‘Paulina’,
um convite a mais profunda reflexão diante da violência sexual e a ética na
justiça. Levantando temas pertinentes nos dias atuais, o novo filme do cineasta
Santiago Mitre veio para expandir debates a cerca da cultura do estupro, o
preconceito de classes e a justiça a serviço de interesses pessoais. Em meio a essas
temáticas exposta pela sociedade moderna, algumas de forma bastante
controversa, apresenta a grande imponência do longa-metragem.
A
trama acompanha a jovem Paulina (Dolores Fonzi) abandonando sua promissora
carreira de advogada para ser professora de uma região pobre na Argentina.
Porém, a sua integridade é colocada em prova após ser vitima de um estupro
executado por um grupo de alunos que a confunde com outra pessoa.
Elogiar
o cinema argentino se tornou corriqueiro no dias atuais, mas ‘Paulina’ é uma
obra-prima do cinema contemporâneo. Debatendo tema cada vez mais presente na
sociedade atual, o cerne da produção esta na força dos diálogos de seus
personagens que permanecem na mente do espectador até ao final dos créditos. “Quando
os envolvidos são pessoas pobres o Judiciário não procura justiça, mas sim
culpados”, essa é apenas uma das frases ditas por Paulina e a representação de
quem ela é.
Logo
no inicio, somos apresentados a objeção entre Paulina e seu pai em um belo plano-sequência
nas impecáveis atuações de Dolores Fonzi e Oscar Martínez. Dessa maneira, a
direção de Santiago Mitre é perfeita em três pontos chaves da produção. A
primeira foi em conceder mais tempo em tela para o confronto de ideais entre
Paulina e seu pai. São seqüências explosivas, imprimindo visões de mundo
antagônicas, debatendo questões morais, políticas e sociais, reforçando assim a
controversa da obra.
O
segundo ponto foi em estruturar a narrativa apresentando os dois lados da
moeda, a vítima e o agressor. De um lado, acompanhamos a chegada de Paulina a
escola até o momento de ser violentada. Do outro, somos apresentados a visão do
agressor e seus motivos para chegar a tal atitude. A partir daí, a trama
progredi debatendo a questão do estupro muitas vezes como presenciamos em nossa
realidade, visto durante a investigação policial questionando a roupa que
Paulina vestira, o horário e se estava bêbada.
O
terceiro ponto de Santiago Mitre foi em fortalecer as atitudes de Paulina depois
do ocorrido que são difíceis de aceitá-las. O impacto e cada vez mais
angustiante na segunda metade e novos temas começam a ganhar contornos como, o
preconceito de classes, a ética na justiça (outros não revelados para evitar
spoiler). Em conseqüência, Paulina insinua-se em uma natureza de transe
reflexivo sobre si mesma e não sabemos suas reais motivações e, tudo isso é
reforçado pela atuação impecável de Dolores
Fonzi.
O
inevitável debate pós-sessão não apenas gera um misto de comoção ao espectador,
como também reflete a imagem de um mundo mais justo. Representando de forma nua
e crua o retrato da nossa triste realidade, ‘Paulina’ é uma experiência única, proporciona
um espaço de reflexão, cumpre um papel fundamental nos dias de hoje e necessário
para todos.
NOTA: 10
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