Estreias

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Crítica - 'Silencio'


  Todos ficam à espreita quando um novo projeto de Martin Scorsese é anunciado.  Sagrado um dos grandes diretores da sétima arte e, o melhor em atividade, a expectativa para qualquer projeto de sua autoria é imensurável. Sonhando em fazer esse filme há mais de 20 anos, o cineasta entrega sua obra mais pessoal em ‘Silêncio’.            

    Século XVII.  Dois missionários jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), resolvem viajar ao Japão em uma época onde o catolicismo foi proibido, no intuito de encontrar seu mentor, o padre Ferreira (Liam Neeson) e reerguer a religião, lutando contra um governo que deseja expurgas todas as influências externas.            

   Sem aquela impetuosidade atrás das câmeras, a direção de Scorsese é solene, sem qualquer adorno e leva com muito rigor a sua premissa. Com uma grande dedicação ao material fonte e ao brilhantismo cinematográfico, Scorsese fez o ótimo uso da narrativa em off pontuadas no momento certo, adotou planos nas percepções dos personagens, mas seu foco foi em apoderar-se na câmera estática para realçar o sofrimento humano, e passar isso diante dos olhos do público.                              

  Outro grande mérito de ‘Silêncio’ foi em adaptar uma difícil estória baseado no romance "O Silêncio" do escritor Shusaku Endo. O roteiro também adaptado por Scorsese e Jay Cocks fez um bom estudo dos personagens - dois padres jesuítas, e o local onde partilharam sua fé. Mesmo com seu ritmo lento durante toda sua produção, o filme passa a ficar mais interessante a medida que a narrativa cresce, porém as cenas acabam se estendendo mais que o necessário no ato central, e de certa forma, fica desgastante para muitos.       

  Entretanto, a trama permite ao público diferentes percepções. Podendo ser violento para os mais ingênuos, como também intricado para o público eventual pela forma veemente como o filme trata seu principal tema, a intolerância religiosa. Afinal, ‘Silence’ levanta questões extremamente reflexivas, que ficam martelando na cabeça dos espectadores, como: Deus percebe o sofrimento humano? O que Deus realmente espera de nós? Qual o verdadeiro significado de apostatar?    

  Os padres jesuítas portugueses interpretados por Andrew Garfield e   Adam Driver estão muito bem em cena, principalmente Garfield que consegue transmitir todas as indecisões de seu personagem e seu apreço pelos outros. Porém, ambos não conseguem manter o sotaque português e, por hora, acaba ficando irritante.        
 
  A trama também fez um grande trabalho em aprofundar os japoneses entregando personagens interessantes, como Kichijiro, apresentando a constante luta entre a fé e a covardia, e o ator Issei Ogata cedendo toda a impotência de seu personagem, Inquisidor Inoue, em um perfeito trabalho vocal e corporal.                      

  Com uma adaptação difícil de ser realizada, ‘Silencio’ não é uma obra prima de Scorsese, e pode não agradar a todos, mas um filme difícil, reflexivo, aborda questões poderosas, principalmente nos dias de hoje e, acima de tudo, é uma experiência gratificante.    
          

NOTA: 8,2


       

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