Estreias

sábado, 31 de dezembro de 2016

Crítica - 'Chinatown'


     O Oscar de melhor roteiro original foi pouco para ‘Chinatown (1974)’. Somando ao total onze indicações, este filme dirigido pelo mestre Roman Polanski precisa ser visto, revisto e estudado sagrando-se um dos melhores roteiros da história do cinema. Detentor de inúmeras obras-primas, Polanski conseguiu trazer as telas o único filme noir da era contemporânea com sua maestria habitual acrescentando elementos únicos ao gênero tornando este, um trabalho ímpar.     

   Na Los Angeles de 1937, o detetive particular J. J. Gittes (Jack Nicholson) é contratado por uma mulher para investigar uma possível traição que esta sofre do marido, porém a história toma novos rumos quando ele descobre que foi enganado quando a verdadeira esposa (Faye Dunaway) aparece, revelando uma conspiração na Companhia de Água da cidade.

   O roteiro assinado por Robert Towne e também por Polanski é intrínseco, visceral e instigante. A maneira como o cineasta consegue extrair a essência do roteiro e levar as telas impondo o peso necessário a cada cena, é impressionante. Tudo remete ao um trabalho meticuloso, desde a perfeita adaptação entregando todo o potencial da trama até a construção dos planos, das edições, da clássica fotografia noir e dos movimentos de câmera. Em conseqüência, a narrativa apresenta uma fluidez notável, tornando os 130 minutos de duração admirável por todos.  

    Méritos pela tal admiração e anseio do espectador são todos os elementos inseridos a trama, ou melhor, os crescentes mistérios em torno do crime. E são desses elementos que ‘Chinatown’ é reconhecido como um filme noir, ou neo-noir. A forma como a narrativa cresce em torno do assassinato do empresário Hollis Mulwray e toda a questão da água da região recheadas de reviravoltas, dominada de personagens dúbios - a falsa Sra. Mulwray, Faye Dunaway, Evelyn Mulwray, o policial Escobar, o misterioso Noah Cross, e por um clima de mistério e perigo envolvendo o público de uma maneira sem igual.      

   Outro grande mérito do filme está nas excelentes interpretações de Jack Nicholson e Faye Dunaway. Na pele do detetive particular, Nicholson consegue causar dúvidas ao espectador no decorrer da narrativa pelo seu passado misterioso e sua moral duvidosa, quanto a Evelyn, a ótima atriz Dunaway da vida a mulher fatal, conhecida como femme fatale, responsável também por reservar um grande mistério a história. É realmente incrível, como Polanski consegue também incluir todo o crescimento e a relevância de todos os personagens.  

   Diante da fotografia clássica, o clima noir está presente em todo o longa apresentando ao máximo os contrastes de claro e escuro e uma excelente trilha sonora pontual para o suspense. ‘Chinatown (1974)’ dá uma aula de como adaptar roteiros engajando o público em sua narrativa crescente reservando constates reviravoltas em um dos grandes trabalhos dos melhores diretores da história do cinema. 

NOTA: 9,4    


     
                     

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Crítica - 'Morgan'


      O complexo tema a cerca da inteligência artificial vive hoje inúmeros dilemas. De um lado, poucos filmes buscam embarcar neste assunto por exigir grandes esforços e muito estudo para trazer notáveis obras cinematográficas. Do outro, uma falta deste, não representa todo o domínio e as questões envolvidas no assunto, caso este resultou em ‘Morgan’.               

     Após um incidente envolvendo Morgan (Anya Taylor-Joy), uma jovem de aparência frágil e inofensiva, com os demais assistentes de uma instituição remota, a trama acompanha a consultora coorporativa de gestão de risco (Kate Mara) posta a estudar o comportamento da pequena criança, a fim de decidir se ela deve ou não ser sacrificada.  
 
   O estreante cineasta Luke Scott soube muito bem criar uma atmosfera densa e misturar outros elementos além da ficção, como a ação e até mesmo, o horror. Porém, não soube trazer mais camadas de seu simples roteiro, que segue um caminho metódico - sem prejudicar a narrativa, mas não chega a impressionar.      

    Dividido em três arcos definidos: a apresentação de Morgan, sua crise de identidade e a rebeldia. A trama desenvolve-os superficialmente e, faltou investigar e mostrar mais a origem de Morgan, ao invés de ficar apenas em relatos, assim como todos os personagens ao seu redor. Em conseqüência, certos atores não precisavam existir, como é exemplo de Boyd HolBrook, o nutricionista, envolvido em um subtrama desnecessário.
 
