi. Sim, o sci-fi! Destacando assim a inovação deste novo serial killer diante dos filmes do gênero, porém o longa requer paciência do espectador. O diretor adotou um ritmo lento tornando os 100 minutos da produção desgastantes, além de não entregar a tensão necessária nos minutos iniciais e não explorar o psicológico entre o protagonista e o vilão, para cativar o público.                
 
   Tudo isso muda no decorrer do filme e a tensão começa a acentuar por conta do bom trabalho de fotografia mesclando tons vermelhos e escuros remetendo aos anos 70 e 80 (clássicos de terror), assim como a interessante trilha sonora trazendo sucessos do rock alternativo e clássicos.              

  Inovando em um gênero que vinha sendo corriqueiro nos últimos anos, ‘Eu Não Sou Um Serial Killer’ pode não agradar a todos, devido a sua insossa execução e a quebra de ritmo em seu ultimo ato. 
 
NOTA: 6,0        

   
 

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Crítica - 'A Infância de um Líder' (The Childhood of a Leader)


    Como a guerra é vista sob os olhos de uma criança? A partir dessa premissa, ‘A Infância de Um Líder’ traz uma ideia inovadora e ousada retratando a realidade da emergência do mal, isto é, moldando os paradigmas do fascismo. Levantando questões acerca do ambiente e da educação familiar, e suas conseqüências éticas.      

       Em 1918, a trama acompanha o garoto americano Prescott (Tom Sweet) que  passa a morar na França devido ao pai ser convidado a trabalhar para o governo dos Estados Unidos na criação do Tratado de Versalhes. Durante essa fase, a criança altera seus ideais e personalidade, fazendo nascer uma idéia assustadora, a conhecida ideologia fascista.        

     O filme marca a estréia do ator Brady Corbet atrás das câmeras. Conhecido pelo seu trabalho como ator em ‘Melancolia’ de Lars Von Trier, sua direção pega emprestado alguns conceitos de seus trabalhos antigos semelhando ao cinema europeu. Dentre eles, o ritmo moroso está presente durante toda a produção exigindo paciência do espectador para chegar à interessante segunda metade. Antes disso, o ritmo, o suave movimento de câmera, ótimos enquadramentos, planos estáticos tomando um bom tempo de tela e a falta de objetividade inicial do filme - não realçando sua premissa, pode não agradar boa parte dos cinéfilos.               

    A história começa a ficar interessante na segunda metade quando a criança muda seu comportamento diante da inconsistência familiar. A partir daí, o roteiro brilha reforçando a ideia fascista, em seu contexto munido onde a empatia é perdida, a educação familiar é negligenciada e terceirizada procedendo com que a ética do consequencialismo vigore.  

   E todos esses pensamentos são sustentados durante a trama também por conta das ótimas atuações de seu elenco. Vivendo a mãe do garoto, a atriz Bérénice Bejo está ótima transmitindo a frieza de sua personagem concedendo um ambiente mais tenso para o filme. Outra atriz com um papel interessantíssimo é Stacy Martin na pele da professora de francês acompanhando toda a mudança comportamental da criança entregando uma atuação genuína.                
          
    E não podemos deixar de mencionar Tom Sweet roubando as cenas desenvolvendo com perfeição todos os nuances de seu personagem em cenas poderosas, e tudo isso em tão pouca idade. É bom ficar de olho do jovem ator!     

    Com um trabalho surpreendente na estréia, Brady Corbet lidou muito bem com a parte técnica apresentando uma trilha sonora preponderante e a fotografia realçando o ambiente sombrio da época. Porém, ‘A Infância de Um Líder’ é desgastante, não deve agradar a todos por não ter valor de entretenimento, poderia ter trinta minutos a menos e não consegue passar sua mensagem final.


NOTA: 7,1



      

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Crítica - 'Inferno'


     Voltando as telas, ‘Inferno’ repete a formulas da franquia adaptada da série de Best-sellers de Dan Brown. Continuação indireta do maior sucesso do autor, ‘O Código da Vinci’, aqui Robert Langdon encontra-se mais uma vez em uma jornada repleta de enigmas, estes sempre interessantes aos olhos do espectador pelo seu valor histórico. Foi assim no primeiro e segundo filme, e aqui não é diferente.   

    Desta vez, o professor Robert Langdon (Tom Hanks) desperta em um hospital, e não se lembra de absolutamente nada que lhe aconteceu nas últimas 48 horas. Em questão de minutos ele é subitamente atacado por uma mulher misteriosa e, com ajuda da médica Sienna Brooks (Felicity Jones), escapa do local, iniciando uma série de enigmas do motivo de sua perseguição.    

   Seguindo os mesmo conceitos de seus antecessores, o icônico personagem Langdon está novamente envolto em uma intricada trama envolvendo mistérios históricos e obras de arte. Dessa vez o alvo prioritário é ‘A Divina Comédia’, de Dante Alighieri, e são desses mistérios consagrados pela história, arte e literatura a fonte para tamanha curiosidade do espectador encantar com a produção de Ron Howard e, certamente, das obras de Dan Brown.     

    Com boas doses de ação em uma edição frenética e a terrível câmera tremida, o filme assemelha ao modelo de filmes como ‘Jason Bourne’ e ‘007’. Aqui, temos Langdon perseguido pela OMS viajando de país a país para decifrar o enigma (lembra algo?), até mesmo a estética e a trilha sonora remete a filmes do gênero. Entretanto, ‘Inferno’ funciona bem dentro de sua proposta e consegue prender atenção enquanto mantém o mistério.                  

