Estreias

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Crítica - 'A Morte Te Dá Parabéns'


    A clássica estrutura narrativa de repetir o mesmo dia infinitamente marcou a década de 90, e vem dando as caras em 2017. Só esse ano, dispusemos os fraquíssimos ‘Antes Que Eu Vá’, o suspense ‘2:22 – Encontro Marcado’ e o besteirol ‘Naked’ que partiram dessa premissa, mas sem uma única inovação e tornando o gênero abatido.  Eis que surge ‘A Morte Te Dá Parabéns’ para tirar esse gosto amargo deixado por esses filmes. 

     A trama acompanha os passos da adolescente  Tree (Jessica Rothe) desde o susto de acordar na cama de um desconhecido até a sua festa surpresa de aniversário. Porém em meio a esse caminho, ela precisa descobrir quem é o assassino mascarado responsável pela sua morte e conseqüentemente por acarretá-la a reviver o mesmo dia. 

    A direção assinada por Christopher Landon conseguiu fazer seu melhor trabalho, após os fracos ‘Atividade Paranormal (2014) e ‘Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi’. Ele conhece o tom de seu filme de não se levar a sério e brinca com todas as possibilidades que o gênero oferece, sem cair na repetição (problemas habituado na maioria desses filmes), e sugerindo certa inventividade em determinadas situações.                   

   Fato este é comprovado pela excelente montagem sugerindo um ritmo ágil as diferentes reincidências que a protagonista presencia em seus dramas pessoais. Seja na sua relação com o colega de quarto desconhecido, suas amigas, o relacionamento de seu pai e o assassino. Porém, ‘A Morte Te Dá Parabéns’ não convence como um terror. O cineasta Landon mostrou não saber nada do gênero empregando jumpscares previsíveis e uma edição horrorosa, impossibilitando qualquer sensação de perigo e tensão ao espectador.

   Em meio a esse loop infinito e a sua investigação em descobrir o assassino, a atriz Jessica Rothe está excelente transmitindo muito mais que o próprio filme propõe. Ela passa por momentos de frustração, agitação, nervosismo, como também por aceitação, gentileza e comoção (méritos a cena dela junto com o pai).           
 
   Fazendo uma bela menção ao clássico,'Feitiço do Tempo'. ‘A Morte Te Dá Parabéns’ não tem nada de inovador, apresenta furos de roteiro e um terror de quinta categoria, mas é a grande surpresa do ano para o gênero por saber não se levar a sério e possuindo seu valor de entretenimento. 


NOTA: 6,7
          

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Crítica - 'Manifesto'


    ‘Manifesto’ é a mais pura reflexão sobre o papel da arte no mundo contemporâneo. Fora das estruturas narrativas convencionais, o cineasta alemão Julian Rosefeldt cria sua própria linguagem cinematográfica e entrega o filme mais complexo, reflexivo, provocador e conceituoso do ano, dispondo de um dos grandes talentos do cinema, Cate Blanchett.    

     Baseado em uma instalação artística realizado por Julian Rosefeldt em 2015 reunindo treze manifestos consagrados, sob os mais variados temas. ‘Manifesto’ não tem um roteiro ou uma ação central, mas sim uma forte conexão da representatividade da arte em seu tempo passando por icônicos manifestos artísticos como, Fluxus, Expressionismo, dadaísmo, Dogma 95, Pop Art, futurismo... Com Cate Blanchett dedicando vida a diferentes textos, com treze personagens e nuances diferentes. 

   O filme não tem como obrigação convidar o espectador a apresentar seus manifestos, a seguinte frase “Faço um manifesto porque não tenho nada a dizer...” e “não obrigo ninguém a me seguir” reflete sua particularidade a cerca de suas variadas visões e reflexões sobre as facetas da arte contemporânea.  Em conseqüência, aqueles devotos ao artista, a influência da arte e suas diferentes interpretações terão uma experiência única, gratificante e jamais vista nas telas do cinema.         

   Diferente de qualquer outro longa-metragem, ‘Manifesto’ não tem explicação. O filme está apenas lá jogando uma enxurrada de textos complexos (aqueles ditos por artistas no início do século XX)  proferidos por personagens incoerentes, posto a  lugares incomuns.  Exemplo, temos Blanchett dando vida a uma mulher em um velório recitando monólogos sobre o dadaísmo.      