   Outro ponto negativo do estreante foi não aproveitar o talento de seu elenco. A única merecedora de créditos aqui é Taylor-Joy (do ótimo ‘A Bruxa’), na pele da forte presença de Morgan em um ótimo trabalho corporal. Já os atores secundários são limitados, apenas a atriz Rose Leslie (‘Game of Thrones’) teve algo a mais para apresentar e de acordo com a proposta do filme.                     
 
  Buscando um caminho para o imprevisível, o filme não alcança esse triunfo.  Uma parcela disso acaba recaindo pela atuação da atriz Kate Mara, por não mascarar os segredos de sua personagem antes do último ato.
 
   Com cenas de ação pouco empolgantes, e uma  fotografia a base de tons acinzentados, essencial para criar um ambiente denso, principalmente pela presença de Morgan. O cineasta Luke Scott apresenta poucos pontos positivos em sua estréia, porém vamos torcer para que se próximo trabalho melhore. 

NOTA: 5,7

 

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Crítica - 'Snowden: Herói ou Traidor'


    A frase “Vivemos em uma sociedade de vigilância” resume perfeitamente o emblemático caso de Edward Snowden. Para quem não o conhece, o ex contratado da NSA chocou o mundo ao revelar os detalhes de vários programas que compõem o sistema de vigilância global do governo norte-americano e, Hollywood não deixa passar essa ocasião para trazer as telas, ‘Snowden: Herói ou Traidor’.    

   Após alguns anos sem trazer obras memoráveis, o cineasta Oliver Stone mostra-se mais empenhado nesse seu novo trabalho. Conhecidos pelos filmes com cunho fundamentado, como o seu ótimo ‘’JFK’’ e o recente ‘’As Torres Gêmeas’’, aqui mais uma vez ele imprime uma ótima energia narrativa de caráter burocrático fazendo com que os espectadores, mesmo os mais entendidos no assunto, se interessam pela trama de Snowden.
 
    Um dos motivos foi mesclar a vida pessoal do protagonista com o seu trabalho na NSA. Somos inseridos a um subtrama envolvendo a sua namorada Lindsay Mills (Shailene Woodley), responsável por abalar os sentimentos de Snowden, porém tal contexto está apenas como novidade para a maioria, pois não condiz com a proposta inicial do filme pela personagem ser mal desenvolvida. Assim como todos os restantes do elenco de apoio, como os atores Zachary Quinto e Nicolas Cage.                              
 
   Por outro lado, a crescente trama acompanhando a chegada de Snowden até o seu exílio é interessante, e ao mesmo tempo, chocante. O cineasta Stone soube muito bem tratar o assunto da vigilância tecnológica criando uma sensação de perigo e tensão, e a uma ansiedade crescente a partir das informações do protagonista. Para quem não provem de conhecimentos a cerca do conteúdo, é chocante e, subversivo, a forma como o filme trata que estamos em constante vigia.    
 
   Com um trabalho de voz perfeito do ator Gordon-Levitt lembrando muito a própria voz de Edward Swonden em sua meticulosa atuação, assim como a ótima presença de Woodley. ‘Snowden: Herói ou Traidor’ pode não ser novidade para alguns, mas mesmo assim é um filme fundamental, principalmente para que todos possam entender o mecanismo de vigilância, agora nas mãos de Trump.
 


NOTA: 7,0



sábado, 24 de dezembro de 2016

Crítica - 'A Luz Entre Oceanos'


       Pouco conhecido pelo público em geral, Derek Cianfrance merece atenção. Mesmo com poucos filmes no currículo, o cineasta vem se destacando um mestre em retratar os relacionamentos sem aquele lirismo e devaneios comuns em praticamente todos os filmes do gênero, como confirmou nos ótimos ‘Namorados Para Sempre’ e ‘O Lugar Onde Tudo Termina’. Diante desse histórico, ele continua a surpreender em ‘A Luz Entre Oceanos’  mostrando um episódio de como o amor pode se transformar em ódio.      