   Diante da inaptidão de Langdon, a trama utiliza de vários flashbacks para apresentar as últimas 48 horas do protagonista que, aos poucos, são revelados pela narrativa. Tal recurso está lá apenas para cobrir pontas-soltas e o roteiro acaba utilizando nos momentos mais intrigantes, caindo nos clichês. Porém, basta a verdade do passado de Sienna vir à tona para o filme entrar no marasmo.      

  Tal evento recaiu na regular atuação da ótima atriz Felicity Jones não encontrando o alter ego do personagem, desfavorecida pelo roteiro. Tom Hanks continua competente, como nos outros filmes da franquia e vale destacar a boa interpretação de Ben Foster, apresentando uma grande relevância a trama.                  

   Sua conclusão previsível sob o tema mais trivial: salvar a humanidade, esperamos que ‘Inferno’ seja o fim dessa fraca franquia de uma espetacular obra de Dan Brown.


          NOTA: 6,3         

  

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Crítica - 'Quando As Luzes se Apagam'


    ‘Quando as Luzes se Apagam’ parte de uma premissa muito interessante para o gênero terror. Em um jogo de escuridão versus a iluminação, os protagonistas buscam uma forma de estar próximo de qualquer fonte luminosa para sobreviver de um ser sobrenatural que aparece apenas no escuro total. 

        Diante dessa inquietude entre o claro e o escuro brincando com a imagem e aproveitando os clássicos elementos de horror, é a riqueza de ‘Quando as Luzes se Apagam’. Para isso, o cineasta David F. Sandberg (também conhecido pelo curta ‘Lights Out’) soube muito bem trabalhar a luz e sombra em diversos graus com sua habilidade inventiva de iluminação mantendo o espectador aflito em cada cena testando os limites da premissa.

   A trama é simples e objetiva, com seus rápidos 80 minutos, o filme não se preocupa em explorar sua narrativa e vai direto ao ponto. O drama familiar envolvendo a criança Martin (Gabriel Bateman) com dificuldades de lidar com os problemas psicológicos de sua mãe (Maria Bello) e sua irmã Rebecca (Teresa Palmer) é significativo, diferente da origem do monstro Diana por conta do roteiro introduzir na trama de forma rasa. Em conseqüência, a explicação do passado do monstro fica autodidata e tudo desenrola de maneira apressada - outro exemplo é o personagem Bret (Alexander DiPersia) subutilizado na trama.       

    Como em todo filme de terror, os sustos não poderiam faltar. Logo na cena inicial, a trama revela sua asserção com um bom susto, porém utilizam os mesmo elementos várias vezes habituando o espectador. Apesar da falta de novidades para maior espanto, o filme  consegue manter um clima tenso em vários momentos nas mais variedades de iluminação, principalmente nas cenas utilizando luzes ultravioletas (quem viu sabe!), conforme os ataques da entidade vão se intensificando.

     Com sua conclusão previsível, ‘Quando as Luzes se Apagam’ não vai além de sua premissa, mas é objetivo e conciso em sua proposta e vale como um bom filme de terror de média produção.

         NOTA: 6,3


sábado, 8 de outubro de 2016

Crítica - 'Café Society'


     Grandes diretores são reconhecidos por assinalar seus toques autorais em suas obras e, um deles é Woody Allen.  São tantas realizações marcantes na carreira de Allen que fica difícil citar algumas delas. Mantendo seu incrível ritmo de um filme por ano há décadas, em 2016, o cineasta e também argumentista mostra-se mais empenhado entregando a todos um de seus melhores trabalhos dos últimos anos, ‘Café Society’.          

    A nova trama do cineasta não parece ser novidade para ninguém, aqui conhecemos o jovem Bobby (Jesse Eisenberg) a procura de novas oportunidades ao mudar para a cidade de Los Angeles, no intuito de encontrar seu tio Phil (Steve Carrel), um produtor famoso da indústria cinematográfica. Após conseguir um pequeno ofício na empresa de Phil, Bobby acaba se envolvendo com a bela secretária Vonnie (Kristen Stewart), que mantém um relacionamento secreto.                            
       
     E novamente, Woody Allen fez o que dele se espera. Todas as características dominantes do diretor estão presentes em ‘Café Society’, há belíssimas composições visuais, um senso de execução cômica requintado, intensas interpretações e um jogo de câmera sofisticado – a mudança de fotografia sem cortes em um trabalho perfeito de luz e sombra e na maneira como lida até com a movimentação de seus atores, é sensacional! É visível, Allen mais motivado nesse novo projeto.       

    Em contrapartida, o cineasta não vai além de suas expectativas. A produção evocativa lembra trabalhos semelhantes de Allen superiores a esta, e a narrativa em off tira o espectador da história ao contar os detalhes da trama, ao invés de mostrá-las. O gostoso ritmo do filme narrando como as paixões acabam gerando memórias, agradáveis ou não, além de tornarem as pessoas mais fortes, é o melhor do filme.    

    Tal evento retratando as mudanças do estilo de vida dos personagens principais bem interpretados por Eisenberg e Stewart é como um choque para o público. Eisenberg transmite muito bem a ingenuidade e a insegurança do jovem Bobby e Stewart convence na confiante secretária Vonnie. Quem também está engraçado na medida do possível é Steve Carrel sendo vítima de sua própria estima.     

    As atuações de apoio também são boas, porém a interessante subtrama parece estar sempre fora de contexto com a proposta do filme. Mesmo assim, com sua trama central divertida e um visual impecável. ‘Café Society’ deve agradar os fãs de Woody Allen apresentando seu bom retorno nos seus famosos recursos que o consagrou na indústria, porém o filme é aquém de suas grandes obras. 

NOTA: 7,2