Estreias

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Crítica - 'O Sacrifício do Cervo Sagrado' (The Killing of a Sacred Deer)



   Poucos devem conhecê-lo, mas o nome Yorgos Lanthimos já é realidade na indústria cinematográfica. Conhecido por realizar filmes um tanto quanto estranhos, como ‘Alpes’, ‘Dente Canino’ e o mais recente ‘O Lagosta’ (indicado a melhor roteiro original no Oscar 2015). O cineasta vem provando sua autoria e talento a cada novo projeto e, o perturbador e psicológico ‘O Sacrifício do Cervo Sagrado’ é mais uma confirmação de seu cinema particular.          

   Tela escura. Som de um coro. Os batimentos cardíacos surgem em tela. Uma cirurgia está a ser executada e, no fim, o cardiologista Steven Murphy (Collin Farrel) retira as luvas ensangüentadas e as jogam na lixeira. A cena inicial do filme simboliza a verdadeira identidade repressiva do personagem e isso, é apenas o inicio do metafórico e reflexivo ‘O Sacrifício do Cervo Sagrado’. 

   Sem êxito na tal cirurgia, o cardiologista Murphy, acaba se afeiçoando ao filho do paciente Martin (Barry Keoghan), a ponto de dar a ele presentes e decide integrá-lo a sua família, composta pela sua esposa Anna (Nicole Kidman) e seus dois filhos. Entretanto, quando o jovem deixa de receber a devida atenção do médico, suas ações se tornam cada vez mais sinistras implicando na vida pessoal de Steven.                   

   Com o roteiro assinado pelo próprio Lanthimos em parceria com Efthymis Filippou, ‘O Sacrifício do Cervo Sagrado’ demora a imprimir sua premissa. O primeiro ato fortalece a interação de todos os personagens, principalmente de Martin em relação à família Murphy. Diante desse convívio, a narrativa pauta-se nas relações sociais, intencionalmente, como objetivo, superficial e robótica. Por esse motivo, a estranheza perpetua ao longo de toda a produção, seja na maneira figurativa do casal fazer sexo, como também nos diálogos constrangedores, inapropriados, inesperados e metafóricos.                 

  Após os quarenta minutos, a trama impõe seus princípios e passa ficar mais interessante pela figura curiosa de Martin. Nesse contexto, a direção de Lanthimos repete alguns de seus recursos utilizados em seus antigos trabalhos. As interpretações são propositalmente robóticas, desprovidas de emoção; a artificialidade da natureza do amor é vitalícia, e os seus enquadramentos não convencionais – contra-plongée, travelling shots e planos detalhes -, reforçam a aura do mistério pungente.       

   Desencadeando assim, impaciência do pai, histerias na mãe e uma forte compulsão psicológica surreal vivenciada pelas duas crianças. Tudo é muito misterioso, inexplicável e ficamos lá. Presos. Até o fim desse sonho factual. Lembrando, O Sacrifício do Cervo Sagrado’ não procura dar respostas, e sim questionamentos. Saímos do filme com dúvidas na cabeça e, isso não deve agradar uma parcela do público, muito pelo fato dele se aproximar de um terror-psicológico. 

   Com atuações impecáveis de todo o elenco, com destaque maior a Barry Keoghan entregando um psicopata minimalista. Collin Farrel assemelha muito sua interpretação em ‘O Lagosta’ e, vale ressaltar novamente a promissora atriz Raffey Cassidy (conhecida pela ótima interpretação em ‘Tomorrowland’), na pele da filhas de Steven Murphy.         

   Perturbador, inerente e de um poder metafórico incrível, ‘O Sacrifício do Cervo Sagrado’ certamente é um dos melhores filmes do gênero terror-psicológico e vem como uma das gratas surpresas do ano. 


NOTA: 8,9
     

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Crítica - 'Bingo: O Rei Das Manhãs'


   Sempre escutei a frase “Os melhores programas infantis da televisão brasileira foi dos anos 80”. Nesse cenário, o Bozo se divertia frente às câmeras, sem papas na língua, dando foras na criançada e ainda colocava mulheres dançando de maneira provocante perto delas e diante de todo o Brasil. ‘Bingo: o Rei das Manhãs’ retrata esse mundo absurdo, mas há quem se engane por pensar em ser um filme de comédia, aqui o drama é dos grandes.    

  Baseado na história de Arlindo Barreto, um dos interpretes do palhaço Bozo no programa matinal da televisão brasileira durante a década de 80. ‘Bingo: O Rei das Manhãs’ acompanha a carreira do ator Augusto Mendes (Vladimir Brichta) até conseguir o papel de palhaço em um programa infantil pela TV TVP. Estourado no país e líder de audiência, a frustração de Mendes por não ser reconhecido pelas pessoas, o levou a se envolver com drogas e bebidas nos bastidores do programa.     

   Por questões de direito, a troca dos nomes de todas as celebridades e emissoras (com exceção de Gretchen, interpretada por Emanuelle Araújo) favoreceu o sucesso do filme. Pois, ‘Bingo: O Rei das Manhãs’ encontrou uma ótima solução ao retratar com tamanho carinho a vida pessoal e os costumes de seu protagonista.                      
 
