Todos
ficam à espreita quando um novo projeto de Martin Scorsese é anunciado. Sagrado um dos grandes diretores da sétima
arte e, o melhor em atividade, a expectativa para qualquer projeto de sua
autoria é imensurável. Sonhando em fazer esse filme há mais de 20 anos, o
cineasta entrega sua obra mais pessoal em ‘Silêncio’.
Século
XVII. Dois missionários jesuítas
portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam
Driver), resolvem viajar ao Japão em uma época onde o catolicismo foi proibido,
no intuito de encontrar seu mentor, o padre Ferreira (Liam Neeson) e reerguer a
religião, lutando contra um governo que deseja expurgas todas as influências
externas.
Sem
aquela impetuosidade atrás das câmeras, a direção de Scorsese é solene, sem
qualquer adorno e leva com muito rigor a sua premissa. Com uma grande dedicação
ao material fonte e ao brilhantismo cinematográfico, Scorsese fez o ótimo uso
da narrativa em off pontuadas no momento certo, adotou planos nas percepções
dos personagens, mas seu foco foi em apoderar-se na câmera estática para
realçar o sofrimento humano, e passar isso diante dos olhos do público.
Outro
grande mérito de ‘Silêncio’ foi em adaptar uma difícil estória baseado no
romance "O Silêncio" do escritor Shusaku Endo. O roteiro também
adaptado por Scorsese e Jay Cocks fez um bom estudo dos personagens - dois
padres jesuítas, e o local onde partilharam sua fé. Mesmo com seu ritmo lento
durante toda sua produção, o filme passa a ficar mais interessante a medida
que a narrativa cresce, porém as cenas acabam se estendendo mais que o
necessário no ato central, e de certa forma, fica desgastante para muitos.
Entretanto,
a trama permite ao público diferentes percepções. Podendo ser violento para os
mais ingênuos, como também intricado para o público eventual pela forma
veemente como o filme trata seu principal tema, a intolerância religiosa.
Afinal, ‘Silence’ levanta questões extremamente reflexivas, que ficam
martelando na cabeça dos espectadores, como: Deus percebe o sofrimento humano?
O que Deus realmente espera de nós? Qual o verdadeiro significado de apostatar?

A
trama também fez um grande trabalho em aprofundar os japoneses entregando
personagens interessantes, como Kichijiro,
apresentando a constante luta entre a fé e a covardia, e o ator Issei Ogata
cedendo toda a impotência de seu personagem, Inquisidor Inoue, em um perfeito
trabalho vocal e corporal.
Com
uma adaptação difícil de ser realizada, ‘Silencio’ não é uma obra prima de
Scorsese, e pode não agradar a todos, mas um filme difícil, reflexivo, aborda
questões poderosas, principalmente nos dias de hoje e, acima de tudo, é uma
experiência gratificante.
NOTA: 8,2
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