‘Os
Olhos Sem Rosto’ é uma obra-prima do horror do cinema francês. Sem grande
notoriedade em uma forte época marcada pelo movimento da nouvelle vague, o
gênero horror não tinha a influência da corrente e era alvo de críticas na
sétima arte. Foi assim com os clássicos ‘Psicose’ e ‘A Tortura do Medo’, porém
com o passar dos anos, seus verdadeiros valores e relevância para o gênero são
notados até nos dias atuais.
Adaptado
da obra de Jean Redon de mesmo título, ‘Os Olhos Sem Rosto’ conta a história do
renomado cirurgião Génessier (Pierre Brasseur), que após desfigurar a face de
sua filha Christiane (Edith Scob) em um acidente de carro. Ele começa a
desenvolver um novo estudo capaz de realizar um transplante facial a partir de
uma doadora viva, desfrutando suas mais belas pacientes.
A
premissa por si só chama atenção de qualquer espectador pela sua originalidade
descabida. Não existe ética ou moral, e os sentimentos de culpa, obsessão e
loucura constroem o personagem do célebre cirurgião e a narrativa intrínseca e
alegórica. Nessa formulação, a
máscara perde seu simbolismo e o terror é estabelecido.
Assim
a direção de Georges Fraju dá as caras e entrega o realismo brutal e o gore do
cinema de horror. Nem todos são fãs do gore, mas o diretor consegue prender o
espectador a partir dessas cenas angustiantes, sem exageros, e sim de pura
genialidade - visto no episódio da operação que retira a face de uma de suas
clientes e a aparição do rosto desfigurado de sua filha. E pensar que essas
cenas foram realizadas da década de 60 é um absurdo! O trabalho de maquiagem é
irretocável mostrando as conseqüências da cirurgia, além de contar com uma
impecável fotografia em preto e branco associado às edições em fade-in/fade-out
perfeitos para conceder o clima sombrio ao filme. Aqui é cinema de primeira
qualidade!
Diferente
de outros cineastas consagrados do terror italiano como Mario Bava e Dario
Argento, nenhum chegou ao nível de elegância de Fraju. Com 90 minutos de
duração, seu trabalho é conciso, objetivo, e mesmo com poucos diálogos, e um
roteiro despreocupado em desenvolver todos os personagens, ele consegue
transmitir toda a essência do pavor a partir do momento que identificamos a
apreensão e os atos desesperadores dos protagonista.
O ator
Pierre Brasseur cria um lunático minimalista, sua assistente é impulsionada a
atrair futuras vitimas na boa interpretação de Alida Valli (conhecida pelo
ótimo ‘O 3º Homem’), e sentimos todo o abatimento e angustia de Christiane
presa por uma máscara. ‘Os Olhos Sem
Rosto’ perde seu ímpeto no terceiro ato por apresentar uma solução simples,
banal e rápida, mas isso não o deixa de ser uma obra-prima do horror que merece
ser admirado por todos e, sim: certamente serviu como modelo do recente ‘A Pele
Que Habito’ de Almodóvar.
NOTA: 8,4
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