   O roteiro assinado por Luiz Bolognesi segue uma cartilha básica de filmes biográficos com a ambição – sucesso – declínio - redenção do protagonista. Todas essas fases são muito bem equilibradas, e mesmo contando com certas facilitações narrativas a direção do estreante Daniel Rezende chama muita atenção.                          
        
    Um dos aspectos interessantíssimos é sua maneira fluída de conduzir uma cinebiografia sem perder a mão nos diferentes tons propostos pelo filme. Rezende encontra o tom perfeito para o humor e o drama, além de imprimir um ritmo agradável sem cansar o espectador. Tudo é muito interessante de ver, seja na sua premissa de contar a vida da pessoa mais famosa do Brasil e, ao mesmo tempo, no completo anonimato. Seja também no mundo dos bastidores.   

   Outro grande mérito da sua direção foi utilizar a fotografia em prol a narrativa reforçando os sentimentos de comoção, tristeza, loucura e apreensão. Seus diferentes enquadramentos retratam a mente do protagonista conforme a progressão da trama - deixando a câmera de ponta cabeça, distorção de foco, elementos oníricos e vale ressaltar um ótimo plano-sequência saindo de uma locação para outra.                                                                
 
   E finalmente chegamos a ele, o palhaço. Encarnado por Vladimir Brichta, o ator da um show de interpretação ao passar por todos os nuances muito bem definidos de seu personagem, passando da humilhação a ganância e da elegância a brutalidade. Além de vivenciar dramas pessoais pesado envolvendo sua mãe e seu filho, Brichta certamente entra para lista das melhores atuações do cinema nacional. Do outro lado, Leandra Leal confere a Lúcia uma mulher durona, séria, rígida enfrentando todas as adversidades de um universo profissional dominado por homens naquela época. A atriz esbanja uma forte presença e uma ótima atuação.           
        
  ‘Bingo: O Rei das Manhãs’ diverte pela nostalgia, mas também soube trazer toda a essência de seus personagens e o drama de suas situações, através dos percalços de seu forte subtexto. O filme certamente é uma grande virtude de nosso cinema nacional.           


NOTA: 9,0  

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Crítica - 'Doentes de Amor'


     O gênero comédia romântica vem se tornando cada vez mais esquecido nos dias atuais. Com seu auge pré anos 80, poucas produções se notabilizaram de lá para cá por justamente não ficarem presos as convenções clássicas do gênero. Um exemplo recente foi ‘Questão do Tempo (2013)’ fugindo da padronização narrativa e, seguindo esse raciocínio, ‘Doentes de Amor’ veio também para renovar os ares.

     Baseado na história real em como Kumail Nanjiani e sua esposa, a co-roteirista, Emily V. Gordon, se apaixonaram. A trama acompanha os conflitos pessoais e familiares do comediante e motorista de Uber paquistanês Kumail (Kumail Nanjiani), por esconder seu namoro com Emily (Zoe Kazan), uma mulher branca, algo inaceitável pelos seus pais conservadores. Porém, quando  Emily é colocada em coma, Kumail busca resolver seus problemas familiares e emocional.          
 
   A direção assinada por Michael Showalter realizou uma conjuntura de eventos inesperados que muitos filmes do gênero costumam evitar, entregando algo novo em tela. Em seu primeiro ato, ‘Doentes de Amor’ mantêm a mesma convenção narrativa, apresentando a vida individual do casal e o relacionamento gracioso. A partir disso, Showalter brinca com a comédia e o drama encontrando o ritmo perfeito para as duas categorias se complementarem.              

   Muito disso, vem proveniente da comédia em cima do choque cultural e das pessoas lidando com a perda um ente querido. Porém, nem todas as piadas estão bem encaixadas e, por mais que ‘Doentes de Amor’ busca certa originalidade nesse contexto, os seus subtextos envoltos da intimidade de Kumail – os bastidores do Stand-Up e a sua família -, o primeiro é mal explorado e o outro acaba se tornando repetitivo. Seja nas cenas de sempre aparecer uma nova pretendente, como também nos diálogos.     
                                     
   O mais interessante deles é a relação de Kumail com os pais de Emily, após ela ser colocada em coma por uma doença desconhecida. As piadas melhoram, a química entre eles é tangível, e as diferentes personalidades dos pais de Emily se complementam. Méritos para os atores, Holly Hunter e Ray Romano que acabam se destacando mais que os próprios protagonistas. Zoe Kazan também não fica atrás e entrega boas cenas dramáticas, diferente do limitado Kumail Nanjiani.             
                                
  Com suas duas horas de duração, ‘Doentes de Amor’ poderia ter facilmente vinte minutos a menos e explorado melhor alguns de seus subtextos. Mas é engraçado, simples, sincero, rompe os clichês culturais e buscou algo diferente para um gênero tão esquecido atualmente.                

