Estreias

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Crítica - 'Anthropoid'


 A 2ª guerra mundial reservou histórias interessantíssimas, e nada mais justo, o cinema apossá-las.  De um lado, grandes clássicos envolvendo o período mais conturbado do mundo marcaram a sétima arte, como também o espectador. Do outro, muitos filmes apresentaram eventos interessantes durante esse período, porém sem o glamour, sem audácia, este é ‘Anthropoid’.   

  Baseado em fatos reais, o filme centra-se na Operação Anthropoid, que visava matar o general Heydrich, oficial superior alemão. Considerado o terceiro homem mais poderoso do período nazista e responsável pela ocupação nazista na Tchecoslováquia. Suas ações culminaram no atentado idealizado pela Executiva de Operações Especiais (S.O.E.), uma organização de inteligência britânica, que recrutou dois exilados: Jozef Gabčík (Cillian Murphy) e Karel Svoboda (Jamie Dornan).            
       
  Dirigido por Sean Ellis, o filme faz muito bem contextualizar o atual momento da 2ª Guerra Mundial. Envolto de um grande evento durante a guerra, ‘Antropoid’ tem seu valor histórico ao recuperar um episódio importante e curioso aos olhos do público, por ser desconhecido pela maioria. Porém, seu resultado fica abaixo das expectativas por não entregar o peso necessário à trama.    

  Com a sonolenta primeira metade marcada pela elaboração do plano para matar o general Heydrich, o filme passa a ficar interessante na segunda metade quando o plano é colocado em prática. Todos os erros técnicos presentes no inicio da produção – a fraca edição, enquadramentos distorcidos e a desagradável câmera tremida, são compensados com boas cenas de ação protagonizadas pelos atores Cillian Murphy e Jamie Dornan, ambos razoáveis em cena.              

  Concebendo todo o caos gerado pela guerra na boa fotografia criando uma atmosfera mais densa para o filme. ‘Anthropoid’ tem seus bons momentos empolgando o espectador em seu ato final e por trazer um interessante episódio durante a 2ª Guerra Mundial conhecida por poucos. Mas não consegue entregar todo o peso narrativo, faltou energia, dedicação, estudo de toda produção, e experiência atrás da câmera para ser tornar memorável.       

NOTA: 6,5

                                       

domingo, 20 de novembro de 2016

Crítica - 'Animais Fantásticos e Onde Habitam'


    O receio de ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ ser mais um filme aproveitador do sucesso de seu precedente era pertinente.  Felizmente, o tão aguardado filme faz justiça a icônica saga ‘Harry Potter’ apresentando um novo mundo repleto de extravagâncias e com o poder de conquistar não apenas os fãs da franquia, mas sim o público.        

    A história acontece vinte anos antes dos acontecimentos de ‘Harry Potter’, na cidade de Nova Iorque, em 1920. O magizoologista Newt Schamander (Eddie Redmayne) carrega uma preciosa maleta cheia de fantásticos animais do mundo da magia, porém após uma confusão envolvendo um trouxa (também conhecido como ‘não magico’), algumas criaturas acabam soltos na cidade, restando ao bruxo capturá-los.                          

   Conhecido por dirigir os últimos quatros filmes da saga ‘Harry Potter’, o cineasta David Yates mostra estar mais familiarizado com esse mundo mágico. Por se tratar de uma obra mais adulta mantendo a mesma legião de fãs da franquia, Yates encontra novas soluções visuais criativas concedendo um ambiente mais sombrio (como nos últimos filmes de HP), porém tal preguiça também é visível por parte do cineasta por entregar certos enquadramentos inconstantes com espaços mortos.              

   Apesar da premissa parecer simples e inocente - e por certo, fornece cenas dispensáveis, o roteiro da própria J. K Rowling consegue inserir novas camadas. A autora expande seu universo sem nunca recuperar elementos do passado para se aproveitar da nostalgia do público. Em conseqüência, o filme faz um forte comentário do medo do desconhecido, repressão, fanatismo religioso e preconceito, mostrando ser exclusivo, e não uma repetição da mesma história.




   ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ contextualiza o inicio de uma nova franquia de maneira única. E seu ponto forte não poderia deixar de ser sua construção do mundo envolto da antiga Nova Iorque e animais, realmente, fantásticos. Para tal façanha, os efeitos visuais são excelentes, entregando criaturas extravagantes com design inteligentes. 

