Estreias

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Crítica - 'Três Anúncios Para Um Crime'


  Comédia dos absurdos, violência inesperada, dramas existenciais e personagens marcantes. Você já deve ter assistido algo parecido com isso antes. Não! Não é os irmãos Coen, mas sim o mais novo trabalho do cineasta Martin McDonaugh. Responsável pelo ‘In Bruges’ e o divertidíssimo ‘Sete Psicopatas e um Shih Tzu’, McDonaugh espelha suas antigas características e, de longe, entrega seu melhor filme da carreira, ‘Três Anúncios Para um Crime’.      

   Na trama, Milfred Hayes (Frances McDormand) resolve alugar três outdoors em uma estrada praticamente deserta, anunciando a ineficiência da policia local e principalmente do delegado Bill (Woody Harrelson), sobre a morte de sua filha adolescente estuprada e assassinada. Esperando uma resposta sobre o caso, os anúncios chamam atenção de toda cidade e desencadeia uma série de eventos inimagináveis.      

  A direção de Martin McDonaugh tem total controle dos arcos narrativos de todos os personagens, e a constante mudança de tom nos mais surpreendentes eventos. Com o roteiro de sua própria autoria, é fascinante como McDonaugh realça o forte contraste entre o drama e o tom violento da ironia. Nada é forçado ou exagerado, cada personagem tem seus objetivos, ambições e acreditam em suas próprias ações, mesmo sendo as mais absurdas.      

  Diante disso, a grande força do roteiro está na construção da essência de todos os seus personagens secundários. Cada um não tem uma simples presença em tela, mas sim um grande momento capaz de instigar o espectador a querer saber mais sobre eles. Contribuindo no tom cômico e dramático imposto pelo filme. 

   Assim coube ao elenco ser a grande virtude de ‘Três Anúncios Para um Crime’. A começar pelo delegado Bill, o ator Woody Harrelson (‘True Detective’) não fica preso a personalidade autoritária do personagem, mas sim carrega o peso de lidar com seus problemas pessoais e ainda assim, debochar de sua própria situação. Já o esquentado policial Dixon inconformado com os anúncios, não mede palavra e pouco se importa com as conseqüências de seus atos, e o ator Sam Rockwell transmite sua ira e ansiedade com perfeição.              

   E a estrela não poderia deixar de ser Frances McDormand. Milfred Hayes é um personagem marcante, de personalidade fortíssima e não poupa ninguém que cruza seu caminho. Tanto o público quanto os personagens são posicionados sob o estigma e alvo de suas angustiantes conseqüências. Séria, bad-ass, lábios cerrados e de pouco sorriso, Milfred Hayes veio para fazer nome no cinema e   McDormand no Oscar.                 

   De um humor negro envolto de um subtexto crítico, satírico e explicito a cada cena, lidando com temas da depressão, luto, suicídio, racismo e a inoperante policia. ‘Três Anúncios Para um Crime’ não tem medo de mostrar suas verdadeiras intenções e provoca o espectador em seu percurso do drama a ironia e, vice versa. Vale sua recomendação e quem sabe a estatueta do Oscar 2018! 


NOTA: 9,5

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Crítica - 'Artista do Desastre'


      Não há dúvidas de que ‘The Room’ é um dos piores filmes do mundo.  O longa-metragem não é ruim, é uma verdadeira catástrofe e por esse motivo foi considerado Cult por, justamente, trazer uma experiência jamais vista pelo espectador do tão bizarro, horrível, sem nexo e bagunçado foi sua produção. Mas espere ai, caro leitor, você está lendo a crítica certa, afinal ‘O Artista do Desastre’ revela os bastidores dessa pérola do cinema.    

    Baseada no livro The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made, de Greg Sestero e Tom Bissell. A trama acompanha a trajetória de Tommy Wiseau (James Franco) e seu amigo Greg Sestero (David Franco), ambos ambiciosos em se tornar grandes estrelas de Hollywood. Rejeitados por não conseguir nenhum papel na grande Los Angeles, os amigos decidem realizar seu próprio filme, o conhecido ‘The Room’.        

