Estreias

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Crítica - 'Casamento Sangrento (Ready Or Not)'



   Ahh... se o cinema tivesse mais produções no estilo ‘Ready or Not’ ... tudo seria muito mais divertido. Estranho mencionar a palavra divertir dentro de um contexto majoritariamente assustador, porém é este o grande diferencial da obra dos cineastas Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet. Casando com maestria a comédia com o terror - caro leitor, bem vindo a melhor comédia de terror dos últimos anos. 

  
   A noite de casamento do apaixonado casal Grace (Samara Weaving) e Alex Le Domas (Mark O’Brien) ganham proporções sinistras quando a noiva é convidada a participar de um jogo aparentemente divertido cumprindo a tradição familiar de seu marido, para enfim ser oficialmente aceita como uma nova integrante. Mas o que ela não sabe é dos perigos por trás da tal brincadeira estabelecida há muitos anos pelos ancestrais da família Le Domas.

   
   A boa premissa é o ponto de partida perfeito para chamar a atenção de qualquer espectador. Por mais insano que pareça ser, os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet conduzem a narrativa com certa naturalidade e parte de um prefácio aparentemente sério, porém chocante, contemplando arrojados movimentos de câmera, com direito até  a alguns planos-sequência. Mais tarde o tom se torna perfeito, entrelaçando o horror pela luta da sobrevivência com o humor irreverente e politicamente incorreto, reservando momentos deliciosamente cômicos e bizarros. O mesmo se aplica a proposta do design de produção , anacrônica, brincando com a diferença cronológica do cenário ambientado em uma mansão vistosa e secular , bem como os figurinos característicos de cada personagem e as armas em contraposição com utensílios super modernos vistos na atualidade. 

   
   Enfim chegamos a cereja do bolo de ‘Ready or Not’ : os integrantes da família Le Domas e a atuação impecável de Samara Weaving. Os diretores oferecem tempo de tela para que cada personagem demonstre seus traços, motivações, irreverências, importante para as reviravoltas, com destaque a Nicky Guadagni, a tia demoníaca, e Andie MacDowell, a matriarca. Mas, o show fica por conta de Weaving transmitindo todo o pavor em cada cena, e o mais importante, nós torcemos por ela e vibramos por cada ato impiedoso seu. 

    Apesar do último ato soar apressado e cair em alguns clichês do gênero, 'Ready or Not’ é a grande revelação do ano, se torna um bom exemplar dentro de sua proposta, e ao final deixa o irresistível gostinho de quero mais.

NOTA: 7,8

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Crítica - 'O Irlândes'


   Mestre no gênero da Máfia, Martin Scorsese difere de suas antigas produções para entregar uma visão melancólica, fria e desprezível do sistema. Aqui, não estamos diante daquele estilo de ‘Os Bons Companheiros’ ou ‘Cassino’ com toda aquela glamorização envolto da violência e brutalidade do meio gangster. Seu ponto em ‘O Irlandês’ é concentrar as consequências comportamentais e emotivas daqueles que fizeram parte desse mundo maquinado nas entrelinhas.                  

     Baseado no livro “I Heard You Paint Houses”, de Charles Brandt, o longa acompanha a trajetória de Frank Sheeran (De Niro), um caminhoneiro e ex-combatente da Segunda Guerra que, torna-se o assassino da máfia ao se envolver com o poderoso mafioso Russell Bufalino (Pesci), e possivelmente o responsável pelo desaparecimento do notório Jimmy Hoffa (Pacino), presidente do sindicato nacional de caminhoneiros – uma das figuras políticas mais influentes dos Estados Unidos por décadas.

   ‘O Irlandês’ segue a cartilha à lá Scorsese tão bem conhecida pela sua forte concepção cinematográfica. A começar pelo ótimo uso de plano-sequência em tracking shot, o emprego de planos longos e sua mudança através da movimentação dos personagens, os close-ups pontuais definindo a força dos diálogos, a justaposição do voice-over, a quebra da quarta parede, a presença de símbolos católicos, o uso da música popular e a volta de suas antigas parcerias, De Niro e Joe Pesci. O resultado é simplesmente genial favorecendo não só a narrativa, como também a imersão do espectador a estória. 


   A proposta do ritmo lento e da longa duração é clara (3h e 30 minutos) para tal êxito, e por mais difícil de ser aceito pelo público casual aos pouco nos vinculamos de cada personagem presente. Dessa maneira, a montagem muito bem distribuída controla a passagem de tempo das três linhas temporais e ajuda a contextualizar a jornada criminal/pessoal de Sheeran e daqueles que fizeram parte dessa máfia.  Então, caro leitor, não fuja por conta da duração, só não deixe de apreciar uma dos melhores obras do gênero. 

   Aqui, Martin Scorsese confronta seu próprio estilo narrativo e entrega algo inovador para o gênero da Máfia. Antes a violência, a glamorização do sistema e a ostentação eram apreciadas em suas obras retratando o encanto no mundo do crime. ‘O Irlandes’ se opõe a esses elementos trazendo a dinâmica dos personagens (parcerias, intrigas e ameaças), a violência testemunhada e, consequentemente, reforça os diálogos poderosos e até mesmo as frases não ditas.   