   E a cinematografia dessaturada construída a base de palheta acinzentada é perfeito para criar a sombria atmosfera, acentuando a presença do vilão Gellert Grindelwald (interpretado muito bem por Colin Farrel). Assim como, a configuração visual, remetendo o espectador a década de 20, com a velha Nova Iorque e seus figurinos mágicos, especifica para a época. O 3D também tem seus bons momentos, porém não é necessário.                     

  O elenco também merece destaque, principalmente Eddie Redmayne e Katherine Waterston.  Não existe outro ator ideal para o filme sem ser Redmayne, aqui o espectador se relaciona com o protagonista através de seu olhar inocente, ingênuo e de encantamento com o mundo da magia transmitido com perfeição pelo ator, além de entregar um charme britânico do excêntrico e anti-social, Schamander.  

  Waterston, por sua vez, mostra estar sempre comprometida para ajudar o bruxo e por possuir a subtrama mais interessante da história Temos também o alívio cômico interpretado muito bem por Dan Fogler, assumindo um bom tempo em tela, apresentando um despretensioso arco de seu personagem contracenando com a atriz Alison Sudol, a Queenie Goldstein.                                        

   ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ peca um pouco em seu ritmo, e evidencia suas pontas soltas da origem de seu protagonista e antagonista. Porém, é uma ótima introdução ao novo universo de J. K. Rowling por apresentar uma ambição narrativa e um enorme carinho pelo universo e, sem dúvidas, cria enormes expectativas para seu futuro. 


NOTA: 7,7




sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Crítica - 'Elle'


     O cinema sempre foi e sempre será um artifício representativo de questões polêmicas. E quando mencionamos Paul Verhoeven (conhecido por ‘Instinto Selvagem’), mestre em prezar pelo politicamente incorreto, o cineasta volta no auge da controvérsia em ‘Elle’.  Com discussões pertinentes nos dias atuais, a obra distorce os paradigmas associadas a figura do estupro fugindo de qualquer expectativa.         

   Baseado no livro de Phillipe Djian chamado ‘Oh’, a trama acompanha Michèlle Leblanc (Isabelle Huppert), diretora de uma empresa de videogames e cercada por pessoas excêntricas, incluindo seu filho (). Sua rotina é quebrada quando ela é estuprada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. Tal ato provoca reações inusitadas a vida de Michèlle.                  

  Muito antes de iniciar o filme, um grito intenso rompe o manto da tela: o desespero de uma mulher em luta com algo.  Somos inseridos a um suspense sobre quem é o responsável por tal atrocidade e, mais que isso, a trama aos poucos revela o impacto psicológico do estupro em Michèlle. Não é verdadeiramente um suspense, um espírito de vingança ou um drama sobre o trauma do ato, a genialidade de Verhoeven é desconstruir o gênero e trazer algo inovador, diferente e, acima de tudo, impensável.                      


  Inicialmente a protagonista preocupa pela sua segurança, posteriormente isso passa a ser deixado de lado e a superação torna-se a nova fase de sua realidade. Superação não é a palavra correta, pois é impossível prever qual será o próximo passo de Michèlle. E nesse jogo dos personagens agirem conforme o inesperado, jamais pensado, inicia-se o julgamento do público. A partir daí, uma série de absurdos estabelecem no perturbado cotidiano de Leblanc, absurdos extraídos das mais colossais malicias de uma mente doentia.            
   
  Absurdos estes que Verhoeven explora meticulosamente, dentre eles as pessoas que cercam Michèlle. O filho retardado (envolvido em uma interessante subtrama), o amante carente, a mãe preste a embarcar em um casamento forçado e o pai um psicopata. Todo esse empoderamento intrínseco observado pelo espectador pós estupro, é transmitido com perfeição pela atriz Isabelle Huppert, atuação digna de prêmios e quem sabe concorrer a melhor atriz do Oscar 2017.                    

   Com um grandioso elenco comprometido nas subtramas, Verhoeven consegue desenvolver com maestria todas as características e ações dos personagens em constante evolução para a trama. Fato este torna a produção deveras demorada em relação a filmes comuns do gênero, totalizando 130 minutos.    

    Com interessantes propostas nas subtramas, o filme não apresenta dar muita importância a elas, visto que poderia conceder maior peso para o arco central da trama. Conseqüentemente, havia várias opções para a conclusão de ‘Elle’ que poderiam satisfazer o espectador, porém quando falamos de Verhoeven.

   Polêmico, subversivo, diferente e porque não, assustador? Seja pelo impiedoso ato ou pelas atitudes tomadas pela protagonista. ‘Elle’ segue um rumo muito diferente e pode agradar, ou não, o público. Agradando ou não, é o rumo para a indicação de melhor filme estrangeiro para o Oscar 2017.  


