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terça-feira, 16 de outubro de 2018

Crítica - 'No Coração da Escuridão (First Reformed)'


  O encontro da religião frente às doutrinas filosóficas traz discussões complexas sobre o viver à base de razões e contradições. A partir dessas intrínsecas questões, o cineasta Paul Schrader imerge friamente na luta interna de um reverendo para trazer à tona os dilemas da fé católica mediante a inquietude da transformada progressiva cultural, em seu intricado ‘No Coração da Escuridão’.                      

    A trama acompanha o reverendo Toller (Ethan Hawke) em uma pequena congregação em Nova Iorque lutando com o crescente desespero causado por tragédias, preocupações mundanas e o seu atormentado passado.              

   O diretor e roteirista Paul Schrader sempre foi um mestre na abordagem de estudo de personagem e, aqui, não é diferente. Conhecido por roteirizar os excelentes ‘Taxi Driver’ e ‘Touro Indomável’, novamente Schrader embarca no mais íntimo psicológico de seu personagem. Para assim, adentrar em temas complexos confrontando a práxis católica, hoje, cada vez sendo esquecidas.    
 
     Nesse contexto, Toller mergulha em um mar de angústias, desolação e ansiedade atendendo aos embates dos princípios primários da fé católica. Conseqüentemente, ele conecta-se ao lado da empatia humana reconhecendo ser um pecador, ciente das preocupações mundanas e alarmantes no dia a dia. Dentre elas, o aquecimento global, o capitalismo, o alcoolismo e ‘No Coração da Escuridão’ frisa essas temáticas com os que dizem ser “cristãos” nos dias de hoje.                             

   Diante de questões poderosas, Schrader retrata os sentimentos mais íntimos sem pressa e com ares temerários. Dessa maneira, o cineasta optou por conceder um ritmo lento a trama utilizando de planos estáticos, com uma diferente milimetragem quase que quadrada e enquadramentos centralizados e muitos close-ups nos diálogos. Tornando assim a trama mais intensa, verdadeira e claustrofóbica perante aos olhares do reverendo.  
 
   Outra forma de representar o estado de espírito do reverendo está em sua cinematografia. Como a privação de uma banda sonora extradiegética, uma fotografia fria, nublada, isenta de cores saturadas e tons quentes. O cenário ora em perfeita ordem quando a conexão e empatia ganham vitalidade, ora bagunçado pelos dilemas enfrentados pelo padre (Ethan Hawke em uma atuação introvertida).                

   Apesar de arrastar certos eventos no segundo ato e sua conclusão não ser tão impactante quanto à trama sugeria. ‘No Coração da Escuridão’ é um verdadeiro estudo de personagem, consegue unir religião e niilismo e propõe reflexões importantes sobre as questões morais do nosso ser e viver.

NOTA: 8,6



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