Estreias

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Crítica - 'Suspiria (2018)'



    Refilmar um clássico do cinema nem sempre é o melhor dos caminhos. Há inúmeros exemplos de produções desonrando  obras-primas cinematográficas, e pouquíssimas conseguem a proeza de se igualarem, ou até mesmo serem superiores aos seus precursores. Ninguém nunca irá tirar o mérito e a influência de 'Suspiria' (1977) do mestre Argento, mas Luca Guadagnino merece aplausos pelo seu trabalho com a nova roupagem do filme.

    Situado na Alemanha em 1977, a bailarina Susie Bannion (Dakota Johnsson) matricula-se na prestigiada escola de dança Markos Tanz Company, e lá começa a ter progressos extraordinários ganhando a confiança da tutora Madame Blanc (Tilda Swinton). Porém a morte de uma das bailarinas do local ganha novas relevâncias e mistérios, tornando aquele ambiente não tão agradável como parecia ser.

   A direção assinada por Luca Guadagnino (conhecido pelo ótimo ‘Me Chame Pelo seu Nome’-2018) é inteligentíssima em criar sua própria identidade cinematográfica afastando-se da técnica influente de Argento. Aqui não há aquela paleta de cores saturadas, artificiais, representadas por tons primários em meio à violência gráfica apresentada logo nos primeiros minutos. Guadagnino trouxe alusões à estética de seu conterrâneo – imagem estetizada e movimentos de câmera setentista -, mas também optou pela fotografia dessaturada, reiterando uma atmosfera intimista e iminente, aproximando a obra do suspense psicológico.  

   Mesmo não sendo visualmente intenso como o original, Guadagnino eleva o cinema do terror/fantasia entregando não só uma, mas várias cenas memoráveis em momentos chaves da trama. Estamos falando do fantástico episódio dos movimentos de dança de Bannion causando a morte de uma colega, como também da dança evocativa envolvendo a personagem Sara (Mia Goth, em excelente atuação) hipnotizada, as sequências dos pesadelos... Tudo é extremamente pontuado e famigerado, até a chegada da epopeia nos minutos finais deixando qualquer um de queixo caído. 


    Mas não é só pela parte técnica que este novo ‘Suspiria’ se diferencia, mas também pelo seu roteiro. Diferente do clássico, que 'guarda' a bruxaria até sua conclusão, aqui este preceito é apresentado logo de cara, favorecendo ainda mais a atmosfera idealizada por Guadagnino em prol do suspense psicológico. São inseridos novos coadjuvantes: o psicoterapeuta Dr. Josef e Patrícia. E novas subtramas retratando o passado dos personagens e as consequências da 2ª Guerra Mundial. 


   
    Outro ponto fortíssimo nessa versão fica por conta das ótimas interpretações de todo o elenco, mas principalmente de Tilda Swinton. A camaleoa faz jus a sua espetacular carreira e da vida a três personagens totalmente distintos: o médico Dr. Josef, a professora da escola Madame Blanc e a Mãe Bruxa Markos. Quem também merece destaque é Chloe Grace Moretz; mesmo com pouco tempo em tela, além da protagonista Dakota Johnsson e Mia Goth.



    Reinventado um clássico, Luca Guadagnino dá uma aula de cinema em 'Suspiria' nos presenteando cenas para entrar na história, e proporcionando uma experiência única e pouco vista no gênero.


NOTA: 8,8

Nenhum comentário :

Postar um comentário