   Baseado em fatos reais, ‘O Artista do Desastre’ pode parecer inacreditável para muitos que não conhecem a obra original, mas acreditem a realidade foi muito pior. A marca de ser o pior filme do mundo não foi por acaso. Produzido, escrito, dirigido e protagonizado por Tommy Wiseau, uma das figuras mais bizarras, misteriosa e anormal que já surgiu em Hollywood, gastou mais de seis milhões de dólares em sua produção para carimbar seu nome no hall da fama da indústria cinematográfica, porém não foi bem isso o que aconteceu.           

   Apesar da infelicidade de Tommy Wiseau e seu filme, a direção assinada por James Franco não ridiculariza a imagem de ‘The Room’ e seu realizador. A abordagem é mais significativa, em conseqüência, o espectador não apenas desfruta a personalidade e a inexperiência de Wiseau, mas sim compreendemos todas as suas angústias e sofrimentos. Daí vem o grande mérito de ‘O Artista do Desastre’ transmitir sua mensagem: faça sua própria arte. 

   E também como protagonista, James Franco encarna com perfeição a figura de Tommy Wiseau. Com o sotaque idêntico e de uma postura corporal perfeita, Franco copia todos os maneirismos do ator principal e entrega uma atuação super caricatural, divertida e por incrível que pareça, honesta. David Franco também convence na pele do ator Greg Sestero e a sua crescente indignação com a produção de ‘The Room’. E Seth Rogan está divertidíssimo representando o olhar o público acompanhando as mais bizarras cenas.                    
 
  Retratando a realidade da indústria cinematográfica e o sonho de ser um astro de Hollywood, ‘O Artista do Desastre’ realiza uma divertida homenagem ao pior filme do mundo e seu realizador, Tommy Wiseau.  
                                    

                                                    NOTA: 7,5

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Crítica - 'Lady Bird'


   Com apenas 34 anos, Greta Gerwin se tornou um grande ícone do cinema independente nos Estados Unidos. Além de atriz e roteirista, Gerwin veio para se firmar também como diretora em sua estréia solo em ‘Lady Bird – A Hora de Voar’. Voando alto na carreira (desculpe o trocadilho), uma indicação ao Oscar de Melhor filme do ano não seria nenhum exagero. 

   A trama acompanha a adolescente Christine McPherson (Saoirse Ronan, de Brooklin), uma típica garota de 17 anos, também conhecida como ‘Lady Bird’. Ela não vê a hora de estudar em uma universidade da Costa Leste, para assim fugir de sua tão depreciada cidade de Sacramento e de sua mãe (Laurie Metcalf) controladora.    

   Mesmo com uma trama simples, despretensiosa e corriqueira, Greta Gerwin encontra originalidade nas entrelinhas. Acompanhando a vida adolescente de Lady Bird, passamos a compreender todas as frustrações vivenciadas por ela, tanto no âmbito pessoal como amoroso. Por meio disso, a direção de Gerwin adota um ritmo agradável aos olhos do público, narrando todos os eventos com total naturalidade e o mais leve possível.         

   Não há um melodrama barato e momentos dramáticos manipulativos, a diretora encontra o tom perfeito para o drama e a comédia. Que por sinal, a comédia comedida e sarcástica reforça ainda mais os subtextos presentes no longa-metragem. Tudo é muito natural, leve, gostoso de assistir e o efeito causa - conseqüência da protagonista tem um forte impacto a personalidade de Lady Bird, e denota a grandeza do filme em relação a outros do gênero.    

  Diante de suas frustrações a anseio, de aflições à maturidade e da dramaticidade à comédia, Saoirse Ronan encontrou o equilíbrio para todos os nuances de sua personagem, contribuindo para a leveza do filme, até mesmo com sua voz doce. Em suas objeções, a atriz Laurie Metcalf brilhou na pele da mãe de Lady Bird, apresentando sua forte personalidade como uma mãe controladora, severa, mas no fundo vemos seu grande amor. Ambas as atrizes merecem uma indicação ao Oscar. 

  Passando por vários eventos durante sua projeção, ‘Lady Bird’ não se preocupa em desenvolver a fundo seus subtextos e os personagens secundários. Em consequencia, o pai de Christine e sua paixão (Timothée Chalamet), são personagens clichês de uma única caracterização, visto em milhares de outros filmes do gênero. Certas passagens também são previsíveis e não porta progresso dentro da trama, como o amigo (Lucas Hedge), os irmãos de Christine, os ensaios do teatro e os dilemas da escola.     