   Com a narrativa construída a partir das recordações de Sheeran envelhecido, a complexa atuação de De Niro demonstra o quanto hoje suas ações do passado foram impactantes em sua vida e outrora, quando assumia as rédeas das situações em oportunidades pontuais de violência se mostrara frio, e muitas vezes sem reação nos momentos chaves. Diferente de como costumamos a ver, Joe Pesci é a frieza em pessoa e representa o poder das decisões sem ao mesmo levantar o tom de voz. Agora quem realmente rouba a cena é Al Pacino entregando um Jimmy Hoffa impaciente, irritado, verborrágico e com um vigor de causar arrepios.           

   Contemplamos a trajetória de Frank Sheeran, Russell Bufalino, Jimmy Hoffa e muitos outros fundamentais que moldaram não só forma de agir e pensar do protagonista, como também foram arquétipos de seus próprios finais. Ou seja, em outras palavras, estamos diante de um sistema causador de nossas emoções que nos faz questionar do senso moral, ético e até mesmo a fé, e este é a forte mensagem da obra-prima e do épico ‘O Irlandês’.
                                                                                                                             

NOTA: 10

       
 
               

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Crítica - 'Pássaros de Verão'


   Tornou-se corriqueiro o cinema retratar o ápice de um grupo mafioso ou estabelecer divergências militantes em questão, e não deliberar exclusivamente o ponto inicial de onde tudo isso começou.  Afinal, como surgiram às máfias e quais os fatores sociais, políticos e cívicos regem a postura destes grupos miliciantes? Seguindo estas questões, os diretores Ciro Guerra e Cristina Galego ambientam o mundo do narcotráfico no norte da Colômbia em ‘Pássaros de Verão’. 

   Representante colombiano para a corrida do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, ‘Pássaros de Verão’ centra-se sobre o território do povo Wayuu, localizado no nordeste da Colômbia e noroeste da Venezuela. Nesse período, o Ciclo da Borracha que movia as atividades econômicas da região perdeu espaço com o nascimento do narcotráfico colombiano, Era conhecida como Bonanza Marimbera. 
   
   A direção assinada por Ciro Guerra e Cristina Galego conduz a narrativa progressivamente a ponto de compreendermos e habituarmos aos costumes e padrões daquela comunidade. Assim sendo, pouco a pouco aquela cultura antes comedida, unida e resguardada pelo seu modo de pensar, agir e sentir se perde gradualmente provocando desarmonia do coletivo aos conflitos individualistas ante o surgimento do tráfico na região.  Consequentemente, o desvio daqueles sensibilizados pela ganância de querer mais e mais lucros colocam os seus valores acima da realidade e, assim o desmanche está diante de nossos olhos.         

  Durante essa passagem de tempo, ‘Pássaros de Verão’ divide-se genialmente em cinco capítulos contemplando esse processo até a chegada da desintegração cultural. O ritmo lento e as movimentações suaves da câmera adotados pelo cineasta Ciro Guerra é perfeito para a construção do tema em questão, apesar de alguns espectadores casuais não estarem acostumados a tal desígnio. Entretanto, o formato scope da fotografia em 35mm reforça as ações dos personagens quanto a influência das ambientações, além de conceder um ar poético a trama.

  Severo ao discutir questões sociopolíticas e as engrenagens do sistema arbítrio vigente daquela época difundida em sua mensagem poderosíssima, Pássaros de Verão’ é um soco no estomago provando o quão a ganância dos homens podem o levar a caminhos obscuros e sua insensatez ao privilegiar a soberba e a riqueza acima da família e da cultura.   


NOTA: 8,4
 
                                    

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Crítica - 'O Rei (The King)'



  Persiste certo dilema ao inserir as obras clássicas de Shakespeare na sétima arte: de um lado, a busca pela aproximação do material fonte somada a dificuldade de conduzir à autenticidade literária do poeta a apreciação, seja pela restrição do inglês arcaico e a condução narrativa, sonega os olhares das massas. Do outro, a adição da liberdade criativa inspiradas no feito do escritor, visa o entretenimento para atingir o público em geral e, nessa conjuntura, se encaixa ‘O Rei’, nova produção original Netflix.

   Após a morte de seu pai, o jovem e inexperiente Henrique V (Timothée Chalamet), também conhecido como “Hal”, assume o trono como o rei da Inglaterra, herdando de seu progenitor um país em meio à Guerra dos Cem Anos contra a França.  



   A direção assinada por David Michôd (conhecido pelo ótimo ‘Reino Animal’) retoma os ares da dramaticidade e do épico como esferas centrais. Apoiando-se exclusivamente na ascensão do protagonista, ‘O Rei’ subverte a expectativa do espectador a cada ação de Hal sob a forte influência daqueles que o cercam em seu reinado. Suas ideologias e propósitos são colocados a prova em detrimento de permitir a paz que tanto almeja. 

  Para isso, o roteiro assinado também por Michôd em companhia de Joel Edgerton coloca uma série de obstáculos a serem apaziguados, como também o reflexo de suas consequências em torno do comportamento de Hal. Em meio a essas nuances brilha a excelente atuação de Timothée Chalamet comprovando definitivamente ser um dos melhores atores de sua geração e, quem sabe, ele não receba mais uma indicação ao Oscar.   

  Mas se por um lado Michôd centra-se unicamente no rei Henrique V, o mesmo não pode se dizer dos personagens secundários, mesmo com as ótimas atuações de Joel Edgerton - o único amigo do rei, Ben Mendelson - o rei Henrique IV, o caricato Robert Pattinson como Dauphin da França e Sean Harris na pele do Ministro da Justiça, William – este com o arco mais bem construído de todos e com uma reviravolta chocante - todos são subaproveitados e não representam seus respectivos impactos históricos na trama, em especial a importante personagem Catarina (Lily-Rose Depp).