     Baseado no livro da autora M. L. Stedman, a trama acompanha a chegada de Tom Sherbourne (Michael Fassbender), a uma ilha distante, aceitando um emprego como faroleiro. O solitário veterano da primeira guerra conhece a admirável Isabel (Alicia Vikander), durante sua entrevista, e ambos acabam se apaixonando e se mudam para o farol

    A apresentação rápida dos personagens até seu casório está lá apenas para contemplar o belo amor vivido pelo casal. Sem objetividade inicial, o filme evidencia sua premissa quando um barco à deriva aparece carregando um bebê e seu pai, já morto, causando contradições aos cônjuges: ficar ou não com a criança. Nesse confronto de idéias entre Isabel e Tom, o dramalhão por vezes carregado, toma conta da produção.

  Não que a palavra “dramalhão” seja ruim, muito pelo contrário. Como estamos falando de Cianfrance, o comovente amor do casal construídos nos minutos inicias é desolado pelos traumas e tristezas de Isabel (não mencionado para evitar spoiler), porém aqui ele exagera nos recursos melodramáticos. O desenrolar de todos esses fatos não oferece incitação ao espectador, mas ficamos admirados com a tamanha interpretação de Alicia Vikander e Fassbender.   
 

  Depois da primeira metade, o filme consegue prender o espectador ao levantar a questão sobre quem pode ser a verdadeira mãe da criança. Diante dessa questão, a personagem Hannah Roennfeldt (Rachel Weisz) é o centro das atenções, tanto pela narrativa quanto pela atuação impecável da atriz Weisz.   

  Com a fotografia impecável, limpa, sempre valorizando os belos cenários e, capaz de captar as fortes emoções dos protagonistas. Em sua narrativa contemplativa e o ato final prolongado, ‘A Luz Entre Oceanos’ retrata até onde vai a tristeza de uma pessoa, por mais pura que seja sua intenção, questiona temas universais e atemporais, e acreditamos nos sofrimentos internos do casal, protagonizados pelos melhores atores da atualidade: Fassbender e Vikander.


NOTA: 7,8




terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Crítica - 'Rogue One: Uma História Star Wars'


   A idéia de expandir o universo Star Wars não poderia começar melhor em ‘Rogue One’. São inúmeros segredos e mistérios por trás desse incrível mundo e, mais uma vez, um novo episódio chegou às telas do cinema para arrebatar não apenas os fãs, e sim futuros admiradores da franquia.  

    Com uma enorme responsabilidade por ser o primeiro derivado da aclamada franquia, ‘Rogue One’ amplia esse incrível mundo reservando grandes surpresas. Tudo começou a partir de um detalhe presente no episódio ‘Uma Nova Esperança’ logo no letreiro inicial, era dito que os planos da Estrela da Morte tinham sido roubados pelos espiões rebeldes, possibilitando salvar seu povo e restaurar a paz na galáxia.       
 
    Mantendo referências e homenagens a clássica trilogia, ‘Rogue One’ é o filme mais diferente da saga. E isso é, incrivelmente, ótimo! Pois, a direção assinada por Gareth Edwards (conhecido pelo razoável ‘Godzilla’ de 2014), decide contar a narrativa a partir do ponto de vista de personagens menores, concede um tom mais sombrio a trama, trouxe pouco alivio cômico e, acima de tudo, apresenta o filme mais maduro de Star Wars.                      
   

     Em conseqüência, o filme é mais focado aos fãs do gênero por conhecer a obra da trilogia inicial. Porém, ‘Rogue One’ consegue ser autossuficiente em conseguir atrair qualquer espectador, sem ao menos conhecer nenhum de seus outros episódios. Pelo simples fato de ser, propriamente, um filme de guerra.  

   Seguindo firme no gênero guerra, o grande confronto do Império versus os rebeldes é o ápice do filme. Visceral e incisivo, Edwards posiciona sua câmera no centro das batalhas e acompanha cada movimento dos personagens, deixando o espectador vidrado. E nesses movimentos somos contemplados a assistir a melhor batalha espacial da saga, causando uma carga tanto física, como emocional.       

   A saga Star Wars sempre teve como admiração seus exclusivos personagens, porém aqui não é o caso. A começar pela protagonista Jyn Erso (Felicity Jones) que não dispõe de uma forte presença feminina e de carisma, como feito pela atriz Daisy Ridley em ‘O Despertar da Força’. Seu companheiro de jornada, o capitão Cassian Andor (Diego Luna) também carece de simpatia e o ator não se dá bem por conta de seu sotaque.                                                                                                                                                                                                             Temos também o interessante personagem, Chirrut Imwe (Donnie Yen), fazendo com que o púbico acredita na força mesmo por conta de sua deficiência. Porém, a trama pouco revela seu passado, assim como a maioria.

