Um
dos gigantes do cinema francês, Henri-Georges Clouzot brindou o mundo com um
dos melhores suspenses da história, “As Diabólicas (1955)”. O cineasta
influenciou inúmeras obras do gênero com seu estilo nu e cru de representar o
suspense em tela, e até mesmo sua estratégia de marketing foi copiada por
ninguém menos que Alfred Hitchcock, em Psicose, cinco anos depois. Tornando-se
um dos mais celebres diretores do cinema europeu nos anos 40 e 50, seu trabalho
aqui tem um grande reconhecimento até nos dias atuais.
‘As
Diabólicas’ conta a história de um triangulo amoroso, onde a carinhosa esposa
(Véra Clouzot) e a amante (Simone Signoret) do tirânico professor Michel
Delassalle (Paul Meurisse) se unem para matá-lo, devido ao seu comportamento
sádico e violento. Juntas elas realizam o crime perfeito, porém, dias depois, o
cadáver desaparece.
Fique
tranqüilo, está é apenas a sinopse do filme e, estou evitando ao máximo revelar
os segredos. Afinal, o grande truque de ‘As Diabólicas’ foi desenvolver com
perfeição passo a passo os atos dos personagens, para assim imergir o público
dentro da trama esperando qual será o próximo movimento. Em conseqüência,
qualquer cena comentada pode prejudicar uma melhor experiência.
Dessa
maneira, Clouzot se mostra um gênio das nuances psicológicas e atmosféricas.
Com três personalidades bem distintas apresentadas perfeitamente no primeiro
ato, a dúvida paira na cabeça do espectador sobre as verdadeiras intenções de
cada um, e os psicológicos dos personagens vão se corrompendo à medida que um
novo segredo é revelado. Quando achamos que o suspense está instaurado, Clouzot
prova o contrário envolto de uma brilhante teia de mentiras.
Envolvido
nas artimanhas do mistério, para Clouzot cada
pequeno detalhe é fundamental para construção do suspense. Dessa maneira, suas cenas são precisas
destacando o essencial aos olhos do espectador, cada enquadramento tem suas
diferentes finalidades, o movimento da câmera flutua silenciosamente em cada cômodo
da escola e sua simbólica fotografia em preto e branco combina perfeitamente
com o ambiente complementando elementos do terror ao suspense. E tudo isso
sendo ressaltado pelo silêncio excessivo da trilha sonora.
Não
apenas tecnicamente impecável, Clouzot deu importância a todos os seus
personagens em seu jogo de aparências. ‘As Diabólicas’ sugere que não só
enganos uns aos outros, mas principalmente sobre quem somos. Os alunos têm um papel importante para unir
os artifícios do roteiro, o ator Paul Meurisse entrega uma atuação odiosa através
de sua relação com a delicada interpretação de Véra Clouzot, e a transformação
da personalidade da amante foi meticulosamente retratada na ótima atuação de
Simone Signoret. Infelizmente, os outros dois professores do internato não tiveram
material suficiente para trabalhar.
Como praxe
nos filmes de suspense, a reviravolta é uma das mais surpreendentes do cinema,
lembrando que o longa foi produzido no ano de 1955 e, aquela cena final (sem
spoiler), dispensa comentários. Como um dos grandes nomes do cinema Francês e
do mundo, é sempre prazeroso revisitar as grandes obras de Clouzot e, para os
amantes do gênero do suspense ‘As Diabólicas’ é um filme necessário.
NOTA: 9,5
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