Estreias

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Crítica - 'Bingo: O Rei Das Manhãs'


   Sempre escutei a frase “Os melhores programas infantis da televisão brasileira foi dos anos 80”. Nesse cenário, o Bozo se divertia frente às câmeras, sem papas na língua, dando foras na criançada e ainda colocava mulheres dançando de maneira provocante perto delas e diante de todo o Brasil. ‘Bingo: o Rei das Manhãs’ retrata esse mundo absurdo, mas há quem se engane por pensar em ser um filme de comédia, aqui o drama é dos grandes.    

  Baseado na história de Arlindo Barreto, um dos interpretes do palhaço Bozo no programa matinal da televisão brasileira durante a década de 80. ‘Bingo: O Rei das Manhãs’ acompanha a carreira do ator Augusto Mendes (Vladimir Brichta) até conseguir o papel de palhaço em um programa infantil pela TV TVP. Estourado no país e líder de audiência, a frustração de Mendes por não ser reconhecido pelas pessoas, o levou a se envolver com drogas e bebidas nos bastidores do programa.     

   Por questões de direito, a troca dos nomes de todas as celebridades e emissoras (com exceção de Gretchen, interpretada por Emanuelle Araújo) favoreceu o sucesso do filme. Pois, ‘Bingo: O Rei das Manhãs’ encontrou uma ótima solução ao retratar com tamanho carinho a vida pessoal e os costumes de seu protagonista.                      
 
   O roteiro assinado por Luiz Bolognesi segue uma cartilha básica de filmes biográficos com a ambição – sucesso – declínio - redenção do protagonista. Todas essas fases são muito bem equilibradas, e mesmo contando com certas facilitações narrativas a direção do estreante Daniel Rezende chama muita atenção.                          
        
    Um dos aspectos interessantíssimos é sua maneira fluída de conduzir uma cinebiografia sem perder a mão nos diferentes tons propostos pelo filme. Rezende encontra o tom perfeito para o humor e o drama, além de imprimir um ritmo agradável sem cansar o espectador. Tudo é muito interessante de ver, seja na sua premissa de contar a vida da pessoa mais famosa do Brasil e, ao mesmo tempo, no completo anonimato. Seja também no mundo dos bastidores.   

   Outro grande mérito da sua direção foi utilizar a fotografia em prol a narrativa reforçando os sentimentos de comoção, tristeza, loucura e apreensão. Seus diferentes enquadramentos retratam a mente do protagonista conforme a progressão da trama - deixando a câmera de ponta cabeça, distorção de foco, elementos oníricos e vale ressaltar um ótimo plano-sequência saindo de uma locação para outra.                                                                
 
   E finalmente chegamos a ele, o palhaço. Encarnado por Vladimir Brichta, o ator da um show de interpretação ao passar por todos os nuances muito bem definidos de seu personagem, passando da humilhação a ganância e da elegância a brutalidade. Além de vivenciar dramas pessoais pesado envolvendo sua mãe e seu filho, Brichta certamente entra para lista das melhores atuações do cinema nacional. Do outro lado, Leandra Leal confere a Lúcia uma mulher durona, séria, rígida enfrentando todas as adversidades de um universo profissional dominado por homens naquela época. A atriz esbanja uma forte presença e uma ótima atuação.           
        
  ‘Bingo: O Rei das Manhãs’ diverte pela nostalgia, mas também soube trazer toda a essência de seus personagens e o drama de suas situações, através dos percalços de seu forte subtexto. O filme certamente é uma grande virtude de nosso cinema nacional.           


NOTA: 9,0  

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