Estreias

domingo, 12 de julho de 2020

Crítica - 'A Assistente (The Assistant)'


   É com grande tristeza dizer que se tornou corriqueiro depararmos com notícias de mulheres sofrendo por abusos sexuais. Recentemente, a produtora cinematográfica Miramax se tornou alvo de tal atitude provocando um forte descontentamento com as mulheres do mundo todo que iniciaram o movimento #Metoo. O grande nome por trás das acusações, Harvey Weinstein surpreendeu a todos com fortes declarações cabendo a ‘The Assistant’ mostrar o sórdido ambiente e de como é a vida daquelas sob o martírio do assédio.        


     Ao invés de optar em apresentar ou mencionar Weinstein, a direção e o roteiro assinado por Kitty Green (conhecida pelo ótimo documentário ‘Quem é JonBenet’) priva sob o olhar da assistente Jane (Julia Garner, conhecida pela ótima série ‘Ozark’) diante das circunstancias de sua rotina em seu ambiente de trabalho comandado por um poderoso executivo.   

     Diferente de como realizou o recente ‘O Escândalo (2019)’ documentado as especificidades dos abusos, os relatos das vítimas e suas consequências. ‘The Assistant’ promove um olhar minimalista ao transgredir os abusos para a apreciação do público de forma indireta soltando algumas pistas. Além de explorar o assédio constante e o controle abusivo praticado por alguém superior remetendo o ex-produtor, bem como os efeitos devastadores de tal opressão sobre a protagonista. 

 Nesse cenário, a atmosfera criada por Kitty Green em simplesmente acompanhar a rotina de Jane é sufocante e ao mesmo tempo desconfortável, pois sabemos que, ali, há uma ameaça subjetiva controlando todo aquele ambiente. Sua função de agendar um horário, atender telefonemas, recolher o lixo não é gratificante e sim, muito pelo contrário. Há um ar pesado, carregado e sufocante para Jane exprimir todas as suas emoções e diante desse fato, a atuação de Julia Garner é genial em uma das melhores interpretações intimista nos últimos anos. Seu modo de agir, sua postura corporal e seu olhar diz muito sobre aquele local e infelizmente, reflete o verdadeiro estado emocional de muitas mulheres. 

   Se de um lado a direção de Kitty Green é certeira em reconhecer sua proposta diante de uma mulher vexada sob os escombros de um sistema corrupto gerando um forte grau de verdade em tela. Por outro, o ritmo por vezes maçante e sem proporcionar um grand finale pode desanimar boa parte do público mais casual. Entretanto, estamos diante de um cinema denuncia não sobre Weinstein ou outra figura de mesma índole, mas sim daquelas que se recusam a elevar-se diante deles e apresenta a melhor resposta daqueles que questionam o porquê as mulheres ficam em silencio por tanto tempo.

    ‘The Assistant’ promove uma forte reflexão daqueles que se colocam acima da lei por estar em uma melhor posição institucional e cala a boca daqueles que opinam sem vivenciar o que de fato uma mulher passa.


NOTA: 7,2
 
 
                                                                                                   

Nenhum comentário :

Postar um comentário