   Em outras palavras, o filme não é para qualquer um. O ritmo lento, planos estendidos e textos carregados podem pesar para a maioria dos espectadores, sem contar que todos os movimentos artísticos sempre chegam a questão: a função revolucionaria da arte. Assim sendo, ‘Manifesto’ incide na repetição, mas ganha força nos últimos trinta minutos pela sua inventividade, humor e retratando manifestos artísticos mais conhecidos. 

   E finalmente chegamos a grande estrela do filme, Cate Blanchett. A atriz da um show de interpretação dando vida a treze personagens completamente diferentes entre si. Cada um deles tem sua própria identidade, seja pela sua linguagem corporal, entonação, sotaque e devorando monólogos complexos.

    ‘Manifesto’ pode passar abatido por grande parte do público, mas carrega uma mensagem adjacente poderosa à atualidade, no qual o papel do artista e da arte vem sendo embate de grandes  temas e subjugado por tendências moralistas.   


NOTA: 8,0
                              

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Crítica - 'Liga da Justiça'


    Parece que as coisas mudaram na DC Comics, não? Se 2016 não foi um ano agradável para os fãs, não podemos dizer o mesmo para esse. O grande acerto em ‘Mulher Maravilha’ criou um raio de esperança e espantou os traumas causados pelo ‘Esquadrão Suicida’, evidenciando que esse extenso universo pode gerar grandes histórias. O caminho foi longo e árduo, mas finalmente a DC encontrou sua formula em seu projeto mais ambicioso, ‘Liga da Justiça’.       

     Após os eventos ocorridos em ‘Batman Vs Superman’, o magnata Bruce Wayne (Bem Afleck) tenta reunir os indivíduos com superpoderes – Aquaman (Jason Momoa), Flash (Ezra Miller), Cyborg (Ray Fisher) – com auxilio da Mulher Maravilha (Gal Gadot). Seu objetivo é reunir um grupo capaz de lidar com as ameaças do Lobo da Estepe (voz de Ciarán Hinds) e salvar o mundo.  

   Rever a ‘Liga da Justiça’ é uma verdadeira nostalgia para aqueles aficionados pelo desenho. A dinâmica do grupo é o cerne do filme, mas há de se ressaltar a mão de dois diretores. Enquanto Zack Snyder mantém seu mesmo estilo visual (uso de cores escuras, transição de cenas lentas /aceleradas e o CGI carregado, especialmente no último ato com o caos generalizado) e procura mais o autoritarismo e a seriedade dentro da liga, o cineasta  Joss Whedon (não creditado) entrega um tom mais divertido e jovial.     

  Isto posto, o seguimento dos eventos, principalmente no primeiro ato apresentando os personagens não ocorre de maneira fluida, recaindo na desorganizada montagem. Assim como, o tom do filme não encontrar a harmonia com o visual.             

  Em compensação, ambos os diretores valorizaram a boa química dentro do grupo tornando  ‘Liga da Justiça’ um filme mais leve e divertido, diferenciando outras produções da DC. Parte disso é mérito do elenco, e também do roteiro assinado por Chris Terrio e Joss Whedon ao inserir três novos personagens desconhecidos – Aquaman, The Flash e Cyborg –, concedendo espaço para cada um deles ter seu tempo em tela e aguçar a curiosidade do público para futuros projetos do universo.     

  O grande destaque dos novos personagens é o The Flash servindo como o alivio cômico na trama, além de ser super carismático. O Aquaman não apresenta uma boa caracterização, mas Jason Momoa vende bem seu personagem. Já o Cyborg decepciona ao não representar sua verdadeira personalidade, ora ele está deprimido, ora ele está pronto para batalhar. Sem contar que seu CGI é ultrapassado.                     
 
  Continuando no elenco, Gal Gadot vem convencendo cada vez mais como ‘Mulher Maravilha’, mesmo sendo uma atriz limitada. E Ben Affleck vem criando um Batman mais filantrópico e pé no chão. Mas quando todos eles estão juntos em tela, fãs e não fãs vão se deleitar com a boa química entre eles e as sequências de ação.     

   Na contramão dos nossos heróis, não podemos dizer o mesmo do Lobo da Estepe. Assim como em muitos filmes de heróis, o vilão continua sendo o grande estorvo das produções. Com motivações fúteis, diálogos irrisórios e um CGI mais convencional possível, a decepção pode ser grande para quem viu o Coringa de Heath Ledger.                     