   Já o vilão interpretado por Ben Mendelsohn é bajulador demais. E quem realmente rouba a cena é o novo personagem K-2SO, servindo como um excelente alívio cômico e, não podemos de mencionar, Darth Vader, que quando aparece, é memorável.      
 
   'Rogue One’ pode carecer de personagens cativantes, mas é um derivado a altura da trilogia original, com sua iconografia poderosa, mostrando mais uma vez um CGI perfeito, presenteia a melhor batalha espacial da saga e seu último ato é, simplesmente, sensacional.
 

NOTA: 8,3


        

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Crítica - 'Jack Reacher: Sem Retorno'


   Sem o brilho do primeiro, ‘Jack Reacher – Sem Retorno’ é prosaico. O sucesso do primeiro filme, ‘O Último tiro’ trouxe o astro Tom Cruise em mais uma história cheia de ação e pancadaria com um fantástico elenco de apoio, sem o mesmo poderio do anterior ‘Sem Retorno’ é mais um ‘Busca Implacável’.         

    A trama acompanha a volta de Jack Reacher a base militar, onde pretende levar a major local, Susan Turner (Cobie Smulders), para jantar. Porém, ao chegar ao local, descobre que ela está sendo presa por ter vazado informações confidenciais do exercito, dando inicio a uma série de investigação por parte de Reacher encontrar toda a verdade por trás desse enigmático problema.     

   A direção assinada por Edward Zwick é cautelosa em contextualizar os personagens envolvidos a volta de Reacher a base militar e didática a ponto de explicar cada processo do desenvolvimento narrativo. Nesse ponto vemos um ponto positivo e outro negativo, pois a trama traz algo a mais, afim de não ficar presa a um tema básico, porém é pouco inventivo assemelhando a outros filmes do gênero.
 
   Os personagens são os mais habituais possíveis. Temos Tom Cruise sendo o frio e solitário, Reacher, o cara focado em matá-lo, sua companheira de trabalho e uma menina correndo perigo. Apesar dos clichês do gênero, o diferente aqui foi em humanizar o protagonista jogando-o em uma encruzilhada sobre sua paternidade mantendo uma crível relação com a jovem atriz Danika Yarosh, fraca em cena.

  Quem realmente traz uma boa presença feminina é Cobie Smulders querendo mostrar sempre a frente de Reacher, sempre se impondo, porém o roteiro faz questão em limitar a posição feminina em um ambiente militar colocando a dureza do protagonista sempre em primeiro plano.     
 
     Com recursos técnicos convencionais do gênero, mas apostando em boas cenas de ação prendendo o espectador em seu ritmo ágil, ‘Jack Reacher – Sem Retorno’ tem seus bons momentos e acredita na reputação de seu astro Tom Cruise, porém é aquém de seu antecessor, previsível e, é apenas mais um desse gênero. 



NOTA: 6,0




terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Crítica - 'A Chegada'


   Agora é definitivo, Denis Villeneuve é o melhor cineasta de sua geração e da atualidade. Com um currículo invejável somando as ótimas produções ‘Incêndios’, ‘Os Suspeitos’, ‘O Homem Duplicado’ e ‘Sicario: Terra de Ninguém’, eis que o diretor resolve se aventurar no mundo da ficção cientifica e, simplesmente, entrega o melhor trabalho de sua carreira em ‘A Chegada’.     

     Após a chegada de doze espaço naves misteriosa situadas em vários cantos do planeta Terra, a linguista Dra. Louise Banks (Amy Adams), é convocada pelos militares para liderar uma equipe, com o objetivo de traduzir o idioma e os sinais alienígenas e desvendar se eles representam uma ameaça ou não.

  Com fragmentos de ‘Contato’ e ‘Contatos Imediatos de Terceiro Grau’, Villeneuve vai muito além dos elementos básicos de sua premissa. O filme não é apenas sobre invasão alienígena, é muito mais que isso. O cineasta mostra estar sempre a frente do espectador, conduzindo não apenas uma ficção, mas sim um drama incisivo carregado de emoções e idéias modernas.