  Mesmo seguindo alguns clichês gênero, a diretora Greta Gerwin veio para colocar seu nome atrás das câmeras. Com uma singela mensagem sobre amadurecimento, aprender e seguir em frente, ‘Lady Bird’ é o filme mais agradável e aprazível do ano.  
  

NOTA: 8,0

    

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Crítica - 'Me Chame Pelo Seu Nome'


   Nos últimos anos, grandes produções LGBT vêm se notabilizando no cinema atual. Basta relembrar os indicados ao Oscar dos últimos três anos e encontramos ‘Carol’ (2015), ‘Moonlight’ (2016) e agora o aclamado ‘Me Chame Pelo Seu Nome’. Nenhum deles superestimados, todos com uma forte mensagem diante do cenário atual e nada mais justo o novo longa do italiano Luca Guadagnino entrar nessa lista.      

   Baseado no romance escrito pelo egípcio André Aciman, a trama acompanha as férias do adolescente Elio (Timothée Chamalet) na casa de campo da família, situada do norte da Itália em 1983. Criado por uma família de intelectuais, seu pai (Michael Stuhlbarg), historiador e especialista em cultura grego-romana, recebe a visita do acadêmico Oliver (Hammer), no intuito de ajudá-lo em sua pesquisa. Não demora muito para os dois mostrarem um interesse mútuo.
 
   O grande acerto da direção de Guadagnino é a construção dos sentimentos a partir de eventos corriqueiros e pontuais, evitando o teor moralista a trama e, conseqüentemente, o julgamento. ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ centra-se no crescimento do adolescente Elio a fase adulta reforçando suas temáticas sobre o autodescobrimento, maturidade e identidade sexual.  O próprio jogo de câmera do diretor comprova esse feito, administrando os planos abertos, médios e primeiros planos e, até mesmo, evitando mostrar algo a mais, diante da serenidade narrativa e a crescente tensão sexual do casal protagonista.       

   Diante disso, a expectativa do público cresce sobre onde o filme vai parar até a chegada dos finalmente. Mas antes de chegar a esse ponto, a primeira metade é marcado com clássicos clichês do gênero,  eventos maçantes e muitas cenas contemplativas, o famoso lenga-lenga. ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ cresce, de fato, após imprimir sua forte premissa na segunda metade e na surpreendente química entre Timothée Chamalet e Hammer.    
 
   A dinâmica agressiva e o relacionamento genuíno são realçados pelas ótimas interpretações dos atores Chamalet e Hammer. Demonstrando um rapaz culto em razão de sua criação, mas também inseguro em seus sentimentos envolvendo sua namorada Marzia (Esther Garrel) e o acadêmico, Chamalet se entrega por inteiro no papel. Já Hammer entrega sua melhor atuação da carreira, mostrando no começo ser um rapaz egocêntrico, cativante e cortês, mas que depois se entrega as suas emoções.                                                          

  Enquanto os dois são o centro em ‘Me Chame Pelo Seu Nome’, pouco se sabe sobre os personagens secundários. A personagem Marzia serve mais como um artifício para o desenvolvimento de Elio e pouco se conhece a sua, a mãe de Elio é praticamente esquecida e quem sobra para brilhar é seu pai (Michael Stuhlbarg). Mesmo sem um grande aprofundamento de sua profissão, seu monologo no final da produção é digno de aplausos, merece ser compartilhado ao redor do mundo e poderia finalizar o filme com chave de ouro. 

  ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ sofre com alguns problemas de ritmo, poderia ter vinte minutos a menos  e demora para chegar em seu principal objetivo. Mas veio para comprovar dois grandes nomes no cinema, Luca Guadagnino (garantido no remake ‘Suspiria’) e Timothée Chamalet e trata seu assunto com extrema elegância, comoção e autenticidade.  
  