  Mesmo com seus erros, ‘Liga da Justiça’ mais acerta do que erra, garante um bom entretenimento para todos e sugere que a DC finalmente encontrou seu caminho para o ... sucesso? Assim espero!      



NOTA: 7,2

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Crítica - 'Bom Comportamento'


    Uma das grandes injustiças para os artistas é serem estigmatizados por seus trabalhos anteriores e não terem a chance de provar seus verdadeiros talentos. Um desses exemplos é o ator Robert Pattinson que vem se destacando em suas últimas produções como em ‘The Rover (2014)’ e ‘Z: A Cidade Perdida (2016)’. Mas, dessa vez, ele entrega sua melhor atuação da carreira em ‘Bom Comportamento’, sob o comando dos cultuados cineastas Benny e Josh Safdie.

    ‘Bom Comportamento’ acompanha a trajetoria de Connie Nikas (Robert Pattinson), que junto de seu irmão, Nick (Benny Safdie), deficiente mental, roubam um banco. Após o assalto, Nick acaba sendo preso, restando a Connie embarcar em uma série de peripécias do submundo da cidade na tentativa perigosa de resgatar seu irmão da prisão.           

   Conhecido pelo trabalho ‘Amor Drogas e Nova York’, os irmãos Safdie imprimem seu próprio cinema autoral e apresentam essa proposta logo no início de ‘Bom Comportamento’. Com a câmera nervosa e constantes close-ups nos rostos dos atores, a sensação de instabilidade por meio da fotografia suja e crua, cujas cores foram filtradas por luzes fluorescentes reflete o semblante do protagonista. Ele, mesmo criminoso e imprudente, espelha um ar de pureza, porque lá dentro ainda vemos um bom rapaz. 

    Assim, cabe a destacar Robert Pattinson encontrando uma forma de carisma mesmo em um personagem odiado. Ele tem carinho com as pessoas que o cruzam, mas suas ações mostram mais sua verdadeira natureza. Enquanto, seu irmão Nick sofre pelas suas limitações e a falta de comunicação, Benny Safdie convence como um deficiente mental sem mesmo apelar para o exagero.                

   Enquanto um sofre pela solidão, perda de laço afetivo e o outro por suas limitações, a direção de Safdie retrata as distintas personalidades de seus personagens com maestria. Nessa odisséia envolvendo pessoas aleatórias, ‘Bom Comportamento’ perde seu ritmo quando insere ou omite personagens tornando sua narrativa fragmentada e  mais longo do que efetivamente é. A maneira como os cineastas percorrem por esses eventos com planos fechados podem incomodar alguns espectadores, mas sempre a favor da proposta do filme.      

    ‘Bom Comportamento’ é intimista, denso, impulsivo e sem um mínimo valor de distração, apenas com um incomodo final, mas deveras verdadeiro.


  NOTA: 7,8         

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Crítica - '1922'


   Stephen King tem motivos de sobra para estar contente com suas adaptações no cinema e na TV no ano de 2017. A começar pelo enorme sucesso de bilheteria em ‘It: A Coisa’, seguido pela elogiadíssima adaptação ‘Jogo Perigoso’ tanto pelo público quanto pela crítica. Na TV a excelente série Mr. Mercedes confirmou a segunda temporada para 2018. E quem pensou que não teríamos mais nenhuma obra do escritor, ‘1922’ confirma a boa fase carregando o selo da produtora Netflix.      

    Confesso que ‘1992’ é meu conto favorito de King no livro ‘Escuridão Total Sem Estrelas’, lançado em 2010. Na trama, o patriarca e fazendeiro Wilfred James (Thomas Jane) decide assassinar sua própria esposa Arlette (Molly Parker) com a ajuda de filho Henry (Dylan Schmid), a fim de solucionar seu problema financeiro.                

   A direção assinada por Zak Hilditch transforma ‘1992’ um filme retroativo através das confissões redigidas do protagonista Wilfred James. Dessa maneira, Hilditch conseguiu extrair a essência do longa-metragem: as conseqüências do assassinato e não o assassinato em si. Conseqüentemente, os efeitos do ato mordaz têm muito mais impacto narrativo incrementando o arco do protagonista em relação à causa.                              
 
    Por essas e outras, o ritmo do filme não se mantêm constante ao longo da projeção oscilando em altos e baixos. Enquanto o primeiro ato é apresentado de forma apressada até o grande ápice da trama, o segundo ato se torna mais prolongado do necessário e ‘1922’ entrega cenas pouco surpreendentes para quem conhece o livro. Exemplos, a cena da morte da esposa de Wilfred, a presença pouco assustadora de Arlette e o sentimento de culpa do filho Henry é pouco explorado. 