       NOTA: 7,0          

domingo, 17 de dezembro de 2017

Crítica - 'Star Wars: Os Últimos Jedi'


   Muitos comentaram, na época do lançamento, o episódio ‘O Despertar da Força’ assentar a sua estrutura narrativa em cima do primeiro longa da trilogia original da franquia, ‘Uma Nova Esperança’ de 1978. Apoiando na nostalgia e renovando os ares com os personagens Ray, Finn e BB-8, os eventos traçados pelos heróis eram um tanto previsíveis, principalmente para os fãs. Agora Rian Johnson quebra o estigma da saga e entrega o filme mais diferente, ousado e surpreendente de Star Wars, ‘Os Ultimos Jedi’.     

    A trama continua exatamente de onde terminou os eventos em ‘O Despertar da Força’. Rey (Daisy Ridley) encontra Luke (Mark Hammil) em uma ilha isolada na tentativa de incentivá-lo a ajudar a aliança Rebelde na guerra. Ao mesmo tempo, a Nova Ordem descobre a localização da última base Rebelde, liderada pela General Organa (Carrie Fisher) e parte para destruí-la.               

   ‘Os últimos Jedis’ começa a todo vapor com uma batalha espacial de tirar o fôlego em uma das melhores cenas de toda a franquia. Acompanhamos o comandante Poe (Oscar Issac) e os pilotos rebeldes atacando a nave Supremacia, mas logo em seguida precisam fugir com a chegada da frota inimiga. Tudo é muito vistoso e brilhantemente executado, com a câmera em primeira-pessoa, close-ups e planos abertos reforçam a imensidão do espaço, das naves e principalmente do caos.
 

      A direção de Rian Johnsson (conhecido pelo ótimo ’Looper’ e três episódios de ‘Breaking Bad’) não se prende ao estilo predeterminado pela trilogia clássica, e inova tanto no recurso narrativo como técnico. A própria montagem e a edição não se prendem as convenções da saga com o uso de fade-in/fade-out e as clássicas cortinas e, Johnsson imprime originalidade nesse aspecto (vide na cena do primeiro treinamento da Rey). Não só isso, a edição de som tem um papel importante, principalmente por trazer uma das cenas mais memoráveis do filme (não dita para evitar spoiler) e a narrativa em off em uma passagem psicodélica de Rey.              

   O roteiro também assinado por Johnsson não se sustenta pela nostalgia, como feito em ‘O Despertar da Força’. Aqui, ele concede espaço para novos personagens demonstrarem suas personalidades, como Poe, Rose (Kelly Marie Tran) e a vice almirante Holdo (Laura Dern). Dedicando seu tempo não só a eles, como para todos os personagens pequenos realçando o realismo na trama e acrescentando até mesmo a comédia.             

   Entretanto, como o filme é marcado por idas e vindas entre núcleos narrativos e por diferentes fases de conflitos de seus principais personagens, há certa quebra de ritmo de uma passagem para outra. No meio delas, acompanhamos a desinteressante trama envolvendo Finn e Rose (momentos à la Disney) e a apresentação de DJ (Benicio Del Toro). ‘Os últimos Jedi’ demora a encontrar seu ritmo, mas quando encontra... É uma avalanche de reviravoltas e surpresas capaz de deixar muitos de queixo caído.  

  Dentre elas (sem spoiler), algumas podem frustrar os fãs pelo arco de certos personagens não ter um impacto narrativo como muitos esperavam. Mas outras são irretocáveis e memoráveis, assim como a iconografia com o bom uso de efeitos práticos e um ótimo CGI. Visualmente ‘Os últimos Jedi’ é de longe o melhor da saga. Aplausos para a cena da batalha de Crait.          
 
   Diferente de tudo o que a saga construiu durante todos esses anos. ‘Star Wars: Os Últimos Jedi’ é ousado, surpreendente, de um requinte visual absurdo, de momentos memoráveis e verdadeiramente genuínos. O filme entra no hall dos melhores da franquia. 
        

NOTA: 9,5
                                          

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Crítica - 'Como Nossos Pais'


   O cinema brasileiro vem se destacando ao retratar assuntos pertinentes dentro de nosso país. Exemplos recentes foram ‘Que Horas Ela Volta?’ abordando questões da classe social, ‘Aquarius’ ao refletir a instrução do Brasil atual e suas idiossincrasias e, agora, ‘Como Nossos Pais’ espelha as dificuldades da mulher moderna.  

   Na trama, Rosa (Maria Ribeiro) sente-se pressionada em não conseguir conciliar sua tarefa de mãe, as exigências do marido Dado (Paulo Vilhena), sua vida profissional e seu relacionamento complicado com sua mãe Clarice (Clarisse Abujamra). Em um almoço em família, ela acaba sendo surpreendida após Clarice revelar sua verdadeira origem, restando a Rosa rever seus conceitos.      

   ‘Como Nossos Pais’ ganhou força com a direção feminina assinada por Laís Bodanzky (conhecida pelo ótimo ‘Bicho de Sete Cabeças’). Com a sua visão diante das dificuldades vivenciadas pelas mulheres hoje em dia, sua direção centra-se exclusivamente no ponto de vista de Rosa com o auxílio da câmera objetiva e enquadramentos que reforçam sua dualidade com seu marido. E com a inesperada revelação logo no início, as situações triviais do dia-a-dia começam a ter um grande impacto psicologicamente e fisicamente na protagonista. 

