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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Crítica - 'Guerra Fria'


   O amor, a guerra e a música atravessam o tempo de mãos atadas em ‘Guerra Fria’. Diferente das convenções narrativas dos romances atuais, a produção polonesa sob o comando do engenhoso cineasta Pawel Pawlikowski (conhecido pelo excelente ‘Ida’ -2013) retoma os ares dos grandes clássicos e presenteia a todos com um romance único, humanista, literato e poético.

 Representando a Polônia no Oscar 2019, 'Zimna Wojna' (do original) acompanha as idas e vindas do casal Zula (Joanna Kulig) e Wiktor (Tomasz Kot), incluindo viagens em diferentes países e separações impossíveis de ter voltas, durante a Guerra Fria entre a Polônia stalinista e a Paris boêmia dos anos 50.

   Seguindo os moldes da cinematografia de seu último projeto em ‘Ida’, o cineasta Pawel Pawlikowski repete o preto e branco, além da proporção 4:3, tornando a película com um aspecto mais quadrado. O resultado é deslumbrante! Transportando o espectador ao clima da década de 50, cada frame é um wallpaper, onde a fotografia invade a tela nos fortes contrastes de luz e sombra concedendo as mais belas imagens das apresentações dos personagens, do casal, dos cenários quase barrocos artisticamente com enquadramentos bem elaborados reforçando a narrativa. 

    
     Motivos do preto e branco e do confinamento de uma tela quase que quadrada, também está diante da odisseia do amor musical enfrentados pelo casal. Wiktor é metódico, sério, quieto, mas se perde aos encantos e talentos daquela que fora um dia sua aluna, a Zula. Esta, jovem e promissora, com um talento descomunal quando sobe nos palcos para cantar, sem contar sua energia positiva e seu espírito independente (na atuação espetacular da atriz Joanna Kulig ofuscando qualquer um em cena). E os dois, apaixonados, devem enfrentar os percalços desse amor ora próximo, ora distante, fazendo maior alusão ao título do filme.

      Dessa maneira, brilha a direção de Pawlikowski ao expressar a conservação dos sentimentos mediante as constantes transformações sociais. Nesse contexto, ‘Guerra Fria’ retrata a guerra pelos efeitos psicológicos nos protagonistas, ao invés da política interna dos países envolvidos. Nessas circunstâncias, estamos diante de sucessivas frustrações efêmeras em uma história feita de meios encontros e de finais, por pouco, felizes. E todos esses fatores são reforçados com a técnica invejável de Pawlikowski. A condução elegante, plástica e soberba pela montagem composta ao ritmado dinamismo com a quietude naturalista, este valorizando as emoções, as imagens e expressões sem pronunciar uma única palavra. Alcançando, assim, os resultados mais expressivos possíveis.       
                       
    Onde a mensagem final surge nas metáforas das mais poéticas frases. “O pendulo matou o tempo...” e “A vista é melhor do outro lado...” Concluímos que já não se faz mais romance como ‘Guerra Fria’ nos dias de hoje. 


NOTA: 10 
  

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