   ‘Arrival’ (do original) se destaca pela sua grandiosidade poética. O roteiro assinado por Eric Heisserer propõe a narrar um drama pessoal – uma perda na vida da protagonista, e ao mesmo tempo introduzir temas como o poder da comunicação nos tempo moderno, a ciência e a evolução, com a possível ameaça da vida na Terra. E nesse contexto vemos Villeneuve caracterizado de Kubrick e Mallick para mostrar a invasão alienígena mais minuciosa já vista.


  Colocando o drama e os personagens em primeiro plano, Villeneuve desconstrói a narrativa brincando com o sentimento do público ao mesmo tempo em que a desafia. A partir disso, uma reviravolta arrebatadora vai surpreender a todos e ligar a nossa mente a 220 volts, vide pelo seu roteiro apresentar uma estrutura narrativa circular, assim como a lógica, confundindo grande parte do público. 
 

   O filme também não é apenas um roteiro inteligente, até porque temos Amy Adams. A provável indicação ao Oscar 2017 não é de menos, a atriz está excelente sendo a responsável para o filme ter êxito, com sua atuação intrínseca cheio de sutileza. Forest Whitaker e Jeremy Renner completam o elenco com também grandes interpretações, porém o show mesmo aqui é de Adams.   

   Cinematograficamente perfeito com também grandes chance de ser indicado ao Oscar de 2017 para melhor fotografia e trilha sonora, ambos responsáveis por conduzir o espectador naquele imerso ambiente misterioso.

     ‘A Chegada’ pode apresentar alguns clichês do gênero no final de sua produção, porém isso não tira seu encanto, ou melhor, sua originalidade. Melancólico, reflexivo e essencial ao público repensar o conceito de humanidade revirando todas as nossas imaginações e sentimentos. O filme é uma experiência única.  E a sétima arte agradece, assim como os amantes de cinema.


                                               NOTA: 10


     

  

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Crítica - 'Sully: O Herói do Rio Hudson'


    Herói ou fraude? Foi no dia 15 de janeiro de 2009, os EUA vivenciou um dos mais surpreendentes atos de bravura. Um avião foi obrigado a pousar em pleno Rio Hudson e, em menos de 24 minutos, todos os passageiros saíram ilesos. Essa incrível e interessante história é contada em ‘Sully: O Herói do Rio Hudson’, o mais novo projeto de Clint Eastwood e Tom Hanks. 

     Dirigido pelo admirado Eastwood, aqui ele não procura enaltecer o heroísmo, deixando o sentimentalismo e o patriotismo de lado. Em uma história que poderia ser contada em apenas trinta minutos, o cineasta extraiu o máximo possível de um roteiro raso provocando comoção, interesse e tensão dos espectadores.         

   A forma como o cineasta trabalha todos os fatores contra o esforço, a coragem, o mérito e o profissionalismo do personagem, é a chave do filme. Diante disso, ‘Sully’ se torna um filme de investigação, pois o órgão regulador da aviação norte-americana buscava fontes, pesquisas a partir de simulações, para saber se o pouso era realmente necessário, ou poderia ser evitado.                                     
        
    Baseado no livro ‘Highest Duty’ de Todd Komarnicki, o filme centra-se apenas o acidente em si. E mesmo assim, Eastwood consegue capturar a atenção do público mesmo tendo que repetir conteúdos e situações. Não há apenas o pouso em si, mas somos situados a compreender o contexto histórico – o sistema burocrático da investigação e a diferente visão do público e o organizacional: Sully, herói ou fraude.                          
       E como de costume, Tom Hanks está excelente no papel do protagonista. Mesmo com uma atuação contida, o ator conquista o carisma do público entregando mais uma vez em sua carreira um personagem humano. Crises emocionais, a preocupação com os passageiros, a determinação de sua profissão, tudo é vivenciado por Hanks.      

     Com sua conclusão relatando o fato diante de imagens e homenageando Sully e todos os sobreviventes, ‘Sully: O Herói do Rio Hudson’ não tem muito a mostrar além do acidente em si sob a responsabilidade de seu roteiro superficial, porém é eficiente dentro de sua proposta devido ao grande trabalho de Clint Eastwood e Tom Hanks.                 


NOTA: 7,3


  

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Crítica - 'Anthropoid'


 A 2ª guerra mundial reservou histórias interessantíssimas, e nada mais justo, o cinema apossá-las.  De um lado, grandes clássicos envolvendo o período mais conturbado do mundo marcaram a sétima arte, como também o espectador. Do outro, muitos filmes apresentaram eventos interessantes durante esse período, porém sem o glamour, sem audácia, este é ‘Anthropoid’.   