   Passamos praticamente cem minutos de duração vendo uma mulher cansada, desesperada, frustrada, mas também guerreira e com um fio de esperança. Diante dessas situações, a atriz Maria Ribeiro transmite todo esse pesar com maestria em uma interpretação verdadeira e poderosa. E nos conflitos com a sua mãe Clarice, brilha também a atriz Clarisse Abujamra com seu jeito seco e abrupto de falar, mas determinantes para o melhor. 

    Outro ponto riquíssimo no roteiro de Bodanzky são os personagens masculinos muito bem escritos e representativos do pior pensamento machista dos dias atuais. Entre eles, estão Dado na ótima interpretação de Paulo Vilhena e, Pedro (Felipe Rocha) retratando o homem ideal que todas as mulheres buscam, mas no fim seus objetivos são outros. Nesse cenário, os diálogos são espetaculares e, apesar de muitos julgarem o filme como feminista, em nenhum momento a trama apresenta um teor moralista. Tudo é muito honesto, orgânico e acima de tudo, singelo.       

   Com um roteiro rico em trazer temas como, empoderamento feminino, autoridade parental, hipocrisia, casamento instável, relação conflituoso entre mãe e filha. Certas passagens surgem na tela de modo menos inspirado, visto que parecem executadas da maneira mais convencional e recaindo nas fraquíssimas atuações do elenco secundário. Dentre eles, estão o encontro de Rosa e uma figura pública (Herson Capri), pai de um colega da família e a presença da personagem adolescente.                 .              
 
    Com uma atuação afiada de Maria Ribeiro e um roteiro abordando temas pertinentes em nosso país, ‘Como Nossos Pais’ tem um forte e honesto retrato do peso que a mulher moderna precisa suportar.


                            NOTA: 7,3                                       
                

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Crítica - 'Assassinato no Expresso do Oriente'


   Assistir à Agatha Christie é um deleite para todos aqueles fanáticos em desvendar os mais intrínsecos mistérios.  A grande madame da literatura do suspense arrebatou o mundo com seus mais de setenta livros publicados, mas foi o seu 19º que marcou para sempre a sua carreira, sendo lembrado, adaptado para a TV e o cinema, e republicado milhares de vezes ao longo dos anos. Estamos falando de ‘Assassinado no Expresso do Oriente’ e seu icônico Hercule Poirot.      

   Publicado no Reino Unido em 1º de janeiro de 1934, o detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh) busca sua tão sonhada férias após resolver um caso em Istambul, Turquia. Porém, ao embarcar de última hora no trem Expresso do Oriente, ele acaba vivenciando um assassinato, restando a ele desvendar esse mistério e interrogar os treze estranhos dentro do trem, onde todos são suspeitos. 

   Baseando nos moldes do cinema contemporâneo, ‘Assassinado no Expresso do Oriente’ versão 2017 busca novas formas de entreter seu público dos dias atuais. De um lado, aqueles que conhecem a história podem sair insatisfeito, pois não verá nada de inovador, apenas testemunhará uma investigação e um preciosismo técnico admirável da direção de Kenneth Branagh. Do outro, quem desconhece o material fonte tem grande chance de ficar imerso na trama tentando desvendar quem é o assassino.  

   A nossa tensão é sustentada por intermináveis seqüências de depoimentos, com isso o filme prende a atenção do espectador a base de diálogos. Paciência para aqueles não são acostumados com textos carregados, mas o foco é a tomada de testemunho por Poirot. Dessa forma, a direção de Branagh impressiona com o seu jogo de câmera e enquadramentos inventivos favorecendo a narrativa que se passa em uma única locação, sendo realçados pela ofuscante fotografia e design de produção.               

   Com isso, ‘Assassinado no Expresso do Oriente’ nunca cai mesmice e até mesmo busca algumas alternativas para cativar o público. Em conseqüência, para quem não conhece o protagonista. A direção de Branagh apresenta com eficiência Poirot em um interessante prólogo mostrando as virtudes como detetive.                          
  Com uma série de testemunhas, nem todos os treze personagens tem seu momento em tela. Cada um deles tem uma forte caracterização, mas poucos são lembrados durante a trama como o caso dos personagens da Penelope Cruise, Judi Dencht e Sergei Polunin. Em compensação, com um elenco de primeira linha os grandes destaques são Michelle Pfeiffer, Daisy Ridley, Josh Gad e Johnny Depp. E quem comanda o centro do filme é Kenneth Branagh entregando um bom detetive Poirot.      

   ‘Assassinado no Expresso do Oriente’ pode não ser tão bem recebido para aqueles que já conhecem o material. Mas para quem desconhece a história, terá uma grande surpresa com uma conclusão de cair o queixo. Que venha ‘Morte No Nilo’.