NOTA: 7,9

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Crítica - 'Com Amor, Van Gogh'


   “Com amor, Van Gogh” veio para revolucionar uma nova era do cinema contemporâneo. As obras do pintor trazem uma riqueza de detalhes impressionantes, nas suas marcantes técnica com a pintura em óleo, a escolha das cores e o jogo de luz e sombra. Seguindo as mesmas características do artista, a animação precisou contar com mais de 125 pintores, durante seis anos, para retratar os 65 mil frames do filme. O resultado, visualmente falando, é fascinante.         

  Revisitando todas as mais de 800 pinturas realizadas por Van Gogh durante oito anos. É um deleite para cada espectador identificar as famosas obras do pintor e, ter o privilégio de ver as pinturas e os diversos personagens ganharem vidas. Simpatizantes, conhecidos, grandes amigos e familiares retratados nas inconfundíveis quadros de Van Gogh, são envolvidos no mistério de sua morte. Resta a Armand Roulin descobrir quem foi o responsável por tal crueldade ou se foi realmente suicídio.                

  Um ano após o falecimento de Van Gogh, “Com amor, Van Gogh” diferencia de outras produções cinebiograficas do artista. A direção assinada pela dupla Dorota Kobiela e Hugh Welchman acertaram em não se propor a contar a triste história da vida do pintor, mas sim em criar uma trama investigativa sobre a razão de sua morte. As cenas em que ele aparece no passado são representadas com o perfeito uso de flashbacks em preto e branco, realçando a sua vida melancólica e depressiva.     

  Transitando entre flashbacks e a viagem de Roulin, cujo objetivo é entregar uma carta perdida do pintor, endereçada ao irmão, Theo. A edição inventiva em fade-in, fade-out, match cut, entre outros.. É precisa para esse tipo de animação, no intuito de não cansar o espectador e, vangloriar cada frame criando um impacto visual tão surpreendente, absorvente e deslumbrante. Quando saímos do preto e branco para as belezas das cores típicas de Van Gogh, voltamos a nos encantar.                 

    Diante do trabalho árduo em cima do visual, a narrativa acaba ficando em segundo plano. O âmbito investigativo não há um quê de mistério e torna-se massante, em determinados momentos, devido ao vai e vem de Armand Roulin conversar com todos diversos personagens envolvidos na morte de Van Gogh. Entretanto, a trama está mais preocupada em contextualizar a vida do pintor e, suas aflições, como também em desmoralizar a ideia do artista ser um completo louco.                      

  De uma experiência única, “Com amor, Van Gogh” mostrou que valeu a pena esperar os seis anos de puro trabalho, representando uma nova era no cinema moderno e merece ser conferida, para aqueles amantes do cinema e também de Van Gogh.   

                   
NOTA: 8,5

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Crítica - ' A Guerra Dos Sexos'


     Billy Jean King foi um grande exemplo dentro e fora das quadras de tênis. Vencedora de doze Grand Slams, seis títulos em Wimbledom, quatro US-Open e número um do mundo como a melhor tenista durante os anos 60. King não foi apenas uma atleta detentora de notáveis títulos. Sua representativa fora das quatros linhas também ganhou repercussões grandiosas na sua luta pela igualdade de gênero e liberdade da comunidade LGBT.      

   ‘A Guerra dos Sexos’ reconhece os esforços das mulheres no ano de 1973 e centra-se na atleta campeã mundial de tênis, Billy Jean King (Emma Stone). Após recusar o torneio, cuja premiação monetária previa valores oitos vezes maiores para a categoria masculina, King e outras tenistas profissionais decidem fundar a Associação de Tênis Feminino, iniciando seu próprio campeonato. Aproveitando a situação e a vitória de King em seu último torneio, o ex-campeão Bobby Riggs (Steve Carell), a desafia para uma partida, que fico conhecida como Battle of  the Sexes.            

   Mesmo tendo como plano de fundo a batalha King versus Riggs, o foco narrativo está na particularidade de seus dois atletas. A direção assinada pela dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris (conhecidos por ‘Pequena Miss Sunshine’) divide a trama em arcos bem definidos: a vida pessoal dos tenistas, a luta de King pela igualdade de gênero e o retrato histórico dos direitos civis da época e, por fim, a grande decisão.             