  Com um irretocável primeiro ato, mas deixando a desejar principalmente nos acontecimentos sucessivos da grande batalha de Azincourt. ‘O Rei’ acaba por mesclar momentos Shakesperianos com a historiografia, mas vale pelo seu momento histórico, pelo entretenimento, e pela brilhante atuação do jovem ator Timothée Chalamet.


NOTA: 7,8

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Crítica - 'Malévola: Dona do Mal'


    A onda de adaptações em Live Action das clássicas animações da Disney iniciou no ano de 2014 com o lançamento de ‘Malevola’. A ideia de reinventar a história de ‘A Bela Adormecida’ sob o ponto de vista da vilã atendeu aos pedidos de milhões de fãs ao redor mundo, rendeu altas cifras no cofre da Estúdio e deixou em aberto uma possível continuação. Eis, então que ‘Malevola 2’ parte de um novo conceito, totalmente do zero e, porque não dizer, original. 

   Após os eventos ocorridos no primeiro filme, Aurora (Elle Fanning) está preste a se casar com o príncipe Phillip (Harris Dickinson), porém Malévola não só aceita a união dos pombinhos, como também põe em risco a trégua entre o Reino humano com o Reino Mágico.
 
   A direção agora assinada pelo norueguês Joaquim Ronning (conhecido pelo fraquíssimo ‘Piratas do Caribe – A Vingança de Salazar) adere à narrativa rotineira e a estética visual da Disney. Com um ótimo trabalho de CGI e inspirações de grandes produções como ‘Game of Thrones’, o cineasta conduz ótimas sequências de ação em grande escala  garantindo um bom valor de entretenimento para o público, em especial no último ato.      

   Entretanto, se as cenas de ação são bem inseridas, conduzidas, diversificadas e extasiantes para os fãs; o mesmo não se pode dizer do ritmo.  Com uma nova história para o universo, Ronning insere novas ideias (algumas interessantes) como novas raças, novas regras, um novo reino, porém são esses conceitos o fator pelo desequilíbrio rítmico da narrativa, pois são pouco explorados e o espectador não tem o tempo para absorvê-los. Como consequência, isso prejudica as tramas paralelas e as atuações dos personagens secundários. 

  Sendo assim, a ótima atriz Elle Fanning é carismática, porém sem muito a apresentar em termos interpretativos. O personagem do príncipe é unidimensional, e os outros bons atores Sam Riley e Chitewel Ejiofor são subaproveitos. A atriz Michelle Pheiffer está ótima como a vilã, mesmo com um roteiro precário a respeito das motivações de sua personagem. E o mérito continua sendo todo de Angelina Jolie que realmente se encontrou na personagem com todos seus trejeitos, seus gestos corporais e seu visual impecável. 

   Com um final à lá Disney, ‘Malevola 2’ cumpre sua proposta de entreter o público com boas sequencias de ação, cenas emocionantes, apresenta novas ideias e abraça com carinho todos os personagens envolvidos. Porém não repete a qualidade de seu precursor soando uma sequencia genérica, previsível e sem coragem para tentar algo diferente.


NOTA: 6,6 
               

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Crítica - 'In Fabric'



   ‘In Fabric’ sentencia a frase “como eu vim parar aqui”. Não, não leve esse termo para o lado negativo, caro leitor, pois o diretor e roteirista Peter Strickland apropria do estilo surreal e imagético para conduzir sua narrativa ilusoriamente cômica sob forte influência do Giallo Italiano da década de oitenta, em especial do mestre Dario Argento.  

   A trama centra-se em um vestido vermelho amaldiçoado que, por vezes, cria vida própria para aterrorizar aqueles que o experimenta. De fato, essa sinopse pode soar cômica para muitos, mas não se engane: nessa percepção surge a genialidade de Strickland - o cineasta contrapõe o humor irônico de sua narrativa com a atmosfera surreal, soturna e bizarra, bebendo da mesma fonte do Giallo Italiano e entregando agora o Giallo britânico do século XXI.  



   
 ‘In Fabric’ retrata duas consumidoras do vestido possuído, a primeira é Sheila (na ótima atuação da atriz Marianne Jean-Baptiste), mulher divorciada a procura de um novo amor e mãe de um filho indisciplinado. Esta apresenta um arco mais interessante e atiça a curiosidade do espectador sobre o real propósito do filme. Já a segunda consumidora é Babs (na operante interpretação da atriz Hayley Squires) e nesta sessão o diferente perde sua originalidade, o lógico perde o significado, o que pode se tornar cansativo para o público mais casual. 

  Independente das duas histórias, a essência de ‘In Fabric’ está na criação de sua atmosfera, envolta nas manifestações bizarras de cada personagem. E como um bom Giallo, Strickland preza pela fotografia setentista brincando com os contrastes das cores vermelho,  verde e azul, bem como o banho de sangue estilizado, a montagem fotográfica beirando o estilo barroco, sequências surrealistas, a presença 'creepy' da atriz Sidse Babett Knudsen, sem contar a trilha sonora enervante e excitante. 

  Diferente do habitual feito hoje no cinema contemporâneo, ‘In Fabric’ é ousado, incompreensível, tecnicamente irretocável, e acaba por  estabelecer o nome do diretor Peter Strickland na Indústria, concebendo o Giallo do século XXI.