NOTA: 7,9

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Crítica - 'A Morte Te Dá Parabéns'


    A clássica estrutura narrativa de repetir o mesmo dia infinitamente marcou a década de 90, e vem dando as caras em 2017. Só esse ano, dispusemos os fraquíssimos ‘Antes Que Eu Vá’, o suspense ‘2:22 – Encontro Marcado’ e o besteirol ‘Naked’ que partiram dessa premissa, mas sem uma única inovação e tornando o gênero abatido.  Eis que surge ‘A Morte Te Dá Parabéns’ para tirar esse gosto amargo deixado por esses filmes. 

     A trama acompanha os passos da adolescente  Tree (Jessica Rothe) desde o susto de acordar na cama de um desconhecido até a sua festa surpresa de aniversário. Porém em meio a esse caminho, ela precisa descobrir quem é o assassino mascarado responsável pela sua morte e conseqüentemente por acarretá-la a reviver o mesmo dia. 

    A direção assinada por Christopher Landon conseguiu fazer seu melhor trabalho, após os fracos ‘Atividade Paranormal (2014) e ‘Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi’. Ele conhece o tom de seu filme de não se levar a sério e brinca com todas as possibilidades que o gênero oferece, sem cair na repetição (problemas habituado na maioria desses filmes), e sugerindo certa inventividade em determinadas situações.                   

   Fato este é comprovado pela excelente montagem sugerindo um ritmo ágil as diferentes reincidências que a protagonista presencia em seus dramas pessoais. Seja na sua relação com o colega de quarto desconhecido, suas amigas, o relacionamento de seu pai e o assassino. Porém, ‘A Morte Te Dá Parabéns’ não convence como um terror. O cineasta Landon mostrou não saber nada do gênero empregando jumpscares previsíveis e uma edição horrorosa, impossibilitando qualquer sensação de perigo e tensão ao espectador.

   Em meio a esse loop infinito e a sua investigação em descobrir o assassino, a atriz Jessica Rothe está excelente transmitindo muito mais que o próprio filme propõe. Ela passa por momentos de frustração, agitação, nervosismo, como também por aceitação, gentileza e comoção (méritos a cena dela junto com o pai).           
 
   Fazendo uma bela menção ao clássico,'Feitiço do Tempo'. ‘A Morte Te Dá Parabéns’ não tem nada de inovador, apresenta furos de roteiro e um terror de quinta categoria, mas é a grande surpresa do ano para o gênero por saber não se levar a sério e possuindo seu valor de entretenimento. 


NOTA: 6,7
          

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Crítica - 'Manifesto'


    ‘Manifesto’ é a mais pura reflexão sobre o papel da arte no mundo contemporâneo. Fora das estruturas narrativas convencionais, o cineasta alemão Julian Rosefeldt cria sua própria linguagem cinematográfica e entrega o filme mais complexo, reflexivo, provocador e conceituoso do ano, dispondo de um dos grandes talentos do cinema, Cate Blanchett.    

     Baseado em uma instalação artística realizado por Julian Rosefeldt em 2015 reunindo treze manifestos consagrados, sob os mais variados temas. ‘Manifesto’ não tem um roteiro ou uma ação central, mas sim uma forte conexão da representatividade da arte em seu tempo passando por icônicos manifestos artísticos como, Fluxus, Expressionismo, dadaísmo, Dogma 95, Pop Art, futurismo... Com Cate Blanchett dedicando vida a diferentes textos, com treze personagens e nuances diferentes. 

   O filme não tem como obrigação convidar o espectador a apresentar seus manifestos, a seguinte frase “Faço um manifesto porque não tenho nada a dizer...” e “não obrigo ninguém a me seguir” reflete sua particularidade a cerca de suas variadas visões e reflexões sobre as facetas da arte contemporânea.  Em conseqüência, aqueles devotos ao artista, a influência da arte e suas diferentes interpretações terão uma experiência única, gratificante e jamais vista nas telas do cinema.         

   Diferente de qualquer outro longa-metragem, ‘Manifesto’ não tem explicação. O filme está apenas lá jogando uma enxurrada de textos complexos (aqueles ditos por artistas no início do século XX)  proferidos por personagens incoerentes, posto a  lugares incomuns.  Exemplo, temos Blanchett dando vida a uma mulher em um velório recitando monólogos sobre o dadaísmo.      

   Em outras palavras, o filme não é para qualquer um. O ritmo lento, planos estendidos e textos carregados podem pesar para a maioria dos espectadores, sem contar que todos os movimentos artísticos sempre chegam a questão: a função revolucionaria da arte. Assim sendo, ‘Manifesto’ incide na repetição, mas ganha força nos últimos trinta minutos pela sua inventividade, humor e retratando manifestos artísticos mais conhecidos. 

   E finalmente chegamos a grande estrela do filme, Cate Blanchett. A atriz da um show de interpretação dando vida a treze personagens completamente diferentes entre si. Cada um deles tem sua própria identidade, seja pela sua linguagem corporal, entonação, sotaque e devorando monólogos complexos.

