O
cinema brasileiro vem se destacando ao retratar assuntos pertinentes dentro de
nosso país. Exemplos recentes foram ‘Que Horas Ela Volta?’ abordando questões
da classe social, ‘Aquarius’ ao refletir a instrução do Brasil atual e suas
idiossincrasias e, agora, ‘Como Nossos Pais’ espelha as dificuldades da mulher
moderna.
Na
trama, Rosa (Maria Ribeiro) sente-se pressionada em não conseguir conciliar sua
tarefa de mãe, as exigências do marido Dado (Paulo Vilhena), sua vida
profissional e seu relacionamento complicado com sua mãe Clarice (Clarisse
Abujamra). Em um almoço em família, ela acaba sendo surpreendida após Clarice
revelar sua verdadeira origem, restando a Rosa rever seus conceitos.
‘Como
Nossos Pais’ ganhou força com a direção feminina assinada por Laís Bodanzky
(conhecida pelo ótimo ‘Bicho de Sete Cabeças’). Com a sua visão diante das
dificuldades vivenciadas pelas mulheres hoje em dia, sua direção centra-se
exclusivamente no ponto de vista de Rosa com o auxílio da câmera objetiva e
enquadramentos que reforçam sua dualidade com seu marido. E com a inesperada
revelação logo no início, as situações triviais do dia-a-dia começam a ter um
grande impacto psicologicamente e fisicamente na protagonista.
Passamos
praticamente cem minutos de duração vendo uma mulher cansada, desesperada,
frustrada, mas também guerreira e com um fio de esperança. Diante dessas
situações, a atriz Maria Ribeiro transmite todo esse pesar com maestria em uma
interpretação verdadeira e poderosa. E
nos conflitos com a sua mãe Clarice, brilha também a atriz Clarisse Abujamra
com seu jeito seco e abrupto de falar, mas determinantes para o melhor.
Outro
ponto riquíssimo no roteiro de Bodanzky são os personagens masculinos muito bem
escritos e representativos do pior pensamento machista dos dias atuais. Entre
eles, estão Dado na ótima interpretação de Paulo Vilhena e, Pedro (Felipe
Rocha) retratando o homem ideal que todas as mulheres buscam, mas no fim seus
objetivos são outros. Nesse cenário, os diálogos são espetaculares e, apesar de
muitos julgarem o filme como feminista, em nenhum momento a trama apresenta um
teor moralista. Tudo é muito honesto, orgânico e acima de tudo, singelo.
Com
um roteiro rico em trazer temas como, empoderamento feminino, autoridade
parental, hipocrisia, casamento instável, relação conflituoso entre mãe e
filha. Certas passagens surgem na tela de modo menos inspirado, visto que
parecem executadas da maneira mais convencional e recaindo nas fraquíssimas
atuações do elenco secundário. Dentre eles, estão o encontro de Rosa e uma
figura pública (Herson Capri), pai de um colega da família e a presença da personagem adolescente. .
Com uma
atuação afiada de Maria Ribeiro e um roteiro abordando temas pertinentes em
nosso país, ‘Como Nossos Pais’ tem um forte e honesto retrato do peso que
a mulher moderna precisa suportar.
NOTA: 7,3
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