NOTA: 8,1



sábado, 16 de novembro de 2019

Crítica - 'As Loucuras de Rose'


    Muitos dos nossos grandes sonhos, desejos e ambições se tornam cada vez mais distante quando estamos diante de nossa própria realidade. Os obstáculos, desafios, as constantes pressões por ser sempre testado e o processo de passar por provações dificulta as nossas pretensões e passamos a viver frustrados. Por outro lado, nos faz ir além de nossos limites e nesse cenário se encontra ‘As Loucuras de Rose’.        

   Após cumprir a pena de prisão em Glasgow, Rose (Jessie Buckley) retoma a vida ao lado de seus dois filhos que estavam sob o cuidado da avó Marion (Julie Walters), assim como seguir seu sonho de ser uma cantora country e nada mais justo buscar o estrelato em Nashville, Tennesse. Porém, seu sonho se torna cada vez mais distante quando não se tem aprovação da mãe e seus filhos como principal prioridade.

   A direção assinada por Tom Harper (conhecido pelo mediano ‘A Mulher de Preto 2’) utiliza da música a sua força narrativa para entregar uma trama leve, agradável, otimista, além de ser um deleite aos ouvintes do gênero musical, Country. Mesmo seguindo as convenções de filmes similares e relembrando o recente ‘I,Tonya’, Harper não cede aos clichês do gênero ao abrir espaço para os personagens secundários Marion e Susannah (Sophie Okonedo) fundamentais para o crescimento de Rose e as reviravoltas.  

   E o grande cerne do filme está na atuação de Jessie Buckley. Responsável por compor a maioria das músicas presentes na trama e ter um vozeirão, sua interpretação realmente brilha ao sentirmos junto com ela o quanto o peso de seu passado e suas circunstâncias atuais interfere em seu sonho de ser cantora, e ao mesmo tempo contemplamos sua vitalidade e disposição para conquistar este objetivo. Entretanto, é nas objeções entre ela e sua mãe Marion prevalece à mensagem de ‘As Loucuras de Rose’. 

  Focando exclusivamente na protagonista, o roteiro assinado por Nicole Taylor não se preocupa nas subtramas dos personagens secundários e no quanto cada um deles tem tal influência em Rose. Fica um gosto de curiosidade por parte de o espectador saber mais dos personagens e na indústria Country, afinal poucos irão reconhecer a presença de uma das grandes cantoras nos dias atuais, a cena onde Kacey Musgrave se apresenta em um bar. 
 
   Mesmo seguindo uma estrutura clássica do gênero, ‘Wild Rose’ não cede aos clichês, conta com uma atuação brilhante da atriz Jessie Buckley, soma ótimas musicas - não só para conquistar os fãs do Country, e entrega uma mensagem tão singela e positiva que muitos deixam de acreditar hoje em dia.


NOTA: 7,6    
  

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Crítica - 'Haunt'



    Curioso notar como certos filmes de baixo orçamento superam as megas produções avaliadas com valores surreais. Nesse contexto, o gênero do horror também se encaixa em tal afirmação nos dias atuais e as altas cifras investidas ofuscam àqueles de grande qualidade, porém, infelizmente, sem a mesma visibilidade. Foi assim com os excelentes ‘Corrente Do Mal’, ‘REC’, ‘Abismo do Medo’ e agora de ‘Haunt’. 

   A procura de diversão na noite de Halloween, um grupo de amigos entra em uma casa mal-assombrada habitada por atores fantasiados de palhaços pregando peças em desafios perigosos. Porém, o que parecia ser apenas uma brincadeira é na verdade a realidade sendo apresentada para cada um dos integrantes.  

   A direção e o roteiro assinado pela dupla Scott Beck e Bran Woods (responsáveis pelo roteiro do ótimo ‘Um Lugar Silencioso’) não mede esforços para deixar o espectador tenso do inicio ao fim da produção. Com uma trama aparentemente simples, os diferentes desafios e cenários deveras criativos e aterrorizantes são inseridos pouco a pouco dentro daquele ambiente favorecendo o real protagonismo em questão: a casa mal-assombrada. Os personagens são apenas as peças para a ação e reação das diferentes etapas impostas por aqueles mascarados com uma estética realmente assustadora.   



   O objetivo é sair daquele local o quanto antes. O público reconhece a proposta do projeto partindo do ponto 'A' para o ponto 'B'. Entretanto, é nesse “caminho” o grande mérito, e os cineastas sabem muito bem disso. A luta pela sobrevivência, a ameaça aterrorizante e as surpresas das diferentes ambientações é o sustentáculo de ‘Haunt’.      



   Com elementos do recente ‘Escape Room’, ‘Jogos Mortais’ e ‘Halloween’. ‘Haunt’ tinha tudo para ser mais um filme de terror sobre uma casa mal-assombrada, porém surpreende em uma trama simplória, destaca-se pela sua criatividade e merece sua devida atenção e reconhecimento, principalmente para os fãs do gênero.

NOTA: 7,1

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Crítica - 'Parasita (Parasite,2019)'



    Elogiar o cinema sul-coreano se tornou algo corriqueiro nos dias atuais. Há uma vasta gama de excelentes produções lançadas nos últimos anos e no mínimo um deles é mencionado nas listas dos dez melhores. Agora em 2019, a bola da vez é ‘Parasita’ – vencedor do Festival de Cannes -, além de ser forte concorrente a estar na categoria de ‘Melhor Filme’ no Oscar 2020 com total mérito.    

