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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Crítica - 'As Diabólicas (1955)'


     Um dos gigantes do cinema francês, Henri-Georges Clouzot brindou o mundo com um dos melhores suspenses da história, “As Diabólicas (1955)”. O cineasta influenciou inúmeras obras do gênero com seu estilo nu e cru de representar o suspense em tela, e até mesmo sua estratégia de marketing foi copiada por ninguém menos que Alfred Hitchcock, em Psicose, cinco anos depois. Tornando-se um dos mais celebres diretores do cinema europeu nos anos 40 e 50, seu trabalho aqui tem um grande reconhecimento até nos dias atuais.                       

    ‘As Diabólicas’ conta a história de um triangulo amoroso, onde a carinhosa esposa (Véra Clouzot) e a amante (Simone Signoret) do tirânico professor Michel Delassalle (Paul Meurisse) se unem para matá-lo, devido ao seu comportamento sádico e violento. Juntas elas realizam o crime perfeito, porém, dias depois, o cadáver desaparece.  

   Fique tranqüilo, está é apenas a sinopse do filme e, estou evitando ao máximo revelar os segredos. Afinal, o grande truque de ‘As Diabólicas’ foi desenvolver com perfeição passo a passo os atos dos personagens, para assim imergir o público dentro da trama esperando qual será o próximo movimento. Em conseqüência, qualquer cena comentada pode prejudicar uma melhor experiência.

   Dessa maneira, Clouzot se mostra um gênio das nuances psicológicas e atmosféricas. Com três personalidades bem distintas apresentadas perfeitamente no primeiro ato, a dúvida paira na cabeça do espectador sobre as verdadeiras intenções de cada um, e os psicológicos dos personagens vão se corrompendo à medida que um novo segredo é revelado. Quando achamos que o suspense está instaurado, Clouzot prova o contrário envolto de uma brilhante teia de mentiras.                

   Envolvido nas artimanhas do mistério, para Clouzot cada pequeno detalhe é fundamental para construção do suspense. Dessa maneira, suas cenas são precisas destacando o essencial aos olhos do espectador, cada enquadramento tem suas diferentes finalidades, o movimento da câmera flutua silenciosamente em cada cômodo da escola e sua simbólica fotografia em preto e branco combina perfeitamente com o ambiente complementando elementos do terror ao suspense. E tudo isso sendo ressaltado pelo silêncio excessivo da trilha sonora.                    
 
   Não apenas tecnicamente impecável, Clouzot deu importância a todos os seus personagens em seu jogo de aparências. ‘As Diabólicas’ sugere que não só enganos uns aos outros, mas principalmente sobre quem somos.  Os alunos têm um papel importante para unir os artifícios do roteiro, o ator Paul Meurisse entrega uma atuação odiosa através de sua relação com a delicada interpretação de Véra Clouzot, e a transformação da personalidade da amante foi meticulosamente retratada na ótima atuação de Simone Signoret. Infelizmente, os outros dois professores do internato não tiveram material suficiente para trabalhar.                  

   Como praxe nos filmes de suspense, a reviravolta é uma das mais surpreendentes do cinema, lembrando que o longa foi produzido no ano de 1955 e, aquela cena final (sem spoiler), dispensa comentários. Como um dos grandes nomes do cinema Francês e do mundo, é sempre prazeroso revisitar as grandes obras de Clouzot e, para os amantes do gênero do suspense ‘As Diabólicas’ é um filme necessário. 


 NOTA: 9,5


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