
‘In Fabric’ sentencia a frase “como eu vim parar aqui”. Não,
não leve esse termo para o lado negativo, caro leitor, pois o diretor e
roteirista Peter Strickland apropria do estilo surreal e imagético para
conduzir sua narrativa ilusoriamente cômica sob forte influência do Giallo
Italiano da década de oitenta, em especial do mestre Dario Argento.
A trama centra-se em um vestido vermelho amaldiçoado que,
por vezes, cria vida própria para aterrorizar aqueles que o experimenta. De
fato, essa sinopse pode soar cômica para muitos, mas não se engane: nessa
percepção surge a genialidade de Strickland - o cineasta contrapõe o humor
irônico de sua narrativa com a atmosfera surreal, soturna e bizarra, bebendo da
mesma fonte do Giallo Italiano e entregando agora o Giallo britânico do século
XXI.
‘In Fabric’ retrata duas consumidoras do vestido possuído, a
primeira é Sheila (na ótima atuação da atriz Marianne Jean-Baptiste), mulher
divorciada a procura de um novo amor e mãe de um filho indisciplinado. Esta
apresenta um arco mais interessante e atiça a curiosidade do espectador sobre o
real propósito do filme. Já a segunda consumidora é Babs (na operante
interpretação da atriz Hayley Squires) e nesta sessão o diferente perde sua
originalidade, o lógico perde o significado, o que pode se tornar cansativo
para o público mais casual.
Independente das duas histórias, a essência de ‘In Fabric’
está na criação de sua atmosfera, envolta nas manifestações bizarras de cada
personagem. E como um bom Giallo, Strickland preza pela fotografia setentista
brincando com os contrastes das cores vermelho,
verde e azul, bem como o banho de sangue estilizado, a montagem
fotográfica beirando o estilo barroco, sequências surrealistas, a presença
'creepy' da atriz Sidse Babett Knudsen, sem contar a trilha sonora enervante e
excitante.
Diferente do habitual feito hoje no cinema contemporâneo,
‘In Fabric’ é ousado, incompreensível, tecnicamente irretocável, e acaba
por estabelecer o nome do diretor Peter
Strickland na Indústria, concebendo o Giallo do século XXI.
NOTA: 8,1
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