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quarta-feira, 17 de maio de 2017

Crítica - 'Corra'


 Diante de um tema tão discutido nos dias atuais, ‘Corra’ não se prende aos perpetuantes óbvios e recria um conto subversivo, corajoso e original. Quantas vezes vemos a premissa de um rapaz negro apaixonado por uma garota branca e de família rica, resistindo às adversidades do preconceito racial? Parecia ser mais um daqueles filmes como qualquer outro querendo retratar um assunto controverso, parecia... Pois, a construção do terror e suspense é o grande distintivo. 

   A trama acompanha o apaixonado Chris (Daniel Kaluuya), um jovem negro prestes a conhecer a família de sua recente namorada caucasiana Rose Armitage (Allison Williams). Aparentemente bem recebido pelos pais de Rose, Chris começa a ficar incomodado com a presença dos empregados negros e com uma constante sensação de estranheza no ar. 

   Não podemos falar mais sobre o filme e recomendo não assistir o trailer, pois isso poderá estragar suas experiências. Afinal, estamos falando do mistério, e o senso de curiosidade a partir da chegada de Chris a casa de seus sogros, no segundo ato, é fascinantemente intrigante e perdura até o fim da produção. A estranha relação dele com os pais e o olhar desconfiado com os empregados é a chave para a condução da inteligente narrativa, onde inicia o ousado e relevante subtexto racial satírico fugindo do politicamente correto.           

   Assim, brilha a direção do estreante Jordan Peele conduzindo a trama a partir da visão de Chris reforçado pela ótima atuação de Daniel Kaluuya. O primeiro ato é marcado com alguns clichês para estabelecer a relação de seus personagens aos olhos do público em um ritmo vagaroso, mas não demora muito para surgir às primeiras estranhas sensações. O filme vai deixando pequenas pistas que existe algo de errado por lá, principalmente quando vemos os empregados em tela, são: Walter (Marcus Henderson), Georgina (Betty Gabriel) e Andrew (Lakeith Stanfield).      

   Todos eles são essenciais para criar um suspense psicológico desconfortante na pele de seus excêntricos personagens. Dessa forma, Peele criou um ambiente lúgubre utilizando os close-ups e uma trilha sonora pontual e perfeita para causar incomodo aos espectadores. Sem ficar preso ao suspense, o diretor também acrescenta o humor, mesmo nos momentos mais tensos da produção na presença do melhor amigo do Chris, o Rod (Lil Rel Howery).        

  Com a maioria do elenco desconhecido, quem merece atenção é a atriz Allison Williams. Sua interpretação é fundamental para o filme conseguir trazer a sua grande revelação e, olha! Essa revelação acontece muito antes do final, diferenciando das grandes produções do gênero que costumam terminar com um plot twist. E a conclusão de ‘Corra’ é simplesmente irretocável intensificando a força de seu subtexto alegórico e satírico.  


NOTA: 8,7


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