NOTA: 7,5

                 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Crítica - 'The Handmaiden (Ah-ga-ssi)'


    Não é de hoje que o cinema sul coreano vem surpreendendo. Em um ano fraco para o cinema, a Coréia do Sul vem compensando essa fase com ótimos projetos. Após o inédito ‘Invasão Zumbi’ estreado recentemente, somos agora presenteamos com um suspense erótico de primeira qualidade e conquistado notoriedade entre os melhores do gênero, ‘The Handmaiden (Ah-ga-ssi)’.       

        Durante a ocupação japonesa no ano de 1930 na Coréia do Sul, a jovem Sookee (Kim Tae-ri) é contratada para trabalhar para uma herdeira japonesa, Hideko (Kim Min-Hee), uma bela mulher que vive ao lado de seu tio autoritário. Porém, Sookee reserva um grande segredo: ela faz parte de um intricado golpe, com o objetivo de roubar a fortuna da herdeira e trancafiá-la em um manicômio.               

    Dirigido por Park Chan-Wook (conhecido dos muito bons ‘Lady Vingança’ e ‘Oldboy’), aqui o cineasta consegue trabalhar vários elementos tornando a trama fluida e nunca parecendo desgastante. Os seus amplos movimentos de câmera combinado a enquadramentos reveladores, uma trilha sonora sempre revigorada e a lúgubre fotografia insinuam o erotismo e a ameaça independente do conteúdo em cena.  A luxúria, o sexo, a sedução, o mistério, a vingança e a violência são bem pontuadas e transcorridas de maneira dinâmica e não percebemos que estamos assistindo um filme de aproximadamente duras horas e trinta minutos.                                           

     A trama é narrado do ponto de vista dos três personagens principais: Sookee, Hideko e um vigarista. Todos eles são interessantes, repleto de camadas, onde todo mundo manipula todo mundo e o espectador é o último a entender. Em ‘The Handmaiden’ os personagens estão sempre um passo a frente, quando começamos em compreender os incentivos de cada um, uma reviravolta apresenta o inesperado.

  E não ha apenas uma reviravolta, são três reviravoltas sensacionais evitando qualquer compreensão e impressionando o espectador. Chegamos a um momento desistir de objetivar e ficamos a mercê desse revés das incertezas.    

   Porém, este complexo golpe pode parecer muito mais interessante no primeiro ato marcado pela visão da criada Sookee, em relação aos dois últimos arcos. As diversas releituras do caso acabam gerando uma sensação de desordem e o erotismo acaba ganhando mais força apossando-se de momentos desnecessário a trama.

   O filme não é apenas roteiro e personagens enigmáticos. A cinematografia é espetacular, o design de produção é perfeito combinando a luxúria e a elegância e os belíssimos figurinos ajustado para a época. ‘The Handmaiden’ surpreende o espectador com todas as suas reviravoltas, tem atuações fortíssimas de seu trio protagonista e comprova a qualidade do cinema sul coreano.


NOTA: 9,3


domingo, 6 de novembro de 2016

Crítica - 'Doutor Estranho'


     Mesmo seguindo a tradicional formula da Marvel, ‘Doutor Estranho’ tem sua excentricidade. Tal capricho é observado logo no início com elementos jamais visto no mundo real, desconstruindo qualquer material fisicamente impossível. Nesse arrebatador visual encontra-se o herói mais carismático da Marvel interpretado por um dos melhores atores da atualidade, Benedict Cumberbatch.     

    Doctor Strange (Benedict Cumberbatch) é um neurocirurgião bem sucedido, talentoso e arrogante. Após um acidente, ele perde os movimentos da mão e se vê incapaz de exercer sua profissão da qual se orgulha tanto. Desesperado em busca da cura, ele acaba em Catmandu, no Nepal, local onde passa a estudar arte mística ao descobrir um grupo misterioso que protege a Terra de ameaças espirituais.  

   A direção assinada por Scott Derrickson (dos bons filmes de terror ‘A Entidade’ e ‘O Exorcismo de Emily Rose’) não foge da estrutura narrativa familiar dos filmes na Marvel. A história de origem e as principais características do personagem relembram outras trilogias, assim como os dois últimos atos marcados pelo treinamento e o confronto final. Em termos de roteiro, o filme não oferece nada de inovador.  O diferencial de ‘Doutor Estranho’ foi em ceder o papel principal para Cumberbatch que explora todos os atributos do personagem com perfeição.                