    ‘Manifesto’ pode passar abatido por grande parte do público, mas carrega uma mensagem adjacente poderosa à atualidade, no qual o papel do artista e da arte vem sendo embate de grandes  temas e subjugado por tendências moralistas.   


NOTA: 8,0
                              

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Crítica - 'Liga da Justiça'


    Parece que as coisas mudaram na DC Comics, não? Se 2016 não foi um ano agradável para os fãs, não podemos dizer o mesmo para esse. O grande acerto em ‘Mulher Maravilha’ criou um raio de esperança e espantou os traumas causados pelo ‘Esquadrão Suicida’, evidenciando que esse extenso universo pode gerar grandes histórias. O caminho foi longo e árduo, mas finalmente a DC encontrou sua formula em seu projeto mais ambicioso, ‘Liga da Justiça’.       

     Após os eventos ocorridos em ‘Batman Vs Superman’, o magnata Bruce Wayne (Bem Afleck) tenta reunir os indivíduos com superpoderes – Aquaman (Jason Momoa), Flash (Ezra Miller), Cyborg (Ray Fisher) – com auxilio da Mulher Maravilha (Gal Gadot). Seu objetivo é reunir um grupo capaz de lidar com as ameaças do Lobo da Estepe (voz de Ciarán Hinds) e salvar o mundo.  

   Rever a ‘Liga da Justiça’ é uma verdadeira nostalgia para aqueles aficionados pelo desenho. A dinâmica do grupo é o cerne do filme, mas há de se ressaltar a mão de dois diretores. Enquanto Zack Snyder mantém seu mesmo estilo visual (uso de cores escuras, transição de cenas lentas /aceleradas e o CGI carregado, especialmente no último ato com o caos generalizado) e procura mais o autoritarismo e a seriedade dentro da liga, o cineasta  Joss Whedon (não creditado) entrega um tom mais divertido e jovial.     

  Isto posto, o seguimento dos eventos, principalmente no primeiro ato apresentando os personagens não ocorre de maneira fluida, recaindo na desorganizada montagem. Assim como, o tom do filme não encontrar a harmonia com o visual.             

  Em compensação, ambos os diretores valorizaram a boa química dentro do grupo tornando  ‘Liga da Justiça’ um filme mais leve e divertido, diferenciando outras produções da DC. Parte disso é mérito do elenco, e também do roteiro assinado por Chris Terrio e Joss Whedon ao inserir três novos personagens desconhecidos – Aquaman, The Flash e Cyborg –, concedendo espaço para cada um deles ter seu tempo em tela e aguçar a curiosidade do público para futuros projetos do universo.     

  O grande destaque dos novos personagens é o The Flash servindo como o alivio cômico na trama, além de ser super carismático. O Aquaman não apresenta uma boa caracterização, mas Jason Momoa vende bem seu personagem. Já o Cyborg decepciona ao não representar sua verdadeira personalidade, ora ele está deprimido, ora ele está pronto para batalhar. Sem contar que seu CGI é ultrapassado.                     
 
  Continuando no elenco, Gal Gadot vem convencendo cada vez mais como ‘Mulher Maravilha’, mesmo sendo uma atriz limitada. E Ben Affleck vem criando um Batman mais filantrópico e pé no chão. Mas quando todos eles estão juntos em tela, fãs e não fãs vão se deleitar com a boa química entre eles e as sequências de ação.     

   Na contramão dos nossos heróis, não podemos dizer o mesmo do Lobo da Estepe. Assim como em muitos filmes de heróis, o vilão continua sendo o grande estorvo das produções. Com motivações fúteis, diálogos irrisórios e um CGI mais convencional possível, a decepção pode ser grande para quem viu o Coringa de Heath Ledger.                     

  Mesmo com seus erros, ‘Liga da Justiça’ mais acerta do que erra, garante um bom entretenimento para todos e sugere que a DC finalmente encontrou seu caminho para o ... sucesso? Assim espero!      



NOTA: 7,2

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Crítica - 'Bom Comportamento'


    Uma das grandes injustiças para os artistas é serem estigmatizados por seus trabalhos anteriores e não terem a chance de provar seus verdadeiros talentos. Um desses exemplos é o ator Robert Pattinson que vem se destacando em suas últimas produções como em ‘The Rover (2014)’ e ‘Z: A Cidade Perdida (2016)’. Mas, dessa vez, ele entrega sua melhor atuação da carreira em ‘Bom Comportamento’, sob o comando dos cultuados cineastas Benny e Josh Safdie.

    ‘Bom Comportamento’ acompanha a trajetoria de Connie Nikas (Robert Pattinson), que junto de seu irmão, Nick (Benny Safdie), deficiente mental, roubam um banco. Após o assalto, Nick acaba sendo preso, restando a Connie embarcar em uma série de peripécias do submundo da cidade na tentativa perigosa de resgatar seu irmão da prisão.           

