Estreias

terça-feira, 24 de julho de 2018

Crítica - 'Custodia (Custody, 2018)'


  ‘Custódia’ é o reflexo da triste realidade da violência doméstica. A partir desse tema, o estreante roteirista e cineasta, Xavier Legrand nos coloca frente a frente a um conturbado relacionamento e uma pequena criança desamparada em meio ao caos familiar. O resultado é angustiante, triste, pungente e, infelizmente, factual perante o alarde do mundo atual. 

      O filme começa a todo vapor com uma cena no tribunal apresentando o pai, a mãe, seus respectivos advogados e a juíza. O casal disputa a guarda do filho, enquanto nós, espectadores, contemplamos em tempo real a audiência da juíza aos diferentes relatos de defesa. Verborrágico ao extremo e retratando a personalidades de cada um dos envolvidos, a dúvida paira sobre quem diz a verdade.  

   A principio pensamos em assistir a mais um filme de tribunal, mas o inteligente roteiro de Legrand é hábil ao intensificar os eventos do conflito familiar. Parte disso provém de situar o filho no centro da divergência dos pais, a ponto de esclarecer as motivações de cada um deles, assim como fazer o público sentir a angustia por trás de uma criança de apenas 10 anos. Assim, as ações e reações dos personagens têm um forte impacto narrativo por tudo ser tão verdadeiras em tela.     

   Tal realismo está na humanização dos personagens, o roteiro de Legrand não busca indicar quem é o mocinho ou o vilão, ou quem está certo ou errado. Tudo acontece com um propósito, todos os envolvidos no conflito têm suas próprias nuances, propiciando nas implicações da pós-separação reservando momentos de total descontrole. E assim brilha as atuações naturalistas do trio protagonista, o pequeno Thomas Gioria (o filho), a delicadeza encarnada por Léa Drucker (mãe) e a intensidade inquietante de Denis Ménochet (pai). 

   A direção de Legrand também se mostra presente ao valorizar uma imagem, ao invés de diálogos. Como visto na brilhante cena da festa de aniversário da filha Joséphine (Mathilde Auneveu), insinuando um perigo próximo apenas captando as ações dos personagens e deixando o som diegético tomar conta de todo ambiente.  Ou mesmo na cena de Joséphine no banheiro, com um plano estático.   

   Mais uma vez o cinema Francês se destaca no ano de 2018 carimbando os estreantes nomes, Xavier Legrand e  Thomas Gioria como futuras promessas. E ‘Custódia’ veio para retratar a dura e triste realidade da violência domestica em toda sua forma e plenitude.                


NOTA: 7,8


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