 Na trama, o jovem Ki-Woo (Woo-sik Choi) é recomendado por um amigo a dar aula de inglês para a garota Da-hye Park (Ji-so Jung), uma garota nascida em berço de ouro onde tem tudo do bom e do melhor.  Diferente de seu padrão social e fascinado com a vida luxuosa da família Park, Ki-Woo, seus pais e sua irmã elaboram um plano para se infiltrar na casa dos magnatas, porém muitas surpresas os aguardam lá dentro.

    O renomado cineasta Bong Joon Ho (conhecido pelos muito bons ‘Expresso do Amanhã’, ‘Mother – A Busca pela Verdade’, ‘O Hospedeiro’ e o excelente ‘Memórias de um Assassino’) imprime uma visão até de certa forma caricatural das classes sociais e as transformam como verdadeiras moralizações ao desenrolar da trama. Se de um lado os ricos são ingênuos, bondosos e acomodados em seu padrão de vida, a pobreza da família de Ki-Woo induz a malandragem, a malícia e nesse cenário o conflito está instaurado em ‘Parasita’. 
 
   Se de um lado falta esperteza, do outro sobra. Nesse jogo, o cineasta Joon Ho transita perfeitamente entre gêneros com tamanho equilíbrio e energia, sendo capaz de compor atmosferas claras, possibilitando a união do espectador à estória. Principalmente, ao retratar com muito bom humor as pequenas falcatruas da família Kim em função da criatividade - mesmo pelos motivos errados. Afinal, ‘Parasita’ adota tons sombrios em sua segunda metade, provando de ótimas reviravoltas, divergências, a prontidão entre as diferenças e injustiças sociais, um clímax sangrento e o humor ácido em meio a todo esse caos.           

   Nesse jogo de contraposição diferindo de imagens alegóricas no retrato das duas diferentes classes e gerando reflexões sobre aqueles que culpam um sistema sem olhar o próprio umbigo. ‘Parasita’ é original, sarcástico, tenso, surpreendente, metafórico, denuncia a desigualdade social endêmica dos dias atuais e Joon Ho entrega o melhor do filme de sua carreira ao lado de ‘Memórias de um Assassino’.
 

NOTA: 9,4


      
 

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Crítica - 'Midsommar: O Mal Não Espera a Noite'


   O cineasta Ari Aster deixou seu cartão de visita ao apresentar-se no mundo do cinema seu excelente e controverso ‘Hereditário (2018)’. Seu nome passou a figurar entre as grandes promessas no gênero terror e gerou fortes expectativas tanto pelos críticos, quanto pelo público a espera de seu novo projeto. Eis que o diretor não demorou muito para dar as caras e novamente volta a perturbar, refletir o público e gerar discussões em ‘Midssomar – O Mal Não Espera a Noite’.                 

   Passando por um momento conturbado na sua vida, a jovem Dani (Florence Pugh) resolve viajar com seu namorado (Jack Reynor) e dois amigos dele para um festival de verão em uma remota comunidade na Suécia.  Enquanto, os amigos estão lá para elaborar uma tese sobre os costumes do local, as diferenças culturais ganham um rumo sinistro tornando os dias cada vez mais violentos e perturbadores.

   A direção assinada por Ari Aster foge das convenções narrativas do gênero para focar no horror psicológico por meio de elementos ritualista e imagens perturbadoras. Dessa maneira, ‘Midssomar – O Mal Não Espera a Noite’ se enriquece a partir dos detalhes e por proporcionar uma experiência sensorial e contemplativa. Assim sendo, o espectador precisa estar atento as sua proposta, pois a obra não vai agradar o público casual.     

   É possível notar a forte concepção autoral do cineasta logo no inicio na produção. A condução narrativa feita por um jogo de câmera inteligentíssima contextualizando cada personagem permite uma forte empatia do espectador com o grupo de amigos. Cada um tem sua identidade clara com seus interesses, problemas e traumas. Consequentemente, todo o fardo presente na vida dos adolescentes se tornam efetivos aos nossos olhos, principalmente por Dani.      

   Acompanhamos a narrativa aos olhos de Dani e sua curiosidade daquela comunidade se torna a nossa também. Os dias do festival reservam algo incomum no ambiente sejam os excêntricos rituais, o comportamento daqueles indivíduos e até mesmo a rotina. Durante esse processo, Ari Aster desconstrói o habitual dos filmes de terror ao optar pela cinematografia clara e limpa, bem como a movimentos de câmera suave - por vezes perante criativos efeitos alucinógenos -, causando um forte senso de paranoia e refletindo o estado mental da protagonista.      

  Esta, interpretada brilhantemente pela ótima Florence Pugh. A atriz dá uma aula de atuação ao transmitir sentimentos de perda e dor, ansiedade, seu aborrecimento no namoro, sua depreciação com seu namorado e sua reação aos excêntricos manifestos. É muito fácil simpatizar com a personagem e sentimos junto com ela todo seu fardo. Porém, a sua crescente evolução ao longo da narrativa é uma das fortes mensagens metafóricas aqui e, sem dúvidas, Florence Pugh merece no mínimo ser indicada no Oscar 2020. Os restantes do elenco de apoio também estão ótimos, com destaque a Will Pouter servindo como o escape para o humor surpreendentemente bem postado.

