O cinema brasileiro nunca foi referencia no mundo e ate
mesmo é menosprezado pelos próprios brasileiros. Com a visão das comédias
deploráveis fazendo parte do nosso cotidiano, muitos filmes acabam passando em
vão. Em um lugar onde poucos filmes são reconhecidos, um nome chamado Anna
Muylaert veio para fazer história em nosso cinema nacional em 'Que Horas Ela
Volta?'
Mais uma vez em
nosso cinema, o retrato do país é a premissa. A cineasta e roteirista Muylaert
aborda a questão da classe social de maneira quase sutil ao retratar os
problemas sociais com momentos apontando o dedo para a classe mais
privilegiada. Apesar disso, com um ritmo
vagaroso e agradável em uma edição lenta e bem realizada tudo flui com
naturalidade por consideração as surpreendentes atuações e uma segura
direção.
A carinhosa
nordestina Val (Regina Casé) trabalha de empregada doméstica há mais de uma
década para uma família de classe media alta em São Paulo, inclusive mora em um
puxadinho na casa dos patrões sendo considerada “quase da família”. Ela não vê sua filha Jéssica (Camila
Márdilla) há mais de dez anos e Val concebe seu tempo para cuidar do
adolescente (Michel Joelsas), eis que sua filha a liga avisando que chegara a
São Paulo para prestar um vestibular.
A chegada da garota
causa um reboliço na dinâmica familiar.
Não existem limites para a curiosa e estudiosa Jéssica, preparando para
o vestibular ela busca um melhor conforto dentro de casa e para isso conquistou
o carinho do patrão (Lourenço Mutarelli) e um novo amigo Fabinho, mas o olhar
da patroa resumia uma certa desconfiança. Inteligentemente a direção de
Muylaert focou na porta da cozinha representando uma divisão das classes, soube
dar importância a todos os personagens nunca esquecendo o drama, apesar de
apresentar um subtrama desnecessário: a relação de Jéssica e o senhor.
Quem diria? Regina
Casé esta surpreendente, ela não atua, e sim vive a personagem caindo
perfeitamente no papel transmitindo uma leveza para a trama sem tornar o drama
pesado e com uma química fantástica com Márdilla, outro grande destaque da
produção. Ambas, deram um show de interpretação em uma cena no final do filme.
Karine Teles também tem um papel relevante a trama, já as interpretações de
Mutarelli e Joelsas não convence.
Cinematograficamente
requintado com uma boa fotografia em plano aberto com o uso de silhueta e
contra-luz e uma estrutura forte da narrativa, ‘Que Horas Ela Volta?’ é
bastante eficiente explorando a distinção das classes sociais no Brasil,
imprimi um ponto de vista social sério e muito inteligente. O filme também
prova que o nosso cinema é capaz de realizar obras e não afronta.
NOTA: 8,2
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