   Conhecido pelo trabalho ‘Amor Drogas e Nova York’, os irmãos Safdie imprimem seu próprio cinema autoral e apresentam essa proposta logo no início de ‘Bom Comportamento’. Com a câmera nervosa e constantes close-ups nos rostos dos atores, a sensação de instabilidade por meio da fotografia suja e crua, cujas cores foram filtradas por luzes fluorescentes reflete o semblante do protagonista. Ele, mesmo criminoso e imprudente, espelha um ar de pureza, porque lá dentro ainda vemos um bom rapaz. 

    Assim, cabe a destacar Robert Pattinson encontrando uma forma de carisma mesmo em um personagem odiado. Ele tem carinho com as pessoas que o cruzam, mas suas ações mostram mais sua verdadeira natureza. Enquanto, seu irmão Nick sofre pelas suas limitações e a falta de comunicação, Benny Safdie convence como um deficiente mental sem mesmo apelar para o exagero.                

   Enquanto um sofre pela solidão, perda de laço afetivo e o outro por suas limitações, a direção de Safdie retrata as distintas personalidades de seus personagens com maestria. Nessa odisséia envolvendo pessoas aleatórias, ‘Bom Comportamento’ perde seu ritmo quando insere ou omite personagens tornando sua narrativa fragmentada e  mais longo do que efetivamente é. A maneira como os cineastas percorrem por esses eventos com planos fechados podem incomodar alguns espectadores, mas sempre a favor da proposta do filme.      

    ‘Bom Comportamento’ é intimista, denso, impulsivo e sem um mínimo valor de distração, apenas com um incomodo final, mas deveras verdadeiro.


  NOTA: 7,8         

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Crítica - '1922'


   Stephen King tem motivos de sobra para estar contente com suas adaptações no cinema e na TV no ano de 2017. A começar pelo enorme sucesso de bilheteria em ‘It: A Coisa’, seguido pela elogiadíssima adaptação ‘Jogo Perigoso’ tanto pelo público quanto pela crítica. Na TV a excelente série Mr. Mercedes confirmou a segunda temporada para 2018. E quem pensou que não teríamos mais nenhuma obra do escritor, ‘1922’ confirma a boa fase carregando o selo da produtora Netflix.      

    Confesso que ‘1992’ é meu conto favorito de King no livro ‘Escuridão Total Sem Estrelas’, lançado em 2010. Na trama, o patriarca e fazendeiro Wilfred James (Thomas Jane) decide assassinar sua própria esposa Arlette (Molly Parker) com a ajuda de filho Henry (Dylan Schmid), a fim de solucionar seu problema financeiro.                

   A direção assinada por Zak Hilditch transforma ‘1992’ um filme retroativo através das confissões redigidas do protagonista Wilfred James. Dessa maneira, Hilditch conseguiu extrair a essência do longa-metragem: as conseqüências do assassinato e não o assassinato em si. Conseqüentemente, os efeitos do ato mordaz têm muito mais impacto narrativo incrementando o arco do protagonista em relação à causa.                              
 
    Por essas e outras, o ritmo do filme não se mantêm constante ao longo da projeção oscilando em altos e baixos. Enquanto o primeiro ato é apresentado de forma apressada até o grande ápice da trama, o segundo ato se torna mais prolongado do necessário e ‘1922’ entrega cenas pouco surpreendentes para quem conhece o livro. Exemplos, a cena da morte da esposa de Wilfred, a presença pouco assustadora de Arlette e o sentimento de culpa do filho Henry é pouco explorado. 

   Em contrapartida, o arco construído pelo protagonista antes e depois da morte é transmitido com perfeição na atuação de Thomas Jane. Dentro dele, vemos um homem frio, calculista e perverso tomando conta de seu espírito e sempre alegando todos os fatos de seu filho. Já Dylan Schmid não oferece nenhuma carga dramática quando é imposto, mas no elenco de apoio Molly Parker e Neal McDonought estão ótimos mesmo em pouco tempo de tela.                      
             
  Com toques interessantes de Zak Hilditch em conduzir a narrativa extraindo a verdadeira essência do conto e entregando cenas fortes/desagradável mesmo que por alguns segundos. Fiel a obra original, ‘1922’ deve agradar bastante os fãs do livro com exceção de seu final.       


NOTA: 7,2

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Crítica - 'Terra Selvagem (Wind River)'


    Taylor Sheridan vem se comprovando como um dos melhores roteiristas em atividade em Hollywood. Conhecido em seus ótimos trabalhos em ‘Sicário: Terra de Ninguém’ e o recente ‘A Qualquer Custo’, cujo este último trabalho rendeu cinco indicações ao Oscar, incluindo como melhor roteiro original. Dessa vez, Sheridan mostra seu talento também atrás das câmeras no suspense, ‘Terra Selvagem’.                       
      Baseado em fatos reais, a trama acompanha Cory (Jeremy Renner), um caçador de predadores traumatizado pela morte de sua filha adolescente, que encontra o corpo congelado de uma menina no meio da neve, na Reserva Indígena de Wind River, e decide iniciar uma investigação sobre o crime. Para sua ajuda, a agente novata do FBI Jane Banner (Elizabeth Olsen) é expedida para o local. 