   Apesar de se estender mais do que o necessário no segundo ato, ‘Midssomar – O Mal Não Espera a Noite’ é perturbador, chocante, alegórico, único, nos convida a refletir sobre crise, relacionamento, separação, luto, psicologia do consciente coletivo e principalmente as  suas mensagem implícitas. 


    NOTA: 9,2

sábado, 26 de outubro de 2019

Crítica - 'Anna: O Perigo Tem Nome'


   O cineasta francês Luc Besson está longe de sua melhor forma quando presenteou o mundo com os excelentes ‘O Profissional’ (1994) e ‘O Quinto Elemento’ (1997). A prova de sua decadência recaiu em seus últimos trabalhos no fraquíssimo ‘Valerian e a Cidade dos Mil Planetas’, todas as suas animações e até mesmo o divisor de opiniões ‘Lucy’. Não obstante, seu novo filme intitulado ‘Anna – O Perigo tem Nome’ é mais do mesmo. 

   Na trama, Anna Poliatova (Sasha Luss) é uma modelo famosa e muito requisitada por várias marcas de luxo, porém isso é apenas um disfarce de sua verdadeira identidade como uma assassina da KGB.  Treinada e orientada pelo agente Alexei (Luke Evans) e Olga (Hellen Mirren), ela fará de tudo para assegurar sua liberdade frente à opressão do governo soviético e se necessário unir forçar com o maior rival, a CIA. 

   Com uma trama de encher os olhos de qualquer espectador a procura de um bom filme de espionagem. O diretor Luc Besson busca inovar nos minutos iniciais entregando cenas frenéticas muito bem conduzidas provando de planos-sequências, tracking-shots e lapsos temporais, este com o objetivo de situarmos a todo tempo sobre fatos e datas. Entretanto, o que parecia instigante no início com a narrativa temporal reservando boas reviravoltas e ótimas sequencias de ação, mais tarde se torna desleixado, desgastante e autodidático desconstruindo o ritmo de ‘Anna – O Perigo tem Nome’ e o tornando muito mais longo do que aparenta.                  

  O mesmo pode se dizer das atuações, o quarteto composto pela atriz e modelo Sasha Luss, Luke Evans, Cillian Murphy e Hellen Mirren estão muito bem em cena transmitindo as reais intenções de seus respectivos papeis. Porém, a material fonte não os ajuda a criar novas camadas e todos os personagens são unidimensionais, bem como a contextualização do cenário político entre CIA e KGB.          

   Por se tratar de Luc Besson, o vislumbre visual e a atmosfera refinada reforça a pungente rivalidade datada na época e remete a vários filmes de espionagem. Porém, ‘Anna – O Perigo tem Nome’ é mais uma convenção do gênero que extasia o espectador de antemão, mas se compromete pelas próprias virtudes.


NOTA: 6,0

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Crítica - 'O Coringa (2019)'


  As severas críticas implicadas nas últimas produções da DC criou certo receio sobre a futura trajetória de seu Universo no mundo cinematográfico.  Sem grandes exibições e sem aquele frenesi pelos fãs, muito se discutia a qualidade, a visibilidade, a bilheteria e até mesmo a rivalidade com seu concorrente. Entretanto, quando a Estúdio resolve acertar o resultado é uma verdadeira obra-prima e o mesmo se aplica em ‘Coringa (2019)’. 

   A trama acompanha a trágica e injustiçada vida de Arhur Fleck (Joaquin Phoenix) até o processo de se transformar no criminoso mais perverso de Gotham City, o Coringa. Nesse decurso, a direção assinada por Todd Phillips (conhecido pela boa comédia ‘Se Beber Não Case’) deixa de lado o furor das sequencias de ações, o humor despretensioso e as cores vibrantes da maioria dos filmes de super-heróis, para aprofundar sua obra em um verdadeiro estudo de personagem.

   A densa, melancólica e suja cidade de Gotham City é o prefácio perfeito da conduta atual de Arthur Fleck. Aspirante a comediante e não aceito pela sociedade devido ao seu incomum distúrbio, o vazio e desanimo do protagonista ganham fortes proporções à medida que acompanhamos sua rotina. Nessas circunstâncias, a direção de Phillips concede um ótimo controle do tom e do ritmo narrativo, provocando a crescente emancipação do caos e o desconforto aos olhos da plateia. 

   Para tal feito, Phillips manipula a câmera com maestria realçando a alucinação do protagonista (com close-ups), o real do fictício (flashbacks), o caos (grande angular), gravações em TV. A influência das cores – tons azuis de Arthur Fleck para tons alegres do Coringa -, bem como a trilha sonora enervante e o constante som ambiente.                           
   
   E no centro de todo o caos está ele, o Coringa, ou melhor, Joaquin Phoenix. A atuação visceral do ator tanto como O Coringa e como Arthur Fleck beira a perfeição, transmitindo toda a sua angústia, insegurança, desânimo imposto pelas injustiças sociais à loucura de um vilão sádico e excêntrico. Sua postura, seus diálogos e sua incontrolável risada é um deleite aos fãs - sua performance merece ser no mínimo indicado a premiações. Quem também merece créditos é Robert De Niro na pele do entrevistador Murray Franklin. 

