‘Blade
Runner 2049’ é exemplo de como deve ser feito uma sequência de um clássico. Poucos
filmes conseguem a proeza de manter ou até mesmo serem superiores de seus
pioneiros, e aqui é mais um desses raros casos. Justamente por respeitar a
virtude temática do original, acrescentando seu próprio conceito no papel e
preparado na mão do melhor diretor da atualidade, Denis Villeneuve.
A
trama agora se passa trinta anos depois dos eventos ocorridos do icônico ‘O
Caçador de Andróides’. Com a estética futurística noir, amplos painéis de neon,
imensos arranha-céus, acervos tecnológicos muito mais avançados previsto no
original, uma população dividida entre humanos e replicantes na constante luta
do reconhecimento. Acompanhamos os passos o novo blade runner da vez nomeado de
K (Ryan Gosling).
O
grande acerto de ‘Blade Runner 2049’está na sustentação da atmosfera e da
riqueza temática do original, sem se tornar um derivado. Com Ridley Scott no
cargo de produtor executivo, o filme não perde a essência de seu precursor e
ainda vai mais além, acrescentando sua própria filosofia levantando questões
mais profundas. A forte dicotomia do congênito e do artificial perdura ao longo
de toda a produção.
Com
grandes nomes envolvidos no projeto, sem dúvidas, Denis Villeneuve (conhecido pelos ótimos 'A Chegada', 'Os Suspeitos' e 'Incêndios') é o maior
deles. Sua direção é minuciosa, conduz à narrativa imersivo e subversiva capaz
de colocar o espectador dentro daquele mundo, mesmo adotando um ritmo lento. O
roteiro é desenvolvido sem pressa, tudo é tão contemplativo pela fascinante
cinematografia e criação de mundo.
Os
mais apressados terão certo desânimo pela forma como a narrativa progride
lentamente, demora a oferecer uma nova pista à trama e apresenta 2h e 40
minutos de duração. Mas essa é a real intenção do diretor e também do filme
(vide no original), o tom frio se mantêm regular até o fim, tornando ‘Blade
Runner 2049’ uma experiência cinematográfica única. E quando alguém entra no
universo, é um deleite sem fim.
Assim
entra mais outros dois grandes nomes, Roger Deakins e Hans Zimmer. Visualmente
fascinante, a fotografia de Deakins é impecável na manipulação das cores, em
que cada uma tem sua representatividade em cada cenário. O forte contraste de
luz e sombra é um show a parte, com enquadramentos onde a luz intensa acompanha
cada passo dos personagens ou postada ao fundo, conduzindo os protagonistas em
silhuetas, tem muito a dizer sobre a premissa e a personalidade de cada um
deles. E todas essas belas imagens são acompanhadas da trilha sonora intensa de
Hans Zimmer.
Esta
crítica está evitando ao máximo comentar a sinopse do filme para melhor
experiência, mas o embate entre K e Deckard (Harrison Ford) sugere grandes
questionamentos. Enquanto um conhece seu íntimo, a jornada de seu papel na
sociedade futurística garante questões filosóficas profunda de nossa
existência. Nesse cenário, Ryan Gosling criou um personagem apático, frio e
enxerga como seu único alivio a presença feminina marcante de um holograma
chamada Joi, na ótima interpretação de Ana de Armas.
Mexer em um
material icônico e de uma representatividade gigantesca na sétima arte como ‘O
Caçador de Andróides’ é um desafio e tanto, mas ‘Blade Runner 2049’ faz algo que
poucos conseguem. Tornar-se melhor que o original e alcançando o status de um
dos melhores filmes de ficção cientifica da história do cinema, senão o
melhor.
NOTA: 10
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