Estreias

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Crítica - 'Grave (Raw)'


    Conhecido por fazer o público passar mal e desmaiar no Festival de Toronto em 2016, ‘Grave’utiliza como mote o canibalismo como jamais visto em telas. Diferente da maioria dos filmes convencionais vistos por espectadores de mercado em massa, ‘Raw’ (do original) criou um neo-clássico do horror Art House marcando a estréia da promissora diretora francesa, Julia Ducournau.   

   A trama acompanha Justine (Garance Marrilier), uma jovem introspectiva, vegetariana, ingressando na faculdade de veterinária. Na semana do trote, ela é forçada pelos veteranos a comer um pedaço cru de fígado de coelho e, após o evento Justine começa a ter reações alérgicas e um desejo incessante de comer carne, esteja cru ou não.   

      Escrita e dirigida pela jovem estreante Julia Ducournau, ‘Raw’ é intenso, visceral e brilhantemente angustiante e perturbador.  Há quem se engane por pensar da obra apenas mais uma para chocar seu público apenas por chocar, ou entregar cenas gratuitamente explícitas, como também exibir apenas um sadismo intencional. O cerne da trama é exatamente o contrário, quando esses elementos são inseridos para desenvolver a evolução e as vontades de seus personagens e, em conseqüência, tudo se tornar mais intimo e perturbador.    

    Dessa maneira, a direção de Ducournau e as atuações foram fundamentais para a concretização dessa tortura intimista. Os recursos narrativos e visuais da diretora foram essenciais para a desenvoltura da protagonista deixando seu lado mais tímido e frágil, tornando-se uma mulher madura e coberta de desejos de pura insanidade. E nesses nuances, brilhou a interpretação da atriz Garance Marrilier transmitindo o lado mais perverso de Justine, sem nunca mostrar nada forçado, mas sim algo tão humano capaz de prender a atenção do público e acentuando ainda mais as atitudes de sua personagem.         

    Esses são todos os elementos que tornam ‘Raw’ uma obra tão pesada, mas ao mesmo tempo excelente em sua proposta capaz de fazer o público desmaiar. A própria Ducournay lidou com a excepcional parte técnica para tal façanha, como a ótima fotografia elementar para a construção da protagonista e capturando seus delírios em close-ups (méritos na cena quando a câmera parada muda de planos apenas com o movimento da atriz). Temos também uma ótima cena envolvendo um plano-sequência. O ótimo trabalho de mixagem de som contando apenas com a respiração do elenco para causar tensão e a trilha sonora arrepiante, é uma das melhores do cinema atual remetendo a trilha do clássico ‘Suspiria’.      

    Mas com certeza estamos falando de uma obra que não deve agradar a maioria. Primeiro, por se tratar de um filme Art House, muitos acabam ignorando. Segundo, ele é realmente pesado e só quem tem estômago forte consegue ficar até o final e, por último, por tratar um tema visto pela maior parte como sádico.  
 
   Lembrando, por mais que ‘Raw’ não agrade boa parte do público, ele é excelente em sua proposta oferecendo uma visão única sobre o canibalismo e certamente permanecerá em nossa mente muito depois dos créditos finais.


NOTA: 8,5


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