  ‘O Coringa’ não é apenas um filme sobre um vilão destemido e perverso, mas desfruta de temas importantes nos dias atuais sobre privilégios, luta de classe, desestruturação e negligência familiar, preconceito e distúrbios mentais. Diferente das histórias de super-heróis, Todd Phillips e Joaquin Phoenix selaram seus nomes para sempre na história do cinema.        


                        NOTA: 10                       


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Crítica - 'Gunga Din (1939)




  Para muitos, o ano de maior qualidade da história do cinema foi em 1939. As produções daquela época revolucionaram a sétima arte e hoje são relembradas em virtude de seus valores históricos, temáticos e de entretenimento. Dentre eles, estão ‘E o Vento Levou’, ‘O Mágico de Oz’, ‘No tempo das Diligências’, ‘Adeus, Mr. Chips’, ‘Beau Geste’ e o divertido e surpreendente ‘Gunga Din’.                    
  
   Baseado na obra de Rudyard Kipling, três grandes amigos e soldados ingleses a serviço na índia são surpreendidos com o aparecimento dos Thugs, um bando de terríveis assassinos preparados a açoitar a vida dos soldados britânicos. Em meio ao caos, o amigo nativo Gunga Din (Sam Jaffe), um humilde carregador de água que sonha um dia em se tornar soldado.

   Divertido e surpreendente, pois a direção assinada por George Stevens concede um ritmo ágil a trama conduzindo as cenas de ação com uma maestria ímpar. Aos olhares de sua época as sequencias de batalhas e coreografias são de cair o queixo, deixando até mesmo o espectador dos dias atuais extasiados e impressionados (lembrando, estamos diante de um filme em preto e branco de 1939). Não só isso, Stevens equilibra com excelência a ação, da aventura e do humor tornando a obra leve e recompensador para o público.       

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   Boa parte desta proficiência é sucedida pela ótima química do trio protagonista composto pelo excelente Cary Grant, Victor McLaglen e Douglas Fairbanks Jr. que estão à vontade em seus respectivos papeis, rendendo boas piadas e principalmente, boas cenas de ação. É muito fácil simpatizar pelos heróis e passamos a torcer para que cada um deles conquistem seus propósitos. Como Cutter na incessante busca por tesouros, o espirituoso Ballantine disposto a manter sua esposa sempre ao seu lado, o escandaloso comandante Macchesney e por fim, Gunga Din, provando seu valor para se tornar um verdadeiro soldado.      

   Com todas as atenções voltadas na aguardada batalha em seu último ato, ‘Gunga Din (1939)’ provou-se muito a frente de seu tempo e condecora seus heróis, como poucos conseguem fazer. 


NOTA: 8,7


sábado, 28 de setembro de 2019

Crítica - 'Cemitério Maldito (2019)'


  Umas das obras mais prestigiadas do renomado autor Stephen Kings é ‘Cemitério Maldito’. Tal influência chegou às telas do cinema em 1989 sob a direção de Mary Lambert, porém o feito ficou muito longe da qualidade do livro. Agora com a onda de remakes atrás de remakes, o exemplar não ficou de fora e retorna as grandes salas do cinema, mas dessa vez superando o filme original. 

   A família composta pelo patriarca Louis (Jason Clarke), sua mulher Rachel (Amy Seimetz) e seus dois filhos (Jeté Laurence) e  (Hugo Lavoie) mudam-se para uma nova casa, localizada aos arredores de um antigo cemitério amaldiçoado, usado para enterrar animais de estimação. Após a morte do gato da família (isso não é um spoiler), eles se tornam alvo de fatos sobrenaturais. 

  Com a direção assinada pela dupla Kevin Kolsch e Dennis Widmyer, certos subtramas diferem do original ora abordados com maior ênfase ou, ora por passagens breves a narrativa. Somado esses dois fatores, certos temas (o passado de Rachel e de Jud, o vizinho da família) são tratados de forma apressada vedando o impacto necessário à trama.  Por outro lado, o laço familiar, a aura misteriosa do cemitério e o ambiente envolto da casa ganham vigor e oferecem novas camadas a este novo ‘Cemitério Maldito’. 

   Outro acerto na direção da dupla é a cadência do primeiro ato criando uma atmosfera pendente e um forte senso de presságio. A partir disso, o público simpatiza pelos personagens e os eventos sobrenaturais ganham mais vitalidade quando de fato surge em tela. Porém, o terror grafado se perde nas convenções do gênero, não oferecendo nada de inovador e abusando de jumpscares telegrafados.                               

   Em compensação, esta readaptação de Stephen Kings difere de seu original quando adentramos no campo da atuação. Enquanto o original de 89 é irrisório, aqui Jason Clarke transmite com perfeição todos os nuances de um pai de família aflito, perturbado, tenso e a cima de tudo, condolente. Agora a menina Jeté Laurence e a veterana Amy Seimetz roubam as cenas reforçando com veemência os momentos dramáticos e assustadores em que se encontram.                      

     ‘Cemitério Maldito’ pode ou não agradar o público ao caminhar para uma conclusão diferente do original. Mas isso não desdém sua nova forma de contar a tão cultuada obra de Stephen King, somando mais pontos altos do que negativos. 
              
NOTA: 6,8

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Crítica - 'Era Uma Vez em...Hollywood'


   Era uma vez... Tarantino! Somado em seu currículo nove invejáveis filmes e porventura seu penúltimo. O cineasta conquistou uma legião de fãs ao criar sua própria identidade cinematográfica gerando para si uma grande expectativa entorno de suas produções. Felizmente, Quentin Tarantino nunca decepcionou e dessa vez, apresenta seu projeto mais maduro em ‘Era uma Vez em... Hollywood’.