 Sua pretensão, arrogância, orgulho, a crise de identidade e o senso de humor são visíveis em toda a passagem do personagem. Aliás, o humor do filme é acertado em grande parte da produção (alguns momentos incabíveis) rendendo boas risadas do público.   

 Não podemos deixar de mencionar a incrível cinematografia de ‘Doutor Estranho’. O espetáculo visual jamais visto em outro filme da Marvel, deixa até mesmo ‘A Origem’ no chinelo.  O filme apresenta uma riqueza monstruosa em seus planos e o visual alucinógeno foi perfeito para o cinema. Reserve sua sessão e assista em 3D!          

   Com cenas de ações forçadas na segunda metade, a trama passa a ser esquecida. Os personagens são pouco explorados, não sabemos suas origens, mas mesmo assim o forte elenco de apoio está muito bem mesmo com pouco a trabalhar. A ótima atriz Tilda Swinton caiu perfeitamente no papel da Anciã, Chiwetel Ejiofor também fez um bom trabalho como Mordo, e até mesmo o ótimo ator Mads Mikkelsen está bem como o vilão, ainda mais pelo fato do roteiro não desenvolver seu personagem, faltando principalmente entregar sua história de origem.

   Acompanhado de certos elementos já abatidos dos preceitos da Marvel, ‘Doutor Estranho’ é engraçado, vale pelo seu ótimo entretenimento, tem um protagonista acima da média, pode ser o primeiro filme do estúdio a receber um Oscar pelo seu impressionante efeito visual e merece ser assistido na maior tela.


NOTA: 7,7       

                        
            

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Crítica - 'Capitão Fantástico'


    ‘Capitão Fantástico’ não é apenas um filme, mas sim um convite para viver. Viver de maneira gratificante todo o nosso dia-a-dia aproveitando todas as riquezas oferecidas pelo mundo, e agradecido com cada novo aprendizado.  Obrigado, Matt Ross! Obrigado por nos presentear com o melhor filme do ano, até o momento.      

    Na trama, Ben (Viggo Mortensen) e sua esposa Leslie (Trin Miller) impõem uma criação diferenciada para os seus seis filhos, morando longe de qualquer civilização, mantendo-os longe das astucias, dos vícios e das futilidades do mundo e da globalização. Quando Leslie vem a falecer, todos precisam enfrentar a realidade, causando transtornos nos filhos, enquanto Ben tenta ao máximo manter seus princípios.            

   A constante viagem da família é marcada por um grande choque cultural. Diante de sua base educacional completamente diferente dos paradigmas pressuposto pela sociedade atual, as crianças não possuem qualquer trato social, mas elas apresentam conhecimentos maduros o suficiente para deixar qualquer um de queixo caído. E tudo isso é tratado de maneira divertida, mas também muito inteligente ao oferecer ótimos momentos dramáticos expondo de modo simples a real natureza do homem.                          

  E nesse contexto o filme mexe com o nosso modo de ver e viver. Mesmo a simplicidade da essência humana: genuína, independente e honesta, quando moldada pela sociedade caímos nas contrafações morais. Todos os acontecimentos desse roadmovie da nova realidade da família de Ben são incríveis, o cineasta Matt Ross conduz a trama sem floreios entregando momentos verdadeiros marcado pelo carisma de todos os atores mirins, que nos esquecemos que estamos assistindo a um filme.                  

    Diferente do carisma dos seus filhos, Viggo Mortensen entrega uma atuação sórdida contrário a todas as etiquetas imposta pela sociedade mantendo todos seus ideais. O ator mostra todas as camadas de seu personagem e, é impossível não ficar do lado dele. Méritos também para o jovem ator George MacKay concedendo fortes cenas enfrentando seu pai. Afinal, todo o elenco mirim está ótimo, seja na inocência, na bravura e na felicidade.  

    A fotografia em planos abertos valorizando os cenários e a contida trilha sonora presentes em momentos emocionantes reforçam a beleza do roteiro de ‘Capitão Fantástico’. A diferente versão da música ‘Sweet Child O’ Mine’ é exemplo disso.                                              
 
   Tal motivo para o longa não receber nota máxima é porque o cineasta não arrisca em tomar uma firme posição entre os dois mundos, tentando agradar ambos os lados. Com seu final questionável, ‘Capitão Fantástico’ entrega momentos genuínos, incríveis, engraçados, filosóficos e mexe nossos sentimentos a cerca da vida. Neste mundo doente, de palavras vazias e ações demagogas, o filme não é apenas apropriado, mas sim necessário.

NOTA: 8,8