  Baseado em fatos reais, o filme centra-se na Operação Anthropoid, que visava matar o general Heydrich, oficial superior alemão. Considerado o terceiro homem mais poderoso do período nazista e responsável pela ocupação nazista na Tchecoslováquia. Suas ações culminaram no atentado idealizado pela Executiva de Operações Especiais (S.O.E.), uma organização de inteligência britânica, que recrutou dois exilados: Jozef Gabčík (Cillian Murphy) e Karel Svoboda (Jamie Dornan).            
       
  Dirigido por Sean Ellis, o filme faz muito bem contextualizar o atual momento da 2ª Guerra Mundial. Envolto de um grande evento durante a guerra, ‘Antropoid’ tem seu valor histórico ao recuperar um episódio importante e curioso aos olhos do público, por ser desconhecido pela maioria. Porém, seu resultado fica abaixo das expectativas por não entregar o peso necessário à trama.    

  Com a sonolenta primeira metade marcada pela elaboração do plano para matar o general Heydrich, o filme passa a ficar interessante na segunda metade quando o plano é colocado em prática. Todos os erros técnicos presentes no inicio da produção – a fraca edição, enquadramentos distorcidos e a desagradável câmera tremida, são compensados com boas cenas de ação protagonizadas pelos atores Cillian Murphy e Jamie Dornan, ambos razoáveis em cena.              

  Concebendo todo o caos gerado pela guerra na boa fotografia criando uma atmosfera mais densa para o filme. ‘Anthropoid’ tem seus bons momentos empolgando o espectador em seu ato final e por trazer um interessante episódio durante a 2ª Guerra Mundial conhecida por poucos. Mas não consegue entregar todo o peso narrativo, faltou energia, dedicação, estudo de toda produção, e experiência atrás da câmera para ser tornar memorável.       

NOTA: 6,5

                                       

domingo, 20 de novembro de 2016

Crítica - 'Animais Fantásticos e Onde Habitam'


    O receio de ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ ser mais um filme aproveitador do sucesso de seu precedente era pertinente.  Felizmente, o tão aguardado filme faz justiça a icônica saga ‘Harry Potter’ apresentando um novo mundo repleto de extravagâncias e com o poder de conquistar não apenas os fãs da franquia, mas sim o público.        

    A história acontece vinte anos antes dos acontecimentos de ‘Harry Potter’, na cidade de Nova Iorque, em 1920. O magizoologista Newt Schamander (Eddie Redmayne) carrega uma preciosa maleta cheia de fantásticos animais do mundo da magia, porém após uma confusão envolvendo um trouxa (também conhecido como ‘não magico’), algumas criaturas acabam soltos na cidade, restando ao bruxo capturá-los.                          

   Conhecido por dirigir os últimos quatros filmes da saga ‘Harry Potter’, o cineasta David Yates mostra estar mais familiarizado com esse mundo mágico. Por se tratar de uma obra mais adulta mantendo a mesma legião de fãs da franquia, Yates encontra novas soluções visuais criativas concedendo um ambiente mais sombrio (como nos últimos filmes de HP), porém tal preguiça também é visível por parte do cineasta por entregar certos enquadramentos inconstantes com espaços mortos.              

   Apesar da premissa parecer simples e inocente - e por certo, fornece cenas dispensáveis, o roteiro da própria J. K Rowling consegue inserir novas camadas. A autora expande seu universo sem nunca recuperar elementos do passado para se aproveitar da nostalgia do público. Em conseqüência, o filme faz um forte comentário do medo do desconhecido, repressão, fanatismo religioso e preconceito, mostrando ser exclusivo, e não uma repetição da mesma história.




   ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ contextualiza o inicio de uma nova franquia de maneira única. E seu ponto forte não poderia deixar de ser sua construção do mundo envolto da antiga Nova Iorque e animais, realmente, fantásticos. Para tal façanha, os efeitos visuais são excelentes, entregando criaturas extravagantes com design inteligentes. 

   E a cinematografia dessaturada construída a base de palheta acinzentada é perfeito para criar a sombria atmosfera, acentuando a presença do vilão Gellert Grindelwald (interpretado muito bem por Colin Farrel). Assim como, a configuração visual, remetendo o espectador a década de 20, com a velha Nova Iorque e seus figurinos mágicos, especifica para a época. O 3D também tem seus bons momentos, porém não é necessário.                     