   Ambientado no final da década de 60, em Los Angeles. A trama acompanha o ator Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), seu dublê e assistente pessoal Cliff Booth (Brad Pitt) e a atriz pouca conhecida, Sharon Tate (Margot Robbie) dispostos a fazer o nome em Hollywood. Vizinha de Dalton, Tate é brutalmente assassinada pelas mãos da Familia Manson, uma seita de jovens maníacos, seguidores de Charles Manson.        
 
      Frequente nos filmes de Tarantino, sua marca registrada está novamente presente em ‘Era uma Vez em... Hollywood’. O diálogo perspicaz, a verborragia ostensiva, a violência, a referência aos filmes clássicos e uma linguagem cinematográfica multifacetada. A riqueza nos detalhes, os mais variados enquadramentos – crane shot, plano holandês, contra-plongéé, plano detalhe -, jump cut, flashback especulativo, edição irregular cumprem o seu propósito narrativo tornando o cotidiano dos personagens interessante ao público.

    Digo isso, pois temos um Tarantino mais contemplativo que acompanha as diferentes vivências de seus personagens principais sem pressa durante quase duas horas e quarenta minutos de produção. Diante disso, Tarantino consegue o que nenhum outro diretor conseguiria: abraçar as trivialidades do cotidiano tornando-as cativantes ao espectador e em constante crescimento à narrativa. Nesse contexto, a perfeita reconstrução de época (sem CGI) e a fotografia natural facilita a imersão do público, no intuito da duração não pesar como aparenta e vivenciarmos o valor do cinema e suas consequências na Hollywood, dos anos 60.

   Consequências estas como a ganância para o estrelato, a fama, frustrações, individualismo, reconhecimento e segredos ocultos. Todos esses elementos estão presentes nas espetaculares interpretações de Leonardo DiCaprio ao oferecer inúmeras camadas ao seu personagem egocêntrico, mas ao mesmo tempo inseguro de si. Brad Pitt rouba as cenas com seu personagem resiliente, porém carrega o peso de um passado obscuro. E Margot Robbie entrega um dos momentos mais genuínos da trama ao reagir sob os aplausos de um cinema lotado, enquanto a assiste em tela. 
 
     O filme também brinca com a metalinguagem cinematográfica reservando momentos icônicos e cativantes para o público. Seja na ótima presença de Bruce Lee, o diálogo afiado de Rick Dalton e a pequena Trudi (Julia Butters), o humor subversivo e a aura de Sharon Tate. E tudo capturado nos olhos de um grande cineasta provando o quanto é um apaixonado pela sétima arte.      

    ‘Era uma Vez em... Hollywood’ faz uma bela homenagem a Era Dourada de Hollywood e a Sharon Tate, além de subverter nossas expectativas entregando um final simplesmente, genial.
 

NOTA: 9,3
                             



quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Crítica - 'Godzilla (2019)'


   Há uma gama de filmes ao longo dos cinquenta anos, desde o lançamento do primeiro ‘Godzilla’ de 1954. Sua figura imponente e excêntrica ganhou espaço em diversas produções internacionais no cinema somando filmes solo, crossovers, confrontos com versões no espaço, robôs e sua vindoura batalha com Kong. Antes de essa premissa acontecer, ‘Godzilla 2: Rei dos Monstros’ apresenta descobertas de novas criaturas. 

   Após os eventos ocorridos em ‘Godzilla (2014)’, os integrantes da agencia Monarch precisam lidar com a aparição de diversos monstros e buscar uma coligação com Godzilla a fim de restaurar o equilíbrio da natureza e   lutar pela existência da humanidade. 

   Atendendo aos pedidos dos fãs, ‘Godzilla 2: Rei dos Monstros’ deixa de lado o elemento humano presenciado em seu precursor para concentrar na luta dos inúmeros titãs proveniente da terra, fogo, água e ar. Os confrontos de cada um deles são de cair o queixo e o cineasta Michael Dougherty soube realçar em grande escala a imponência e o tamanho dos monstros frente aos humanos, as locações e as estruturas – sejam pela ótima iluminação em ambientes escuros, ótimos enquadramentos e design de som. Em consequência, as mais variadas sequencias de ação é puro fan service e entretenimento de primeira.    

   Em contrapartida, os elementos humanos por vezes, ou quase totalmente, esquecidos. Subestima o ótimo elenco contando com nomes como Kyle Chandler (‘Argo’), Vera Farmiga (‘Invocaçao do Mal’), Millie Bobby Brown (‘Stranger Things’), Sally Hawkins (‘A Forma da Água’) e Charles Dance. Todos eles estão ótimos em seus papeis, porém o escasso material fonte tornam os unidimensionais.       

  Não só isso, o roteiro também assinado por Michael Dougherty não dá tréguas as clássicas facilitações narrativas, diálogos expositivos e frases de efeitos na tentativa de comover o espectador. Por fim, quando tal argumento busca ousar e surpreender optando na morte de um/uma personagem, as mesmices dos filmes pipocas são caídas em tentação. 

  ‘Godzilla 2: Rei dos Monstros’ vale pela sua diversão, um ótimo elenco e o show de CGI capturando os verdadeiros confrontos dos titãs.


NOTA: 6,7