   Em contrapartida, o arco construído pelo protagonista antes e depois da morte é transmitido com perfeição na atuação de Thomas Jane. Dentro dele, vemos um homem frio, calculista e perverso tomando conta de seu espírito e sempre alegando todos os fatos de seu filho. Já Dylan Schmid não oferece nenhuma carga dramática quando é imposto, mas no elenco de apoio Molly Parker e Neal McDonought estão ótimos mesmo em pouco tempo de tela.                      
             
  Com toques interessantes de Zak Hilditch em conduzir a narrativa extraindo a verdadeira essência do conto e entregando cenas fortes/desagradável mesmo que por alguns segundos. Fiel a obra original, ‘1922’ deve agradar bastante os fãs do livro com exceção de seu final.       


NOTA: 7,2

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Crítica - 'Terra Selvagem (Wind River)'


    Taylor Sheridan vem se comprovando como um dos melhores roteiristas em atividade em Hollywood. Conhecido em seus ótimos trabalhos em ‘Sicário: Terra de Ninguém’ e o recente ‘A Qualquer Custo’, cujo este último trabalho rendeu cinco indicações ao Oscar, incluindo como melhor roteiro original. Dessa vez, Sheridan mostra seu talento também atrás das câmeras no suspense, ‘Terra Selvagem’.                       
      Baseado em fatos reais, a trama acompanha Cory (Jeremy Renner), um caçador de predadores traumatizado pela morte de sua filha adolescente, que encontra o corpo congelado de uma menina no meio da neve, na Reserva Indígena de Wind River, e decide iniciar uma investigação sobre o crime. Para sua ajuda, a agente novata do FBI Jane Banner (Elizabeth Olsen) é expedida para o local. 

  Visto em seus outros trabalhos, Sheridan repete a fórmula de entregar muito mais mesmo em uma narrativa relativamente simples. ‘Terra Selvagem’ é um típico filme do gênero suspense, mas ao mesmo tempo consegue ser relevante, intenso e até mesmo reflexivo. Parte disso vem do roteiro consistente, ricos em diálogos e abrangendo assuntos sociais controversos, dentre eles está a questão da perda, o racismo contra o povo indígena, e com uma forte mensagem em respeito às diferenças. 

  Com esses temas presentes na narrativa, a direção de Sheridan mescla os momentos de suspense com o drama com total controle. Se o foco está exclusivamente na investigação do crime, os subtextos paralelos têm total importância para a trama central retratando a vida pessoal dos personagens, visto em Cory e os pais da menina morta, Dan (Graham Greene) e Alice (Tantoo Cardinal). Ambos lidando com a dor da perda.       

   Se o grande mérito do roteiro está em retratar o lado calculista e emotivo de Cory, não podemos dizer o mesmo da agente do FBI Jane Banner. Sofrendo o preconceito dos nativos e lutando contra as adversidades do local – frio e complicações internas, a agente está presa a apenas uma personalidade e ficamos com a sensação de querer saber mais sobre ela. Em compensação, a atriz Elizabeth Olsen está ótima no papel, transmitindo toda a coragem e audácia de Jane Banner.         

   Quem também está muito bem em cena é Jeremy Renner. O ator trabalha todos os nuances de seu personagem desde a um caçador calculista, frio, mas emotivo nos momentos chaves da produção no que diz respeito a sua perda e ao valor da família. Assim como o ator Graham Greene que oferece cenas marcantes aqui.                 

  A fotografia assinada por Ben Richardson  relembra em partes o trabalho em ‘A Qualquer Custo’. Utilizando planos abertos valorizando os belos cenários, o clima gélido e frio combina perfeitamente com o suspense da narrativa. Já a trilha sonora se torna repetitiva e anuncia a iminência tornando nas cenas de tensão pouco impactante.           

   Mesmo entregando de mão beijada ao espectador a conclusão da investigação sem grande desenvolvimento do seu principal mistério. Com um final irretocável, ‘Terra Selvagem’ oferece muito mais do que uma simples narrativa de suspense, carimbando como um dos melhores filmes de suspense do ano e o talento de Taylor Sheridan mais como roteirista do que como cineasta.        
     

NOTA: 7,9