Recentemente, fiz um comentário sobre a escassez de bons
filmes de comédia nos dias atuais quando elaborei a crítica de ‘A Noite do
Jogo’. No entanto, o ano de 2018 vem surpreendendo os fãs do gênero entregando
ótimas produções como ‘O Retorno do Herói’, ‘Sorry To Bother You’, ‘Não Vai
Dar’. Porém, nenhum deles tem a originalidade e a inteligência do espetacular
‘A Morte de Stalin’.
A história se dá após a inesperada morte do ditador Josef
Stalin (Adrian Mclouglin) em 1953, na União Soviética, onde o alto escalão do
comitê do Partido Comunista procura decidir quem será o sucessor do líder
soviético e os rumos do futuro da nação.
Há quem se engane e tome a ‘A Morte de Stalin’ como sendo um
docudrama, mas não, o filme se trata de uma sátira ao contexto político regido
na década de 50 na União Soviética. Diante dos mistérios, mitos e suposições
acerca da morte de Stalin, o filme consegue ser hilário e bastante fiel aos
fatos estudados, dispondo de personagens também fidedignos. O tom jocoso e
autêntico concilia a narrativa com perfeição extraindo ótimas tiradas, como
também expondo os horrores do regime totalitário.
Dessa maneira, a direção assinada por Armando Iannucci
(conhecido pelo ótimo ‘In the Loop’) encontra o equilíbrio perfeito entre o
humor e a tragédia. Com a câmera na mão acompanhando os diálogos e as
ações/reações de todos os personagens, e reforça o senso de urgência e o humor
reativo e reacionário. A própria edição favorece o tom cômico compreendendo o
momento certo de cortar uma cena à partir de pequenos gestos causando uma
inquietação ao público.
Ficamos com o desejo de querer ver um pouco mais, porém nem
sempre isso acontece. Por outro lado, as cenas, digamos, “menos legais” (apesar
de todas serem de uma qualidade invejável) se prolongam mais do que o
necessário não utilizando tal recurso. Entretanto, nada tira o ímpeto de ‘A
Morte de Stalin’ e o trabalho ácido, satírico e de um humor negro sem igual de
Iannucci. Outro grande mérito de sua direção está na escolha do dialeto
puramente americano, ou melhor, sem sotaque russo. Desse modo, todos os
personagens apresentam características marcantes, engraçadas e visto como
anti-heróis. Pois, todos estão lá apenas para pensar em sua segurança,
independente do número de coligações e rivalidades partidárias. Como
conseqüência, há uma crítica genial subentendida comprovando a frase 'dê poder
ao homem e descubra quem ele realmente é’.
As interpretações são espetaculares, de todo o elenco, com
destaque para o engraçadíssimo Jeffrey Tambor, o dúbio Steve Buscemi e o
impiedoso Simon Russell Beale, o filme
ainda conta com Andrea Riseborough, Michael Palin, Adrian Mclouhlin e Paddy
Considine, todos excelentes.
Diferente de muitas comédias vistas em grande circuito, ‘A
Morte de Stalin’ veio para mostrar a força do gênero com inteligência,
sarcasmo, diversão e merece ser lembrado nas listas dos melhores filmes de
comédia do ano, quiça de todos os tempos.
NOTA: 9,7
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