  O elenco também merece destaque, principalmente Eddie Redmayne e Katherine Waterston.  Não existe outro ator ideal para o filme sem ser Redmayne, aqui o espectador se relaciona com o protagonista através de seu olhar inocente, ingênuo e de encantamento com o mundo da magia transmitido com perfeição pelo ator, além de entregar um charme britânico do excêntrico e anti-social, Schamander.  

  Waterston, por sua vez, mostra estar sempre comprometida para ajudar o bruxo e por possuir a subtrama mais interessante da história Temos também o alívio cômico interpretado muito bem por Dan Fogler, assumindo um bom tempo em tela, apresentando um despretensioso arco de seu personagem contracenando com a atriz Alison Sudol, a Queenie Goldstein.                                        

   ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ peca um pouco em seu ritmo, e evidencia suas pontas soltas da origem de seu protagonista e antagonista. Porém, é uma ótima introdução ao novo universo de J. K. Rowling por apresentar uma ambição narrativa e um enorme carinho pelo universo e, sem dúvidas, cria enormes expectativas para seu futuro. 


NOTA: 7,7




sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Crítica - 'Elle'


     O cinema sempre foi e sempre será um artifício representativo de questões polêmicas. E quando mencionamos Paul Verhoeven (conhecido por ‘Instinto Selvagem’), mestre em prezar pelo politicamente incorreto, o cineasta volta no auge da controvérsia em ‘Elle’.  Com discussões pertinentes nos dias atuais, a obra distorce os paradigmas associadas a figura do estupro fugindo de qualquer expectativa.         

   Baseado no livro de Phillipe Djian chamado ‘Oh’, a trama acompanha Michèlle Leblanc (Isabelle Huppert), diretora de uma empresa de videogames e cercada por pessoas excêntricas, incluindo seu filho (). Sua rotina é quebrada quando ela é estuprada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. Tal ato provoca reações inusitadas a vida de Michèlle.                  

  Muito antes de iniciar o filme, um grito intenso rompe o manto da tela: o desespero de uma mulher em luta com algo.  Somos inseridos a um suspense sobre quem é o responsável por tal atrocidade e, mais que isso, a trama aos poucos revela o impacto psicológico do estupro em Michèlle. Não é verdadeiramente um suspense, um espírito de vingança ou um drama sobre o trauma do ato, a genialidade de Verhoeven é desconstruir o gênero e trazer algo inovador, diferente e, acima de tudo, impensável.                      


  Inicialmente a protagonista preocupa pela sua segurança, posteriormente isso passa a ser deixado de lado e a superação torna-se a nova fase de sua realidade. Superação não é a palavra correta, pois é impossível prever qual será o próximo passo de Michèlle. E nesse jogo dos personagens agirem conforme o inesperado, jamais pensado, inicia-se o julgamento do público. A partir daí, uma série de absurdos estabelecem no perturbado cotidiano de Leblanc, absurdos extraídos das mais colossais malicias de uma mente doentia.            
   
  Absurdos estes que Verhoeven explora meticulosamente, dentre eles as pessoas que cercam Michèlle. O filho retardado (envolvido em uma interessante subtrama), o amante carente, a mãe preste a embarcar em um casamento forçado e o pai um psicopata. Todo esse empoderamento intrínseco observado pelo espectador pós estupro, é transmitido com perfeição pela atriz Isabelle Huppert, atuação digna de prêmios e quem sabe concorrer a melhor atriz do Oscar 2017.                    

   Com um grandioso elenco comprometido nas subtramas, Verhoeven consegue desenvolver com maestria todas as características e ações dos personagens em constante evolução para a trama. Fato este torna a produção deveras demorada em relação a filmes comuns do gênero, totalizando 130 minutos.    

    Com interessantes propostas nas subtramas, o filme não apresenta dar muita importância a elas, visto que poderia conceder maior peso para o arco central da trama. Conseqüentemente, havia várias opções para a conclusão de ‘Elle’ que poderiam satisfazer o espectador, porém quando falamos de Verhoeven.

   Polêmico, subversivo, diferente e porque não, assustador? Seja pelo impiedoso ato ou pelas atitudes tomadas pela protagonista. ‘Elle’ segue um rumo muito diferente e pode agradar, ou não, o público. Agradando ou não, é o rumo para a indicação de melhor filme estrangeiro para o Oscar 2017.  


NOTA: 7,5