  Visto em seus outros trabalhos, Sheridan repete a fórmula de entregar muito mais mesmo em uma narrativa relativamente simples. ‘Terra Selvagem’ é um típico filme do gênero suspense, mas ao mesmo tempo consegue ser relevante, intenso e até mesmo reflexivo. Parte disso vem do roteiro consistente, ricos em diálogos e abrangendo assuntos sociais controversos, dentre eles está a questão da perda, o racismo contra o povo indígena, e com uma forte mensagem em respeito às diferenças. 

  Com esses temas presentes na narrativa, a direção de Sheridan mescla os momentos de suspense com o drama com total controle. Se o foco está exclusivamente na investigação do crime, os subtextos paralelos têm total importância para a trama central retratando a vida pessoal dos personagens, visto em Cory e os pais da menina morta, Dan (Graham Greene) e Alice (Tantoo Cardinal). Ambos lidando com a dor da perda.       

   Se o grande mérito do roteiro está em retratar o lado calculista e emotivo de Cory, não podemos dizer o mesmo da agente do FBI Jane Banner. Sofrendo o preconceito dos nativos e lutando contra as adversidades do local – frio e complicações internas, a agente está presa a apenas uma personalidade e ficamos com a sensação de querer saber mais sobre ela. Em compensação, a atriz Elizabeth Olsen está ótima no papel, transmitindo toda a coragem e audácia de Jane Banner.         

   Quem também está muito bem em cena é Jeremy Renner. O ator trabalha todos os nuances de seu personagem desde a um caçador calculista, frio, mas emotivo nos momentos chaves da produção no que diz respeito a sua perda e ao valor da família. Assim como o ator Graham Greene que oferece cenas marcantes aqui.                 

  A fotografia assinada por Ben Richardson  relembra em partes o trabalho em ‘A Qualquer Custo’. Utilizando planos abertos valorizando os belos cenários, o clima gélido e frio combina perfeitamente com o suspense da narrativa. Já a trilha sonora se torna repetitiva e anuncia a iminência tornando nas cenas de tensão pouco impactante.           

   Mesmo entregando de mão beijada ao espectador a conclusão da investigação sem grande desenvolvimento do seu principal mistério. Com um final irretocável, ‘Terra Selvagem’ oferece muito mais do que uma simples narrativa de suspense, carimbando como um dos melhores filmes de suspense do ano e o talento de Taylor Sheridan mais como roteirista do que como cineasta.        
     

NOTA: 7,9

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Crítica - 'Atômica'


    ‘Atômica’ demonstra novas facetas pouco exploradas no subgênero dos filmes de ação: aqueles dirigidos por ex-dublês. Em outras palavras, David Leitch estreou em ‘De Volta Ao Jogo’ (ou também afamado por muitos como ‘John Wick’) ao lado de Chad Stahelski, porém sua participação não foi creditada levando-o a seguir seu próprio rumo mostrando como deve ser feito cenas de combate impressionantes. 

     Inspirado na graphic novel ‘Atômica: A Cidade Mais Fria’, de Antony Johnston e Sam Hart. A trama acompanha Lorraine Broughton (Charlize Theron), uma agente do MI6, enviada a Berlim Ocidental, dias antes da queda do Muro, na missão de recuperar uma lista de todos os agentes ocidentais e seus disfarces nas mãos de um espião russo. Para ajudá-la, ela conta com o espião inglês David Percival (James McAvoy) e francesa (Sofia Boutella).              

   Seguindo padrões clássicos dos filmes espionagem/ação, o cineasta David Leitch recorre algo raro visto no gênero: a mulher como protagonista.  E nada mais justo colocar a atriz mais badass de Hollywood comandando uma trama frenética e impulsiva, Charlize Theron. Depois de ‘Aeon Flux’, ‘Hancock’ e ’Mad Max’, Theron definitivamente tomou o posto de fodona na indústria cinematográfica e transmite perfeitamente a dualidade de sua personagem como espiã e uma lunática capaz de matar todos a sua frente.      


   Se ela é a grande estrela em ‘Atômica’, David Leitch também merece destaque atrás das câmeras. Imprimindo um ritmo ágil com ação atrás de ação, o cineasta transpõe com eficiência a atmosfera pulsante do imagético descomedido no forte contraste do azul e vermelho representando a dualidade da protagonista. E como hábito de leitch, as cenas de ação são incrivelmente coreografadas em sintonia com a trilha sonora energética ditando o ritmo do filme.     

  Mas em termos de narrativa ‘Atômica’ não oferece nada de inovador. Os atores secundários formados por bons nomes como James McAvoy, John Goodman  e Sofia Boutella ficam preso a apenas uma personalidade, as inúmeras reviravoltas são previsíveis e cenas de ação jogadas na trama apenas para  justificar um argumento. E por representar um grande marco história, o filme não oferece nenhum questionamento político ou social. 

  Mesmo sem uma grande narrativa que busca representar a dicotomia presente na época, ‘Atômica’ não busca embasar esses temas, mas sim entreter seu público com boas cenas de ação e uma Charlize Theron quebrando tudo.     


NOTA: 6,9