   Em meio a uma forte temática que vem sendo discutidos até nos dias atuais, a direção da dupla não imprimi a força de seu real conteúdo. A luta constante de King em provar a influência feminina e combater o machismo daquela época, não transmite ao espectador um forte senso de realismo e desprezo. Muito disso advém de diálogos pontuais a cerca da vida pessoal da atleta, em dissimular as frases de Riggs e jogar palavras misóginas para um comentarista.          

   Em contrapartida, passamos a sentir todo o peso carregado pela protagonista nos minutos finais da produção, sendo realçadas pela brilhante atuação de Emma Stone. Parecida fisicamente com Billy Jean em seu ótimo trabalho corporal e emocional, passando por conflitos internos  sobre a sua verdadeira identidade sexual.  A atriz repete mais um magnífico trabalho após La La Land, podendo render novamente uma indicação ao Oscar. Do outro lado,  Steven Carell imprime um carisma enorme pelo seu personagem e, comprovando seu ótimo timing-cômico para a trama.

  ‘A Guerra dos Sexos’ cresce em seus minutos finais   exibindo a tão aguardada batalha em imagens de arquivos e uma ótima montagem, sabendo o momento certo em transmitir o jogo de tênis e focar em seus personagens. Mas não soube entregar a força de seu tema gastando tempo suficiente para transmitir uma mensagem  já compreendida pelos espectadores. 
 

NOTA: 7,2
              
 
                    

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Crítica - 'O Que Te Faz Mais Forte' (Stronger)


   Será que finalmente o tão esperado Oscar dessa vez vem para Jake Gyllenhaal? Ao lado de uma das melhores atrizes da atualidade, Tatiana Maslany e Gyllenhaal comandam as ações em uma história chocante e emocionante em ‘O Que Te Faz Mais Forte’.               

    Inspirado nas memórias de Jeff Bauman (Jake Gyllenhaal) sobre o dia mais chocante de sua vida. ‘O Que Te Faz Mais Forte’ conta a história de um homem comum que se tornou o grande símbolo de esperança de sua cidade, após sobreviver ao atentado terrorista na Maratona de Boston em 2013. 

   A direção assinada por David Gordon Green (dos bons ‘Especialista do Crime’ e ‘Joe’) é certeira ao colocar o espectador na mente do protagonista. Muito disso, vem dos planos cinematográficos adotados por Green – planos longos e câmera subjetiva-, ao retratar o senso de aflição da adaptação de Bauman pós-atentado. Em conseqüência, sentimos o peso do trauma vivenciado por Bauman, que se faz presente nas situações mais triviais do nosso dia a dia.

   ‘O Que Te Faz Mais Forte’ tinha tudo para ser um drama pesado e intrínseco, mas Green entrega cenas mais leves conseguindo aliviar os momentos de tensão, e por não focar exclusivamente em seu protagonista. As pessoas a sua volta tem a sua relevância para a superação e as atitudes tomadas de Bauman, entre eles está a sua namorada Erin Hurley (Tatiana Maslany), e a mãe Patty Bauman (Miranda Richardson).              

     E nas objeções entre Jeff Bauman e as pessoas a sua volta, brilham as grandes interpretações de Gyllenhaal e Maslany. Capaz de provocar risos e lágrimas no espectador, o ator encarna com seriedade o seu personagem e vemos em tela um Jeff Bauman desolado, irritado, intenso, sorridente e, acima de tudo, corajoso. Com um ótimo trabalho vocal e corporal, a atuação de Jake Gyllenhaal é digna de nomeação ao Oscar. No mínimo!

   Já Tatiana Maslany (conhecida por fazer inúmeros interpretes em ‘Orphan Black’) dispensa comentários. Carregada por suportar e aturar as irresponsabilidades e imaturidades de Bauman, a atriz entrega múltiplas facetas a Erin Hurley, uma mulher sobrecarregada, cansada, companheira e uma verdadeira amante. A química dos personagens é incrível, o amor é genuíno e a cena da briga no carro vai render premiações para ambos os artistas.                
 
   Com certas contradições no roteiro em representar o heroísmo de Bauman com diálogos artificiais e inserir momentos dramáticos manipulativos.  ‘O Que Te Faz Mais Forte’ segue uma estrutura biográfica padrão, mas sua grande força está nas atuações poderosas de seu elenco central.   
                  
NOTA: 7,3