Estreias

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Crítica - 'Que Horas Ela Volta?'


     O cinema brasileiro nunca foi referencia no mundo e ate mesmo é menosprezado pelos próprios brasileiros. Com a visão das comédias deploráveis fazendo parte do nosso cotidiano, muitos filmes acabam passando em vão. Em um lugar onde poucos filmes são reconhecidos, um nome chamado Anna Muylaert veio para fazer história em nosso cinema nacional em 'Que Horas Ela Volta?'

   Mais uma vez em nosso cinema, o retrato do país é a premissa. A cineasta e roteirista Muylaert aborda a questão da classe social de maneira quase sutil ao retratar os problemas sociais com momentos apontando o dedo para a classe mais privilegiada.  Apesar disso, com um ritmo vagaroso e agradável em uma edição lenta e bem realizada tudo flui com naturalidade por consideração as surpreendentes atuações e uma segura direção.   

   A carinhosa nordestina Val (Regina Casé) trabalha de empregada doméstica há mais de uma década para uma família de classe media alta em São Paulo, inclusive mora em um puxadinho na casa dos patrões sendo considerada “quase da família”.  Ela não vê sua filha Jéssica (Camila Márdilla) há mais de dez anos e Val concebe seu tempo para cuidar do adolescente (Michel Joelsas), eis que sua filha a liga avisando que chegara a São Paulo para prestar um vestibular.

   A chegada da garota causa um reboliço na dinâmica familiar.  Não existem limites para a curiosa e estudiosa Jéssica, preparando para o vestibular ela busca um melhor conforto dentro de casa e para isso conquistou o carinho do patrão (Lourenço Mutarelli) e um novo amigo Fabinho, mas o olhar da patroa resumia uma certa desconfiança. Inteligentemente a direção de Muylaert focou na porta da cozinha representando uma divisão das classes, soube dar importância a todos os personagens nunca esquecendo o drama, apesar de apresentar um subtrama desnecessário: a relação de Jéssica e o senhor.

 Quem diria? Regina Casé esta surpreendente, ela não atua, e sim vive a personagem caindo perfeitamente no papel transmitindo uma leveza para a trama sem tornar o drama pesado e com uma química fantástica com Márdilla, outro grande destaque da produção. Ambas, deram um show de interpretação em uma cena no final do filme. Karine Teles também tem um papel relevante a trama, já as interpretações de Mutarelli e Joelsas não convence.    


  Cinematograficamente requintado com uma boa fotografia em plano aberto com o uso de silhueta e contra-luz e uma estrutura forte da narrativa, ‘Que Horas Ela Volta?’ é bastante eficiente explorando a distinção das classes sociais no Brasil, imprimi um ponto de vista social sério e muito inteligente. O filme também prova que o nosso cinema é capaz de realizar obras e não afronta.    

NOTA: 8,2



          

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