Estreias

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Crítica - 'In Fabric'



   ‘In Fabric’ sentencia a frase “como eu vim parar aqui”. Não, não leve esse termo para o lado negativo, caro leitor, pois o diretor e roteirista Peter Strickland apropria do estilo surreal e imagético para conduzir sua narrativa ilusoriamente cômica sob forte influência do Giallo Italiano da década de oitenta, em especial do mestre Dario Argento.  

   A trama centra-se em um vestido vermelho amaldiçoado que, por vezes, cria vida própria para aterrorizar aqueles que o experimenta. De fato, essa sinopse pode soar cômica para muitos, mas não se engane: nessa percepção surge a genialidade de Strickland - o cineasta contrapõe o humor irônico de sua narrativa com a atmosfera surreal, soturna e bizarra, bebendo da mesma fonte do Giallo Italiano e entregando agora o Giallo britânico do século XXI.  



   
 ‘In Fabric’ retrata duas consumidoras do vestido possuído, a primeira é Sheila (na ótima atuação da atriz Marianne Jean-Baptiste), mulher divorciada a procura de um novo amor e mãe de um filho indisciplinado. Esta apresenta um arco mais interessante e atiça a curiosidade do espectador sobre o real propósito do filme. Já a segunda consumidora é Babs (na operante interpretação da atriz Hayley Squires) e nesta sessão o diferente perde sua originalidade, o lógico perde o significado, o que pode se tornar cansativo para o público mais casual. 

  Independente das duas histórias, a essência de ‘In Fabric’ está na criação de sua atmosfera, envolta nas manifestações bizarras de cada personagem. E como um bom Giallo, Strickland preza pela fotografia setentista brincando com os contrastes das cores vermelho,  verde e azul, bem como o banho de sangue estilizado, a montagem fotográfica beirando o estilo barroco, sequências surrealistas, a presença 'creepy' da atriz Sidse Babett Knudsen, sem contar a trilha sonora enervante e excitante. 

  Diferente do habitual feito hoje no cinema contemporâneo, ‘In Fabric’ é ousado, incompreensível, tecnicamente irretocável, e acaba por  estabelecer o nome do diretor Peter Strickland na Indústria, concebendo o Giallo do século XXI.

NOTA: 8,1



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