Estreias

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Crítica - 'Paulina (2015)'


    ‘Paulina’, um convite a mais profunda reflexão diante da violência sexual e a ética na justiça. Levantando temas pertinentes nos dias atuais, o novo filme do cineasta Santiago Mitre veio para expandir debates a cerca da cultura do estupro, o preconceito de classes e a justiça a serviço de interesses pessoais. Em meio a essas temáticas exposta pela sociedade moderna, algumas de forma bastante controversa, apresenta a grande imponência do longa-metragem.                

   A trama acompanha a jovem Paulina (Dolores Fonzi) abandonando sua promissora carreira de advogada para ser professora de uma região pobre na Argentina. Porém, a sua integridade é colocada em prova após ser vitima de um estupro executado por um grupo de alunos que a confunde com outra pessoa.              

   Elogiar o cinema argentino se tornou corriqueiro no dias atuais, mas ‘Paulina’ é uma obra-prima do cinema contemporâneo. Debatendo tema cada vez mais presente na sociedade atual, o cerne da produção esta na força dos diálogos de seus personagens que permanecem na mente do espectador até ao final dos créditos. “Quando os envolvidos são pessoas pobres o Judiciário não procura justiça, mas sim culpados”, essa é apenas uma das frases ditas por Paulina e a representação de quem ela é.

   Logo no inicio, somos apresentados a objeção entre Paulina e seu pai em um belo plano-sequência nas impecáveis atuações de Dolores Fonzi e Oscar Martínez. Dessa maneira, a direção de Santiago Mitre é perfeita em três pontos chaves da produção. A primeira foi em conceder mais tempo em tela para o confronto de ideais entre Paulina e seu pai. São seqüências explosivas, imprimindo visões de mundo antagônicas, debatendo questões morais, políticas e sociais, reforçando assim a controversa da obra.        

  O segundo ponto foi em estruturar a narrativa apresentando os dois lados da moeda, a vítima e o agressor. De um lado, acompanhamos a chegada de Paulina a escola até o momento de ser violentada. Do outro, somos apresentados a visão do agressor e seus motivos para chegar a tal atitude. A partir daí, a trama progredi debatendo a questão do estupro muitas vezes como presenciamos em nossa realidade, visto durante a investigação policial questionando a roupa que Paulina vestira, o horário e se estava bêbada.          

  O terceiro ponto de Santiago Mitre foi em fortalecer as atitudes de Paulina depois do ocorrido que são difíceis de aceitá-las. O impacto e cada vez mais angustiante na segunda metade e novos temas começam a ganhar contornos como, o preconceito de classes, a ética na justiça (outros não revelados para evitar spoiler). Em conseqüência, Paulina insinua-se em uma natureza de transe reflexivo sobre si mesma e não sabemos suas reais motivações e, tudo isso é reforçado pela atuação impecável de  Dolores Fonzi.                    
 
  O inevitável debate pós-sessão não apenas gera um misto de comoção ao espectador, como também reflete a imagem de um mundo mais justo. Representando de forma nua e crua o retrato da nossa triste realidade, ‘Paulina’ é uma experiência única, proporciona um espaço de reflexão, cumpre um papel fundamental nos dias de hoje e necessário para todos. 


NOTA: 10
                          

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